Nesta manhã iniciamos com a apresentação do seminário de anamnese pediátrica, na qual o professor Egídio fez observações pertinentes e nos orientou a montar uma anamnese com um paciente real, de acordo com o que vimos em sala.
Primeiramente, deve-se levar em consideração alguns pontos importantes que antecedem a anamnese em si, além da forma correta de conduzi-la e encerrá-la.
1. Ambiente
A sala ou local onde será realizada a entrevista deverá ser tranquila, com privacidade e com iluminação adequada. Alguns brinquedos no consultório podem deixar a criança mais à vontade e permitir ao médico observar como ela brinca, se é criativa, se é agressiva e se reproduz situações vividas em casa. O tempo mínimo necessário para uma boa entrevista varia em torno de trinta a quarenta minutos. Quando se trata de escolares ou adolescentes, certas regras podem ser quebradas. Por exemplo, a distância entre médico e paciente, que em geral é mantida de forma a tornar a entrevista impessoal, poderá ser diminuída. Às vezes, uma escrivaninha pode inibir o paciente fazendo-o sentir-se distante do seu médico.
2. Apresentação
Antes de iniciar a anamnese o médico deverá apresentar-se, dizendo o seu nome. Deverá ficar claro o seu papel: se é médico, estudante, se faz parte de uma equipe ou não. Para um estudante é sempre melhor que fique esclarecida sua condição, pois isto lhe poupará situações constrangedoras no futuro. No primeiro contato deve-se perguntar o nome da criança e dos pais. Com crianças maiores, perguntar como gostam de ser chamadas ou se têm um apelido, tratando-as da forma à qual estejam habituadas. Dar especial atenção a estes aspectos quando se tratar de adolescentes poderá facilitar muito a relação médico-paciente.
3. Atitude e comportamento do médico
Durante a consulta o médico estará sendo analisado pela criança e pelos pais. Seu modo de vestir-se pode influenciar o relacionamento médico paciente, sendo recomendável mostrar asseio, esmero e usar indumentária que se aproxime da neutralidade. A gentileza no falar, o uso de voz tranquila e palavras suaves são percebidos pelo paciente. Sorrir, procurar ver se todos estão confortáveis, apertar a mão e lembrar o nome das pessoas são condutas que dizem ao paciente o quanto o médico se preocupa com ele. Há expressões que, de acordo com sua conotação habitual, tendem a inibir a comunicação, enquanto outras, transmitindo essencialmente a mesma mensagem, tendem a facilitar e evocar respostas significativas. É importante que o médico identifique e avalie seu arsenal próprio de frases padronizadas, tentando usar as que promovem a comunicação. Ressaltar que, se por um lado o médico precisa ter muito tato e consideração ao transmitir suas mensagens, nada há de errado em assumir posições firmes em certas recomendações, desde que se evitem expressões humilhantes ou tom de censura.
4. Atenção
O médico precisa saber ouvir o paciente e seus familiares. Mesmo quando não se está falando diretamente do motivo da consulta, é importante saber escutar e perceber nas entrelinhas problemas que às vezes são difíceis de verbalizar, observar posturas, atitudes das mãos, olhares trocados entre a criança e os pais. Em suma, é preciso identificar claramente o que os pais estão esperando do médico, por que vieram procurá-lo e quais são as suas expectativas em relação ao problema da criança.
5. Abordagem de todos os assuntos
Quando um determinado assunto é tabu para uma família, em geral não é trazido espontaneamente à consulta. Nestes casos, o médico deverá ser esclarecido e desprovido de preconceitos para poder ajudar a família a encarar o problema. Tratar de sexualidade, drogas, alcoolismo, depressão, doenças graves (câncer, retardo mental) e dificuldades financeiras requer maior habilidade. As famílias costumam esperar que o médico esteja tranqüilo o suficiente para abordar tais assuntos e saber lhes dar orientação.
6. Conduzir corretamente a entrevista
A entrevista poderá ser feita com perguntas mais objetivas ou de maneira mais solta. De qualquer forma, será necessária habilidade para colocar pais e paciente à vontade, deixando-os falar livremente de seus medos e fantasias acerca da doença ou motivo da consulta. Procurar não fazer perguntas que induzam respostas tipo “sim ou não”. Fazer uma pergunta de cada vez e ter tranqüilidade para ouvir a resposta. Existem alguns métodos que facilitam o relato dos pais ou do paciente e ajudam a mantê-los na mesma linha de pensamento sem interferir na história.
São eles: facilitação, reflexão, esclarecimento, respostas empáticas, confrontação e interpretação.
