Resumão Manejo ambiental e Intoxicações

Este arquivo contém:

  • Fases da Intoxicação
  • Mecanismo de ação dos organofosforados e do carbamato
  • Intoxicação por Chumbo
  • Intoxicação por Mercúrio
  • Intoxicação por Benzeno
  • Intoxicação por Lítio
  • Intoxicação por Alumínio
  • Interação medicamentosa
  • Larva migrans cutânea
  • Ascaris Lumbricoides
  • Strongiloides
  • Ancylostoma duodenale
  • Necator americanus
  • Amebíase
  • Giardíase

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resumoManejo ambiental e Intoxicações

 

Manejo ambiental e Intoxicações – Problema 3: “Ata de Reunião”

Questões
  1. Conceituar intoxicação e interação medicamentosa.
  2. Descrever o mecanismo de ação farmacológica dos antitérmicos e analgésicos (ex.: paracetamol).
  3. Descrever o mecanismo de ação tóxico da substância ingerida.
  4. Descrever o processo de biotransformação hepática (Citocromo P450).
  5. Descrever as formas de tratamento empregadas nos casos de intoxicação medicamentosa.
  6. Caracterizar o papel da vigilância sanitária no controle dos medicamentos.
  7. Caracterizar os seguintes medicamentos: Metronidazol, Omeprazol, Cimetidina, Varfarina, Aminofilina, Inibidores da MAO e Clopidogrel.
Respostas
  1. Conceituar intoxicação e interação medicamentosa.

A intoxicação ocorre quando uma substância entra em contato com um organismo e provoca uma série de efeitos adversos, afetando a homeostase dele, rompendo o equilíbrio orgânico. Um processo patológico causado por substâncias endógenas ou exógenas, caracterizado por desequilíbrio fisiológico, consequente das alterações bioquímicas no organismo.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a interação medicamentosa é definida como uma resposta farmacológica ou clínica à administração de uma combinação de medicamentos, diferente dos efeitos de dois agentes administrados individualmente.

Existem interações medicamentosas do tipo medicamento-medicamento, medicamento-alimento, medicamento-bebida alcoólica e medicamento-exames laboratoriais. As interações medicamentosas podem ocorrer entre medicamentos sintéticos, fitoterápicos, chás e ervas medicinais.

  1. Descrever o mecanismo de ação farmacológica dos antitérmicos e analgésicos (ex.: paracetamol).

ANTITÉRMICOS

  • Aspirina

Contém a substância ativa ácido acetilsalicílico, que pertence ao grupo de substâncias anti-inflamatórias não-esteroides, com propriedades anti-inflamatória (atua na inflamação), analgésica (atua na dor) e antitérmica (atua na febre). O ácido acetilsalicílico inibe a formação de substâncias mensageiras da dor, as prostaglandinas, propiciando alívio da dor.

O seu mecanismo de ação baseia-se na inibição irreversível da enzima ciclooxigenase, envolvida na síntese das prostaglandinas. O ácido acetilsalicílico é usado em doses orais de 0,3 a 1 g para o alívio da dor e nas afecções febris menores, tais como resfriados e gripes, para redução da temperatura e alívio das dores musculares e das articulações.  O ácido acetilsalicílico também inibe a agregação plaquetária, bloqueando a síntese do tromboxano A2 nas plaquetas.

  • Superdosagem
    • A intoxicação em idosos e, sobretudo em crianças pequenas (superdose terapêutica ou envenenamento acidental, que é frequente) deve ser temida, pois pode ser fatal.
    • Intoxicação moderada: Zumbido, sensação de perda da audição, dor de cabeça, vertigem e confusão mental. Esses sintomas podem ser controlados com a redução da posologia.
    • Intoxicação grave: Febre, hiperventilação, cetose, alcalose respiratória, acidose metabólica, coma, choque cardiovascular, insuficiência respiratória, hipoglicemia acentuada.
    • Tratamento de emergência: Transferência imediata a uma unidade hospitalar especializada; lavagem gástrica, administração de carvão ativado, controle do equilíbrio ácido-base; diurese alcalina para obter um pH da urina entre 7,5 e 8; possibilidade de hemodiálise em intoxicação grave; e tratamento sintomático.
  • Dipirona

A dipirona é um derivado pirazolônico não-narcótico com efeitos analgésico, antipirético e espasmolítico. A dipirona é uma pró-droga cuja metabolização gera a formação de vários metabólitos entre os quais há 2 com propriedades analgésicas: 4-metil-aminoantipirna (4-MAA) e o 4-amino-antipirina (4-AA).

Como a inibição da ciclooxigenase (COX-1, COX-2 ou ambas) não é suficiente para explicar este efeito antinociceptivo, outros mecanismos alternativos foram propostos, tais como: inibição de síntese de prostaglandinas preferencialmente no sistema nervoso central, dessensibilizacão dos nociceptores periféricos envolvendo atividade via óxido nítrico-GMPc no nociceptor, uma possível variante de COX-1 do sistema nervoso central seria o alvo específico e, mais recentemente, a proposta de que a dipirona inibiria uma outra isoforma da ciclooxigenase, a COX-3.

Os efeitos analgésico e antitérmico podem ser esperados em 30 a 60 minutos após a administração e geralmente duram cerca de 4 horas.

  • Superdosagem
    • Após superdosagem aguda foram registradas reações como: náuseas, vômito, dor abdominal, deficiência da função renal/insuficiência renal aguda (ex. devido à nefrite intersticial) e, mais raramente, sintomas do sistema nervoso central (vertigem, sonolência, coma, convulsões) e queda da pressão sanguínea (algumas vezes progredindo para choque) bem como arritmias cardíacas (taquicardia). Após a administração de doses muito elevadas, a excreção de um metabólito inofensivo (ácido rubazônico) pode provocar coloração avermelhada na urina.
    • Tratamento: Não existe antídoto específico conhecido para dipirona. Em caso de administração recente, deve-se limitar a absorção sistêmica adicional do princípio ativo por meio de procedimentos primários de desintoxicação, como lavagem gástrica ou aqueles que reduzem a absorção (ex. carvão vegetal ativado). O principal metabólito da dipirona (4-N-metilaminoantipirina) pode ser eliminado por hemodiálise, hemofiltração, hemoperfusão ou filtração plasmática.
  • Ibuprofeno

Inibidor inespecífico da enzima ciclooxigenase (COX). Este medicamento contém Ibuprofeno, um derivado do ácido fenilpropiônico, inibidor da síntese das prostaglandinas, tendo propriedades analgésicas e antipiréticas. Os antipiréticos e analgésicos inibem a ação da ciclooxigenase, diminuindo a formação de precursores das prostaglandinas e dos tromboxanos a partir de ácido araquidônico, diminuindo a ação destes mediadores no termostato hipotalâmico e nos receptores de dor (nociceptores).

O Ibuprofeno apresenta boa absorção oral, com aproximadamente 80% da dose absorvida no trato gastrintestinal, havendo diferença quando da administração em jejum ou após refeição, pois a presença de alimentos diminui a absorção. O início de ação ocorre em cerca de 15 a 30 minutos. A taxa de ligação protéica é alta (99%) e a concentração plasmática máxima é atingida em 1,2 a 2,1 horas, tendo duração de 4 a 6 horas, com meia-vida de eliminação de 1,8 a 2 horas. A biotransformação é hepática e a excreção praticamente se completa em 24 horas após a última dose, sendo menos de 1% excretado na forma inalterada.

  • Superdosagem
    • O tratamento da superdose pelo Ibuprofeno é de suporte, uma vez que não existem antídotos a este fármaco. Os sintomas incluem vertigem, nistagmo, apneia, inconsciência, hipotensão e insuficiência respiratória. Nos casos de intoxicação aguda com comprometimento hemodinâmico e/ou respiratório, devem-se administrar líquidos, mantendo-se uma boa diurese. Como o fármaco é ácido e é excretado pela urina, teoricamente é benéfica a administração de álcali, além de volume. O esvaziamento gástrico deve ser realizado pela indução de vômito ou lavagem gástrica e a administração de carvão ativado deve ser instituída. Medidas de suporte auxiliarão no procedimento terapêutico específico de superdoses.
  • Paracetamol

O paracetamol reduz a febre atuando no centro regulador da temperatura no Sistema Nervoso Central (SNC) e diminui a sensibilidade para a dor. Seu efeito tem início 15 a 30 minutos após a administração oral e permanece por um período de 4 a 6 horas.

  • Superdosagem
    • O uso de doses excessivas, acima das doses recomendadas (superdose) pode causar danos ao fígado. Em caso de superdose, procure ajuda médica ou um centro de intoxicação imediatamente. O apoio médico imediato é fundamental para adultos e crianças, mesmo se os sinais e sintomas de intoxicação não estiverem presentes. Os sinais e sintomas iniciais que se seguem a uma dose potencialmente hepatotóxica de paracetamol são: anorexia, náusea, vômito, sudorese intensa, palidez e mal-estar geral.
  • Interações medicamentosas
    • Alimentos: a administração deParacetamol conjuntamente com alimentos retarda sua absorção.
    • Barbitúricos, carbamazepina, hidantoína, rifampicina e sulfimpirazona: a hepatotoxicidade potencial doParacetamol pode ser aumentada por grandes doses ou administração prolongada destes fármacos.
    • Álcool: a hepatotoxicidade potencial doParacetamol pode ser aumentada com a ingestão crônica e excessiva de álcool. 
    • Anticoagulantes derivados da cumarina ou da indandiona: a administração simultânea crônica de doses elevadas deParacetamol pode aumentar o efeito do anticoagulante, possivelmente devido à diminuição da síntese hepática dos fatores que favorecem a coagulação.
    • Analgésicos anti-inflamatórios não-esteroides, ácido acetilsalicílico ou outros salicilatos: não se recomenda o uso prolongado e simultâneo doParacetamol com salicilatos, uma vez que estudos recentes demonstraram que a administração crônica de doses elevadas de ambos analgésicos aumenta significativamente o risco de aparecimento de nefropatia, necrose papilar renal, enfermidade renal terminal e câncer de rim ou de bexiga produzidos por analgésicos.
    • Diflunisal: o uso concomitante pode aumentar a concentração plasmática deParacetamol em 50%, aumentando o risco de hepatotoxicidade induzida pelo Paracetamol.

ANALGÉSICOS

Este medicamento contém o sal Diclofenaco Potássico, um composto não esteroidal com acentuadas propriedades antirreumática, analgésica, anti-inflamatória e antipirética. 

A inibição da biossíntese das prostaglandinas é considerada fundamental no mecanismo de ação. As prostaglandinas desempenham papel importante na gênese da inflamação, dor e febre. Este medicamento possui um rápido início de ação, o que o torna particularmente adequado para o tratamento de estados dolorosos e, ou inflamatórios agudos. O diclofenaco liga-se a proteínas séricas, predominantemente à albumina (99,4%). O volume de distribuição aparente calculado é de 0,12-0,17 L/kg. O diclofenaco penetra no fluído sinovial, onde as concentrações máximas são medidas de 2-4 horas após serem atingidos os valores de pico plasmático.

  • Superdosagem
    • A superdose pode causar vômito, hemorragia gastrointestinal, diarreia, tontura, zumbido ou convulsões. No caso de intoxicação significante, insuficiência aguda nos rins e insuficiência no fígado pode ocorrer.
    • Tratamento: O tratamento de intoxicações agudas com AINEs, incluindo diclofenaco consiste em medidas sintomáticas e de suporte. Tratamento sintomático.Medidas específicas tais como diurese forçada, diálise ou hemoperfusão provavelmente não ajudam na eliminação de AINEs. Em casos de superdose potencialmente tóxica, a ingestão de carvão ativado pode ser considerada para desintoxicação do estômago (ex.: lavagem gástrica e vômito) após a ingestão de uma superdose potencialmente letal.
  • Celecoxib

Celecoxibe é um agente analgésico (promove redução da dor) e anti-inflamatório (combate a inflamação que é a reação do sistema de defesa do nosso corpo a uma agressão, que se manifesta como dor, calor, vermelhidão no local) não esteroidal (não derivado de hormônios) da classe dos inibidores específicos da enzima ciclooxigenase 2 (COX-2, substância responsável por desencadear a inflamação). Além da inibição da COX-2, os anti-inflamatórios não esteroidais tradicionais inibem também a COX-1, o que pode aumentar os riscos de eventos adversos gastrintestinais (lesões, úlceras e sangramentos). A dor aguda é reduzida após 28 minutos da dose de celecoxibe, já a redução dos sintomas da osteoartrite e da artrite reumatoide é percebida em 1-2 semanas de uso da medicação.

  • Superdosagem
    • O uso de grandes quantidades de anti-inflamatórios pode gerar: cansaço, sonolência, náusea, vômito e dor de estômago, normalmente reversíveis; e sangramento gastrintestinal, aumento da pressão sanguínea, insuficiência renal aguda (falência do rim), depressão respiratória (redução grave dos movimentos respiratórios), coma e reações anafiláticas (alérgicas).
  • Nimesulida

Nimesulida é um fármaco anti-inflamatório não-esteroide (AINE), que difere dos outros compostos desta categoria por apresentar um radical sulfonanilida em lugar de um radical carboxílico. À semelhança de outros AINEs, possui também ação analgésica e antipirética. A Nimesulida inibe seletivamente a enzima cicloxigenase-2, reduzindo a síntese de prostaglandinas relacionadas à inflamação. Este modo de ação também influi sobre a agregação plaquetária, causando inibição da mesma. 

A estrutura química de Nimesulida indica um mecanismo do tipo “scavenger”, através do qual o fármaco neutraliza a formação de radicais livres de oxigênio produzidos ao nível da cascata do ácido araquidônico e liberados em grande quantidade na origem do processo inflamatório por diversos tipos de células (granulócitos, neutrófilos, macrófagos), sem influenciar a quimiotaxia e a fagocitose.

Os mecanismos descritos são mais eficazes in vivo, o que sugere uma possível ativação biológica do composto, tornando-o um fármaco de ação anti-inflamatória potente. Alguns estudos indicam ter a Nimesulida melhor tolerabilidade e causar menor incidência de efeitos colaterais em comparação com outros fármacos desta classe terapêutica.

  • Superdosagem
    • Poucos casos de superdose intencional foram relatados e sem sinais de intoxicação. Em geral os sintomas de superdose por AINEs são moderados e incluem: náusea, vômito, dor de cabeça, sonolência, alteração visual e tontura. Em caso de superdose com o produto deve ser iniciado o tratamento sintomático (lavagem gástrica, investigação e restauração do balanço hidroeletrolítico). Se houver comprometimento da função renal, poderá ser necessária a realização de uma hemodiálise.
  1. Descrever o mecanismo de ação tóxico do paracetamol.

Indicações: Este medicamento é indicado, em adultos, para a redução da febre e o alívio temporário de dores leves a moderadas, tais como: dores associadas a resfriados comuns, dor de cabeça, dor no corpo, dor de dente, dor nas costas, dores musculares, dores leves associadas a artrites e dismenorreia.

 Propriedades Farmacodinâmicas

O paracetamol é um analgésico e antitérmico não pertencente aos grupos dos opiáceos e salicilatos, clinicamente comprovado, que promove analgesia pela elevação do limiar da dor e antipirese através de ação no centro hipotalâmico que regula a temperatura. Seu efeito tem início 15 a 30 minutos após a administração oral e permanece por um período de 4 a 6 horas.

O efeito terapêutico é explicado pela inibição da síntese de prostaglandinas no sistema nervoso central e na periferia através da inibição da ciclo-oxigenase. O paracetamol inibe as isoformas COX-1, COX-2 e COX-3. A COX-3 é uma variante da COX-1 recentemente descoberta localizada a nível cerebral, sugerindo-se ser a isoforma mais sensível a este fármaco e ter assim um papel importante no efeito do paracetamol.

  • Efeito analgésico: diminuição da geração de prostaglandinas significa menos sensibilização de terminações nervosas nociceptivas aos mediadores inflamatórios, como a bradicinina e a 5-hidroxitriptamina.
  • Efeito antipirético: ocorre fundamentalmente através da inibição da produção de prostaglandinas no hipotálamo. Durante a infecção, endotoxinas bacterianas provocam a liberação da IL-1 dos macrófagos. No hipotálamo, esta citocina estimula a geração de prostaglandinas do tipo E que elevam o ponto de ajuste da temperatura.

Propriedades Farmacocinéticas

  • Absorção: o paracetamol, administrado oralmente, é rapidamente e quase completamente absorvido no trato gastrointestinal, principalmente no intestino delgado. A absorção ocorre por transporte passivo
  • Efeito dos alimentos: a absorção de paracetamol é mais rápida se você estiver em jejum.
  • Distribuição: o paracetamol parece ser amplamente distribuído aos tecidos orgânicos, exceto ao tecido gorduroso. Seu volume de distribuição aparente é de 0,7 a 1litro/kg em crianças e adultos. Uma proporção relativamente pequena (10% a 25%) do paracetamol se liga às proteínas plasmáticas.
  • Metabolismo: o paracetamol é metabolizado principalmente no fígado e envolve três principais vias: conjugação com glucoronídeo, conjugação com sulfato e oxidação através da via enzimática do sistema citocromo P450. A via oxidativa forma um intermediário reativo que é detoxificado por conjugação com glutationa para formar cisteína inerte e metabólitos mercaptopúricos. A principal isoenzima do sistema citocromo P450 envolvida in vivo parece ser a CYP2E1, embora a CYP1A2 e CYP3A4 tenham sido consideradas vias menos importantes com base nos dados microssomais in vitro. Subsequentemente verificou-se que tanto a via CYP1A2 quanto a CYP3A4 apresentam contribuição desprezível in vivo. A administração diária consecutiva de doses de 4g por dia induz glucoronidação (uma via não tóxica) em adultos sadios e com disfunção hepática, resultando essencialmente em depuração total aumentada do paracetamol no decorrer do tempo e acúmulo plasmático limitado.
  • Eliminação: em adultos a meia vida de eliminação do paracetamol é cerca de 2 a 3 horas e em crianças é cerca de 1,5 a 3 horas.O paracetamol é eliminado do organismo sob a forma de conjugado glucoronídeo (45% a 60%) e conjugado sulfato (25% a 35%).

Toxicidade

Na presença de doses tóxicas do acetaminofeno, as vias de sulfatação e glicuronidação são saturadas, desviando grande quantidade de medicamento para ser metabolizado pelo Citocromo P450 (enzimas CIP2EI e CIP1A2), formando NAPQI em excesso. Quando os estoques de glutation (antioxidante) são depletados em aproxidamente 70%, o NAPQI começa a reagir com os constituintes celulares, provocando injúria hepática.

Acredita-se que os metabólitos reativos (NAPQI) e a depleção da Glutationa, sinalizam as células de Kupffer (macrófagos hepáticos) a liberar citocinas que por sua vez marcam os hepatócitos injuriados, culminando para a morte celular por ativação da Oxido Sintetase Indutível (ONSi) e outros processos que produzem espécies reativas de nitrogênio e estresse oxidativo.

Doses

A dose terapêutica diária recomendada é de 4g em adultos e 90 mg/kg em crianças. Uma dose de 150 mg/kg  em crianças ou 7,5 g em adultos pode causar toxicicidade.

Fatores que favorecem a ocorrência das reações tóxicas:

  • Atividade excessiva do Citocromo P450 induzida pelo uso crônico de álcool ou por outras drogas como anticonvulsivantes e antituberculosos gera diretamente mais NPQI.
  • Capacidade reduzida de sulfatação e glicuronidação desvia mais acetaminofeno para a via de produção do mesmo NPQI.
  • Depleção dos estoques de glutation pela desnutrição ou pela ingestão crônica de álcool.

Manifestações Clínicas da Overdose (Intoxicação Aguda) – Fases

  • Fase 1 (30 minutos a 24 hora): náuseas, vômitos, diaforese e palidez. Transaminases em elevação.
  • Fase 2 (24 a 72 horas): desenvolvimento de dor no QSD; níveis máximos de transaminases; bilirrubina e TP elevados.
  • Fase 3 (72 a 96 horas): necrose hepática, caracterizada por icterícia, coagulopatia, encefalopatia, insuficiência renal aguda e morte.
  • Fase 4 (4 dias a 2 semanas): nos pacientes sobreviventes há resolução da disfunção hepática e recuperação do dano hepático patológico.

Diagnóstico

É definido com base na história, nos exames laboratoriais e no exame físico.  Deve-se obter ainda a dosagem do nível sérico do acetominofeno entre 4 e 24h após a ingestão. Níveis acima de 300 mcg/ml após 4h da ingestão são preditores da lesão grave.

Com a dosagem sanguínea do medicamento podemos utilizar o Nomograma de Rumack-Matthew para avaliar e calcular o risco toxicológico do paciente. Normalmente a primeira dosagem é feita na quarta hora após a ingestão do produto para medir o nível plasmático após absorção completa e distribuição do medicamento. A administração da N-acetilcisteína tem indicação quando os níveis de paracetamol estão acima da linha da toxicicidade do Nomograma de Rumack-Matthew ou quando os níveis plasmáticos de paracetamol não forem disponíveis.

Tratamento

Inclui além das medidas de suporte, lavagem gástrica e administração de carvão ativado ou colestiramina. No entanto no caso do paracetamol a utilização do carvão ativado e da colestiramina  perde sua efetividade caso administrado mais de 30 min a   pós sua ingestão.

Outras avaliações laboratoriais úteis incluem eletrólitos (presença de um intervalo aniôni- co), glicose, ureia, creatinina, aminotransferases hepáticas, bilirrubina e TP/RNI.

Dessa forna, como os pacientes raramente se apresentam nesse período, o tratamento é voltado para a prevenção de complicações, sendo o antídoto específico a N-acetilcisteína administrada por via IV ou VO.

A N-acetilcisteína é responsável pela reposição de grupos sulfidrila, que promovem a sintese de glutation hepático ou se unem aos metabólitos tóxicos.

Esquema Oral

  • Dose de Ataque: 140 mg/kg de peso.
  • Dose de Manutenção: 70 mg/kg de peso a cada 4 horas até completar 15-20 doses (total de 72h)

    Esquema Venoso
    (escolha para pacientes já em em insuficiência hepática)
  • Dose de Ataque: 150 mg/kg em 15-60 minutos.
  • Dose de Manutenção: 12,5 mg/kg/h por 4 h e posteriormente 6,25 mg/kg/h nas 16 horas restantes, completando 20-21h de tratamento.
4. Descrever o processo de biotransformação hepática (Citocromo P450).

O metabolismo de fármacos ocorre predominantemente no fígado, especialmente pelo sistema do citocromo P450 (CYP). Algumas enzimas do P450 são extra-hepáticas e desempenham função importante na biossíntese dos hormônios esteroides e eicosanoides, mas aqui trataremos do catabolismo dos fármacos pelo sistema P450 hepático.

SISTEMA MONO-OXIGENASE P450

As enzimas do citocromo P450 são hemeproteínas abrangendo uma grande família (“superfamília”) de enzimas relacionadas, mas distintas (cada uma chamada de CYP, seguida por um conjunto de números e uma letra). Elas se diferenciam entre si pela sequência de aminoácidos, sensibilidade a inibidores e agentes indutores (mais adiante) e na especificidade das reações que catalisam. Os diferentes membros da família apresentam especificidades de substratos distintas, mas que frequentemente se sobrepõem. A purificação e a clonagem das enzimas P450 formam a base da classificação atual, calcada nas similaridades da sequência de aminoácidos. Foram descritas 74 famílias de genes CYP, das quais as três principais (CYP1, CYP2 e CYP3) estão envolvidas no metabolismo de fármacos no fígado humano.

A oxidação dos fármacos pelo sistema mono-oxigenase P450 requer fármaco (substrato, “FH”), enzima P450, oxigênio molecular, NADPH e NADPH-P450 redutase (a flavoproteína). O mecanismo envolve um ciclo complexo, mas o resultado da reação é bem simples; ou seja, a adição de um átomo de oxigênio (do oxigênio molecular) ao fármaco para formar um produto hidroxilado (FOH), enquanto o outro átomo de oxigênio é convertido em água.

