Nesta semana, através de uma apresentação realizada pelo professor Egídio, começamos a aprender o modo com o qual se realiza um exame físico de RN.
O objetivo de um exame físico é reconhecer, quando presente, anomalias, desordens cardiorrespiratórias, injúrias do parto, para que assim possam ser tomadas condutas necessárias em prevenção, tratamento e reabilitação. Todo recém-nascido com alteração anatômica deve ser avaliado para anomalias associadas.
Na sala de parto, o bebe deve ser avaliado quanto a sua idade gestacional, cor, tônus adequado, eliminação do mecônio e se está chorando/respirando como esperado.
Classifica-se como pré-termo o bebê nascido com menos de 37 semanas de gestação, a termo aquele nascido entre 38-42 semanas, sendo o pós-termo nascido após a 42 semana de gestação.
Após o nascimento, se o bebe for de 29 semanas ou mais, realiza-se o método de Capurro, seu método somático avalia 5 caracteres físicos, são eles, textura da pele, forma da orelha, glândula mamária, formação do mamilo e pregas plantares. No método somático-neurológico, avalia-se todos os caracteres anteriores exceto a formação do mamilo + dois caracteres neurológicos: sinal de Xale e posição da cabeça ao levantar o RN. No método somático, determina-se a idade gestacional pela fórmula: pontos+204/7, fornecendo a IG em semanas.
Para os nascidos com menos de 1500 gramas, utiliza-se o método de Ballard, que é melhor para prematuros. Utiliza-se critérios físicos como a pele, glândulas mamárias, lanugo, olhos/orelhas e genitália, e critérios neuromusculares, como a retração do braço, flexão do punho, postura, sinal de Xale.
A cada um destes parâmetros se atribui uma pontuação, que na somatória determina uma estimativa da IG. Este método permite a avaliação de RN com IG a partir de 20 semanas. O método garante resultados com alta precisão se realizado nas primeiras 12 horas após o parto.
Appearance, Pulse, Grimace, Activity and Respiration (APGAR), seu objetivo é avaliar a condição física do recém-nascido (no período neonatal). O apgar aos 5 minutos guarda correlação com sobrevida neonatal e efetividade da ressuscitação. Não sendo instrumento para determinação de desenvolvimento neurológico nem asfixia. Os parâmetros avaliados são: frequência cardíaca, esforço respiratório, tônus muscular, irritabilidade reflexa e cor. Influência: idade gestacional, drogas maternas, ressuscitação e condições cardiorrespiratórias e neurológicas.
Em relação aos dados antropométricos, o peso é considerado adequado entre 2,5-4 kg, baixo peso entre 1,5-2,499 kg, muito baixo peso 1,0-1,499kg e extremo baixo peso, inferior a um quilo. Avalia-se também o perímetro cefálico, deve compreender entre 32-36 cm, torácico e abdominal. Seu comprimento varia entre 45-51cm em meninas e 45-55cm em meninos.
Nos primeiros três dias de vida é natural que o bebê perca de 5-8% de seu peso, sendo que essa perda é de água, sendo fisiológica e recuperada entre uma ou duas semanas.
Algumas síndromes são detectadas no recém-nascido, dentre elas podemos citar:
- Síndrome de Patau: causada pela trissomia do cromossomo 13, provoca deficiência física e mental.
- Síndrome de Edwards: causada pela trissomia do cromossomo 18, provoca defeitos congênitos nos órgãos e baixo peso ao nascer.
- Síndrome de Down: causada pela trissomia do cromossomo 21, provoca deformações características, retardos de desenvolvimento, podendo estar ligada a doenças na tireoide e coração.
- Síndrome de Turner: trata-se de uma anomalia cromossômica cuja origem é a perda parcial ou total de um cromossomo X, ou seja, o cromossomo sexual fica ausente ou incompleto, gerando baixa estatura, puberdade atrasada, infertilidade e defeitos cognitivos e cardíacos.
- Síndrome alcoólica fetal: é um conjunto de sinais e sintomas apresentados pelo feto em decorrência do consumo de álcool pela mãe durante a gravidez. O feto nasce com fenda palpebral pequena, fácies plana, nariz curto, ausência nasolabial, lábio superior fino.