Facilitação: quando o paciente relata algo, pode-se facilitar seu relato sendo atento, fazendo silêncio para ouvi-lo, inclinando-se para frente ou usando expressões como “hum-hum” ou “continue”.
Reflexão: usar a última palavra de cada frase do paciente para encorajá-lo a prosseguir de modo que ele faça determinadas associações que não faria com perguntas diretas. Por exemplo: Mãe: “A tosse do meu filho era tão forte que eu pensei que ele fosse morrer.” Médico: “Pensou que ele fosse morrer…” Mãe: “Sim, minha mãe também teve tosses fortes antes de morrer.” Desta maneira descobre-se qual o significado da doença para o paciente e suas fantasias acerca disso.
Esclarecimento: não é errado o médico perguntar ao paciente o que significa determinado termo para ele. Pedir-lhe para esclarecer o significado de expressões tais como “razoável”, “regular”, “muito” ou “pouco” ajudam a entender melhor o seu problema.
Respostas empáticas: nem sempre é necessário ter vivido determinada situação para entender o que o paciente está sentindo. Dizer frases simples como “Eu compreendo.” ou “Eu imagino como isto deve ser difícil para ti.” poderá aproximar muito o médico do paciente.
Confrontação: confrontar alguém com seus sentimentos exige tato e delicadeza. Para dizer a um adolescente: “Quando você fala neste assunto suas mãos tremem, vamos falar mais sobre isto.”, o médico precisa despertar confiança para que o paciente sinta-se a vontade em relação à entrevista.
Interpretação: este método faz inferências a respeito dos sentimentos do paciente e não apenas o confronta com eles. Por exemplo: “Você já fez inúmeras perguntas sobre o resultado dos exames. Está preocupado com o diagnóstico?”.
7. Como conversar com crianças:
Não ser condescendente, só porque se está tratando com criança não é necessário deixar que ela faça o que desejar no consultório. É preciso saber impor limites e manter a autoridade de médico durante a consulta. Não rir delas, exceto quando ficar claro que é para rir. Para a criança, o modo como ela se comunica é o correto e não tem nenhum sentido cômico. Não caçoar, exceto quando já estiver estabelecido certo clima de intimidade. Nestes casos, o médico poderá fazer alguma brincadeira com a criança, sabendo que estará dando a ela o direito de ter a mesma atitude com ele. Procurar discutir com a criança sintomas, diagnósticos e tratamentos numa linguagem ao nível do seu entendimento. Usar o poder da força quando necessário, porém consciente de que isto trará aspectos negativos à relação médico-paciente. Às vezes, quando é prioritário obter uma informação que a criança está negando o médico pode impor sua autoridade e a dos pais.
8. Como finalizar a entrevista:
Deve-se usar algumas palavras de encerramento de uma maneira que os pais e o paciente percebam que a entrevista está no fim. Procurar perguntar se ainda existem dúvidas, o que esperavam da consulta, se os objetivos deles foram alcançados. Se algum assunto ficou pouco esclarecido, o médico pode solicitar que o paciente pense melhor sobre ele e traga mais informações na próxima consulta. Em suma, deixar claro que o tempo de cada consulta tem o seu limite e que o fim da entrevista é realmente o fim da entrevista.
A. INICIANDO A ANAMNESE
-> IDENTIFICAÇÃO
Nome: Manuella Marques Dell’Orti Lima
Data de nascimento: 22 de outubro de 2013
Idade atual: 2 anos e 22 meses
Sexo: feminino
Origem étnica: branca
Naturalidade:
Procedência:
Nome do informante: Katy Cibele Dell’Orti.
Relação de parentesco: mãe
Grau de confiabilidade: alta
Data da realização: 2 de outubro de 2016
-> QUEIXA PRINCIPAL
“Odor na vagina”
-> HMA
Odor na vagina iniciado à 15 dias, apresenta coloração esbranquiçada com frequência diária, não sabe mensurar a intensidade, acredita ser leve, associa-se a coceira periódica e ardência, melhora com a utilização de talco e pomada para assaduras.
-> ISDA
Nega: astenia, tontura, alteração no humor, febre.
Peso: 20 kg
Temperatura: 36°C
Sono regular
Nega: Alterações nos fâneros, cianose, equimoses, lesões, palidez, petéquias, rubicundez, secura, edema e nódulos.
Apresenta prurido, ardência vaginal e manchas brancas distribuídas pelo corpo.
Nega: dor, calor, rubor em articulações ou músculos, parestesias ou paralisias de grupos musculares especiais.