As enzimas P450 realizam dois principais tipos reações no metabolismo de fármacos: reações de catabolismo e anabolismo, e são separadas por fases.

Fase 1: As reações de fase 1 são realizadas principalmente no fígado e são ditas catabólicas (por exemplo: hidrólise, oxidação e redução). Têm por objetivo exibir ou inserir grupos funcionais na molécula do fármaco, tendo como resultado, um metabólito mais polar, mais hidrossolúvel e mais fácil de ser excretado, além de servir como alvo para a conjugação feita nas reações de fase 2. O objetivo dessa fase é facilitar a eliminação do fármaco, porém algumas vezes, paradoxalmente, o metabólito torna-se mais ativo que o fármaco original. Como esta fase ocorre no interior do hepatócito (retículo endoplasmático liso) o fármaco necessita penetrar pela membrana plasmática para então ser metabolizado, logo, ele necessita ser lipossolúvel o bastante para transpor a membrana ou ter ajuda de um carreador. (Mais informações sobre a membrana celular você encontra na postagem passada sobre Dinâmica Celular).

Fase 2: As reações de fase 2 já são anabólicas e envolvem a conjugação com outros componentes, tornando, via de regra, os metabólitos em compostos inativos. Porém, assim como nas reações de fase 1, existem alguns produtos das reações de fase 2 que continuam ativos, mesmo depois da conjugação. É o caso da morfina-6-glicuronideo, um metabólito ativo da morfina que está sendo desenvolvido em laboratório como um agente anestésico. Esse agente promete (em uma administração aguda) induzir menos efeitos adversos como náuseas e vômitos no comparado ao fármaco original. Rang & Dale colocam que quando a molécula do fármaco possui um “gancho” específico (como uma hidroxila, grupamento tiol ou amino) ou é produto resultante da reação de fase 1 ela é predisposta a uma conjugação. Os principais grupamentos da reação de fase 2 são o glicuronil, sulfato, metil e acetil. A formação do glicuronil é derivado de um componente de alta energia a uridina difosfato do ácido glicurônico (UDP-α-glicuronídeo). Deste componente a UDP-glicuronil-transferase transfere o grupamento glicuronil para o fármaco em questão fazendo a ligação com um átomo rico em elétrons (como N, O ou S), formando uma ligação amida, éster ou tiol. A UDP-glicuronil-transferase possui uma vasta gama de substratos tanto exógenos (como fármacos) e endógenos (como a bilirrubina e os corticoides suprarrenais).

Indução das enzimas citocromais: Existem alguns fármacos que causam a indução desse sistema, como anticonvulsivantes, rifampicina ou o uso crônico de etanol. Os problemas clínicos que podem surgir destes indutores enzimáticos são inúmeros, sendo alguns de extrema seriedade. Gravidez indesejada, rejeição de enxerto (pela falha da terapêutica imunossupressora), convulsões (pela perda da eficácia do anticonvulsivante) e trombose, são alguns dos principais problemas apresentados por essas interações.

Inibição das enzimas citocromais: Da mesma forma que existem fármacos indutores, existem aquelas que inibem o metabolismo hepático, atrapalhando assim o processo metabólico de muitos fármacos (alguns deles bem presentes no cotidiano da clínica). Vários são os exemplos de drogas que inibem enzimas específicas do P450, como por exemplo o cetoconazol, omeprazol, cloranfenicol, metronidazol, cimetidina, ciprofloxacino, dentre outros.

Tais fármacos prejudicam a resposta clínica principalmente de pró-fármacos ou de fármacos que geram metabólitos ativos, pois estes necessitam do metabolismo para ter uma resposta terapêutica apreciável. Um exemplo onde existe uma preocupação clínica relevante é a interação entre o omeprazol e o clopidogrel. O omeprazol inibe a enzima CYP2C19 que é responsável pelo metabolismo do clopidrogel na sua forma ativa, logo o uso do omeprazol com este antiagregante plaquetário causa a perda da farmacoterapia prescrita. O FDA em 2009 divulgou um aviso informando que a prescrição destes dois medicamentos concomitantemente deve ser evitada pelos profissionais prescritores.

Segundo Rang & Dale (2011), outro ponto importante é o caso do dissulfiram que inibe a aldeído desidrogenase para produzir a reação de intolerância ao etanol. Existem fármacos, como o metronidazol, que também inibem a enzima aldeído desidrogenase, logo é importante que o clínico, ao prescrever este medicamento, informe ao paciente que o uso de álcool durante o tratamento com este antibiótico pode trazer sérias complicações. É importante lembrar também que o profissional responsável pela dispensação realize a atenção farmacêutica ressaltando este dado, garantindo assim a qualidade do tratamento.

5. Caracterizar o papel da vigilância sanitária no controle dos medicamentos.

Anvisa

Criada pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro 1999, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é uma autarquia sob regime especial, que tem como área de atuação não um setor específico da economia, mas todos os setores relacionados a produtos e serviços que possam afetar a saúde da população brasileira.

A ANVISA é responsável pela coordenação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), de forma integrada com outros órgãos públicos relacionados direta ou indiretamente ao setor saúde.

Na estrutura da administração pública federal, a Anvisa encontra-se vinculada ao Ministério da Saúde e integra o Sistema Único de Saúde (SUS), absorvendo seus princípios e diretrizes.

Vigilância Sanitária

Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo: o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se  relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde.

Para a Organização Mundial da Saúde, a farmacovigilância é ciência e atividades relativas a identificação, avaliação, compreensão e prevenção de efeitos adversos ou qualquer problema possível relacionado com fármacos. Esse campo de atividade tem se expandindo e, recentemente, incluiu novos elementos de observação e estudo, como: plantas medicinais; medicina tradicional e complementar; produtos derivados de sangue; produtos biológicos; produtos médico-farmacêuticos; vacinas.

Além das reações adversas a medicamentos, são questões relevantes para a farmacovigilância: desvios da qualidade de produtos farmacêuticos; erros de administração de medicamento; notificações de perda da eficácia; uso de fármacos para indicações não aprovadas, que não possuem base científica adequada; notificação de casos de intoxicação aguda ou crônica por produtos farmacêuticos; avaliação de mortalidade; abuso e uso errôneo de produtos;  interações, com efeitos adversos, de fármacos com substâncias químicas, outros fármacos e alimentos.

6. Caracterizar os seguintes medicamentos: Metronidazol, Omeprazol, Cimetidina, Varfarina, Aminofilina, Inibidores da MAO e Clopidogrel.

Metronidazol

  • Indicação: no tratamento de giardíase (infecção do intestino delgado causada pelo protozoário flagelado, Giardia lamblia), amebíase (infecção causada por qualquer uma de várias amebas), tricomoníase (infecções produzidas por várias espécies de Tricomonas), vaginites (inflamação na vagina) por Gardnerella vaginalis e infecções causadas por bactérias anaeróbias (que crescem na presença de baixas concentrações de oxigênio ou até mesmo na sua ausência) como Bacteroides fragilis e outros bacteroides, Fusobacterium sp, Clostridium sp, Eubacterium sp e cocos anaeróbios.
  • Ação: O metronidazol é um anti-infeccioso que apresenta atividade antimicrobiana, que abrange exclusivamente microrganismos anaeróbios, e atividade antiparasitária. A absorção máxima ocorre entre 1 a 2 horas. O fígado é o principal local do metabolismo, sendo responsável por mais de 50% da depuração sistêmica do Metronidazol. Os dois metabólitos principais resultam da oxidação das cadeias laterais. O principal metabólito é o alcoólico que possui atividade bactericida sobre microrganismos anaeróbios, de aproximadamente 30%, quando comparado ao Metronidazol, e uma meia-vida de eliminação de 11 horas.
  • Efeitos colaterais: dor epigástrica (dor de estômago), náusea, vômito, diarreia, mucosite oral (inflamação dos tecidos moles da boca), alterações no paladar incluindo gosto metálico, anorexia, confusão, tontura, alucinações, convulsões ou alterações visuais.
  • Interações medicamentosas
    • Álcool: bebidas alcoólicas e medicamentos contendo álcool não devem ser ingeridos durante o tratamento com metronidazol e no mínimo 1 dia após o mesmo, devido à possibilidade de reação do tipo dissulfiram (efeito antabuse), com aparecimento de rubor, vômito e taquicardia (aceleração do ritmo cardíaco).
    • Dissulfiram: foram relatadas reações psicóticas em pacientes utilizando concomitantemente metronidazol e dissulfiram.
    • Terapia com anticoagulante oral (tipo varfarina): potencialização do efeito anticoagulante e aumento do risco hemorrágico, causado pela diminuição do catabolismo hepático. Em caso de administração concomitante, o médico deve monitorar o tempo de protrombina com maior frequência e realizar ajuste posológico da terapia anticoagulante durante o tratamento com metronidazol.
    • Lítio: os níveis no plasma de lítio podem ser aumentados pelo metronidazol. O médico deve monitorar as concentrações plasmáticas de lítio, creatinina e eletrólitos enquanto durar o tratamento com metronidazol.
    • Ciclosporina: risco de aumento dos níveis no plasma de ciclosporina. O médico deve monitorar rigorosamente os níveis plasmáticos de ciclosporina e creatinina.
    • Fenitoína ou fenobarbital: aumento da eliminação de metronidazol, resultando em níveis no plasma reduzidos.
    • 5-fluorouracil: o uso concomitante com metronidazol aumenta a sua toxicidade.
    • Bussulfano: os níveis no plasma de bussulfano podem ser aumentados pelo metronidazol, o que pode levar a uma severa toxicidade do bussulfano.

Omeprazol

  • Indicação: O omeprazol está indicado nas úlceras pépticas benignas, tanto gástrica como duodenal; esofagite de refluxo; estados de hiperacidez gástrica; na síndrome de Zollinger-Ellison.
  • Ação: O omeprazol é um inibidor da secreção ácida gástrica, cujo mecanismo de ação envolve a inibição específica da bomba de ácido gástrico na célula parietal. O omeprazol age por inibição da H+K+-ATPase, enzima localizada na célula parietal do estômago e responsável por uma das etapas finais no mecanismo de produção do ácido a nível gástrico. Assim, através desta ação seletiva, há uma diminuição da acidez tanto pela redução da secreção ácida basal como da estimulada pela pentagastrina. A administração diária de omeprazol em dose única, via oral, causa rapidamente a inibição da secreção ácida gástrica.
  • Efeitos colaterais: cefaleia, astenia, diarreia, gastroenterite, dor muscular, reações alérgicas e púrpura ou petéquia.
  • Interações medicamentosas
    • Embora em menor proporção que os antagonistas H2, o omeprazol também pode inibir o metabolismo das drogas que dependem do citocromo P-450 monoxigenase hepática. Nesses casos, quando houver necessidade da administração concomitante desse tipo de drogas, recomenda-se a adequação das doses das mesmas.
    • Diazepam, fenitoína e varfarina (medicamentos metabolizados por oxidação hepática) podem ter sua eliminação retardada pelo omeprazol.
    • Não se verificou interação com propranolol.
    • Não foram observadas interações na administração concomitante de omeprazol com antiácidos ou alimentos.

Cimetidina

  • Indicação: para tratar úlceras no estômago e intestino; para tratar e prevenir sangramentos das úlceras; em situações onde muito ácido é produzido no estômago, podendo ocorrer sangramento; para tratar azia ou outras condições causadas pelo excesso de ácido no estômago; antes de uma anestesia geral; se você tem síndrome do intestino curto, e você está sofrendo de perda de líquidos ou seu corpo tem problemas em absorver fluidos.
  • Ação: Cimetidina contém como princípio ativo a cimetidina, que reduz a acidez do seu estômago, sendo eficaz no tratamento de úlcera gástrica e duodenal e em algumas outras situações onde seja necessário reduzir a quantidade de ácido. Atua inibindo seletivamente e competitivamente a ação da histamina em nível dos receptores H2 das células parietais; promovendo com isto a inibição da secreção gástrica basal e estimulada, com consequente diminuição da acidez.
  • Efeitos colaterais: diarreia, reações alérgicas, úlceras na boca, infecção na garganta, náuseas, vômitos, confusão, febre, confusão, perda de apetite, sensação de mal-estar, coceira, olhos e pele amarelos e urina escura.
  • Interações medicamentosas
    • Cimetidina pode ser ingerido com alimentos, ou com o estômago vazio.
    • Medicamentos para prevenir coágulos (varfarina);
    • Medicamentos para tratar epilepsia (fenitoína);
    • Medicamentos para tratar asma ou bronquite (teofilina);
    • Anestésicos locais (lidocaína);
    • Medicamentos para tratar artrite ou dores articulares.

Clopidogrel

  • Indicação: prevenção dos eventos aterotrombóticos – infarto agudo do miocárdio, AVC – acidente vascular cerebral e morte vascular; síndrome coronária aguda e doenças decorrentes da obstrução dos vasos sanguíneos.
  • Ação: é um medicamento antiplaquetário e contém uma substancia chamada bissulfato de clopidogrel. Age prevenindo o agrupamento de plaquetas e age reduzindo a chance de formação de trombros (coágulos sanguíneos). 
  • Contraindicações: alergia ou intolerância ao clopidogrel. Não deve ser utilizado em caso de úlcera péptica (lesão no estomago) ou hemorragia intracraniana.  
  • Efeitos colaterais: cefaleia, parestesia, tontura, indigestão, dor abdominal, diarreia, enjoo, gastrite, flatulência, úlcera duodenal, sangramento e distúrbios da coagulação, erupção na pele, leucopenia, eosinofilia, confusão, alucinação, diminuição da PA, colite, estomatite.
  • Interações medicamentosas
    • Trombolíticos: incidência de hemorragias clinicamente significativas
    • Inibidores da glicoproteína IIb/IIa: usados para inibir a coagulação sanguínea;
    • Anticoagulantes injetáveis (heparina)
    • Anticoagulante oral (varfarina)
    • Ácido acetilsalicílico (AAS)

Inibidores da MAO

  • O que é: A MAO é uma enzima importante que destrói certos compostos químicos. Os inibidores da MAO interferem com o funcionamento da enzima MAO e anulam a destruição de compostos químicos, tornando-os ativos quando ingeridos.
    • Inibidores seletivos da MAO-A: responsável pelo metabolismo de noradrenalina e serotonina: fenelzina e tranilcipromina
    • Inibidor seletivo da MAO-B: degradação seletiva da dopamina: selegilina.
  • Indicação: tratamento de síndromes depressivas.
  • Ação: atua sobre o sistema neurotransmissor monoaminérgico do cérebro. Sua ação é devida a uma inibição reversível da monoaminoxidase. O metabolismo da norepinefrina, serotonina e dopamina é diminuído por este efeito, o que acarreta concentrações aumentadas destes neurotransmissores. Como resultado da melhoria do humor e da atividade psicomotora.
  • Contraindicações: hipersensibilidade à droga, estados de confusão agua, administração concomitante de moclobemida com seleginina.
  • Efeitos colaterais: hipotensão postural por bloqueio da transmissão simpática, estimulação do SNC – tremor, excitação, insônia e convulsão, ganho de peso – aumento do apetite, ação anticolinérgica e rara hepatoxicidade.
  • Interações medicamentosas
    • Alimentos ricos em tiramina (queijo, vinhos laticínios).
    • A tiramina é degradada pela monoamina oxidase no intestino e no fígado, quando a atividade desta enzima se encontra inibida os níveis de tiramina aumenta causando efeitos simpaticomiméticos, como elevação acentuada da pressão arterial, cefaleia pulsátil severa e hemorragia intracraniana. Dessa forma, esses alimentos devem ser evitados em pacientes hipertensos tratados com um IMAO.
    • Cimetidina: prolonga o metabolismo da IMAO.
    • Opiáceos e ibuprofeno: efeito protencializado pela IMAO.

Varfarina

  • Indicação: É indicado para a prevenção primária e secundária do tromboembolismo venoso, na prevenção do embolismo sistêmico em pacientes com prótese de válvulas cardíacas ou fibrilação atrial e na prevenção do acidente vascular cerebral, do infarto agudo do miocárdio e da recorrência do infarto. Também estão indicados na prevenção do embolismo sistêmico em pacientes com doença valvular cardíaca.
  • Ação: A varfarina atua inibindo a síntese de fatores de coagulação dependentes da vitamina K, incluindo os fatores II, VII, IX e X, e as proteínas anticoagulantes C e S. A vitamina K é um cofator essencial para a síntese pós ribossômica dos fatores de coagulação dependentes dela. A vitamina K promove a biossíntese de resíduos do ácido gama-carboxiglutâmico nas proteínas que são essenciais para a atividade biológica. Supõe-se que a varfarina interfira na síntese do fator de coagulação através da inibição, redução e regeneração da vitamina K1-epóxido. O efeito de anticoagulação geralmente ocorre em vinte e quatro horas após a administração. No entanto, a ocorrência do efeito anticoagulante máximo pode demorar de setenta e duas a noventa e seis horas.
  • Efeitos colaterais: Náusea, vômito e diarreia, flatulência, cólicas abdominais, inchaço e anorexia; úlceras da boca. Pancreatite, hemotórax e sangramento nasal.
  • Interações medicamentosas
    • Interação medicamento-medicamento: A atividade da varfarina pode ser potencializada por esteroides anabólicos (como: etilestranol, noretrandolona), amiodarona, amitriptilina, cimetidina, ciprofloxacino, eritromicina, neomicina, fluconazol, metronidazol, ácido mefenâmico, piroxicam, e, possivelmente, outros analgésicos anti-inflamatórios, paracetamol, fármacos para tratamento de disfunções da tireoide e qualquer fármaco potencialmente tóxico ao fígado. Mulheres em uso de varfarina devem consultar o médico antes do uso concomitante de creme vaginal ou supositório de miconazol, pois pode haver potencialização do efeito anticoagulante.  A colestiramina e o sulcralfato acarretam diminuição da atividade da varfarina. A colestiramina pode também diminuir a absorção de vitamina K sem, no entanto, aumentar a atividade anticoagulante da varfarina. O efeito anticoagulante pode ser diminuído pela administração de vitamina K, inclusive como constituinte de alguns alimentos, como saladas verdes.
    • Interação medicamento-substância: A atividade anticoagulante pode também ser aumentada com grandes quantidades ou ingestão crônica de álcool, particularmente em pacientes com insuficiência hepática.
    • Interação medicamento-alimento: Alimentos contendo vitamina K alteram a eficácia anticoagulante. Com exceção dos exames relacionados aos fatores de coagulação dependentes da vitamina K, que são deprimidos pela varfarina, não há referência de interferência significativa com outros exames laboratoriais.

Aminofilina

  • Indicação: para doenças caracterizadas por broncoespasmo, como a asma brônquica aguda ou o broncoespasmo associado com bronquite crônica e enfisema pulmonar.
  • Ação: Seu mecanismo de ação não está ainda totalmente esclarecido. Age relaxando o músculo liso dos brônquios e dos vasos sanguíneos pulmonares, parece que por alteração da concentração dos íons cálcio no músculo liso, bloqueio dos receptores da adenosina e inibição da liberação de histamina e leucotrienos nos mastócitos.  Estimula o centro respiratório medular, talvez por aumentar a sensibilidade do mesmo às ações estimulantes do dióxido de carbono e aumentar a ventilação alveolar. Tem outras ações tais como: vasodilatadora coronária, diurética e estimulação cardíaca, cerebral e do músculo esquelético.
  • Efeitos colaterais: reações de hipersensibilidade, taquicardia, palpitações, extra-sístoles, hipotensão, arritmia atrial e ventricular, vasoconstrição periférica, dor de cabeça, insônia, confusão, irritabilidade, vertigem, hiperexcitabilidade reflexa, tremor, ansiedade, convulsão, distúrbios visuais, náusea, vômito, dor epigástrica, cólica abdominal, anorexia, diarreia, refluxo gastroesofágico, sangramento gastrointestinal, hematêmese, albuminúria, frequência urinária aumentada, taquipneia e febre.
  • Interações medicamentosas
    • Adrenocorticoides, glicocorticoides e mineralocorticoides: o uso simultâneo com a aminofilina e injeção de cloreto de sódio pode resultar em hipernatremia.
    • Fenitoína, primidona ou rifampicina: o uso simultâneo pode estimular o metabolismo hepático, aumentando a depuração da teofilina. O uso simultâneo da fenitoína com as xantinas pode inibir a absorção da fenitoína, resultando em concentrações séricas menores de fenitoína.
    • Betabloqueadores: o uso simultâneo pode resultar em inibição mútua dos efeitos terapêuticos; além disso, pode haver diminuição da depuração da teofilina, especialmente em fumantes.
    • Cimetidina, eritromicina, ranitidina ou troleandomicina: o uso simultâneo com as xantinas pode diminuir a depuração hepática da teofilina, resultando em concentrações séricas aumentadas de teofilina e/ou toxicidade.
    • Fumo: a cessação do hábito de fumar pode aumentar os efeitos terapêuticos das xantinas, diminuindo o metabolismo e consequentemente, aumentar a concentração sérica; a normalização da farmacocinética da teofilina pode demorar de 3 meses a 2 anos para ocorrer, podendo ser necessários ajustes da posologia. O uso das xantinas em fumantes resulta em depuração aumentada da teofilina e concentrações séricas diminuídas de teofilina, sendo que os fumantes podem requerer uma posologia 50 a 100% maior.

 

Manejo ambiental e Intoxicações – Problema 2: “De Júpiter Ou De Saturno? ”

Questões
  1. Definir intoxicação crônica.
  2. Identificar a epidemiologia, fisiopatologia, as manifestações clínicas e o tratamento das intoxicações crônicas por solventes e metais (chumbo, mercúrio e benzeno), identificando os agentes neurotóxicos encontrados no ambiente de trabalho e seus efeitos.
  3. Caracterizar a importância e as formas de manejo do lixo industrial.
  4. Caracterizar Resíduo de Logística Reversa Obrigatória.
  5. Identificar a contaminação do lençol freático por agentes químicos como possível causa de efeitos nocivos à saúde das pessoas.
  6. Elencar ações que possibilitem a recuperação dos recursos naturais degradados pelo homem (ex.: recuperação de áreas contaminadas).
  7. Identificar os aspectos sociais e legais que amparam as pessoas que desenvolveram agravos à saúde por via laboral.
  8. Caracterizar as instituições envolvidas na prevenção da poluição ambiental e os instrumentos aplicáveis para sua fiscalização.
Respostas
  1. Definir intoxicação crônica.

Efeito tóxico após exposição prolongada a doses cumulativas do toxicante, num período prolongado, geralmente maior de 3 meses chegando até a anos.

Pode também ser definida como subcrônica que é a intoxicação que ocorre em períodos entre 1 a 3 meses.

A intoxicação também é definida de acordo com a sua severidade, sendo:

  • Leve: quando são rapidamente reversíveis e desaparecem com o fim da exposição
  • Moderada: quando os distúrbios são reversíveis e não suficientes para provocar danos
  • Severa: quando ocorrem mudanças irreversíveis suficientemente severas para produzir lesões graves ou morte

Também é classificada de acordo com o local de ação, sendo:

  • Local crônica: efeitos sobre pele e olhos após repetidas exposições durante meses e anos
  • Sistêmica crônica: efeitos nos sistemas orgânicos após repetidas exposições por diversas vias durante longo período de tempo.
  1. Identificar a epidemiologia, fisiopatologia, as manifestações clínicas e o tratamento das intoxicações crônicas por solventes e metais (chumbo, mercúrio, benzeno, alumínio e lítio), identificando os agentes neurotóxicos encontrados no ambiente de trabalho e seus efeitos.

De modo químico, os metais em sua forma iônica podem ser muito reativos e podem interagir com sistemas biológicos em uma grande variedade de formas. Nesse sentido, uma célula apresenta inúmeros ligantes para ligação ao metal em potencial.

A inibição de enzimas biologicamente críticas é um mecanismo molecular importante da toxicologia dos metais. Os metais podem mostrar formas mais específicas de ataque químico por meio do mimetismo: agindo como mimetizadores de metais essenciais, eles se ligam a locais fisiológicos que normalmente são reservados para um elemento essencial.