Considera-se o bebê pequeno para a idade gestacional se estiver com curva de percentil inferior a 10%, e o bebê é considerado grande para a idade gestacional, se a curva de percentil for superior a 90%.
Quando observamos a pele, verifica-se a integridade, presença de lesões e cor. É importante saber reconhecer as alterações comuns e não patológicas, bem como reconhecer as alterações da pele de acordo com a idade gestacional.
Em bebês pré-termo observa-se a presença do vérnix caseoso e lanugo. Pele mais fina e avermelhada (vasos sanguíneos visíveis). Em a termo a pele normalmente é sedosa, rósea, úmida, com turgor e elasticidade normais. A partir do 2o dia ocorre à descamação fisiológica (desde o nascimento: pós-maturidade; anoxia intrauterina e ictiose).
O vérnix caseoso tem importantes funções no bebê nascido prematuro, entre elas um importante antibacteriano, cicatrizante, auxilia na limpeza, umectação e impermeabilização da pele. Já a pele do pós-termo é seca, inelástica, descamativa, sendo desprovida de lanugo e vérnix.
Em torno de 30-50% dos RN apresentam eritema tóxico neonatal, nas regiões dos braços, nádegas, face e tronco, desaparecendo de 3-14 dias após o nascimento. A melanose pustular transitória neonatal, acomete cerca de 9,6% dos RN no Brasil, sendo mais comum em negros e desaparecendo entre 3-4semanas.
Outro sinal na pele do recém-nascido é o millium sebáceo, são cistos epidérmicos com presença de acúmulo de queratina. A mancha mongólica é um sinal fisiológico que acomete 22% dos RN, em grande maioria negros.
Outros sinais da pele também devem ser observados, como bolhas de sucção nos lábios, hemangiomas, mancha salmão, sinal de arlequin (causado por instabilidade vasomotora), a icterícia, que acomete em torno de 50% dos RN, entre o segundo e quinto dia de vida. Sendo avaliada pelas zonas de Kramer, a icterícia é quantificada considerando-se a sua progressão craniocaudal, isto é, a progressão da icterícia da cabeça para a região inferior do corpo (pernas e pés).
A tabela elaborada por Kramer relaciona os níveis de bilirrubina indireta (BI) com a zona dérmica de icterícia, dividindo-se em zonas de 1-5. Devemos observar na pele de um RN, a presença de acrocianose, uma condição fisiológica que deixa mãos e pés azulados, além da cianose central.
Na cabeça iremos avaliar as fontanelas, suturas e o formato do crânio. Existem duas fontanelas, a anterior e posterior, e quatro suturas, metópica, sagital, coronal e lambdoide.
Deve-se atentar para meningite, podendo causar hidrocefalia, também observar craniossinostoses como trigonocefalia, braquicefalia, plagiocefalia frontal e occipital e escafolocefalia.
- Trigonocefalia: é a fusão prematura dasutura metópica (parte da sutura frontal que une as duas metades do osso frontal do crânio) no qual uma anormalidade em forma de V ocorre na parte frontal do crânio. Caracteriza-se por uma prominência triangular da frente e olhos muito juntos.
- Braquicefalia: ocorre quando a sutura coronal se funde prematuramente, causando um encurtamento longitudinal (eixo occipito-frontal) dodiâmetro do crânio.
- Plagiocefalia frontal: resulta da fusão unilateral prematura dassuturas coronal ou lambdoide.
- Escafolocefalia: consiste em um alongamento da cabeça com um achatamento transversal.
Algumas síndromes causadas por deformação craniana podem ser colocadas, como: Síndrome de Apert: trata-se de uma mutação que causa plagiocefalia, sindactilia, rosto chato, testa alta, retardo mental e hipertelorismo. Síndrome de Crouzon: provoca deformidades cranianas e faciais (hipoplasia maxilar superior, exoftalmia, fronte larga). Além das síndromes, existe também a meningocele e encefalocele, sendo ambas malformações congênitas.
Na face, analisamos doenças como a paralisia facial periférica, fácies mixedematosa, caracterizada pela acentuação dos sulcos da face, nariz e lábio grossos, muito presente em pacientes com hipotireoidismo.