Nega: cefaleia, alteração da acuidade visual, dor nos olhos, lacrimejamento, uso de lente corretiva, vermelhidão nos olhos, visão dupla, audição, otalgia, otorreia e zumbidos.
Nega: dor torácica ventilatório-dependente, dispneia, epistaxe, espirros, hemoptise, obstrução nasal, prurido nasal, rinorreia, rouquidão, sibilância, tosse.
Nega: alteração do ritmo cardíaco, cianose, dispneia, palpitações, sopros.
Nega: vômitos, regurgitação, disfagia, halitose, pirose, dor abdominal, constipação, diarreia, eliminação de vermes, sangramento digestivo, tenesmo.
Nega: alteração da cor da urina, alteração do jato urinário, alterações menstruais, corrimento vaginal ou uretral, dor ou massas testiculares, disúria, enurese, incontinência, polaciúria, hematúria, hérnias, nictúria, poliúria.
Nega: alteração da marcha ou do equilíbrio, cefaleia, convulsões, desmaios, dislalias, paralisias, perda de memória, vertigens.
Nega: bócio, fome ou sede excessivas, instabilidade ao calor ou frio, sudorese excessiva.
Nega: agitação, alteração do humor, ansiedade, depressão, nervosismo, tensão.
Nega: desobediência, hiperatividade, irritabilidade, medo, preguiça, temperamento difícil ou destrutivo, timidez, tristeza.
Nega: chupar dedo, dificuldade de relacionamento, enurese, fobia escolar, gagueira, masturbação, perversão do apetite, problemas de sono, problemas sexuais, roubo, uso de drogas (álcool, tabaco, outras drogas).
-> ANTECEDENTES PERINATAIS
Planejada com boa aceitação.
Acompanhamento por 1 ano antes da gestação, realização de exames de triagem, verificação do calendário vacinal.
Ingestão de ácido fólico, vitamina B e sulfato ferroso.
Nega hábitos perniciosos durante gravidez, hipertensão, diabetes e obesidade.
6 consultas realizadas no pré-natal (uma no primeiro trimestre, duas no segundo e três no terceiro).
Intercorrências: cálculo renal, cistite, mancha neoplásica no útero com realização de biópsia e constatação da malignidade, sumiu após o parto.
Cesariana devido a posição do bebê inadequada para realização de parto normal.
Local: hospital Santa Joana.
Período gestacional: 40 semanas.
Ápgar: 8 – 9
Respiração lenta e irregular no 1° min e presença de icterícia.
Respiração normalizou e a icterícia se manteve no 5° min.
- Dados antropométricos ao nascer
Peso: 2.850g.
Comprimento: 46 cm.
Perímetro cefálico: 34 cm.
Perímetro torácico: 32 cm.
- Período neonatal imediato
Presença de icterícia a tratamento com fototerapia.
Ausência de problemas respiratórios e alimentares.
Tempo de hospitalização: 3 dias.
Peso na alta: 2.800g.
Condições da alta: coloração já adequada, ausência de icterícia.
Crescimento adequado, se encontra entre os percentis 1 e -1 até a data da consulta.
Sorriso espontâneo: 2 meses.
Segurar objetos: 4 meses.
Sentar sem apoio: 6 meses.
Engatinhar: 9 meses.
Controlar esfíncteres: 15 meses.
Primeiras frases: 15 meses.
Correr sem dificuldade: 1 ano e 6 meses.
Subir escadas: 1 ano e 8 meses.
Vestir-se: ainda não verificável.
Rendimento escolar: ainda não verificável.
Aleitamento materno exclusivo até os 6 meses.
Alimentação atual: já consome alimentação da família, com consumo de legumes, verduras, proteínas e carboidratos em geral.
Possui horário fixo de almoço e jantar, com refeições bem definidas.
Avó materna apresenta diabetes e hipertensão.
Pai apresenta alergia e rinite acentuada.
Avô paterno apresenta cardiopatia.
Ausência de doenças crônicas em outros integrantes da família e morte prematura familiar.
- Condições socioambientais
Casa de alvenaria na cidade, possui esgoto, água tratada e luz elétrica.
Os alimentos são bem conservados.
Possui seis cômodos e três habitantes, presença de geladeira, fogão e eletrodomésticos essenciais.
A saúde dos habitantes é adequada.
Paciente dorme na cama dos pais e é cuidada durante o dia pela avó materna.
Os pais são casados e possuem superior completo.
Utilizam automóvel para locomoção.
A paciente tem contato com o gato da avó e assiste televisão aproximadamente 4 horas diárias.
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