Outra reação química chave na toxicologia dos metais é o dano oxidativo mediado por esses elementos. Muitos metais podem agir diretamente como centros catalíticos para reações de oxirredução com o oxigênio molecular ou outros oxidantes endógenos, produzindo modificações oxidativos de biomoléculas, como proteínas ou DNA. Essa pode ser a principal etapa na carcinogenicidade de certos metais.

Os metais em sua forma iônica podem ser muito reativos e formar aductos de DNA e proteínas em sistemas biológicos. Também podem induzir uma série de expressões gênicas aberrantes, que, por sua vez, produzem efeitos adversos.

Chumbo

Metal toxico ubíquo detectável em todas as fases do ambiente inerte e em todos os sistemas biológicos. A eliminação gradual do uso da gasolina aditivada com chumbo e sua remoção de tintas, soldas e canos de fornecimento de água têm diminuído significativamente os níveis de metal no sangue da população em geral. A exposição ao chumbo em crianças ainda constitui um grave problema de saúde.

Estima-se que, no organismo humano, sejam introduzidas, diariamente, quantidades da faixa de 300 a 460 µg de chumbo. De uma maneira geral, a exposição não ocupacional ao metal ocorre principalmente por via oral com contribuição da via respiratória, enquanto que, na exposição ocupacional, a principal via de contaminação é a inalatória. Além disso, compostos de chumbo com características lipossolúveis podem penetrar através da pele no organismo, e as poeiras do metal apresentam grau máximo de insalubridade. Estas formas de intoxicação caracterizam-se por serem lentas e cumulativas.

A absorção do chumbo depende da concentração e do tempo de exposição ao metal, além dos fatores relacionados ao indivíduo, como idade e estados fisiológicos. Depois de absorvido, o metal apresenta no sangue, uma meia vida de 1 a 2 meses, sendo posteriormente excretado principalmente através das fezes e da urina; do sangue ele distribui-se inicialmente nos tecidos moles e com o tempo deposita-se nos ossos, dentes e cabelo.

 A intoxicação aguda pelo chumbo é bastante rara, mas muito perigosa, podendo causar a morte de uma pessoa em 1 ou 2 dias. A intoxicação crônica é mais comum e bastante danosa ao organismo. A cronicidade da exposição ao chumbo pode gerar distúrbios gastrointestinais, neuromusculares e sobre o Sistema Nervoso Central (SNC), além de alterar a pressão arterial e afetar negativamente o fígado, o sistema renal e a biossíntese do heme. Para se avaliar os níveis de chumbo no organismo, podem ser investigados seus biomarcadores de exposição no sangue e na urina.

Em seres humanos os biomarcadores refletem os níveis do chumbo circulante, devido a uma exposição recente, podendo ainda indicar valores aproximados da quantidade do metal acumulado e os seus efeitos nos diferentes órgãos do corpo. A atividade da enzima ácido δ-aminolevulínico desidratase (ALA-D) no sangue e a concentração da protoporfinina eritrocitária são exemplos de biomarcadores da exposição ao chumbo e seus efeitos. Estes podem ser utilizados como alternativa para uma melhor avaliação da exposição ao metal, juntamente com os níveis de chumbo sanguíneo. 

  • Exposição

 A tinta contendo chumbo é a principal fonte de exposição ao metal em crianças. Uma das maiores fontes ambientais de chumbo para bebes e crianças de até 4 anos de idade é a transferência do metal presente em lascas de tinta e na poeira do chão de casas mais antigas pelo hábito de levar as mãos à boca. A principal rota de exposição para a população em geral é por meio do alimento e da água. Outras fontes de exposição, são: pratica de tiro, carregamento manual de munição, solda, fabricação de joias, cerâmica, armas, polimento de vidro, pintura e fabricação de vidros coloridos.

  • Toxicidade

O chumbo pode induzir uma série de efeitos adversos em humanos dependendo da dose e da duração da exposição. Os efeitos tóxicos variam da inibição de enzimas à produção de patologias graves ou morte. As crianças são mais sensíveis aos efeitos no sistema nervoso central, enquanto a neuropatia periférica, a nefropatia crônica e a hipertensão são preocupações em adultos. Outros tecidos-alvo incluem os sistemas digestório, imune, esquelético e reprodutivo. Os efeitos na biossíntese do heme fornecem um indicador bioquímico sensível, mesmo na ausência de outros efeitos detectáveis.

Chumbo Inorgânico: a intoxicação por este grupo ocorre principalmente através da via respiratória e digestiva, distribui-se inicialmente nos tecido moles e posteriormente, sofre redistribuição e deposição nos ossos, nos dentes e no cabelo. Quase todo o chumbo inorgânico circulante encontra-se associado aos eritrócitos.

Chumbo Orgânico: a intoxicação por este grupo ocorre principalmente através do chumbo tetraetila e tetrametila. Apresentam características lipossolúveis, sendo facilmente absorvidos pela pele, pelo trato gastrointestinal e pelos pulmões. A toxicidade destes, todavia, deve-se à conversão dos mesmos em chumbo trietila e chumbo inorgânico.

No organismo humano, o chumbo inorgânico não é metabolizado, e sim complexado com macromoléculas, sendo diretamente absorvido, distribuído e excretado. O chumbo orgânico, no entanto, sofre metabolização pelo fígado a chumbo trialquil e chumbo inorgânico, os quais são responsáveis pelos efeitos tóxicos. Sua absorção, não depende unicamente da concentração e do tempo de exposição ao metal, mas também dos fatores relacionados às propriedades físico-químicas como o tamanho da partícula e a solubilidade do composto.

Depois de absorvido, o chumbo distribui-se, através do sangue, para todo o organismo. A maior parte do metal circulante está associada aos eritrócitos, numa proporção superior a 90%. No entanto, modelos propostos para representar à cinética do chumbo, normalmente supõem que o seu transporte pelo corpo é comandado pelo plasma do sangue total. No plasma, o metal aparece ligado a albumina, α2 globulina ou como íons livres. Uma vez no organismo, o chumbo é então distribuído entre três compartimentos.

O primeiro constituído pelo sangue, que estaria em comunicação direta com os outros dois, o segundo seria composto pelos tecidos moles como fígado e rins, e o terceiro, constituído por tecidos rígidos como ossos e dentes. O tempo de meia-vida descrita para o chumbo no sangue é cerca de 36 dias; 40 dias nos tecidos moles e de 20 a 27 anos nos ossos. Além disso, o Chumbo pode atravessar a membrana placentária provocando efeitos teratogênicos em fetos.

  • Efeitos neurológicos, neurocomportamentais e de desenvolvimento em crianças

Sintomas de encefalopatia pelo chumbo têm início com letargia, vômito, irritabilidade, perda do apetite e tonturas, progredindo para ataxia e um nível reduzido de consciência, que pode levar ao coma e à morte. A recuperação é geralmente acompanhada de sequelas, incluindo epilepsia, retardo mental e, em alguns casos, neuropatia óptica e cegueira.

Os indicadores mais sensíveis dos resultados neurológicos adversos são os testes psicomotores ou os índices de desenvolvimento mental e medições amplas do quociente de inteligência (QI). O chumbo pode agir como um substituto para o cálcio e/ou interromper a homeostase do mineral.

O estímulo da proteína C quinase pode resultar na alteração da barreira hematencefálica. O chumbo afeta virtualmente todo o sistema neurotransmissor no cérebro, incluindo os sistemas glutamatérgico, dopaminérgico e colinérgico. Todos esses sistemas têm função importante na plasticidade sináptica e nos mecanismos celulares para a função cognitiva, a aprendizagem e a memória.

 EFEITOS:

  • Neurológicos:Os adultos com exposição ocupacional podem apresentar anormalidades em uma série de medidas neurocomportamentais. A neuropatia periférica é uma manifestação clássica da toxicidade do chumbo em adultos. Pé e pulso caídos podem ser observados em trabalhadores com exposição ocupacional excessiva ao metal. A neuropatia periférica é caracterizada pela desmielinização segmental e, possivelmente, degeneração axonal.
  • Hematológicos: O chumbo apresenta inúmeros efeitos hematológicos, variando do aumento de porfirinas urinárias, coproporfirinas, ácido б-aminolevulínico (ALA) e zinco-protoporfirina, até anemia. O efeito mais sensível do metal é a inibição do ácido б -aminolevulínico desidratase (ALAD) e da ferroquelatase. O ALAD catalisa a condensação de duas unidades de ALA para formar porfobilinogênio (PBG). A inibição do ALAD resulta no acúmulo de ALA. A ferroquelatase catalisa a inserção de ferro no anel da protoporfirina para formar o heme. A inibição da ferroquelatase resulta no acúmulo da protoporfirina IX, que substitui a heme na molécula de hemoglobina, e, conforme os eritrócitos contendo protoporfirina IX circulam, o zinco é quelado no local geralmente ocupado pelo ferro. A anemia ocorre somente em casos muito acentuados de toxicidade pelo chumbo.
  • Renal: A nefrotoxicidade aguda pelo chumbo consiste em disfunção tubular proximal e pode ser revertida por tratamento com agentes quelantes. A nefrotoxicidade crônica pelo metal consiste em fibrose intersticial e perda progressiva dos néfrons, azotemia e falência renal. Nos rins, a nefrotoxicidade do chumbo afeta a síntese renal das enzimas contendo heme, tais como a hidroxilase contendo heme envolvida no metabolismo da vitamina D, causando efeitos nos ossos. A hiperuricemia com gota ocorre com mais frequência na presença de nefropatias pelo chumbo.
  • Sistema cardiovascular: A patogênese da hipertensão induzida pelo chumbo é multifatorial, compreendendo: (1) inativação do óxido nítrico endógeno e guanosina monofosfato cíclico (GMPc), possivelmente por meio de espécies reativas de oxigênio induzidas pelo chumbo; (2) mudanças no sistema renina-angiotensina-aldosterona e aumento da atividade simpática, que são importantes componentes humorais da hipertensão; (3) alterações nas funções ativadas pelo cálcio das células musculares lisas vasculares, incluindo a contratilidade ao diminuir a atividade /-ATPase e o estímulo da bomba de troca de/; e (4) um possível aumento na endotelina e no tromboxano.
  • Outros efeitos tóxicos: O chumbo pode afetar a pressão sanguínea por meio de mudança na renina plasmática e na calicreína urinária, bem como provocar alterações nas funções ativadas por cálcio nas células musculares lisas vasculares e mudanças na resposta às catecolaminas. Como um agente imunossupressor, o metal diminui as imunoglobulinas, os linfócitos B periféricos e outros componentes do sistema imune. A retenção e a mobilização do chumbo nos ossos ocorre por meio dos mesmos mecanismos envolvidos na regulação da entrada e da saída de cálcio. O chumbo também compete com o cálcio na absorção gastrintestinal. Sabe-se que o metal afeta os osteoblastos, osteoclastos e condrócitos, e tem sido associado com a osteoporose e a demora no reparo de fraturas. A toxicidade do chumbo tem sido relacionada com a esterilidade e com mortes neonatais em humanos. O chumbo, um carcinógeno do grupo 2B, induz tumores dos sistemas respiratório e digestório. Estudos epidemiológicos sugerem uma relação entre exposição ocupacional ao metal e câncer de pulmão, cérebro e bexiga entre trabalhadores a ele expostos.

Dados epidemiológicos

No Brasil, as informações sobre as doenças e os agravos provocados pela exposição ao chumbo ainda não foram completamente qualificados. Entre os fatores que contribuem para o conhecimento institucional fragmentado sobre as doenças provocadas pelo chumbo, destacam-se os seguintes:

  • Dificuldade no reconhecimento do nexo-causal entre a exposição ao chumbo e o desenvolvimento de determinadas doenças;
  • Manifestação em populações de baixa renda e menor acesso aos serviços de saúde;
  • Alta rotatividade de trabalhadores no mercado de trabalho;
  • Notória subnotificação nos sistemas de informação;
  • Existência de poucos trabalhos epidemiológicos de busca ativa de casos;
  • Escassez de serviços especializados para diagnosticar intoxicações agudas e crônicas, bem como alterações hematológicas e neurológicas.
Mercúrio

O mercúrio metálico encontra-se no estado líquido na temperatura ambiente; o vapor do mercúrio é muito mais perigoso do que na forma líquida. O metal se liga a outros elementos (como cloro, enxofre ou oxigênio) para formar sais inorgânicos mercurosos (Hg+) ou mercúricos (Hg2+).

O mercúrio é inodoro, bom condutor de eletricidade, insolúvel em agua e solúvel em ácido nítrico. Os compostos químicos contendo mercúrio são classificados em compostos orgânicos e inorgânicos, onde se inclui também o mercúrio atômico ou elementar. É encontrado em minérios, combustíveis fósseis (carvão/petróleo) e erupções vulcânicas.

Principais usos do mercúrio metálico (brasil, 2013)

  • Catalisador da indústria de cloro soda
  • Fabricação de aparelhos de medição de uso doméstico, clinico e industrial como termômetros, esfignomanometros e barômetros
  • Fabricação de lâmpadas fluorescentes
  • Interruptores elétricos e eletrônicos (interruptores de correntes)
  • Instrumentos de controle industriais (termostatos pressostatos)
  • Amálgama odontológico
  • Amálgama na atividade de mineração

Principais usos do mercúrio inorgânico

  • Eletrólito em baterias
  • Biocidas na indústria de papel, tintas e sementes
  • Antisséptico em produtos farmacêuticos
  • Reagentes químicos
  • Tintas protetoras de cascos de navio
  • Pigmentos e corantes (em desuso)

Ciclo global e ecotoxicologia

O mercúrio atmosférico, na forma de vapor de mercúrio, é derivado da desgaseificação natural da crosta terrestre e de erupções vulcânicas, além da evaporação de oceanos e solos.

Fontes antropogênicas se tornaram um contribuinte significativo para o mercúrio atmosférico. Essas fontes compreendeem as emissões da mineração e fundição de metais, da combustão do carvão, dos incineradores municipais e das indústrias do setor cloro-álcali.

O metilmercúrio entra na cadeira alimentar aquática iniciando com o plâncton, depois com os peixes herbívoros e finalmente chegando aos peixes carnívoros e animais marinhos. No topo da cadeia alimentar, o mercúrio tecidual pode atingir níveis 1.800 a 80 mil vezes maiores do que os níveis da agua circulantes. A biometilação e bioconcentração resulta na exposição humana ao metilmercúrio por meio do consumo de peixes.

Vias de intoxicação

  • Exposição alimentar: consumo de peixe contaminado
  • Exposição ocupacional: inalação do vapor de mercúrio
  • Exposição acidental: quebra de frascos, aparelho médicos

Intoxicação

O mercúrio elementar é solúvel em gorduras, o que lhe permite atravessar membranas. A principal via de penetração são os pulmões, através da inalação dos vapores metálicos. Cerca de 80% dos vapores inalados são absorvidos nos alvéolos pulmonares, em consequência da alta difusibilidade da substância. O mercúrio é também absorvido através da pele por contato com a forma líquida ou vapor, e através do aparelho digestivo ele é absorvido na proporção de 2 a 10% da quantidade ingerida.

Após penetrar no organismo, o mercúrio apresenta-se na forma metálica o que permite atravessar a Barreira Hematoencefálica (BHE), atingindo o cérebro. No sangue e nos tecidos, ele é rapidamente oxidado ao íon mercúrio (Hg2+) que se fixa às proteínas (albumina) e aos glóbulos vermelhos, sendo distribuído.

É armazenado no nível do cérebro e dos rins, com baixa taxa de eliminação através dos intestinos e rins, devido à sua baixa excreção renal. No sistema nervoso, armazena-se durante meses. É também eliminado pelas glândulas salivares, lacrimais e sudoríparas.

Toxicidade

A inalação do vapor de mercúrio em concentrações extremamente altas pode produzir bronquite aguda e corrosiva, pneumonite intersticial e, se não letal, pode estar associada a efeitos no SNC, como tremor ou aumento da irritabilidade. Essa condição foi denominada de síndrome astênica vegetativa ou micromercurialismo. A identificação da síndrome requer sintomas neurastênicos e três ou mais dos seguintes achados clínicos: tremor, aumento da tireoide, aumento da captação de iodo radiativo na tireoide, pulso lábil, taquicardia, dermografismo, gengivite, mudanças hematológicas ou aumento da secreção de mercúrio na urina.

Em relação ao mercúrio inorgânico, o rim é o principal órgão-alvo. Embora uma alta dose de cloreto de mercúrio seja diretamente tóxica às células tubulares renais, a exposição crônica a sais de mercúrio, a baixa doses, pode induzir uma doença glomerular imunológica. Pessoas expostas podem desenvolver proteinúria, que é reversível após terem sido removidas da exposição.

Já a exposição ao metilmercúrio causa o maior efeito à saúde humana que é a neutoxicidade. As manifestações clinicas incluem parestesias (sensação de dormência e formigamento ao redor da boca e nos lábios) e ataxia, manifestada por dificuldade em andar e dificuldade em engolir e articular palavras. Outros sinais incluem neurastenia (sensação generalizada de fraqueza), perda de visão e audição, espasticidade e tremor. Esses sintomas podem progredir para coma e morte. O efeito agudo geral é um edema cerebral, mas com a destruição prolongada da massa cinzenta e subsequente gliose, resultando em atrofia cerebral.

Mecanismo de toxicidade

A ligação de alta afinidade do mercúrio divalente aos grupos sulfidrilas de proteínas nas células é um mecanismo importante para a produção de danos celulares não específicos ou até mesmo a morte celular.

Outros mecanismos gerais, como a interrupção da formação de microtubulos, a inibição de enzimas, o estresse oxidativo, a interrupção da síntese de proteínas e DNA e respostas autoimunes, também foram propostos. O mercúrio causa superxpressão dos genes relacionados ao sistema glutationa e metalotioneína em tecidos de ratos.

Efeitos agudos:

  • Aparelho respiratório: bronquite e edema pulmonar. Surge salivação, gosto metálico, lesão renal, tremores e convulsão
  • Aparelho digestivo: gosto metálico na boca, sede, dor abdominal, vomito e diarreia
  • Aparelho urinário: lesão renal, insuficiência renal e morte
  • Sistema nervoso: alucinações, irritabilidade, perda de memória, irritabilidade emocional, confusão mental, anormalidades nos reflexos, com a morte
  • Pele: irritação cutânea, edema e pústula ulcerosa nas extremidades dos dedos

Efeitos a exposição prolongada

  • Boca: inflamação da gengiva (fica mole e esponjosa), dentes moles, inchação das glândulas salivares, excesso de saliva
  • Sistema nervoso: tremores nos braços, nas mãos, pernas, pálpebras, nos dedos e lábios, vertigem e rubor
  • Psiquismo: irritabilidade, perda de memória, alucinações, perda do autocontrole, insônia, depressão, pesadelos
  • Outras alterações: rubor na face e lesões na pele

Sinais e sintomas

De uma semana ou mais. Inalado, o mercúrio atinge o sistema nervoso central e provoca letargia, inquietação, febre, dor torácica, excitação, hiperreflexia, tremores, taquicardia e hipertensão. Os rins também podem ser prejudicados. Enfraquecimento, fraqueza dos pés, paralisia espástica, visão danificada, cegueira, coma. As mulheres grávidas e o feto são especialmente mais vulneráveis.

Se o mercúrio tiver sido inalado e a dose for baixa e prolongada, causa fadiga, dor de cabeça, insônia, nervosismo e descoordenação. Se tiver sido ingerido, causa inflamação da boca (gengivite crônica, estomatite (ulcerativa, crônica, etc.), alterações gastrointestinais, náuseas, vômitos e dor abdominal.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico pode ser feito através da análise do sangue e cabelo. O tratamento é de suporte.

Para a desintoxicação: o corpo de um adulto contém entre 10 e 15 mg de mercúrio. Metade encontra-se nos rins, e o resto no sangue, ossos, fígado, vesícula, cérebro e tecido gordo.

Cerca de 5 a 10% do mercúrio que entra no corpo fica armazenado, e o resto é eliminado através da urina e das fezes. A análise do cabelo é a melhor maneira de medir a presença de mercúrio no organismo.

Benzeno

É um hidrocarboneto aromático encontrado no estado líquido incolor, lipossolúvel, volátil, inflamável, de odor característico, perceptível a concentrações de 12 ppm. Está presente no petróleo, no carvão e em condensados de gás natural.

Os setores que têm um número maior de trabalhadores expostos são: setores domésticos; produção e refino de gás e petróleo; indústria básica de ferro e aço; manufatura de produtos plásticos e borracha; manufatura de produtos químicos; transportes; institutos de pesquisa, entre outros.

A exposição ambiental e ocupacional ao benzeno tem sido objeto de controle no âmbito mundial, dada a sua característica de contaminante universal e seus potenciais efeitos à saúde. É considerada a quinta substância de maior risco, segundo os critérios do Programa das Nações Unidas de Segurança Química.

Estudos realizados sobre animais e as evidências epidemiológicas levaram a International Agency for Researsch on Cancer (IARC) e a National Institute for Occupational Safty and Health (Agência Norte-americana) a incluir o benzeno nas listas de compostos carcinogênicos.

  • Intoxicação

Na exposição ocupacional ao benzeno a principal via de absorção é a via respiratória. Em alguns locais de trabalho, a absorção cutânea de benzeno pode contribuir significativamente para a dose de exposição. Na exposição por via respiratória há retenção de 46% do benzeno aspirado. Uma vez absorvido, quase instantaneamente é eliminado em 50% pelos pulmões. O benzeno que continua no corpo difunde-se por diversos tecidos.

A exposição ao benzeno pode causar intoxicação aguda e crônica. O benzeno é um agente mielotóxico regular, leucemogênico e cancerígeno até mesmo em doses inferiores a 1 ppm. O quadro clínico de toxicidade ao benzeno pode se caracterizar pelo comprometimento da medula óssea, sendo a causa básica de diversas alterações hematológicas.

Na intoxicação aguda, grande parte é retida no sistema nervoso central, enquanto que na intoxicação crônica conserva-se na medula óssea (40%), no fígado (43%) e nos tecidos adiposos (10%). Após sua absorção, parte do benzeno distribuído pelo organismo é metabolizado no fígado e cerca de 30% é transformado em fenol e outros derivados que são eliminados pela urina nas primeiras horas até 24 horas após cessada a exposição.

Os efeitos agudos do benzeno são irritação moderada das mucosas. A aspiração em altas concentrações pode provocar edema pulmonar. Os vapores são, também, irritantes para as mucosas oculares e respiratórias.

A absorção do benzeno provoca efeitos tóxicos para o sistema nervoso central, causando de acordo com a quantidade absorvida, narcose e excitação seguida de sonolência, tonturas, cefaleia, náuseas, taquicardia, dificuldade respiratória, tremores, convulsões, perda da consciência e morte.

A exposição por um longo período ao benzeno provoca diversos efeitos no organismo humano, destacando-se entre eles a mielotoxidade, a genotoxidade e a sua ação carcinogênica. São conhecidos, ainda, efeitos sobre diversos órgãos como sistema nervoso central, sistemas endócrino e imunológico. No entanto, não existem sinais ou sintomas típicos da intoxicação crônica pelo benzeno. As manifestações neurológicas são leves e bem admitidas. Pode ocorrer, também, toxicidade hepática e renal, mas os efeitos sobre os tecidos sanguíneos são os mais importantes.

Existe ainda, uma relação causal evidenciada entre a exposição ao benzeno e a ocorrência de leucemia, especialmente a leucemia mielóide aguda e suas variantes, entre elas a eritroleucemia e a leucemia mielomonocítica. Além de leucemogênica, a toxicidade do benzeno está também associada à ocorrência de outras formas de patologias onco-hematológicas, como linfomas não Hodgkin, mieloma múltiplo e mielofibrose, embora em menor frequência.

  • Sinais e sintomas

Na intoxicação aguda, após exposição a vapores e ingestão: EUFORIA, com cefaléia, tonturas, ataxia, confusão mental e coma nos casos graves, hipertonia muscular e hiperreflexia associados ao coma. Convulsões ocorrem comumente na presença de asfixia.

Ingestão: queimação da mucosa oral, náuseas, vômitos e salivação; pode ocorrer gastrite hemorrágica. Aspiração durante a ingestão ou vômitos causa severa pneumonite química.