Nos olhos, observa-se edema palpebral com eversão, hemorragia subconjuntival, coloboma, aniridia, glaucoma congênito, edema de córnea e distância das fendas palpebrais em relação aos olhos. Ainda em relação aos olhos, realiza-se o reflexo do olho vermelho, para verificar presença de catarata congênita, e prevenção de cegueira. Deve-se incidir a luz do oftalmoscópio a 30cm da criança em ambiente escuro, espera-se que ambas pupilas fiquem vermelhas.
Nas orelhas, observa-se seu formato, correta implantação, apêndices, presença de secreções e agenesia renal. O teste da orelhinha é importante para detectar riscos de surdez e infecções congênitas, como a toxoplasmose.
Nos dentes, analisamos sua quantidade e distribuição, sua associação com a fenda palatina. Realiza-se o teste da linguinha, importante para avaliar distúrbios de fala ou problemas de sucção, fornece o diagnóstico de anquiloglossia.
No nariz, verifica-se sua forma, tamanho, permeabilidade do canal nasolacrimal, a presença de secreções serossanguinolenta pode indicar sífilis congênita.
No pescoço, verificam-se anormalidades linfáticas, malformações vasculares, teratomas, cistos dermóides. Doenças como higroma cístico ou cisto ducto tireoglosso devem ser observadas.
No tórax, observam-se alguns sinais, como ausência de peitoral maior na síndrome de Poland, tórax pequeno em hipoplasia pulmonar, tórax em forma de sino causado por anormalidades neurológicas, fratura de clavícula.
Em relação a respiração, deve-se analisar a frequência respiratória, observando seu ritmo e padrão. Em casos de insuficiência respiratória, verificar a utilização de musculatura acessória, realizar a ausculta e verificação de cianose.
No aparelho cardíaco, espera-se uma frequência cardíaca de 120-160 bpm, verifica-se ictus, sopros, bolhas, simetria do pulso periférico, bem como sua intensidade e amplitude, pressão arterial. Realiza-se o teste do coraçãozinho através da oximetria de pulso.
No abdômen, realiza-se sua inspeção observando se presente: abdômen escavado sinal de hérnia diafragmática, abaulamento supra-umbilical gerando atresia duodenal ou distenção gástrica, abaulamento infra-umbilical gerando distensão de bexiga, abdômen distendido por ar, líquido, vísceras ou massas. A presença de hérnia umbilical é mais comum em prematuros, negros e de sexo feminino.
Além de todos estes sinais, verificamos também a pelve e extremidades, fraturas de clavícula mais comum em parto, podendo ser assintomática ou com dor e perda de movimentação do braço. Displasia do desenvolvimento do quadril, causado por um deslocamento ou subluxação do quadril e malformação do acetábulo. Realizamos para correção manobras como Ortolani: rotação externa-abdução e Barlow: rotação interna-adução.
Outras observações frente ao exame físico do recém nascido: presença de metatarso aduzido, pé torto equinovaro, predominante no sexo masculino e bilateral em metade dos casos. Dedos supranumerários, polidactilia verdadeira.
Teste do pezinho: serve para detectar doenças que podem ser tratadas para evitar gerar sequelas. O exame é realizado retirando-se sangue do calcanhar entre o terceiro e sétimo dia de vida do bebe. Este exame compreende fases de implementação, que podem variar de acordo com o estado da federação.
A fase1 detecta fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito. Na fase2 compreende as doenças da fase 1 mais anemia falciforme, já na fase 3 detecta-se também fibrose.
Em relação a genitália, observa-se o tamanho do pênis, sua redução pode indicar hipogonadismo ou deficiência de GH, verificar fimose, hidrocele, tortuosidade do pênis. Na criança do sexo feminino pode ocorrer hipertrofia de clitóris devido a prematuridade ou produção materna de andrógeno e uso de drogas. Verificar presença de genitália ambígua.
No exame neurológico, avaliar tônus de sustentação cervical, reflexos próprios do recém-nascido, moro, sucção, prensão palmar e plantar.
Mecônio e Diurese: volume urinário 1o dia aproximadamente 15 ml. Causas de anúria: prepúcio imperfurado, estenose de uretra, valva de uretra posterior, tumores renais, rins policísticos, agenesia renal bilateral (Potter), hipovolemia, tombose de veia renal.
Mecônio: muco, bile, líquido amniótico e lanugo. Causas de ausência fecal: obstrução intestinal, megacólon congênito (Hirschsprung), hipermagnesemia.
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