Morte pode ocorrer por falência respiratória ou fibrilação ventricular

Intoxicação crônica: sintomas inespecíficos como anorexia, nervosismo, tonturas, fadiga, letargia, alucinações, parestesias, lesões dermatológicas e discrasias sangüíneas com plaquetopenia, leucemia, aplasia de medula devido ação mielotóxica do benzeno.

  • Diagnóstico e tratamento

Assistência respiratória, se necessário. Ingestão de pequenas quantidades (5 a 10ml): repouso gástrico, para evitar vômitos, após 4 horas, administrar líquidos frios fracionados. Controle radiológico. Ingestão maior de 1ml/Kg/peso corporal – lavagem gástrica cuidadosa com intubação endotraqueal para prevenir aspiração.

Administrar catárticos salinos. Monitorar eletrocardiograma pelo risco de fibrilação ventricular. Controlar convulsões com benzodiazepínicos. Na contaminação ocular ou pele – lavar abundantemente com água corrente. Se irritação ocular, avaliação oftalmológica. Manter equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico. Medidas sintomáticas e de manutenção.

Intoxicação Crônica: não existe nenhum tratamento específico ou antídoto. Em suspeita ou confirmação de intoxicação crônica, o afastamento da exposição deve ser imediato.

Lítio

É um material usado em baterias, ligas, catalisadores, materiais fotográficos e na indústria espacial. O hidreto de lítio produz hidrogênio em contato com a água e é usado na fabricação de tubos eletrônicos, em cerâmicas e em análises químicas.

A contaminação da água subterrânea com o lítio proveniente do descarte de resíduos produzidos pelo homem pode ser um fator de risco para o ambiente aquático. O carbonato de lítio e o citrato de lítio são amplamente utilizados para o tratamento da mania e de transtornos bipolares.

  • Toxicocinética

É prontamente absorvido pelo sistema digestório. É distribuído na água corporal total com maiores concentrações nos rins, na tireoide e nos ossos em comparação com outros tecidos. A excreção ocorre principalmente pelos rins, sendo que 80% do lítio filtrado é reabsorvido. Ele pode ser um substituto do sódio ou do potássio em várias proteínas de transporte.

  • Toxicidade

O hidreto de lítio é intensamente corrosivo e pode produzir queimaduras na pele devido à formação de hidróxidos. As respostas tóxicas à exposição ao lítio incluem mudanças neuromusculares (tremor, hiperirritabilidade muscular e ataxia), distúrbios no sistema nervoso central (fases de blecaute, ataques epilépticos, fala lenta, coma, retardo psicossomática e aumento da sede), distúrbios cardiovasculares (arritmia cardíaca, hipertensão e colapso circulatório), sintomas gastrintestinais (anorexia, náuseas e vômitos) e danos renais (albuminúria e glicosúria).

A nefrotoxicidade crônica do lítio e a nefrite intersticial podem ocorrer com a exposição a longo prazo, mesmo se os níveis de lítio permanecerem dentro da faixa terapêutica. A neurotoxicidade crônica, a nefrite e a disfunção da tireoide podem ocorrer, sobretudo em pacientes suscetíveis com diabetes insipido nefrogênica, idade avançada, funcionamento anormal da tireoide e disfunção renal.

Alumínio

Os compostos químicos do alumínio ocorrem, em geral, no estado trivalente (Al3+). O alumínio liga-se fortemente aos ligantes doadores de oxigênio, tais como o citrato e o fosfato. A exposição humana ao alumínio ocorre principalmente pelos alimentos e, de forma secundária, pela água potável. As exposições ocupacionais ao metal ocorrem durante a mineração e o processamento, bem como na solda com alumínio.

Vias de contaminação

  • Água da diálise
  • Sais utilizados na preparação do dialisato
  • Usado como quelante de fósforo no passado
  • Contaminação de medicações orais
  • Utensílios domésticos
  • Contaminação de soluções parenterais

Toxicidade

A maioria dos casos de toxicidade por alumínio em humanos é observada em pacientes com falência renal crônica ou em pessoas expostas ao alumínio nos locais de trabalho, sendo o pulmão, os ossos e o sistema nervoso central os órgão mais afetados.

A exposição ocupacional à poeira de alumínio pode produzir fibrose pulmonar em humanos. A osteomalácia tem sido associada com a ingestão excessiva de antiácidos contendo alumínio em indivíduos saudáveis. Presume-se que isso seja devido à interferência com a absorção de fosfato intestinal.

Uma síndrome neurológica progressiva tem sido relatada em pacientes em hemodiálise intermitente a longo prazo para o tratamento de falência renal crônica. O primeiro sintoma nesses pacientes é uma disfunção da fala seguida por demência, convulsões e mioclonia. O transtorno, que costuma aparecer após 3 a 7 anos de tratamento de diálise, pode ser devido à intoxicação por alumínio. A concentração de alumínio no cérebro, nos músculos e nos ossos aumenta nesses pacientes.

Uma possível relação entre o alumínio e a doença de Alzheimer tem sido motivo de especulação por décadas. Níveis elevados de alumínio em cérebros com Alzheimer podem ser consequência, e não a causa da doença. A reduzida eficácia da barreira hematoencefálica na doença de Alzheimer pode permitir a entrada de mais alumínio no cérebro. Além disso, estudos recentes têm levantado a possibilidade de que os métodos de coloração em estudos anteriores podem ter levado à contaminação por alumínio.

Mecanismo de ação

O acúmulo corporal do alumínio ocorre principalmente na insuficiência renal crônica. Em pacientes submetidos a tratamento de diálise, a ausência de uma eficiente eliminação renal, junto com o uso de doses farmacológicas de Al(OH)3 para a quelação de fósforo, bem como o uso de soluções de dialisado e líquidos de administração parenteral combinados pelo metal, podem levar a acúmulos acentuados no organismo. A absorção ocorre no meio ácido do estômago ou no duodeno proximal.

Diagnóstico

Baseado na determinação dos níveis séricos basais e após o teste de DFO (desferoxamina). O teste é realizado utilizando-se a dose de 5mg/kg/dose no paciente cujo nível sérico basal de Al é igual ou superior a 30 mcg/L. O sangue é coletado antes do início da hemodiálise para a dosagem de Al (Als1). Após, durante os últimos 60 minutos da sessão de hemodiálise administra-se, por via endovenosa, a dose de 5 mg/kg de DFO diluído em 100 ml de soro fisiológico. Monitoriza-se os sinais vitais. No início da dialise seguinte, coleta-se sangue para a dosagem de alumínio (Als2). O teste é positivo quando a diferença entre Als2 e Als1 (denominado delta DFO) é maior ou igual a 50 mcg/L.

  1. Neurológicos: A encefalopatia é uma das primeiras manifestações tóxicas produzidas pelo alumínio na qual o paciente com insuficiência renal crônica põem‑se a uma alta exposição ao alumínio devido a água utilizada na diálise. A “demência da diálise” na sua primeira fase produz perturbações na linguagem ocorrendo uma lentidão na fala, disnomia e dispraxia, logo em seguida surgem os tremores, mioclonias, dispraxia de movimentos do tipo cerebelar, e posteriormente surgem perturbações na memória e da concentração, perturbações psiquiátricas levando a alterações da personalidade, depressão, paranoia, alucinações e perda de consciência, podendo levar o indivíduo a óbito.
  2. Ossos: O aumento excessivo de alumínio nos ossos provoca uma síndrome, chamada de Aluminium Induced Bone Disease – (AIBD) caracterizada por dois tipos de expressão, a osteomalácia e a doença óssea adinâmica – Adynamic Bone Disease (ABD). Essas doenças se caracterizam por ter um baixo nível de remodelagem óssea (redução da atividade celular e da mineralização óssea). Até hoje não está completamente esclarecido o mecanismo de ação que dá origem as desordens ósseas. A osteomalácia é responsável por dores nos ossos, fraturas patológicas, miopatia proximal além de não responder a terapias com a vitamina D, estes aspectos são comuns se tratando de toxicidade por alumínio no sistema muscular esquelético. O acúmulo de alumínio nos ossos pode levar a uma osteodistrofia e fraturas podendo aparecer antes ou durante a síndrome de demência da diálise.
  3. Hematológicos: Os indicadores da ação tóxica do alumínio sobre o sistema hematopoiético é a anemia microcítica, hipocrômica ou a diminuição do número de hemácias. O aumento da protofilina eritrocitária no sangue funciona como um indicador mais sensível as exposições ao alumínio. No caso da anemia microcítica hipocrômica observa‑se que a mesma acomete indivíduos com insuficiência renal crônica em níveis sérios de alumínio superior a 100µg/L, este problema é reversível após suspensão da exposição juntamente com o tratamento com o agente quelante deferoxacina.
  4. Imunológicos e alérgicos: O alumínio pode provocar alergias ou hipersensibilidade posterior à vacinação ou dessensibilização de pacientes. Muitas das vezes o alumínio é usado como adjuvante para melhorar ou induzir a resposta imunológica, não há descrição dos sintomas após a ingestão de água ou alimentos contaminados por alumínio.
  5. Cardiovascular: A grande maioria das hipertrofias cardíacas proveniente de pacientes hemodialisados podem estar relacionado com a absorção do alumínio pelo organismo. Já que as células do miocárdio podem armazenar alumínio nos lisossomos, têm se associado o acúmulo do alumínio no miocárdio ocasionando cardiomiopatias, devido à elevada prevalência de arritmia e morte repentina em pacientes em uso de hemodiálise. O alumínio em alguns momentos pode interferir com a secreção de paratormônio (PTH) produzindo um efeito direto sobre a glândula paratireoide a inibindo (LIMA, 2001).Prevenção

A Food and Drug Administration (FDA, 2005) considera a quantidade máxima diária de alumínio em 5 mcg como a tolerada com segurança, as quantidades que excedem esse limite são responsáveis por sérios efeitos adversos no SNC e ossos.

A OMS define como guia de qualidade para o alumínio em água potável valores < 0, 1 mg/L em estações de tratamento de grandes dimensões, e valores < 0, 2 mg/L em estações de tratamento de pequenas dimensões. A FDA (2005) estabeleceu para água potável engarrafada concentração de 0, 2 mg de alumínio por litro. No Brasil, a água utilizada na fabricação de concentrado polieletrolitico para hemodiálise, deverá ter pureza estabelecida com valor limite de 0, 01 mg/L para o alumínio.

Garantir e manter a qualidade da água utilizada nos procedimentos de hemodiálise são os fatores essenciais para a qualidade de vida do paciente com problema renal. Dos contaminantes metálicos presentes na água, o alumínio é o que causa maior problema aos pacientes submetidos à hemodiálise. A ação tóxica deste elemento é tão elevada que um controle anual dos níveis de alumínio sérico dos pacientes submetidos regularmente ao tratamento de hemodiálise é exigido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

3. Caracterizar a importância e as formas de manejo do lixo industrial.

Os resíduos industriais e alguns domésticos, como restos de tintas, solventes, aerossóis, produtos de limpeza, lâmpadas fluorescentes, medicamentos vencidos, pilhas e outros, contêm significativa quantidade de substâncias químicas nocivas ao meio ambiente. Estima-se que existam de 70 a 100 mil produtos químicos sintéticos, utilizados de forma comercial na agricultura, na indústria e em produtos domésticos. Infelizmente, as suas consequências são percebidas apenas depois de muito tempo de uso. Foi o que aconteceu com o clorofluorcarbono, conhecido como CFC, que há bem pouco tempo era amplamente usado em aerossóis, isopor, espumas, sistemas de ar condicionado, refrigeradores e outros produtos, até descobrir-se que sua liberação na atmosfera vinha causando a destruição da camada de ozônio.

Muitos desses produtos contêm metais pesados, como mercúrio, chumbo, cádmio e níquel, que podem se acumular nos tecidos vivos, até atingir níveis perigosos para a saúde. Os efeitos da exposição prolongada do homem a essas substâncias ainda não são totalmente conhecidos. No entanto, testes em animais mostraram que os metais pesados provocam sérias alterações no organismo, como o aparecimento de câncer, deficiência do sistema nervoso e imunológico, distúrbios genéticos etc.

Quando não são adequadamente manejados, os resíduos perigosos contaminam o solo, as águas e o ar. Veja a seguir alguns exemplos de resíduos perigosos, que devem ser dispostos adequadamente para evitar riscos ao homem e ao meio ambiente:

  • Pilhas: algumas pilhas de uso doméstico ainda possuem elevadas concentrações de metais pesados. Porém, como o processo de reciclagem é complicado e caro, não é realizado na maioria dos países. Por isso, o consumo de pilhas que contêm altas concentrações de metais pesados e de pilhas de origem incerta deve ser evitado. A Legislação Brasileira estabelece que as pilhas alcalinas do tipo manganês e zinco-manganês, com elevados teores de chumbo, mercúrio e cádmio, devem ser recolhidas pelo importador ou revendedor. Para melhor informar o consumidor, esta Resolução estabelece que as cartelas das pilhas contenham informações sobre o seu descarte. Assim, ao comprar pilhas, verifique na embalagem as informações sobre os metais que a compõem e como descartá-las.
  • Baterias: as baterias de automóveis, industriais, de telefones celulares e outras também contêm metais pesados em concentração elevada. Por isso, devem ser descartadas de acordo com as normas estabelecidas para proteção do meio ambiente e da saúde. O descarte das baterias de carro, que contêm chumbo, e de telefones celulares, que contêm cádmio, chumbo, mercúrio e outros metais pesados, deve ser feito somente nos postos de coleta mantidos por revendedores, assistências técnicas, fabricantes e importadores – é deles a responsabilidade de recolher e encaminhar esses produtos para destinação final ambientalmente adequada. O mesmo vale para qualquer outro tipo de bateria, devendo o usuário criar o hábito de ler as instruções de descarte presente nos rótulos ou embalagem dos produtos.
  • Lâmpadas fluorescentes: mais econômicas, as lâmpadas fluorescentes se tornaram muito populares no Brasil, principalmente em função da necessidade de economizar energia durante o período de racionamento de energia elétrica, ocorrido em 2001. Isso, no entanto, criou um problema, uma vez que as lâmpadas fluorescentes contêm mercúrio, um metal pesado altamente prejudicial ao meio ambiente e à saúde. Como ainda não há dispositivos legais específicos que regulem o descarte nem o interesse dos fabricantes em proporcionar soluções tecnológicas e sistemas de destinação adequados para esse tipo de material, toda essa quantidade de lâmpadas fluorescentes vem sendo descartada junto com o lixo domiciliar. Caso o lixo seja encaminhado para um lixão ou aterro controlado, o mercúrio poderá contaminar o ambiente, colocando a saúde da população em risco. O consumidor pode usar seu poder de escolha e de pressão sobre as autoridades e as empresas, exigindo o estabelecimento de medidas adequadas e seguras para o descarte desse tipo de lâmpada e de outros resíduos perigosos.

O resíduo industrial é um dos maiores responsáveis pelas agressões fatais ao ambiente. Nele estão incluídos produtos químicos (cianureto, pesticidas, solventes), metais (mercúrio, cádmio, chumbo) e solventes químicos que ameaçam os ciclos naturais onde são despejados. Os resíduos sólidos são amontoados e enterrados; os líquidos são despejados em rios e mares; os gases são lançados no ar. Assim, a saúde do ambiente, e consequentemente dos seres que nele vivem, torna-se ameaçada, podendo levar a grandes tragédias.

4. Caracterizar Resíduo de Logística Reversa Obrigatória.

A logística reversa engloba diferentes atores sociais na responsabilização da destinação ambientalmente adequada dos resíduos sólidos. Gera obrigações, especialmente do setor empresarial, de realizar o recolhimento de produtos e embalagens pós-consumo, assim como reassegurar seu reaproveitamento no mesmo ciclo produtivo ou garantir sua inserção em outros ciclos produtivos.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Lei 12.305/2010) – apresenta princípios, objetivos e instrumentos visando à gestão integrada e ambientalmente adequada dos resíduos sólidos, considerando ainda o desenvolvimento socioeconômico.

A PNRS define Logística Reversa como instrumento a ser instituído para viabilizar a coleta e a devolução de determinados resíduos sólidos ao setor produtivo/empresarial responsável. Dessa forma, resíduos anteriormente descartados poderão ser reaproveitados pelo próprio fabricante ou em outros ciclos produtivos. O instrumento aplica-se a todos os tipos de resíduos, principalmente aos produtos ou embalagens que representam riscos à saúde pública e ao meio ambiente. Nesse sentido, para que o instrumento seja implementado, verifica- -se a necessidade de participação de diversos atores, estabelecendo-se a responsabilidade compartilhada pelos resíduos entre geradores, poder público, fabricantes e importadores.

Os resíduos de sistema de logística reversa obrigatório são definidos nos termos da PNRS em seis grupos principais: pilhas e baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens, produtos eletroeletrônicos e seus componentes e resíduos de embalagens de agrotóxicos. Outros tipos de resíduos, como medicamentos e embalagens em geral, também podem ser objeto da cadeia da logística reversa. Para tal, deve haver uma logística de recolhimento, independente do oferecimento de serviço público de limpeza urbana, de forma a garantir o retorno desses resíduos ao fabricante após o uso pelo consumidor final. Segundo a PNRS, para a implementação da logística reversa é necessário acordo setorial ou contrato entre o poder público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes. Devem ser considerados aspectos de qualidade ambiental e de saúde pública, e todo o sistema deve ser avaliado sob os aspectos técnico e econômico.

5. Caracterizar as instituições envolvidas na prevenção da poluição ambiental e os instrumentos aplicáveis para sua fiscalização.

SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente

O Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, foi instituído pela Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto 99.274, de 06 de junho de 1990, sendo constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e pelas Fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental.

A atuação do SISNAMA se dará mediante articulação coordenada dos Órgãos e entidades que o constituem, observado o acesso da opinião pública às informações relativas as agressões ao meio ambiente e às ações de proteção ambiental, na forma estabelecida pelo CONAMA. Cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a regionalização das medidas emanadas do SISNAMA, elaborando normas e padrões supletivos e complementares.

Os Órgãos Seccionais prestarão informações sobre os seus planos de ação e programas em execução, consubstanciadas em relatórios anuais, que serão consolidados pelo Ministério do Meio Ambiente, em um relatório anual sobre a situação do meio ambiente no País, a ser publicado e submetido à consideração do CONAMA, em sua segunda reunião do ano subsequente.

De acordo com a Lei nº 6.938/81, que instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente, o SISNAMA é composto de:

  • Conselho de Governo– Órgão superior do sistema, reúne todos os ministérios e a Casa Civil da Presidência da República na função de formular a política nacional de desenvolvimento do País, levando em conta as diretrizes para o meio ambiente.
  • Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)– é o órgão consultivo e deliberativo, formado por representantes dos diferentes setores do governo (em âmbitos federal, estadual e municipal), do setor produtivo e da sociedade civil. Assessora o Conselho de Governo e tem a função de deliberar sobre normas e padrões ambientais.
  • Ministério do Meio Ambiente (MMA)– órgão central, com a função de planejar, supervisionar e controlar as ações referentes ao meio ambiente em âmbito nacional.
  • Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)– encarrega-se de executar e fazer executar as políticas e as diretrizes nacionais para o meio ambiente. É o órgão executor.
  • Órgãos Seccionais, entidades estaduais responsáveis pela execução ambiental nos estados, ou seja, as secretarias estaduais de meio ambiente, os institutos criados para defesa ambiental.
  • Órgãos locais ou entidades municipaisresponsáveis pelo controle e fiscalização ambiental nos municípios.

IBAMA

O Ibama é competente para lavrar auto de infração ambiental e instaurar o processo administrativo de apuração da infração na esfera federal, conforme a Lei de Crimes Ambientais, Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. No entanto, para garantir a ampla defesa do meio ambiente, a competência de fiscalização ambiental é compartilhada com os demais entes da federação, estados, municípios e distrito federal, integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama).

Para delimitar o exercício da competência comum de fiscalização ao meio ambiente e garantir maior proteção ambiental, a Lei Complementar no 140, de 8 de dezembro de 2011, definiu que ações administrativas compete a cada ente.

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  9. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Governo Federal.
  10. http://www.portalresiduossolidos.com/sisnama-sistema-nacional-meio-ambiente-brasil/
  11. http://www.ibama.gov.br/fiscalizacao-ambiental/fiscalizacao-ambiental-da-pesca/131-fiscalizacao-e-protecao/fiscalizacao/755-sobre-a-fiscalizacao-ambiental
  12. http://www.mma.gov.br/port/conama/estr.cfm

Manejo ambiental e Intoxicações – Problema 1: “Cavalo de Troia ”

Questões
  1. Definir intoxicação aguda, xenobiótico, veneno, toxicidade, antídoto, dose letal.
  2. Caracterizar as fases da intoxicação.
  3. Discriminar os agentes tóxicos utilizados com maior prevalência (medicamentos, saneantes domésticos e raticidas) e morbimortalidade (raticidas, agrotóxicos e psicofármacos).
  4. Identificar os dados epidemiológicos de intoxicações no Brasil.
  5. Descrever as manifestações clínicas possivelmente decorrentes de intoxicações e as condutas terapêuticas na abordagem inicial do paciente agudamente intoxicado.
  6. Explicar as manifestações clínicas apresentadas pelas pacientes relatadas no problema.
  7. Caracterizar o mecanismo de ação dos organofosforados e do carbamato.
  8. Caracterizar os órgãos de notificação e de orientação de casos de intoxicações.
  9. Reconhecer a importância do ambiente psicossocial, incluindo os serviços de educação e saúde como fator determinante para a ocorrência de intoxicações.
Respostas
  1. Definir intoxicação aguda, xenobiótico, veneno, toxicidade, antídoto, dose letal.

    Intoxicação

Intoxicação pode ser definida como a manifestação do efeito tóxico e corresponde ao conjunto de sinais e sintomas que revelam o desequilíbrio produzido pela interação do agente tóxico com o organismo.

A intoxicação é classificada de acordo com o tempo de exposição, sendo dividida em: aguda, sobreaguda e subcrônica, crônica.

  • Intoxicação aguda: ocorre por um único contato (por uma dose única que se relaciona com à potência da droga) ou por múltiplos contatos (efeitos cumulativos) com o agente tóxico, num período de tempo aproximado de 24 horas. Os efeitos surgem de imediato ou no decorrer de alguns dias, no máximo de 2 semanas.
  • Intoxicação sobreaguda ou subcrônica: exposições repetidas a substancias químicas. A sobreaguda ocorre exposição durante um período menor ou igual 1 mês. Enquanto que a subcrônica ocorre em períodos entre 1 a 3 meses.
  • Intoxicação crônica: efeito tóxico após exposição prolongada a doses cumulativas do toxicante, num período prolongado, geralmente maior de 3 meses chegando até a anos.

A intoxicação também é definida de acordo com a sua severidade, sendo:

  • Leve: quando são rapidamente reversíveis e desaparecem com o fim da exposição
  • Moderada: quando os distúrbios são reversíveis e não suficientes para provocar danos
  • Severa: quando ocorrem mudanças irreversíveis suficientemente severas para produzir lesões graves ou morte

Também é classificada de acordo com o local de ação, sendo:

  • Local aguda: quando tem efeito sobre pele, membranas mucosas e olhos após a exposição que varia de segundo a horas
  • Sistêmica aguda: efeito nos diversos sistemas orgânicos após absorção de substancias por diversas vias, a exposição pode ser de segundos ou horas
  • Local crônica: efeitos sobre pele e olhos após repetidas exposições durante meses e anos
  • Sistêmica crônica: efeitos nos sistemas orgânicos após repetidas exposições por diversas vias durante longo período de tempo.

Xenobiótico

São as substancias químicas que são estranhas ao organismo e sem valor nutritivo. E é chamado de agente tóxico aquelas que são capazes de causar dano a um sistema biológico, alterando uma função ou levando-o à morte, sob certas condições de exposição.

Veneno

Agente capaz de produzir uma resposta prejudicial em um sistema biológico. Praticamente todas as substancias químicas conhecidas tem o potencial de produzir lesão ou morte caso estejam presentes em quantidades suficientes.

Segundo alguns autores, é termo para designar substancias provenientes de animais, com função de autodefesa ou predação.

Toxicidade

É a capacidade inerente e potencial do agente tóxico de provocar efeitos nocivos em organismos vivos. O efeito tóxico é geralmente proporcional à concentração do agente tóxico ao nível do sítio de ação. A ação tóxica é a maneira pela qual um agente tóxico exerce sua atividade sobre as estruturas teciduais. O grau de toxicidade de uma substancia é avaliado quantitativamente pela medida da DL50.

O conceito de toxicidade se vincula com o risco tóxico que é a probabilidade existente para que uma substancia produza um efeito adverso previsível, em determinadas condições especificas de uso. Nem sempre a substancia de maior toxicidade será a de maior risco. Tudo depende das condições de contato com a substancia. P.e., podemos ter agentes de alta toxicidade e baixo risco ou ainda agentes de baixa toxicidade e alto risco.

Fatores que influenciam a toxicidade: frequência de exposição, duração da exposição e via de administração.

Antídoto

Agente capaz de antagonizar os efeitos tóxicos de substâncias. Tudo que impede ou inibe a ação de um tóxico.

Dose letal

É a letalidade de uma dada substancia. Representa uma dose capaz de matar uma dada percentagem dos indivíduos de uma população em teste. O indicador de letalidade mais comum é a DL50.

DL50

DL = Dose letal 50% ou dose letal média. É a dose de um agente tóxico, obtida estatisticamente, capaz de produzir a morte de 50% da população em estudo.

Expressa o grau de toxicidade aguda de substancias químicas. Um agente será tanto mais tóxico, quanto menor for a sua DL50. É necessário perceber que as medidas de letalidade aguda, como a DL50, podem não refletir o espectro de toxicidade ou o perigo associado à exposição a uma substancia química. Alguns produtos químicos com baixa toxicidade aguda, p.e., podem ter efeitos cancerígenos ou teratogênicos em doses que não produzem nenhuma evidencia de toxicidade aguda.

Perigo

É a capacidade de um agente químico provocar lesão em uma dada situação ou ambiente; as condições de uso e de exposição são as principais considerações.

Para avaliar o perigo que uma substancia representa, é necessário conhecer a sua toxicidade inerente e a quantidade a que cada indivíduo possa ser exposto. Os humanos podem utilizar substancias potencialmente toxicas desde que as condições necessárias para reduzir a sua absorção sejam conhecidas e respeitadas. Contudo, o conceito de perigo frequentemente é uma descrição com base em estimativas subjetivas e não em avaliações objetivas.

Risco

É a frequência esperada de ocorrência de um efeito indesejável a partir da exposição a um agente químico ou físico. A estimativa do risco faz uso de dados sobre dose/resposta e de extrapolações a partir da observação da relação entre as respostas esperadas e havidas para doses ocorrendo em situações reais de exposição.

2. Caracterizar as fases da intoxicação.

O processo de intoxicação é dividido em 3 fases: exposição, toxicocinética e toxicodinâmica.

Fase de exposição:

Fase em que as superfícies externa ou interna do organismo entram em contato com o toxicante. Nessa fase, a via de introdução, a frequência e a duração da exposição, as propriedades físico-químicas, assim como a fosse ou a concentração do xenobiótico e a suscetibilidade individual.

Fase de toxicocinética:

Inclui todos os processos envolvidos na relação entre a disponibilidade química e a concentração do agente nos diferentes tecidos do organismo. Nessa fase estão contidas a absorção, a distribuição, o armazenamento, a biotransformação e a excreção das substâncias químicas.

Tem-se a ação do organismo sobre o agente tóxico, procurando diminuir ou impedir a ação nociva da substancia sobre ele. Resultando assim a quantidade do toxicante disponível para interagir com o sítio alvo e, consequentemente, exercer a ação tóxica. A movimentação do agente tóxico no organismo, desde a sua entrada até a sua eliminação, envolve a transposição de membranas celulares.

  1. Absorção:

Quando o toxicante passa do meio externo para o meio interno e vai para a circulação sistêmica. A absorção depende de fatores ligados ao agente químico e a membrana celular e pode acontecer pelas vias respiratórias, via dérmica ou pelo TGI.

Fatores que influenciam a absorção são: concentração, área de superfície da exposição, características da camada epitelial onde o toxicante está sendo absorvido e, o mais importante, a solubilidade lipídica. Lembrando que as moléculas lipossolúveis são absorvidas mais facilmente para o interior das células.

  • Via dérmica:

A pele constitui uma barreira efetiva contra a penetração de substancias químicas exógenas. Porém, alguns xenobióticos podem sofrer absorção cutânea, dependendo de fatores como a anatomia e as propriedades fisiológicas da pele e dos agentes químicos. Ela é formada por duas camadas, a epiderme (mais externa) e a derme (tecido conjuntivo), onde estão os vasos sanguíneos, nervos, folículos pilosos, glândulas sebáceas e sudoríparas. As substancias químicas podem ser absorvidas principalmente pelas células epidérmicas ou folículos pilosos.

Os fatores que se ligam a absorção pela pele são: tempo de exposição, hidro e lipossolubilidade, tamanho da molécula, temperatura do corpo e do ambiente, volatilidade, entre outros. Os efeitos podem ser tópicos (corrosão, sensibilização e mutação) ou sistêmicos (ação do tóxico em tecidos distantes).

  • Vias respiratórias:

Os agentes que podem sofrer absorção pulmonar são os gases e vapores e os aerodispersóides; eles podem ser absorvidos tanto nas vias aéreas superiores quanto nos alvéolos. Além disso, o fluxo sanguíneo continuo tem uma boa ação de dissolução e muitos agentes químicos podem ser absorvidos rapidamente a partir dos pulmões.

As partículas aspiradas dependem de alguns fatores para ficarem retidas, sendo eles: diâmetro da partícula, hidrossolubilidade (quanto maior, maior a tendência de ficar retido), condensação e temperatura.

Nos alvéolos pulmonares, duas fases estão em contato, uma gasosa – formada pelo ar alveolar, e outra liquida – representada pelo sangue. O toxicante pode se dissolver por um processo físico ou se combinar quimicamente com elementos do sangue. No primeiro caso, a dissolução do tóxico acontece no sangue e no segundo, a reação química. Se as partículas que estão nos alvéolos não forem absorvidas ou removidas, elas podem ficar retidas lá e causas as pneumoconioses (doenças induzidas por partículas orgânicas, inorgânicas, fumos e vapores químicos).

  • Via oral:

No TGI, pode ser absorvido desde a boca até o reto. Poucas são as substancias que sofrem a absorção na mucosa oral, pois o tempo de contato é pequeno. Não sendo absorvido ali, o toxicante poderá ser absorvido na porção do TGI onde existir a maior quantidade de sua forma não ionizada (lipossolúvel).

As microvilosidades, que proporcionam grande área de superfície, é um dos fatores que favorecem a absorção intestinal dos xenobióticos.

2. Distribuição

Fase onde o toxicante é transportado para o resto do organismo, podendo se deslocar por vários tecidos e células. A concentração dele varia muito para vários pontos do sistema e nem sempre os locais de maior área terão a maior concentração. Quando o toxicante circula, ele pode ser biotransformado, se ligar a sítios de ação, ser eliminado, se ligar a proteínas plasmáticas ou eritrócitos ou ser armazenado.

Fatores que influenciam: irrigação do órgão (maior vascularização facilita o contato), conteúdo aquoso ou lipídico e a integridade do órgão.

Principais locais de armazenamento: proteínas plasmáticas, fígados e rins, tecido ósseo, tecido adiposo, placenta, leite materno e cabelos.

  • Biotransformação

É um mecanismo do corpo com o objetivo de diminuir ou cessar a toxicidade e facilitar a excreção. É compreendida como um conjunto de alterações químicas ou estruturais que as substancias sofrem no organismo, geralmente, causada por processos enzimáticos.

Pode ocorrer em qualquer órgão, porém, a maioria é biotransformada no fígado.

3. Excreção

São excretados através da urina, bile, fezes, ar expirado, leite, suor e outras secreções, sob forma inalterada ou modificada quimicamente. Os fatores que interferem na entrada do xenobiótico podem dificultam a sua saída do organismo.

Existem três classes de excreção: 1. Através das secreções (biliar, sudorípara, lacrimal, gástrica), 2. Através das excreções, 3. Através da eliminação do ar expirado.

Fatores como velocidade e via de excreção são: a via de introdução, afinidade por elementos do sangue e outros tecidos, facilidade de biotransformação, frequência respiratória (aumento da FC, acelere as trocas gasosas) e função renal – os rins são a principal via de excreção e qualquer disfunção pode interferir na velocidade e proporção da excreção.

Fase de toxicodinâmica

c

Compreende a interação entre as moléculas do toxicante e os sítios de ação, específicos ou não, dos órgãos e, consequentemente, a alteração do equilíbrio homeostático. A presença do toxicante ou dos produtos da biotransformação em sítios específicos, ao interagirem com as moléculas orgânicas constituintes das células, produzem alterações bioquímicas, morfológicas e funcionais que caracterizam o processo de intoxicação. Nessa fase pode ocorrer interações de adição, sinergismo, potenciação e antagonismo entre as substancias, podendo aumentar ou diminuir os efeitos tóxicos. Um exemplo da toxicodinâmica é a formação de tumores. Qualquer molécula toxicante que possa agir com o agente alquilante ou arilante pode atacar o DNA, provocando modificações na estrutura molecular com consequentes mutações.

 

Fase clínica

É a fase em que há evidências de sinais e sintomas ou ainda, alterações patológicas detectáveis mediante provas diagnósticas, caracterizando os efeitos nocivos provocados pela interação do toxicante com o organismo.

 

 

 

3. Discriminar os agentes tóxicos utilizados com maior prevalência (medicamentos, saneantes domésticos e raticidas) e morbimortalidade (raticidas, agrotóxicos e psicofármacos).

c

Entre as várias causas de intoxicação por medicamentos, as mais comuns foram tentativa de suicídio (40,5%), acidente individual (33,9%), uso terapêutico (8,3%) e erro de administração (6,1%). Quanto ao gênero, ocorrências envolvendo mulheres (60%) foram mais comuns que envolvendo homens (39,3%).

Intoxicações causadas por medicamentos são as mais prevalentes em todo o mundo, representando quase metade do total de casos em alguns países. Entre os medicamentos que mais aparecem nos relatórios de centros especializados no atendimento a intoxicações destacam-se os fármacos analgésicos, sedativos, antidepressivos, antimicrobianos, anti-histamínicos e cardiovasculares, além das vitaminas e dos minerais.

Relatório divulgado pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) norte-americano revelou que os analgésicos opioides foram a classe mais envolvida em mortes não intencionais por intoxicação em 2007. A publicação também cita que naquele ano, as mortes pelo uso de opioides superaram os óbitos por altas doses de cocaína e heroína somados.

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4. Identificar os dados epidemiológicos de intoxicações no Brasil.

Intoxicação Por Raticidas – Inseticidas

Estudo epidemiológico descritivo utilizando informações sobre os casos registrados de intoxicação humana por raticidas no banco de dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) de 2000 a 2008.

  • Regiões norte e nordeste apresentam maior letalidade
  • Crianças de 1 a 4 anos com incidências elevadas em todas as regiões, exceto no Nordeste onde os adolescentes (15 a 19 anos) e os adultos jovens (20 a 29anos) foram os mais acometidos
  • Mais incidente na zona urbana e no sexo masculino
  • Tentativa de suicídio como circunstancia predominante
  • A maioria dos casos evoluíram para cura
  • Os óbitos causados foram abaixo de 5%
  • Apenas na região norte o número de acidentes domésticos superou os índices de tentativa de suicídio.

Crianças de 1 a 4 anos, na maioria das vezes, é decorrente da ingesta acidental, visto que nessa faixa etária muitas delas ainda se encontram da fase oral do desenvolvimento psicossexual. São um grupo particularmente vulnerável às intoxicações acidentais, devido à curiosidade da idade.

Entre os adultos jovens, a intoxicação por raticidas (chumbinho) está mais relacionada com as tentativas de suicídio. A elevada incidência de suicídio nessa faixa etária, possivelmente está associada à maior vulnerabilidade que esse grupo apresenta com relação aos conflitos da vida pessoal característicos dessa fase e ao fácil acesso a essas substâncias.

5. Descrever as manifestações clínicas possivelmente decorrentes de intoxicações e as condutas terapêuticas na abordagem inicial do paciente agudamente intoxicado.
  • Como Suspeitar De Intoxicação Ou Envenenamento

A primeira conduta a ser tomada é a verificação se realmente houve a intoxicação ou o envenenamento. Uma pessoa, que tenha simplesmente deglutido alguma substância, não estará necessariamente intoxicada. Algumas substâncias são inócuas e não requerem tratamento. Entretanto, podemos suspeitar de envenenamento ou intoxicação em qualquer pessoa que manifeste os sinais e sintomas descritos na imagem.

Em todos os casos de envenenamentos e intoxicações, é importante investigar da área onde a pessoa foi encontrada, na tentativa de identificar com a maior precisão possível o agente causador do envenenamento, ou encontrar pistas que ajudem nesta identificação. Muitos indícios são úteis nesta dedução: frascos de remédios, produtos químicos, materiais de limpeza, bebidas, seringas de injeção, latas de alimentos, caixas e outros recipientes.

Muitas pessoas supõem que exista um antídoto para a maioria ou a totalidade dos agentes tóxicos. Infelizmente isto não é verdade. Existem apenas alguns produtos específicos para certos casos e que, mesmo assim, necessitam de orientação médica para serem usados.

  • Etapas Básicas Na Atenção Ao Intoxicado Agudo:
  1. Avaliação do estado geral do paciente – sinais vitais.
  2. Anamnese cuidadosa: Verificar se o paciente apresenta distúrbios que representem risco de morte iminente e procurar corrigi-los.
    1. Respiratórios: obstrução das vias aéreas, apneia, frequência respiratória, estertores.
    2. Cardiocirculatórios: TA, frequência e ritmo;
    3. Neurológicos: escala de REED;
    4. Bioquímicos/metabólicos;
    5. Sanguíneas.
  3. Estabelecimento do diagnóstico;
  4. Procedimentos terapêuticos: Diminuir a exposição do organismo ao tóxico (descontaminação), aumentar a excreção do tóxico já absorvido (diurese forçada, exsanguíneo-transfusão, diálise peritoneal e hemodiálise) utilizar antídotos e antagonistas (tabela), além do tratamento de suporte, sintomático e das complicações.

Cuidados Gerais Imediatos:

  • Procurar identificar o veneno – Toxinas conhecidas em prováveis quantidade e concentração – Epidemiologia;
  • Verificar a via de penetração (cutânea, inalatória, ocular, oral, parenteral, etc.);
  • Verificar o tempo de exposição e o decorrido;
  • Guardar qualquer tipo de material para posterior análise: comprimidos, embalagem de produtos, garrafas, seringas, plantas, vômitos, etc.;
  • Interrogar sobre sintomas prévios apresentados
  • Interrogar sobre medidas tomadas: vômitos, diluição com água ou leite, etc.;
  • Interrogar sobre condições clínicas prévias;
  • Verificar lesões de boca (queimaduras/manchas indicam ingestão de comprimidos ou químicos);
  • Verificar sinais de injeções em músculos e veias (Toxicomanias);
  • Retirar o paciente transportando-o do local;
  • Retirar as roupas contaminadas e lavar abundantemente na contaminação dérmica protegendo-se com luvas impermeáveis;
  • Nunca provocar vômitos em crianças menores de 2 anos, grávidas no 3º trimestre, paciente inconsciente ou que tenha ingerido substâncias corrosivas ou derivados de petróleo;
  • Provocar vômitos ou realizar lavagem gástrica até 4 horas. Em alguns casos, até 24 horas: salicilatos, tricíclicos e barbitúricos;
  • Observar instruções para venenos específicos;
  • Atenção especial às drogas de efeito retardado:

Tratamento

O tratamento das intoxicações agudas pode ser dividido em medidas gerais, medidas específicas e outros procedimentos.

Medidas Gerais

  1. Manter a permeabilidade das vias aéreas;
  2. Oxigenoterapia, se necessário;
  3. Hidratação venosa;
  4. Lavagem corporal exaustiva, em casos de contaminação dérmica;
  5. Esvaziamento gástrico; (*)
  6. Carvão ativado; (**)
  7. Uso de catártico. (***)

Lavagem Gástrica (*)

  1. Recém-nascido: 500 ml de soro fisiológico (SF) a 0,9 %.
  2. Lactentes: 2 a 3 litros de SF a 0,9 %.
  3. Pré-escolares: 4 a 5 litros de SF a 0,9 %.
  4. Escolares: 5 a 6 litros de SF a 0,9 %.
  5. Adultos: 6 a 10 litros de SF a 0,9 %.

Carvão Ativado (CA) (**)

  • Ministrar doses, diluídos em SF a 0,9 %. de 4/4:00 h ou 6/6:00 h, via sonda nasogástrica (SNG), mantendo a SNG aberta em sifonagem. Contraindicado em casos de ausência de peristalse. (Ministrar até 4 doses)
  • Crianças: 0,5 g de CA/kg corporal/dose – (diluído a 10 %, em SF a 0,9 %) – até 1 g/kg corporal
    Adultos: 25 g de CA/dose – (diluído a 10 % em SF a 0,9 %)

Catártico (***)

  • Deve-se utilizá-lo 1:00 h após o carvão ativado (CA).
  • Sulfato de Sódio (sol. a 10 %): em crianças: 250 mg/kg corporal; em adultos: 15 a 20 g da solução a 10 %
  • Sorbitol (sol. a 35 %): em crianças: 4 ml/kg corporal; em adultos: 300 ml da solução a 35 %

Medidas Específicas

Atropinização

  • Atropina: apresentação: solução injetável de sulfato de atropina a 0,25 mg (1 ml); 0,50 mg (1 ml) e 1,0 mg (1 ml).
  • Posologia: em crianças: 0,015 a 0,050 mg/kg corporal/dose, de 10/10 min ou 15/15 min; em adultos: 1 a 2 mg/dose, de 10/10 min ou 15/15 min.
  • Após a estabilização do paciente, pode-se utilizar a infusão contínua na dose de 20 a 25 mg/kg corporal/hora em crianças e 1,0 mg/hora em adultos. Tal procedimento deve ser feito com cautela, uma vez que a dose deve ser reajustada de acordo com a melhora clínica. A presença de taquicardia e hipertensão não contraindicam a atropinização.
  • Critérios para espaçamento das doses (30/30 min; 60/60 min; 2/2 horas).
  • Reversão do quadro e sinais de intoxicação atropínica (secura na boca, rubor facial, taquicardia, midríase, agitação psicomotora e alucinação). A atropinização deve ser suspensa quando o paciente estiver assintomático após algum tempo, com espaçamento de pelo menos 2 horas, e nunca antes disso, pois pode haver efeito rebote e reaparecimento do quadro de intoxicação.
  • Tal procedimento, entretanto, deve ser feito com cautela, uma vez que pode haver piora do quadro.
    MANTER OBSERVAÇÃO POR 72 HORAS, COM MOTORIZAÇÃO CARDÍACAOximas (Contrathion)

CONTRA-INDICADO nas intoxicações por CARBAMATOS. São antídotos verdadeiros, reativadores de colinesterase. Utilizadas nas intoxicações por OF. Atualmente alguns Centros utilizam somente em casos de intoxicação por Paration Etílico (em associação com a atropina). Deve ser iniciado precocemente (nas 24 horas iniciais) e pode ter seu uso prolongado por até 22 dias.

6. Explicar as manifestações clínicas apresentadas pelas pacientes relatadas no problema.

Intoxicação aguda

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A maioria dos carbamatos, em geral, não causam sintomatologia exuberante a nível de
sistema nervoso central (SNC) entretanto, quando esses sinais estão presentes, são considerados sinais de gravidade.

A intoxicação por inibidores da colinesterase tem um quadro clínico característico de hiperestimulação colinérgica. A maioria dos carbamatos, em geral, não causam sintomatologia exuberante a nível de sistema nervoso central (SNC) entretanto, quando esses sinais estão presentes, são considerados sinais de gravidade.

Ainda com relação à intoxicação por inibidores da acetilcolinesterase, ambos os grupos levam à hiperglicemia transitória até 05 vezes superior aos valores normais, sendo, contudo, contraindicado o uso de Insulina. Pode ainda ocorrer arritmias cardíacas (fibrilação atrial e ventricular) até 72 horas após a intoxicação.

Apesar da dificuldade em diferenciar o quadro colinérgico agudo, em relação à classe do agente etiológico, suspeita-se de intoxicação por organofosforado quando o paciente é oriundo de área rural, tem exposição ocupacional, ou quando apresenta sintomatologia importante de acometimento do SNC (convulsões), ou quando a atropinização é feita corretamente, sem melhora da sintomatologia muscarínica.

Manifestações Tardias

 Síndrome Intermediária

 Ocorre em pacientes extubados precocemente (ou não entubados) após longo período de superestimulação colinérgica dos músculos cervicais, pares cranianos (motores) e da respiração.

Sequência de sinais neurológicos (diminuição da força dos músculos proximais, principalmente da cintura escapular) que aparecem de 24 a 96 horas após crise colinérgica aguda.

A falência respiratória resultante é devido a um processo de necrose da placa mioneural por hiperestimulação da membrana pós-sináptica que causa o que se chama excitotoxidade celular- a morte da célula como resultado de excitação prolongada da terminação nervosa e respectiva placa motora.

É decorrente da dessensibilização crônica de receptores da placa que envolveria um aumento de fagocitose dessas estruturas reduzindo a densidade dos receptores na membrana pós-juncional (down-regulation)

Neuropatia Tardia

 Relacionada a inibição da enzima esterase alvo neuropática, anteriormente conhecida como colinesterase neurotóxica. Tal inibição não tem relação direta com a apresentação clínica da síndrome colinérgica aguda que por hiperestimulação autonômica causa dessensibilização dos receptores colinérgicos seguida paralisia flácida e disfunção do 2º neurônio motor.

Caracteriza-se por uma neuropatia sensitivo-motora que se manifesta de modo ascendente nas extremidades de membros superiores e inferiores (tipo luvas e botas) até 4 semanas após a exposição. O paciente inicialmente apresenta um formigamento e queimação dos dedos que vai tomando todos os membros superiores seguido por fraqueza e ataxia dos inferiores.

A sensibilidade cutânea é pouco afetada. Os casos leves podem ser reversíveis em alguns anos, entretanto pode ocorrer a paralisia espástica após o quadro descrito, que implica em lesão do 1º neurônio motor (efeito direto na medula espinhal) e tem ocorrido principalmente em aplicadores de pesticidas de áreas agrícolas ou por ingestão de hortaliças contaminadas pelos agentes.

Esta síndrome foi descrita também com alguns carbamatos (Carbofuram e Carbaril). Eletroneuromiografia tem valor diagnóstico e prognóstico, assim como a síndrome de Guillain-Barré atípica é usada para diagnóstico diferencial.

Outros sintomas também podem ser observados em decorrência da exposição crônica: cefaleia, fraqueza, sensação de “peso na cabeça”, diminuição da memória, alteração de sono, fadiga fácil, perda de apetite, desorientação e alterações psíquicas.

7. Caracterizar o mecanismo de ação dos organofosforados e do carbamato.

A intoxicação exógena aguda por inseticidas carbamatos e organofosforados tem sido um problema frequente nos serviços de emergência dos grandes hospitais, seja por ingestão acidental em crianças ou por tentativa de suicídio.

Tais produtos são utilizados como medicamentos e inseticidas fitossanitários, nematicidas, larvicidas e acaricidas sistêmicos ou como zoossanitários, no campo ou no lar, sendo responsáveis por intoxicações humanas e em animais domésticos. O Aldicarb, puro ou misturado com outros carbamatos e/ou organofosforados vem sendo comercializado ilegalmente como raticida, com o nome vulgar de CHUMBINHO. O produto ilícito, por vezes, contém ainda materiais espúrios, como pólvora, semente (alpiste), raticidas cumarínicos, areia, entre outros.

Toxicocinética 

  • Absorção e Distribuição – Organofosforados e Carbamatos

Os organofosforados, dependendo de sua solubilidade nos tecidos, vão desenvolver mais prontamente ou tardiamente os sinais clínicos da intoxicação. Assim, por exemplo, por inalação de vapores do produto no ambiente os primeiros sintomas aparecem em poucos minutos, enquanto que pela ingestão oral ou exposição dérmica pode haver um aparecimento tardio dos sintomas. Se ocorrer uma exposição cutânea localizada, o efeito tende a se restringir a área exposta, sendo a reação exacerbada se houver lesão cutânea ou dermatite

A absorção prolongada e insidiosa destas substâncias OF pode determinar a agudização da resposta a doses baixas do produto. No caso de carbamatos, a exposição dérmica torna-se crítica quando o organismo se encontra em temperatura ambiente elevada.

Os inseticidas organofosforados e carbamatos são absorvidos pelo organismo, pelas vias oral, respiratória e cutânea. A absorção por via oral ocorre nas intoxicações agudas acidentais, nas tentativas de suicídio, sendo, portanto, a principal via implicada nos casos atendidos nos serviços de emergência. A via dérmica, contudo, é a via mais comum de intoxicações ocupacionais, seguida da via respiratória.

  • Biotransformação

Organofosforados

Após absorvidos, os organofosforados e seus produtos de biotransformação são rapidamente distribuídos por todos os tecidos. Ainda, dependendo da persistência da forma bioativada no organismo, pode-se inferir que a mesma poderá interagir com seus sítios de ação vários dias após a última exposição. São basicamente os fatores metabólicos e toxicocinéticos que determinam a toxicidade e resistência aos organofosforados.

Carbamatos

A maioria dos carbamatos, em geral, não causam sintomatologia exuberante a nível de sistema nervoso central (SNC); e, quando esses sinais estão presentes, são considerados sinais de gravidade.

  • Mecanismo de ação tóxica

Os compostos organofosforados e carbamatos são inibidores da colinesterase, impedindo a inativação da acetilcolina, permitindo assim, a ação mais intensa e prolongada do mediador químico nas sinapses colinérgicas, a nível de membrana pós-sináptica. A acetilcolina é sintetizada no neurônio a partir da acetilcoenzima A e da colina. É inativada por hidrólise sob ação da acetilcolinesterase, com formação de colina e ácido acético que, por sua vez, são reutilizados para formação da acetilcolina. Quando há a inibição da acetilcolinesterase, ocorre um acúmulo de acetilcolina na fenda, levando a uma hiperestimulação colinérgica.

Os compostos organofosforados inibem duas enzimas: a acetilcolinesterase (AChE), encontrada nas junções sinápticas e nas hemácias, e a butirilcolinesterase, também conhecida como pseudocolinesterase (PChE) ou colinesterase plasmática, encontrada no sangue. Cada uma dessas enzimas quebra a acetilcolina.

  • O bloqueio da AChE é o efeito clinicamente mais significativo dos OFs e dos carbamatos, pois leva ao acúmulo de quantidades excessivas de acetilcolina nos receptores muscarínicos (encontrados em diversas células secretoras colinérgicas), nos receptores nicotínicos (localizados sobre as junções neuromusculares esqueléticas e nos gânglios autonômicos) e no SNC.
  • A inibição permanente da AChE (“envelhecimento”) poderá ser observada quando a ligação estabelecida entre o OF e a enzima for covalente. A taxa de envelhecimento é altamente variável, de alguns minutos a dias, dependendo da via de exposição e do OF específico. Os compostos OFs dimetílicos (p. ex., dimetoato) em geral envelhecem mais rapidamente do que os agentes dietílicos (p. ex., clorpirifós), e os compostos OFs lipofílicos podem ser liberados na circulação sistêmica a partir dos reservatórios de gordura por vários dias a semanas após a exposição, prolongando tanto a duração da toxicidade clínica quanto a janela de envelhecimento. O tratamento com antídoto do tipo oxima é considerado benéfico apenas quando administrado antes da ocorrência do envelhecimento.

Os carbamatos também inibem as AChEs e levam ao acúmulo de acetilcolina, com efeitos clínicos agudos semelhantes.

  • Os efeitos dos carbamatos sobre o SNC em geral são menos pronunciados porque apresentam maior dificuldade em atravessar a barreira hematoencefálica.
  • Os carbamatos não “envelhecem” a enzima AChE, e a toxicidade é, portanto, mais breve e autolimitada do que a observada a partir dos compostos OFs.
  • Pacientes com miastenia grave e distúrbios neurológicos relacionados podem apresentar maior risco de toxicidade colinérgica induzida por carbamatos, porque frequentemente recebem a prescrição de piridostigmina ou de compostos relacionados à “estigmina”.
  • O aldicarbe é relativamente mais potente e translocado sistemicamente por certos vegetais (p. ex., melões) e se concentra nos seus frutos.

Há três tipos de colinesterase no organismo humano:

  1. A Acetilcolinesterase: colinesterase verdadeira, colinesterase específica ou eritrocitária – encontrada no tecido nervoso, na junção neuromuscular e nos eritrócitos. É sintetizada durante a eritropoiese renovada de 60 a 90 dias e tem afinidade específica para a acetilcolina.
  2. A Pseudocolinesterase: colinesterase inespecífica, plasmática ou sérica – hidrolisa vários ésteres, entre eles a acetilcolina. Localiza-se principalmente no plasma, fígado e intestinos. No SNC está presente em células gliais, mas não em neurônios. Na superfície da colinesterase existe um centro ativo para inativação da acetilcolina que contém um sítio aniônico e um esterásico. A inibição da colinesterase se dá através da ligação do composto com o centro esterásico da enzima diferindo apenas o tipo de ligação (fosforilação em organofosforado ou carbamilação em carbamatos). A taxa de regeneração varia de acordo com o composto. Se isso não ocorrer, supõe-se que uma forma fosforilada muito estável tenha sido produzida pela perda de um grupo alquil. Tal fenômeno denomina-se “envelhecimento” da enzima e quando ocorre, esta não mais se regenera. Esse fato é importante na terapêutica, pois dele depende a utilização ou não de oximas (reativação da enzima). Tal fenômeno ocorre com alguns organofosforados. Os organofosforados são ditos inibidores irreversíveis da acetilcolinesterase, enquanto os carbamatos são ditos inibidores reversíveis.
  3. A Esterase Neuropática Alvo: “esterase neurotóxica” ou (NTE) – a ação neurotóxica tardia de alguns OF nos nervos periféricos é independente da inibição da colinesterase, mas parece estar intimamente relacionada à fosforilação de uma esterase específica no tecido nervoso. Também no caso da NTE, o “envelhecimento” da enzima, ou seja, o estabelecimento de ligações covalentes estáveis entre a enzima e o grupamento fosfato do OF, provoca ataxia e agrava o desenvolvimento da doença. A NTE pode ser também encontrada em linfócitos periféricos humanos, no fígado, em plaquetas, entre outros tecidos. Parece que o efeito neurotóxico ocorre pela inibição na produção da enzima mais do que pela inibição de sua atividade, ou seja, parece interferir nos processos de transporte axoplasmático, manutenção e reparo da integridade das células nervosas (corpo celular e axônio). A síndrome aparece após exposições sucessivas, mas não necessariamente constantes dos OF. A presença de compostos fosfinados ou carbamatos bloqueiam a reação.
    8. Caracterizar os órgãos de notificação e de orientação de casos de intoxicações.

Foi publicada a Portaria GM/MS nº 1.678/2015  instituindo os Centros de Informação e Assistência Toxicológica-CIATox, como estabelecimentos de saúde integrantes da Linha de Cuidado ao Trauma, da Rede de Atenção às Urgências e Emergências no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Esta Portaria tão aguardada por aqueles que trabalham nos Centros de Assistência Toxicológica (Ceatox) do país, especialmente pelos que atuam no estado de São Paulo, e pelo Centro estadual de Vigilância Sanitária de São Paulo (CVS-SP), traz um significado de reconhecimento do trabalho já realizado há décadas por muitos destes centros. A sua vinculação com as Redes Regionalizadas de Atenção à Saúde (RRAS) aponta a necessidade de estruturação da atenção aos pacientes expostos e intoxicados aguda e cronicamente.

SISTEMA ESTADUAL DE TOXICOVIGILÂNCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO /SETOX-SP

É um sistema coordenador das ações e atividades de atendimento do paciente exposto/ intoxicado (identificação, diagnóstico e tratamento), notificação dos eventos toxicológicos, consolidação, análise e avaliação das informações notificadas, divulgação periódica das informações consolidadas, investigação, desenvolvimento de projetos e/ ou programas específicos de vigilância, formulação de recomendações para os diversos setores envolvidos no sistema de saúde, adoção de políticas e medidas de prevenção e controle, elaboração de alertas sanitários, informes técnicos e educação contínua.

CEATOX

Os Centros de Informação e Assistência Toxicológica são unidades públicas de referência regional ou estadual em Intoxicações e Envenenamentos, e Toxicologia Clínica e realizam atendimento 24 horas/ 365 dias, telefônico e/ou presencial. Têm a missão de prestar assistência clínica toxicológica como órgãos de referência e divulgação de informações toxicológicas, principalmente nos casos de intoxicação aguda por agentes tóxicos ou potencialmente tóxicos como agrotóxicos, medicamentos, produtos veterinários, cosméticos, produtos de uso doméstico e industrial e envenenamentos por animais peçonhentos.

SINITOX

O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) tem como principal atribuição coordenar a coleta, a compilação, a análise e a divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento notificados no país. Os registros são realizados pelos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciats), localizados em vários estados brasileiros, parte deles integrantes da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat). As notificações são encaminhadas ao Sinitox, responsável pela consolidação e divulgação anual dos dados, em âmbito nacional.

O Sistema também desenvolve atividades de pesquisa nas áreas de intoxicação, informação em saúde e saúde pública, contribuindo para o enriquecimento destas discussões no cenário brasileiro de intoxicação e envenenamento, principalmente no que concerne a questões preventivas.

Ficha de notificação

Para a elaboração da Ficha de Notificação de Eventos Toxicológicos e das Instruções para o Preenchimento da Ficha procurou-se integrar a estrutura de dados gerais de notificações comuns ao Sistema Nacional de Notificação de Agravos (SINAN) e as específicas do Sistema Nacional de Toxicologia (SINITOX), em busca da integração dos Centros de Assistência Toxicológica (CEATOX), e da implantação de notificação de casos de eventos toxicológicos nos diversos níveis do SUS-SP, com as necessárias adequações. 

A espinha dorsal da ficha e das instruções é o conjunto de variáveis padronizadas pela Comissão de Sistema de Informação da Rede Nacional de Centros de Assistência Toxicológica, que buscou o consenso dos diferentes modelos de ficha de notificação utilizados no país na época do desenvolvimento de seu trabalho (1996). Como o foco do referido trabalho se voltava aos Centros de Assistência Toxicológica, a presente ficha contém variáveis com finalidades diferentes, tais como epidemiológicas, de serviço, de clínica e mesmo de produção. Introduzimos algumas modificações com o propósito de ampliar a clareza e promover adequação e adaptação frente às proposições atuais com a criação do Sistema Estadual de Toxicovigilância – SETOX/SP. Houve cuidado também em conceituar e definir todos os termos utilizados, principalmente os referentes aos agentes tóxicos. 

Ficha de Notificação de Eventos Toxicológicos e as suas Instruções de Preenchimento são instrumentos que, em conjunto com o “Programa Informatizado de Entrada de Dados” e o “Sistema de Codificação de Agentes Tóxicos” que desenvolvemos e está acoplado ao programa de entrada de dados, promovem as condições necessárias para desencadear a notificação informatizada dos eventos toxicológicos já determinada na Resolução SS-78/2002 e o avanço da área de Toxicovigilância no Estado de São Paulo. Todos estes instrumentos serão alvo de um trabalho periódico de avaliação e aperfeiçoamento.

Inicialmente a implantação do Sistema Estadual de Toxicovigilância pretende a integração e otimização das ações já executadas de forma dispersa e a melhoria da qualidade da atenção aos pacientes. Com a implantação da notificação dos eventos toxicológicos e sua análise sistemática busca-se conhecer a realidade das exposições e intoxicações no nosso meio e promover a sua vigilância, implementando medidas de prevenção, controle e/ou eliminação de suas causas.

Orientações gerais 

  1. A ficha deve ser preenchida pelo serviço que atendeu o paciente, na sua alta.
  2. Todas as informações disponíveis devem ser registradas, principalmente os referentes ao endereçamento.
  3. Se houver transferência do paciente, para serviço privado ou público, a ficha deve ser preenchida pelo serviço que vai transferir o paciente, informando para onde o está transferindo.
  4. Nos quadros em que há numeração fixa, marcar a tinta com um “x” sobre o número correspondente ao código de escolha; onde estiver em aberto, anotar à tinta o número do código de escolha.
  5. Escrever com letra legível e nunca usar abreviaturas.
 9. Reconhecer a importância do ambiente psicossocial, incluindo os serviços de educação e saúde como fator determinante para a ocorrência de intoxicações.
  • Desenvolver a Toxicologia no campo da saúde pública, visando a implantação e implementação de ações e medidas com a finalidade de conhecer a ocorrência de eventos toxicológicos e os fatores de risco a eles relacionados e promover a sua prevenção e/ou controle.
  • Desenvolver políticas públicas de prevenção de riscos à saúde humana relacionados a agentes tóxicos ou potencialmente tóxicos;
  • Em articulação e negociação permanente na construção e estruturação das ações de forma integrada no setor saúde, e em conjunto com os demais atores envolvidos em situações de risco, tanto públicos como da sociedade em geral.
  • Cabe aos professores, garantir momentos de discussão e compressão sobre assuntos socioambientais, numa perspectiva de construção de espaços para o exercício da cidadania. Neste contexto, a Educação Ambiental deve ser relacionada com a vida das pessoas no seu cotidiano. Conhecer as causas e consequências que provocam os problemas socioambientais locais também é primordial.

 

Referências Bibliográficas
  1. Fundamentos em Toxicologia de Cassarret e Doull.
  2. Manual de toxicologia. Universidade Federal de Santa Maria.
  3. Conselho Regional de Farmácia do Paraná. http://crf-pr.org.br/uploads/revista/24138/cim_1_ed_2013.pdf
  4. Sistema nacional de informações tóxico-farmacológicas.
  5. EPIDEMIOLOGIA DAS INTOXICAÇÕES HUMANAS POR RATICIDAS NO BRASIL, Revista Eletrônica Gestão & Saúde ISSN:1982-4785; Ferreira MC,Figueredo MAA.
  6. Apostila de Toxicologia Básica; GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA – SESAB, 2009.
  7. Manual de Primeiros Socorros. Rio de Janeiro.Fundação Oswaldo Cruz, 2003; Brasil, Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. FIOCRUZ. Vice Presidência de Serviços de Referência e Ambiente. Núcleo de Biossegurança. NUBio.
  8. http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/biosseguranca/manualdeprimeirossocorros.pdf> INTOXICAÇÕES EXÓGENAS AGUDAS POR CARBAMATOS, ORGANOFOSFORADOS, COMPOSTOS BIPIRIDÍLICOS E PIRETRÓIDES; Dr. Luiz Querino de Araújo Caldas.
  9. LUIZ QUERINO DE ARAÚJO CALDAS (Rio de Janeiro). Centro de Controle de Intoxicações de Niterói (Org.).Intoxicações Exógenas Agudas: Por carbamatos, organofosforados, compostos bipiridílicos e piretróides. Rio de Janeiro: 2000. 43 p.
  10. KLAASSEN, Curtis D.; III, John B. Watkins.Fundamentos em toxicologia de Casarett e Doull.  ed. Porto Alegre: Amgh Editora Ltda, 2012.
  11. KENT R. OLSON. California Poison Control System.Manual de Toxicologia Clínica.  ed. Porto Alegre: Amgh, 2014
  12. SINITOX – Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas.
  13. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo Coordenadoria de Controle de Doenças – Centro de Vigilância Sanitária.
  14. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – Sistema Estadual de Toxicovigilância. Manual de Toxicovigilância, 2014.
  15. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo Coordenadoria de Controle de Doenças – Centro de Vigilância Sanitária.
  16. BOVO, Marcos Clair. Desenvolvimento da educação ambiental na vida escolar: avanços e desafios. Uruguatá, Maringá, v. 13, n. 1, p.1-15, abr. 2007. Quadrimestral. Disponível em: <http://www.urutagua.uem.br/013/13bovo.htm&gt;. Acesso em: 14 maio 2017.
  17. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual integrado de prevenção e controle de doenças transmitidas por alimentos.

Saúde da Mulher – Problema 5: “Risco e gravidade “

Questões
  1. Caracterizar gestação de baixo e alto risco e identificar as situações em que elas ocorrem.
  2. Classificar as síndromes hipertensivas da gestação.
  3. Citar os fatores de risco para o surgimento de síndromes hipertensivas da gravidez.
  4. Descrever a fisiopatologia da pré-eclâmpsia e eclampsia e identificar as consequências para a mãe e para o feto.
  5. Caracterizar o protocolo de assistência às síndromes hipertensivas da gravidez, preconizado pelo Ministério da Saúde.
  6. Identificar a importância da realização do pré-natal na prevenção e detecção de síndromes hipertensivas da gravidez.
  7. Explicar os mecanismos de ação dos fármacos citados.
Gestação de alto risco
Predisposição genética (materna, paterna, trombofilias) 14-17
Fenômeno imunológico
Implantação placentária anormal (defeito no trofoblasto e artéria espiralada) 18,19
Dano no endotélio vascular
Fatores angiogênicos (níveis reduzidos de fator de crescimento placentário – PLGF, do inglês placental growth factor) 20
Ativação plaquetária
Mal adaptação cardiovascular e vasoconstricção

Tabela 2: Fatores de risco para pré-eclâmpsia 

Nuliparidade
Idade materna superior a 40 anos
Gestação múltipla
Antecedente de pré-eclâmpsia (particularmente se grave, antes de 32 semanas em gravidez anterior)
Hipertensão arterial crônica
Doença renal crônica
Síndrome antifosfolípede
Índice de massa corporal elevado
Diabetes mellitus
  • Obesidade
  • Idade acima de 30 anos
  • Primipariedade
  • Pré-eclâmpsia prévia
  • Mulheres jovens e nulíparas
  • Incidência de 5% em mulheres brancas, 9% em hispânicas e 11% em afro-americanas
  • Influencias ambientais, socioeconômicas e sazonais
  • Gestação de múltiplos fetos
  • Hiper-homocisteinemia
  • Síndrome metabólica
  • Atividade física
  • Coabitação sexual – má adaptação imune materna ao antígeno paterno fetal (mecanismo desencadeante)
  • Infecções
  • Antecedentes familiares
Gestação de alto risco

É aquela na qual a vida ou a saúde da mãe e/ou do feto e/ou do recém-nascido têm maiores chances de serem atingidas que as da média da população considerada.

Risco é uma palavra que indica probabilidade de lesão, dano ou perda; e risco gravídico é definido como sendo a oportunidade a agravos físicos, psíquicos e sociais a que estão expostos a gestante e o feto. A gestação acarreta condições especiais tanto do ponto de vista físico, como psíquico e social, consideradas próprias do estado gravídico.

O Comitê de Assistência Materno-Infantil da Associação Médica Americana define gestação de alto risco como “aquela que tem uma alta probabilidade de apresentar uma criança com impedimento físico, intelectual, social ou de personalidade, que possa dificultar o crescimento e o desenvolvimento normais e a capacidade para aprender. Este impedimento pode ser originado no período pré-natal, perinatal ou pós-natal e pode resultar de influências hereditárias ou ambientais desfavoráveis, atuando em separado ou em combinação”.

O risco gravídico deve ser encarado sob dois aspectos: o risco materno e o fetal. Por suas características, os fatores que elevam o risco materno sempre determinam correspondente elevação do risco fetal, mas este pode agravar-se sem afetar o risco materno.

Síndromes hipertensivas da gestação

  As síndromes hipertensivas representam em todo o mundo uma das alterações que ocorrem com maior frequência na gravidez.

  Sua incidência é de 2 e 8% das gestações, nos países desenvolvidos, podendo, no Brasil, chegar a 10% ou mais. Está entre as principais causas de morte materna no brasil e a terceira causa no mundo, além de ter elevada taxa de morbimortalidade perinatal, oscilando entre 5 e 20%.

  Epidemiologia

A toxemia gravídica é a doença mais importante em Obstetrícia. Estima-se que ela afete 2 a 5% das gestações e leve a mais de 100.000 mortes maternas ao redor do mundo a cada ano.

A toxemia gravídica é doença multissistêmica, ocorre habitualmente no final da gravidez e caracteriza-se por manifestações clinicas associadas e peculiares: hipertensão, edema e proteinuria. Em suas formas graves, em virtude da irritabilidade do sistema nervoso central, instalam-se convulsões e a doença é denominada eclampsia; ausentes as crises convulsivas, trata-se de pré-eclampsia.

A toxemia incide em cerca de 10% das primíparas e constitui uma das maiores causas de mortalidade materna e perinatal. Na vigência de toxemia, a mortalidade perinatal está aumentada em 5 vezes e 40% dos partos pré­termo iatrogênicos são dela decorrentes, assim como 25% dos recém-nascidos de muito baixo peso (< 1.500 g).

Em primíparas, a maior parte (2/3) dos casos de pré-eclâmpsia é leve e ocorre no termo, levando a menor morbidade materno fetal.

De fato, nessa população, somente 25% dos casos de pré­ eclampsia ocorrem antes de 37 semanas e apenas 10% antecedem 34 semanas (pré-eclâmpsia precoce), este último grupo associado a grande morbiletalidade materna e fetal.

O cenário em multíparas parece ser diferente, uma vez que a pré-eclâmpsia incide mais frequentemente em população de alto risco e o tipo de doença é geralmente precoce grave (antes de 34 semanas). A incidência em uma nova gravidez é menor que 1% em mulheres normotensas na primeira gestação, mas está elevada naquelas que apresentaram pré-eclâmpsia na gravidez inaugural, particularmente a forma grave da doença.

O Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 5 (ODM5) tem como meta reduzir a mortalidade materna em 75% no período 1990­2015. Em 2008, a mortalidade materna no Brasil foi de 55 por 100.000 nascidos vivos.

De acordo com a OMS (2006), nos países desenvolvidos a principal causa de morte materna foi a hipertensão (16,1%), seguida da embolia (14,9%). Na América Latina, incluindo o Brasil, e no Caribe, a hipertensão também se destaca (25,7%), vindo a seguir a hemorragia (20,8%).

  • Hipertensão crônica

Definida como o aumento dos níveis pressóricos no período pré-concepcional ou diagnosticado antes da 20º semana de gestação. Inclui ainda os casos de hipertensão diagnosticada após a 20º semana de gravidez e que não retorna aos níveis normais após a 12º semana pós-parto.

A hipertensão é definida como pressão sistólica maior > 140 mmHg ou diastólica > 90 mmHg, aferidas em pelo menos duas ocasiões diferentes com intervalo de pelo menos 4 a 6 horas.

Metildopa, labetalol e nifedipina são os medicamentos orais mais comumente usados para hipertensão crônica na gestação. Inibidores da enzima de conversão e antagonistas dos receptores de angiotensina II não devem ser usados devido a associação com restrição de crescimento fetal (RCF), oligohidramnia, insuficiência renal e morte neonatal. O betabloqueador atenolol, tem sido associado com RCF, e os diuréticos tiazídicos podem exacerbar a depleção de fluido intravascular da pré-eclâmpsia nos casos de hipertensão crônica que evoluem para pré-eclâmpsia superposta.

  • Hipertensão gestacional

  Hipertensão que não cursa com proteinúria, após a 20º semana de gravidez, em mulheres previamente normotensas.

  O diagnóstico não é definitivo, sendo realizado frequentemente, após a 12ª semana pós-parto. Por isso, pode incluir tanto os casos de hipertensão crônica – quando a pressão se mantém elevada depois da 12ª semana pós-parto; como hipertensão transitória – quando não se desenvolve pré-eclâmpsia e os níveis tencionais voltam ao normal no pós-parto; e pré-eclâmpsia em desenvolvimento – quando posteriormente surge proteinúria e/ou sintomas na gestação ou pós-parto. Pode ser definida como “transitória” quando ocorre normalização pós-parto.

  • Fatores de risco para pré-eclâmpsia

fds

  • Pré-eclâmpsia

Definida como hipertensão associada à proteinúria.

O diagnóstico é realizado usualmente após a 20º semana de gestação.

É uma síndrome multissistêmica caracterizada por hipertensão e proteinuria, após 20 semanas de gravidez, em mulheres com PA previamente normal. Na pré-eclâmpsia, a PA deve retornar a níveis basais 12 semanas após o parto.

Excepcionalmente, a pré-eclâmpsia pode ocorrer antes de 20 semanas em pacientes com doença trofoblástica gestacional ou na presença do anticorpo antifosfolipídico. A proteinuria na gravidez é definida pela presença de ≥ 300 mg de proteínas em amostra de 24 h. A coleção de urina de 24 h permanece como padrão-ouro para avaliar a proteinuria, e o nível de 300 mg/24 h correlaciona-se geralmente com 1+ em amostra de urina. A pré-eclâmpsia afeta 2 a 8% das gestantes, e esta taxa é substancialmente maior na gravidez gemelar (14%) e em mulheres com história prévia de toxemia (18%).

Sinais e sintomas: proteinúria, insuficiência renal, doença hepática, problemas neurológicos, distúrbios hematológicos e restrição de crescimento.

Conduta: Requer uma monitoração mais rigorosa da pressão arterial e a detecção de proteinúria. Se a pressão começar a aumentar, a gestante deve ser reavaliada dentro de 1 a 3 dias. Assim que se tiver o diagnóstico, a conduta dependerá da gravidade e da idade gestacional.

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  • Proteinúria

A proteinúria é definida como a excreção de 0,3g (300 mg) de proteínas ou mais em urina de 24 horas, ou 1+ ou mais na fita em duas ocasiões, em uma determinação de amostra única sem evidência de infecção. Devido à discrepância entre a proteinúria de amostra única e a proteinúria de 24 horas na pré-eclâmpsia, o diagnóstico deve ser baseado em exame de urina de 24 horas. Outra alternativa é a relação proteína/creatinina urinária em coleta única de urina. Nessa técnica, o resultado da divisão do valor da proteinúria pela creatinina urinária (em mg/dL) ≥ 0,3 tem uma boa correlação com a proteinúria na urina de 24 horas ≥ 0,3g.

  • Pré-eclâmpsia grave

Pressão sistólica > 160 mmHg e/ou diastólica > 110 mmHg associada a proteinúria. Também pode ser definida como hipertensão associada a proteinúria grave; hipertensão associada a comprometimento de múltiplos órgãos (edema pulmonar e oligúria); e hipertensão associada a sintomas persistentes (visuais, cerebrais e dor epigástrica ou no quadrante superior direito persistente) ou exames laboratoriais alterados.

A pré-eclâmpsia é classificada em leve ou grave, de acordo com o grau de comprometimento. Considera-se grave quando presente um ou mais dos seguintes critérios:

  • Pressão arterial diastólica igual/maior que 110mmHg
  • Proteinúria igual/maior que 2,0g em 24 horas ou 2+ em fita urinária
  • Oligúria (menor que 500ml/dia, ou 25ml/hora)
  • Níveis séricos de creatinina maiores que 1,2mg/dL
  • Sinais de encefalopatia hipertensiva (cefaleia e distúrbios visuais)
  • Dor epigástrica ou no hipocôndrio direito
  • Evidência clínica e/ou laboratorial de coagulopatia
  • Plaquetopenia
  • Aumento de enzimas hepáticas (AST ou TGO, ALT ou TGP, DHL) e de bilirrubinas
  • Presença de esquizócitos em esfregaço de sangue periférico

Outros sinais que podem sugerir o diagnóstico são:

  • Acidente vascular cerebral
  • Sinais de insuficiência cardíaca, ou cianose
  • Presença de RCIU (restrição de crescimento intrauterino) e/ou oligohidrâmnio.

 

  • Pré-eclâmpsia leve

Hipertensão associada à proteinúria que não preenche os critérios acima de pré-eclâmpsia grave.

Na avaliação das condições maternas deve constar:

  • PA de 4/4h durante o dia; pesagem diária; pesquisa de sintomas de iminência de eclâmpsia; cefaleia frontal ou occipital persistente; hematócrito e plaquetas; provas de função renal e hepática; etc. Não há necessidade de tratamento medicamentoso.

Avaliação das condições fetais:

  • Contagem de movimentos fetais diariamente; avaliação do crescimento fetal e do líquido amniótico; cardiotocografia basal (CTB), se disponível.

  • Pré-eclâmpsia sobreposta

Mulheres com hipertensão crônica, especialmente quando grave, estão sujeitas a apresentar pré­eclâmpsia sobreposta em 10 a 25% dos casos. A pré-eclâmpsia em hipertensas crônicas pode ser atestada pelo surgimento de proteinúria em mulheres diagnosticadas previamente com hipertensão, pelo aumento súbito da PA previamente bem controlada e pelo aparecimento de trombocitopenia ou elevação de enzimas hepáticas.

Fisiopatologia da pré-eclâmpsia

A doença materna envolve vasoespasmo, ativação endotelial e do sistema de coagulação com alterações no sistema de controle da PA e de volume intravascular. Atualmente, a literatura sugere duas hipóteses como as principais para ocorrência da PE, sendo elas a má adaptação imunológica e a incompatibilidade genética.

A hipótese da má adaptação imunológica pode ser corroborada por dados epidemiológicos de que a ocorrência da PE é maior entre nulíparas, em gestações provenientes de inseminação artificial com sêmen de doador e em mulheres cujo tempo de exposição ao esperma do parceiro é menor – características que sugerem tempo menor de exposição aos antígenos maternos. Esta hipótese de haver o envolvimento do sistema imune materno; a partir do estimulo antigênico originado no trofoblasto, onde ocorreria uma ativação endotelial generalizada, provavelmente mediada por sítios antigênicos comuns em sua superfície. Essa ativação provocaria reatividade vascular e vasoespasmo generalizado, que é típico da PE, alterações na permeabilidade capilar e ativação do sistema de coagulação.

**Adaptação Imunológica e Disfunção Endotelial:

O desenvolvimento de tolerância imunológica entre o feto (tecido paterno) e a gestante é fundamental para o desenvolvimento saudável da gravidez, favorecendo alterações bioquímicas e morfológicas na circulação uteroplacentária e sistêmica materna. A presença da unidade fetoplacentária produz, na gestante, alterações compatíveis com um estado inflamatório.

A PE pode ser resultado de uma exacerbação dessa reação materna a presença desses novos tecidos (feto e placenta), que funcionariam como um “aloenxertosemi-heterólogo” (metade de origem paterna). Essa reação inflamatória exacerbada contribui para a disfunção endotelial sistêmica com surgimento e/ou do quadro clinico característico da PE (vasoespasmo generalizado, edema e isquemia em órgãos-alvo). O aumento da permeabilidade endotelial leva ao surgimento do edema e da proteinúria. A agregação plaquetária aumentada é estimulada pelo endotélio disfuncional, levando aos distúrbios da coagulação, alteração na reatividade vascular e, consequentemente, a hipertensão.

O menor tempo de exposição aos antígenos paternos antes da concepção aumenta o risco de PE, o que é visto na frequência aumentada de PE em nulíparas, após inseminação artificial e entre casais com menor tempo de coabitação e/ou menor tempo de relações sexuais sem preservativo. Nas mulheres que irão desenvolver PE, a reação inflamatória do tipo 1é mais predominante em relação a do tipo 2. A reação inflamatória do tipo 1é mediada pelos linfócitos T CD com produção de interleucinas2, interferon gama, fator de necrose tumoral βe imunidade celular. Essas alterações inflamatórias podem dar origem a alteração que produz o quadro clinico da PE. O maior tempo de exposição da mãe aos antígenos paternos (p. ex., gestação ocorrendo após um ano de coabitação sem uso de preservativo) contribuiria para a predominância das reações inflamatórias do tipo 2, diminuindo o risco de PE.

Alguns autores defendem a hipótese de que a PE poderia ser classificada como uma doença que possui duas etapas: a pré-clínica, na qual os fatores imunológicos e inflamatórios estariam envolvidos; e a fase clínica, com sinais e sintomas característicos oriundos da disfunção inicial. Para a ocorrência dessas duas etapas, a disfunção endotelial desempenharia papel fundamental e ainda estaria ligada aos fatores angiogênicos secretados pela placenta e pelos linfócitos NK (natural killer) na decídua materna. A razão exata de a invasão trofoblástica evoluir normalmente em algumas mulheres (gestantes sem PE) e não em outras (gestantes com PE ou crescimento intrauterino restrito – CIUR) ainda é desconhecida, podendo, talvez, estar relacionada a presença de antígenos mediados pelos linfócito NK, que protegeriam a invasão trofoblástica de ataques ou rejeição do sistema imune materno.

Podemos afirmar que a PE é caracterizada por um estado de vasoespasmo, hipercoagulabilidade, coagulação intravascular, microtrombos em vários órgãos e fluxo uteroplacentário inadequado.

A hipótese da incompatibilidade genética ganha maior aceitação ao observarmos que a PE ocorre mais frequentemente em mulheres com história familiar de PE e naquelas cujos parceiros já tiveram parceira anterior com PE ou, ainda, que nasceram de mães que apresentaram PE. A pré-eclâmpsia é hoje considerada uma doença em dois estágios. O primeiro é a invasão superficial da decídua pelo citotrofoblastoextravilositário, resultando na placentação defeituosa e consequente hipóxica placentária. Essa placenta hipóxica libera inúmeros fatores solúveis e radicais livres de oxigênio na circulação materna que causam a disfunção endotelial sistêmica. No segundo estágio da doença, Síndrome Materna, manifestam-se a hipertensão e a proteinúria, os sinais mais clínicos da pré-eclâmpsia.

** Incompatibilidade Genética

Alguns estudos sugerem o envolvimento do sistema de reconhecimento de antígenos por meio dos antígenos leucocitários humanos (HLA). Existem vários tipos de HLA, cuja expressão é fundamental para que o organismo materno não reconheça o feto como estranho e assim desencadeie uma reação de rejeição. Os linfócitos NK desempenham papel fundamental, ligando-se ao HLA do citotrofoblasto, o que facilita a invasão trofoblástica e possibilita a aceitação do tecido estranho. O gene que sintetiza HLA é herdado do pai; e o que sintetiza NK é herdado da mãe, sendo que a predisposição genética para PE estaria relacionada a essa interação, levando a má adaptação imune. Nesse sentido, os mecanismos da incompatibilidade imunológica e genética estariam interligados e seriam responsáveis pela invasão trofoblástica deficiente, característica da PE.

  • Placentação defeituosa:

Durante o início da gravidez, o citotrofoblastoextraviloso invade o endométrio (decídua) e o miométrio e migra em direção as artérias espiraladas, transformando-as em vasos de condução de amplo diâmetro e de baixa resistência. A invasão do trofoblastoendovascular tem sido relatada em duas ondas: a primeira nos segmentos deciduais das artérias epiraladas entre a 8 e 10 semanas, e a segunda nos segmentos miometriais entre 16 e 18 semanas da gravidez.

Essa remodelação é caracterizada por perda gradual da estrutura musculo elástica da parede arterial e substituição por material amorfo fibrinoide e células trofoblásticas embebidas, isso resulta em um sistema circulatório de alto fluxo. O aumento do fluxo sanguíneo placentário ocorre, principalmente na metade do 2º trimestre. Essa remodelação das artérias espiraladas, que passam a ser chamadas de uteroplacentárias é indispensável para a evolução normal da gravidez.

O endotélio desses vasos neoformados produz, na grávida normal, uma quantidade significativa de prostaciclina, uma prostaglandina com potente ação vasodilatadora e inibidora da agregação plaquetária. Provavelmente, é a presença dessa substância que, contrapondo-se aos efeitos vasoconstritores e agregadores plaquetários do tromboxano, confere a gestante uma refratariedade vascular ao efeito de substâncias vasopressoras, como a angiotensina.

A incapacidade da invasão trofoblástica e da remodelação epiralada tem sido documentada na pré-eclâmpsia. Na verdade, está ausente a 2ª onda de migração, o que determina comprometimento na perfusão uteroplacentária, associada a disfunção endotelial generalizada e crescimento intrauterino restrito, acarretando grande morbidade materna e perinatal.

Com isso, a camada muscular das arteríolas é preservada e ocorre um aumento da resistência ao fluxo uteroplacentário. Com a progressão da gestação, há um aumento da demanda do feto, e o fluxo na placenta torna-se insuficiente, uma vez que o diâmetro das arteríolas permanece 40% menor do que na gestação normal. As gestantes que irão desenvolver PE produzem uma quantidade diminuída de prostaciclina. Essa deficiência de prostaciclina é responsável por uma cascata de eventos que incluem a produção plaquetária de TxA2 e dos seus precursores endoperóxidos, prostaglandina G2 e prostaglandina H2, de potentes propriedades vasoconstritoras e agregadoras plaquetárias.

O resultado disso é a perda da refratariedade vascular a angiotensina II, vasoespasmo e diminuição do volume plasmático intravascular. O aumento da PA materna seria uma tentativa de manter um fluxo sanguíneo minimamente eficaz em um sistema vascular de alta resistência. O vasoespasmo, danos no endotélio vascular e agregação plaquetária aumentada produzem hipóxia tecidual em órgãos-alvo (placenta, rins, fígado, cérebro), que gerarão a expressão clínica da PE.

As manifestações fisiopatológicas da PE – PA aumentada, proteinúria, hiperativação plaquetária e obstrução microvascular com plaquetas e trombos de fibrina – apontam para a disfunção endotelial como sendo a lesão-chave para provocar o espasmo vascular da PE.

Podemos afirmar que a PE é caracterizada por um estado de vasospasmo, hipercoagulabilidade, coagulação intravascular, microtrombos em vários órgãos e fluxo uteroplacentário inadequado.

  • Disfunção endotelial:

Parece haver fator placentário na pré-eclâmpsia que afeta sistematicamente a função das células endoteliais levando à síndrome clínica da doença.

Na pré-eclâmpsia a placenta superexpressa o sFlt-1(decorrência da hipóxia placentária), receptor do fator de crescimento endotelial (VEGF), que age como um potente antagonista ao se ligar com o VEGF. Além de ser grande promotor da angiogênese, o VEGF induz a produção de NO e de prostaciclina na célula endotelial, diminuindo o tono vascular e a pressão sanguínea. O VEGF mantém a saúde da célula endotelial glomerular e a sua ausência acarreta endoteliose capilar glomerular e a proteinuria.

  • Na PE, verificam-se níveis elevados de óxido nítrico, também chamado de fator relaxante do endotélio. É considerado que esses níveis elevados sejam decorrentes dos fenômenos envolvidos no vasoespasmo na tentativa de compensar o estimulo constritor e não como uma disfunção primária.
  • O fator endotelial de crescimento vascular, uma glicoproteína, tem ação seletiva na mitogênese endotelial e sua presença tem papel importante na vasculogênese e na permeabilidade microvascular, sendo identificado em quantidades significativas na placenta. Apresenta níveis elevados em pacientes com pré-eclâmpsia em relação com gestantes normais, provavelmente fazendo parte dos mecanismos compensatórios frente às dificuldades de adaptação da circulação útero placentária e maior resistência ao fluxo verificados na patologia.
  • Especula-se a possibilidade da ativação endotelial ser decorrente de uma ativação anormal do sistema inflamatório materno, sendo identificada à ativação de células inflamatórias e presença anormais de substancias como citocinas, fator de necrose tumoral e interleucinas, responsáveis pela agressão à célula endotelial e pela formação de radicais livres de oxigênio (estresse oxidativo), verificando-se um ciclo de eventos onde ocorreria ativação endotelial, produção de óxido nítrico e interferindo no balanço de prostaglandinas. Haveria também a possibilidade do envolvimento de fatores genéticos que poderiam determinar maior ou menor expressão na modulação da resposta inflamatória materna.

fdsAlterações decorrentes da pré-eclâmpsia

  • Alterações renais: Na gravidez normal, a taxa de filtração glomerular renal (FGR) aumenta cerca de 40 a 60% no 1º trimestre, resultando na queda da ureia, creatinina e ácido úrico plasmáticos. Na pré-eclâmpsia a FGR diminui entre 30 e 40% em relação aos valores da gravidez normal, enquanto a ureia e a creatinina sanguíneas ainda permanecem na faixa normal para mulheres não grávidas. O conjunto das alterações na morfologia renal, especificamente no glomérulo, responsável pela proteinuria, leva ao achado de lesão característica, considerada por muitos patognomonica da pré-eclâmpsia, denominada endoteliose capilar glomerular (lesão glomerular toxêmica). Esta apresenta espessamento endotelial, aumento do volume e vacuolização dos glomérulos.
  • Alterações cardiovasculares: Durante a gravidez fisiológica, há aumento de 30 a 50% do débito cardíaco e redução de 25% na resistência periférica. Na toxemia, ao contrário, a resistência vascular periférica está elevada e leva à hipertensão arterial e também a um acréscimo significativo do trabalho cardíaco. A alteração cardiovascular principal é a disfunção endotelial que condiciona o vasoespasmo, provavelmente à conta da menor biodisponibilidade do NO, mas também da prostaciclina (PGI2), outra substância vasodilatadora. Refere-se também na toxemia maior sensibilidade à angiotensina II, ao contrário do que ocorre na gravidez normal, na qual há́ maior reatividade a essa substância.
  • Alterações hepáticas: As alterações hepáticas da pré-eclâmpsia incluem hemorragia periportal, lesão isquêmica e depósito de fibrina. O dano hepático na toxemia varia da necrose hepatocelular leve, com alteração das enzimas hepáticas, à síndrome HELLP, com aumento das enzimas hepáticas e até sangramento subcapsular ou ruptura hepática. Na síndrome HELLP há necrose hemorrágica do tipo periportal, que é responsável pelo aumento das enzimas hepáticas e dor no quadrante superior direito do abdome.
  • Alterações cerebrais: Devido ao fato de o aparecimento de convulsões estar relacionado à gravidade do processo toxêmico, algumas mulheres têm predisposição à eclampsia. Até há pouco tempo achava-se que a convulsão da eclampsia era decorrente do vasoespasmo cerebral e, consequentemente, da isquemia. Hoje se sabe que a causa primária da lesão cerebral é a pressão de perfusão elevada (encefalopatia hipertensiva). Esse aumento da perfusão cerebral conduz ao “barotrauma” cerebral e ao edema vasogênico. A necropsia dos casos fatais mostra, no cérebro, edema, necrose hemorrágica ou hemorragia difusa, além dos trombos plaquetários intravasculares, lesões que constituem a causa das convulsões.
  • Alterações sanguíneas: O desenvolvimento de trombocitopenia (< 100.000/mm3) é sinal de síndrome HELLP e pode acarretar hemorragia cerebral e hepática subcapsular, assim como sangramento excessivo no parto, especialmente no cesáreo. Na síndrome HELLP, há ativação intravascular das plaquetas e lesão endotelial. A ativação plaquetária determina liberação de TXA2, causadora de vasoespasmo, agregação plaquetária e mais lesão endotelial.
  • Alterações hidroeletrolíticas: É consenso geral que a gestante toxêmica retém sódio e agua em quantidades superiores às da grávida normal, mas é fisiológica a concentração sanguínea dos eletrólitos. O edema generalizado é o habitualmente associado ao processo toxêmico. Precede o aumento insólito do peso materno e é mais comum nos dedos das mãos e na face. Embora típico das pacientes com toxemia, é visto, também, em grávidas normais.
  • Alterações uteroplacentárias: A circulação uteroplacentária está reduzida, na toxemia, de cerca de 40 a 60%, o que explica a incidência expressiva de grandes infartos placentários (> 3 cm), crescimento retardado da placenta e seu descolamento prematuro, determinantes do sofrimento fetal crônico e do elevado obituário perinatal. São fatores adjuvantes a diminuição de 50% do consumo de oxigênio e a resistência circulatória duas vezes mais elevada. Na toxemia tardia a atividade uterina está aumentada, alcançando valores semelhantes aos do parto antes do termo da gestação, o que é responsável pela maior incidência de parto pré­termo. Elevada, também, a sensibilidade do útero à ocitocina. Durante o trabalho refere-se, habitualmente, hipersistolia.
  • Alterações fetais: Em decorrência da redução no fluxo sanguíneo uteroplacentário ou do infarto, o feto pode apresentar CIR e sinais de sofrimento. É pontual a oligoidramnia.
Eclampsia
  • Na atualidade, a eclampsia pode ser considerada evento raro nos países desenvolvidos, ocorrendo cerca de 1 caso a cada 2.000 gestações.
  • Nos países em desenvolvimento, no entanto, os números são maiores e variam de 1:100­1:1.700.
  • Estima-se que, a cada ano, cerca de 50.000 mortes decorrentes da eclampsia ocorram no mundo, o que contribui com 10% dos óbitos maternos nos países em desenvolvimento.
  • A eclampsia também está relacionada com elevada morbidade materna. Cerca de 35% das mulheres que convulsionam apresentarão ao menos uma grande complicação. Síndrome HELLP (10 a 15%), CID (7 a 11%), DPP (7 a 10%), edema pulmonar (3 a 5%), insuficiência renal aguda (5 a 9%), pneumonia aspirativa (2 a 3%) e falência cardiopulmonar (2 a 5%) são exemplos de complicações que se encontram com elevada incidência. Estudos radiológicos verificaram que em até 93 a 100% dos casos o edema cerebral está presente.
  • Apesar de ter havido drástica redução da mortalidade perinatal nos últimos 70 anos, sobretudo em países desenvolvidos, essa taxa ainda é considerada elevada, variando de 5,6 a 11,8%. A prematuridade, o DPP e o CIR são os grandes responsáveis por esses números. Estima-se que 50% dos partos em mulheres com eclampsia sejam pré­termo e que 25% deles ocorram antes da 32a

É definida como a presença de convulsão em mulheres com pré-eclâmpsia. A hipertensão ou a proteinuria podem estar ausentes em 16 e 14% dos casos, respectivamente. Aproximadamente 50% dos casos de eclampsia ocorrem antes do trabalho de parto; os 50% restantes dividem-se entre o parto e o puerpério. Apesar de a maioria dos casos serem deflagrados até 48 h depois do delivramento, a eclampsia pode ocorrer até 4 semanas após o parto.

Manifestação de uma ou mais crises convulsivas tônico-clônicas generalizadas e/ou com, em gestantes com hipertensão gestacional ou pré-eclâmpsia, na ausência de doenças neurológicas. Pode ocorrer durante a gestação, na evolução do trabalho de parto e no puerpério imediato. Raramente se manifesta antes da 20ª semana de gestação.

A eclampsia é comumente precedida pelos sinais e sintomas de eclampsia iminente, isto é, distúrbios do sistema nervoso central (cefaleia frontal/occipital, torpor, obnubilação e alterações do comportamento), visuais (visão embaçada, escotomas, fosfinas) e gástricos (náuseas, vômitos e dor no hipocôndrio direito ou no epigástrico).

Há duas teorias que tentam explicas essas alterações cerebrais que determinam a crise convulsiva:

  1. Em resposta a hipertensão grave, ocorre vasoespasmo com redução do fluxo sanguíneo cerebral, resultando em isquemia, edema citotóxico e eventual infarto tecidual
  2. A elevação brusca da pressão arterial causa perda da capacidade de autorregulação vascular cerebral. No capilar, ocorre rotura da pressão distal causando aumento da pressão hidrostática, hiperperfusão e extravasamento de plasma e hemácias, determinando edema angiogênico.

A convulsão típica da eclâmpsia evolui clinicamente em quatro fases, as quais foram assim descritas por Briquet: 

  1. Fase de invasão: pode ser silenciosa ou precedida de grito ou aura. Surgem fibrilações, principalmente em torno da boca, com o aparecimento de contrações em outras regiões faciais. A língua pode ser exteriorizada e, com o fechamento da boca, pode ser atingida e lesada. Os membros superiores ficam em pronação, com o polegar sobre a mão fechada. Esta fase dura cerca de 30 segundos.
  1. Fase de contrações tônicas: tetanização de todo o corpo com hiperextensão da cabeça); espasticidade (rigidez). Os masseteres se contraem com força fechando a boca. O rosto se mostra cianótico e pletórico (eritema facial persistente e inchaço), com os olhos voltados para cima e as pupilas dilatadas.
  1. Fase de contrações clônicas: inspiração profunda seguida de expiração estertorosa e saída de muco sanguinolento pela lesão da língua. Pode haver incontinência de fezes e urina.
  1. Fase de coma: surge diante de convulsões repetidas ou prolongadas em que há perda de consciência e ausência de reflexos com duração de alguns minutos até horas ou dias. Há situações em que as convulsões se tornam frequentes e não ocorrem intervalos entre elas, o que caracteriza o estado de mal convulsivo.

 Terapia anticonvulsivante

A terapia anticonvulsivante é indicada para prevenir convulsões recorrentes em mulheres com eclâmpsia, assim como o aparecimento de convulsões naquelas com pré-eclâmpsia. O sulfato de magnésio é a droga de eleição para tal.

Deve ser utilizado nas seguintes situações:

  • Gestantes com eclâmpsia
  • Gestantes com pré-eclâmpsia grave admitidas para conduta expectante nas primeiras 24 horas
  • Gestantes com pré-eclâmpsia grave nas quais se considera a interrupção da gestação
  • Gestantes com pré-eclâmpsia nas quais se indica a interrupção da gestação e existe dúvida se a terapia anticonvulsivante deve ser utilizada (a critério do médico assistente)

O sulfato de magnésio pode ser utilizado durante o trabalho de parto, parto e puerpério, devendo ser mantido por 24 horas após o parto se iniciado antes do mesmo. Quando iniciado no puerpério, deve ser mantido por 24 horas após a primeira dose.

Dose do sulfato de magnésio

Dose de ataque – 4,0g (8,0ml de sulfato de magnésio a 50% com 12,0ml de água bidestilada) em infusão endovenosa lenta (aproximadamente 15 minutos) ou 5,0g (10ml de sulfato de magnésio a 50%) intramuscular em cada nádega.

Dose de manutenção – 1,0g/hora (10ml de sulfato de magnésio a 50% com 490ml de solução glicosada a 5% a 100ml/hora em bomba de infusão) ou 2,0g/hora (20ml de sulfato de magnésio a 50% com 480ml de solução glicosada a 5% a 100ml/ hora em bomba de infusão) ou 5,0g (10ml de sulfato de magnésio a 50%) intramuscular de 4 em 4 horas.

Conduta nas síndromes hipertensivas

  • Pré-Eclâmpsia/Eclampsia: Monitoração mais rigorosa da pressão arterial e a detecção de proteinúria. Se a pressão começar a aumentar, a gestante deve ser reavaliada dentro de 1 a 3 dias.
  • Pré-eclâmpsia leve: Mantidas com dieta normossódica e repouso relativo. Na avaliação das condições maternas deve constar: PA de 4/4h durante o dia; pesagem diária; pesquisa de sintomas de iminência de eclampsia.
  • Pré-eclâmpsia grave: As gestantes deverão ser internadas, solicitados os exames de rotina e avaliadas as condições maternas e fetais. Se a idade gestacional for maior ou igual a 34 semanas de gestação, devem ser preparadas para interrupção da gestação. A conduta conservadora pode ser adotada em mulheres com pré-eclâmpsia grave com idade gestacional entre 24 e 33 semanas, através de monitoração materno fetal rigorosa, uso de sulfato de magnésio e agentes anti-hipertensivos.
  • Hipertensão aguda:

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Síndrome de HELLP

É o quadro clínico caracterizado por hemólise (H = “hemolysis”), elevação de enzimas hepáticas (EL = “elevated liver functions tests”) e plaquetopenia (LP = “low platelets count“). É considerada como agravamento do quadro de pré-eclâmpsia.

Classificação Síndrome HELLP

  • COMPLETA: 1,2mg/dL e/ou esquizócitos TGO ≥ 70UI/L.
  • INCOMPLETA: Apenas um ou dois acima presentes Conduta A conduta a seguir representa uma abordagem básica do manejo de gestantes com síndrome HELLP.

Fatores de risco e apresentação clínica da síndrome HELLP

A Síndrome HELLP ocorre em menos do que um por cento das grávidas. Na época do diagnóstico, 30% estão no pós-parto, 18% estão no termo, 42% estão na prematuridade (entre 27 a 37 semanas gestação) e 11% na extrema prematuridade (menos do que 27 semanas). As queixas mais comuns são dor no quadrante superior ou epigastralgia, náuseas e vômitos. Muitas pacientes relataram uma história de mal-estar ou sintomas inespecíficos, sugerindo uma síndrome viral aguda. Um grupo de pacientes apresentará sintomas de pré-eclâmpsia grave, como cefaleia e distúrbios visuais. Coagulopatia avançada pode causar hematúria ou sangramento gastrointestinal. Os achados do exame físico incluem dor no quadrante superior do abdome e no epigástrio. Como em 12 a 18% das mulheres com HELLP estão normotensas e 13% não apresentam proteinúria, médicos devem considerar HELLP em pacientes que não apresentam estes achados clássicos de pré-eclâmpsia.

Conduta

Antecipação do diagnóstico

Em toda gestante com suspeita de pré-eclâmpsia, os testes laboratoriais apropriados devem ser solicitados. Nas fases iniciais, apenas alterações moderadas na contagem de plaquetas e nos níveis de transaminases e desidrogenase láctica podem estar presentes. A presença de náuseas, vômitos e/ou dor epigástrica é um fator de risco significativo de morbidade materna.

Avaliação das condições maternas

A triagem laboratorial básica para as gestantes com suspeita de síndrome HELLP é hemograma completo com plaquetas, urinálise, creatinina sérica, DHL, ácido úrico, bilirrubinas e transaminases. Os testes de tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial e fibrinogênio são reservados para aquelas mulheres com uma contagem de plaquetas abaixo de 100.000/ml. Outras avaliações como teste de Coombs para anemia hemolítica, lúpus eritematoso e pancreatite podem ser necessários dependendo das circunstâncias. Gasometria, oximetria de pulso, radiografia de tórax, cultura de urina e testes para hepatite poderão ser realizados dependendo da indicação. A avaliação serial da contagem de plaquetas, DHL e enzimas hepáticas deve ser feita a cada 12-24 horas ou mais frequentemente, se necessário.

Diagnóstico diferencial da Síndrome HELLP:

Hepatite virótica, cólica biliar, refluxo gastroesofágico, colecistite, lúpus eritematoso, úlcera gástrica, insuficiência renal aguda pós-parto, síndrome hemolítico-urêmica, púrpura trombocitopênica trombótica e púrpura trombocitopênica autoimune. Condições que erroneamente podem ser confundidas com síndrome HELLP: Cardiomiopatia, aneurisma dissecante de aorta, intoxicação aguda por cocaína, hipertensão essencial e doença renal, fígado gorduroso agudo, doença da vesícula biliar, glomerulonefrite, lúpus eritematoso e doença hepática alcoólica.

Avaliação das condições fetais: parto imediato ou mais tardiamente?

Após a admissão, a idade gestacional deve ser confirmada e o estado fetal avaliado por cardiotocografia basal e/ou perfil biofísico e preferencialmente por dopplerfluxometria. As gestantes com gestação ≥ 34 semanas e todas com síndrome HELLP devem ser preparadas para parto vaginal ou abdominal dentro de 24 horas. Aquelas com gestações entre 24 e 34 semanas devem fazer uso de corticoide, mesmo se o parto não puder ser adiado pelo período ideal de 24–48 horas.

Controle da pressão arterial

Tratar a pressão sistólica ≥ 150mmHg e manter a pressão diastólica entre 80- 90mmHg.

Prevenção das convulsões com sulfato de magnésio

Dose de ataque de 4-6g por via intravenosa seguida de dose de manutenção de 1,5-4g/hora individualizada de acordo com a gestante. Monitorar reflexos patelares e débito urinário. A infusão deve ser continuada por 48 horas no puerpério.

Manejo de fluidos e eletrólitos

Um regime de fluidos recomendado é alternar [glicose a 5% com solução salina meio a meio] e solução de Ringer lactato a 100ml/hora, para manter um débito urinário de pelo menos 20ml/hora (de preferência 30-40ml/hora). A dose máxima de infusão deve ser 150ml/hora. A dosagem de eletrólitos pode ser realizada com os ajustes diários necessários. Na presença de oligúria, deve-se fazer uma ou duas infusões rápidas de 250-500ml de fluidos.

Utilização criteriosa de sangue e hemoderivados

A transfusão de plaquetas deve ser realizada para uma contagem de plaquetas de 50.000/µl ou menos em caso de parto por via abdominal. Seis unidades de plaquetas devem ser administradas imediatamente antes da incisão.

Manejo do trabalho de parto e parto

Em gestantes com gestações ≤ 34 semanas, a via de parto preferencial é a via abdominal, sendo a opção pela via vaginal também factível dependendo das condições maternas e amadurecimento cervical que permitam indução rápida do parto.

Tratar a gestante intensivamente no pós-parto

Todas as gestantes com síndrome HELLP devem ser tratadas em uma unidade de cuidados intensivos ou unidade de cuidados intermediários por quantas horas forem necessárias até que (1) a contagem de plaquetas demonstre uma tendência consistente de elevação e a DHL uma tendência consistente de diminuição, (2) a gestante tenha uma diurese de >100ml/hora por duas horas consecutivas sem infusão adicional rápida de fluidos ou sem diuréticos, (3) a hipertensão esteja bem controlada, com a sistólica em torno de 150mmHg e a diastólica 100.000/µL, a DHL diminua, o débito urinário seja >100ml/hora e a gestante esteja clinicamente estável. Depois, a dose será diminuída para 5mg de 12/12 horas, por mais duas doses.

“RESGATE DE DEXAMETASONA” PARA A SÍNDROME HELLP ANTEPARTO: 10mg IV de 12 em 12h. Sempre que plaquetas ≤ 50.000/µL.

 Alerta para o desenvolvimento de falência sistêmica de múltiplos órgãos

As mulheres com piora dos parâmetros da síndrome HELLP apresentam risco elevado de morbidade e mortalidade. As complicações que podem surgir são: rotura de hematoma hepático, insuficiência renal aguda, lesão pulmonar aguda e síndrome de angústia respiratória. A intubação e ventilação assistida podem ser necessárias em algumas gestantes.

Aconselhamento sobre gestações futuras

O risco de recorrência da síndrome HELLP pode variar de 19 a 27%. Se a gestação anterior terminou antes de 32 semanas, o risco de pré-eclâmpsia/eclampsia em uma gestação subsequente pode ser de até 61%. Outras populações podem apresentar um risco de recorrência de apenas 3-4%.

Complicações Fetais

O feto pode evoluir com hipóxia, crescimento intrauterino restrito (CIUR), parto prematuro e morte perinatal. A prematuridade eletiva devido à interrupção da gestação por condições intrauterina adversas ou devido à gravidade do quadro clínico materno implica em altos índices de morbidade e mortalidade perinatal.

Entre outras complicações fetais está a redução do suprimento de oxigênio e nutrientes, o baixo peso ao nascer e o maior risco de desenvolver doenças pulmonares agudas e crônicas. Como alterações tardias, crianças pequenas para a idade gestacional, frequentemente associadas ao diagnóstico de hipertensão gestacional, podem apresentar maiores níveis de pressão arterial e dislipidemia precocemente na fase adulta.

Medicamentos
  • Metildopa: Ideia de diminuir os impulsos vasoconstritores por meio da inibição da biossíntese de noradrenalina e em consequência obter-se a queda da pressão arterial. Fármaco capaz de inibir a dopa-descarboxilase, enzima que converte dopa em dopamina, sendo obtida a metildopa como a mais propícia a ser utilizada em humanos. É um eficaz agente anti-hipertensivo, capaz de reduzir a pressão arterial tanto na posição deitada quanto na ereta.  
  • Hidralazina: esta droga é capaz de realizar vasodilatação, admite-se que ela interfere na ação do IP3 sobre a liberação de Ca2+ do retículo. Ela bloqueia o receptor de IP3 localizado na membrana do retículo endoplasmático liso que, quando bloqueado, evita a saída de cálcio da organela para o meio, impedindo a contração muscular. 
  • Nifedipina: Inibe a entrada de cálcio pelos canais lentos da musculatura lisa e miocárdio durante a despolarização, produzindo vasodilatação.
  • Furosemida: inibe a passagem do sódio para dentro da célula e este íon passa a se acumular na luz do túbulo juntamente com água, que aumenta a diluição da urina. A reabsorção de Cálcio e Magnésio (que é dependente deste potencial) é prejudicada.
  • Sulfato de magnésio: Participa do metabolismo energético, regula a passagem de íons transmembrana e intervém na atividade de várias enzimas. O magnésio é considerado antagonista fisiológico natural do cálcio. Em altas concentrações, possui ação inibitória sob a enzima Na+/K+ -ATPase. A hipermagnesemia diminui a sensibilidade da placa motora à acetilcolina e a amplitude do potencial de placa terminal. É antagonista do receptor NMDA do glutamato, sendo esse receptor o responsável pelo processo de sensibilização central. A ligação a esse receptor confere propriedades analgésicas, anticonvulsivantes e sedativas. Pode aumentar a síntese de prostaciclinas e inibir a enzima conversora de angiotensina, levando à vasodilatação. O sulfato de magnésio vem sendo utilizado em obstetrícia para prevenção e controle das crises convulsivas na doença hipertensiva específica da gravidez com a vantagem de diminuir a resistência vascular periférica sem alterar o fluxo sanguíneo uterino. Foi postulado que a propriedade anticonvulsivante do sulfato de magnésio se deve ao bloqueio do receptor NMDA.
  • Betametasona: é um corticosteroide muito utilizado. As situações clínicas recomendadas para o seu uso incluem trabalho de parto prematuro, rotura prematura de membrana com menos de 34 semanas, pré-eclâmpsia e patologias maternas em que há possibilidade de parto prematuro, como diabetes melito, sangramento no 3º trimestre ou isoimunização materno-fetal. Além disso, a betametasona é corticosteroide mais utilizado com a finalidade de maturação pulmonar.
Pré-natal
  • Pré-natal/Rastreamento

Complicações hipertensivas na gravidez são a maior causa de morbidade e mortalidade materna e fetal; ocorrem em cerca de 10% de todas as gestações; são mais comuns em mulheres nulíparas, em gestação múltipla, mulheres com hipertensão há mais 4 anos, história de hipertensão em gravidez prévia e de doença renal, ou mulheres com história familiar de pré-eclâmpsia. É fundamental diferenciar a pré-eclâmpsia, que é uma síndrome de vasoconstricção aumentada com redução da perfusão, de uma hipertensão primária ou crônica preexistente.

A combinação de características maternas, pressão arterial media, Doppler das artérias uterinas e testes bioquímicos com 11 a 13 semanas pode identificar mulheres que desenvolvam pré-eclampsia. Nestas condições a aspirina pode ser utilizada ainda no 1o trimestre para reduzir a incidência de toxemia, principalmente da sua forma precoce-grave.

  • Prevenção da pré-eclâmpsia

Para impedir as manifestações clinicas, existem proposições de suplementação de substancias que atuariam na fisiopatologia da doença; como aspirina, cálcio, óleo de peixe e vitaminas C e E. A aspirina em baixas doses parece apresentar benefícios moderados na prevenção da PE; enquanto o cálcio parece reduzir 50% o risco de PE, assim como reduzir o desfecho de morbidade grave e morte.

Alguns autores acreditam que o tratamento pode ser feito com outras fontes de ácidos graxos, heparina e heparina de baixo peso molecular e drogas anti-hipertensivas em mulheres com hipertensão crônica.

Particularmente, a suplementação de cálcio foi associada à redução da hipertensão e da pré-eclâmpsia em pacientes de alto risco e que apresentavam uma dieta pobre em cálcio. Contudo, em pacientes com dieta normal de cálcio não foram encontradas diferenças significativas. Quanto ao efeito da suplementação dietética do cálcio sobre a morte fetal e neonatal também não foram encontradas diferenças significantes.

Baseado na fisiopatologia da pré-eclâmpsia, com anormalidades da coagulação e alteração da relação tromboxane A2 e prostaciclina, muitos estudos randomizados investigam a atuação de baixas doses de aspirina (500 – 1.500 mg/L) na sua prevenção. Desta forma, uma revisão sistemática sugere que a utilização de drogas antiplaquetárias, principalmente a aspirina, reduz em 19% o risco de desenvolver pré-eclâmpsia, 16% nas mortes fetais ou neonatais, uma pequena redução de 7% no risco de nascimento antes de 37 semanas completas e 8% de redução na incidência de recém-nascidos pequenos para a idade gestacional.

  • O uso do AAS

Postula-se haver no complexo fisiopatológico da PE um desequilíbrio entre as ações biológicas de prostaciclinas e do tromboxane na circulação materna, verificando-se o predomínio de vasoconstricção e agregação plaquetária mediados pelo tromboxane A2. Baixas doses de AAS (1,0 mg/Kg/dia) para a prevenção da PE baseiam-se na inibição seletiva e preferencial do tromboxane na circulação materna e placentária, sem afetar significantemente a produção de prostaciclinas. O AAS age inibindo a enzima ciclo-oxigenase, sendo esta inibição mais efetiva e duradoura no território plaquetário quando comparada aos efeitos na parede arteriolar, principal fonte de prostaciclinas.

Protocolo de assistência às síndromes hipertensivas da gravidez

Na rotina pré-natal, as que foram encaminhadas para a especialidade devem realizar os seguintes exames na primeira consulta:

  • Tipagem sanguínea ABO e RH
  • Hemograma completo
  • Glicemia em jejum
  • Teste de tolerância a glicose (50g)
  • Sorologias para sífilis, HIV, toxoplasmose, rubéola e hepatite B
  • Repetir a sorologia para sífilis e HIV no início do terceiro trimestre
  • Urocultura
  • Protoparasitológico de fezes

Os específicos relacionados à hipertensão arterial:

  • Creatinina
  • Ureia
  • Proteinúria de 24 horas
  • Avaliação de fundo de olho

A avaliação por meio da USG pode fornecer materiais importantes para decisões clínicas, pois vai avaliar a quantidade do líquido amniótico, maturação placentária, verificação da restrição do crescimento fetal e na avaliação das condições de oxigenação fetal pelo doppler colorido.

O Índice de Líquido Amniótico (ILA) consiste na somatória das medidas dos 4 bolsões no sentido vertical. O oligohidrâmnio decorre da vasoconstricção renal que ocorre nos fetos, com consequente diminuição da produção de urina.

Espessura placentária diminuída pode ser um marcador de restrição do crescimento fetal. O estudo da maturidade placentária se faz através da classificação de Grannum et al., que estabelece quatro graus de acordo com as calcificações observadas pela ultrassonografia. Observa-se na prática clínica que a placenta grau III pode se instalar a partir de 35 semanas.

O crescimento fetal restrito é caracterizado por peso fetal abaixo do percentil 10 da curva de normalidade. A determinação precoce da idade gestacional pelo ultrassom (1º trimestre) é de fundamental importância para a correta avaliação do crescimento fetal.

A avaliação do bem-estar fetal nesse grupo especial de pacientes assume grande importância no seguimento pré-natal. O PBF avalia cinco variáveis biofísicas, quatro delas através da ultrassonografia: o tônus fetal, os movimentos somáticos e respiratórios e a quantidade de líquido amniótico. A quinta variável, a reatividade da frequência cardíaca fetal, é avaliada através da cardiotocografia. Para cada uma das variáveis avaliadas é dada uma nota de 0 ou 2. Feita a soma, a nota final varia entre 0 e 10. De forma geral, escores em 10/10 ou 8/10 com líquido amniótico normal são tranquilizadores.

A utilidade do Doppler na avaliação de gestantes hipertensas está bem estabelecida. A insuficiência placentária decorrente das síndromes hipertensivas segue o modelo obstrutivo de hipóxia fetal, levando a alterações hemodinâmicas demonstradas no Doppler das artérias umbilicais, cerebral média e uterina. O sistema venoso é capaz de fornecer informações quanto à ocorrência de insuficiência cardíaca fetal e os vasos mais estudados relacionados à essa documentação são o ducto venoso e a veia umbilical. Onda A ausente ou retrógrada no sonograma do ducto venoso é sinal de grave descompensação hemodinâmica fetal.

 

Saúde da Mulher – Problema 4: “Chegou a hora! ”

Questões
  1. Descrever as fases do trabalho de parto transvaginal, citando as intervenções médicas em cada período.
  2. Caracterizar o partograma, sua importância e aplicação no seguimento da parturiente.
  3. Caracterizar parto eutócico e distócico, citando as principais causas para a indicação de cirurgia cesárea.
  4. Descrever a fisiopatologia e a epidemiologia do diabetes gestacional, citando as suas possíveis complicações para a gestante, o concepto e a puérpera.
  5. Explicar as causas de hipocalemia e hipoglicemia do RN.
Respostas
  1. Descrever as fases do trabalho de parto transvaginal, citando as intervenções médicas em cada período.

Clinicamente, o estudo do parto analisa 3 fases principais, são elas: dilatação, expulsão e secundamento; elas são precedidas de estádio preliminar, o período premonitório (pré-parto). Também é considerado um quarto período que seria a saída da placenta, já que pode ser uma fase de riscos iminentes.

O conjunto dessas fases constitui os fenômenos passivos do parto, que se completam com a análise dos movimentos executados pelo feto, na sua penetração rotativa, impulsionado pelas contrações uterinas (mecanismo do parto).

CONTRAÇÕES UTERINAS

O músculo uterino é composto por fibras miometriais lisas e elas estão dispersas dentro da matriz extracelular, formada principalmente por fibras colágenas. A unidade que gera as contrações é formada por um complexo proteico de actina-miosina que está disposto no citoplasma.

A contração uterina depende da interação do complexo proteico que é modulado pela enzima miosina de cadeia leve cinase. Essa enzima é influenciada por cálcio, calmodulina e AMP cíclico; esses três sistemas são reguladores. O cálcio e calmodulina formam um complexo que ativa a miosina de cadeia leve cinase, enquanto o AMP inibe sua atividade enzimática. A miosina de cadeia leve cinase quando ativada modula a fosforilação da miosina, permitindo dessa forma uma interação das duas proteínas do complexo e então gerando a contração local.

A progesterona consolida as ligações do cálcio no retículo sarcoplasmático, elevando o limiar de excitabilidade fibra miometrial. De forma inversa, as prostaglandinas também modulam o fluxo de cálcio por meio de alterações na permeabilidade da membrana celular, o que leva ao aumento dos níveis intracelulares de cálcio e favorece a contração das fibras.

Além disso, as células musculares se comunicam por meio das junções gap que facilitam a sincronização dos estímulos eletrofisiológicos e eles aumentam com o decorrer da gestação e estão sob influência dos esteroides placentários, sendo o estrógeno o principal responsável pelo aumento da concentração dessas proteínas de conexão.

MECANISMO DO PARTO

Sob o ponto de vista do mecanismo do parto, o feto é móvel e percorre a bacia impulsionado pelas contrações uterinas. O feto é “dividido” em dois seguimentos semidependentes: o ovoide cefálico (cabeça) e o córmico (tronco e membros). Embora o corpo seja maior, seus diâmetros são facilmente redutíveis, o que, durante o parto, torna mais importante o polo cefálico.

No seu caminho através do canal de parto, impulsionado pelas contrações uterinas e pelos músculos da parede abdominal, o feto é compelido a executar um certo número de movimentos que constituem o mecanismo do parto. São movimentos passivos e procuram adaptá-los às exiguidades e às diferenças de forma do canal.

Embora os movimentos desse mecanismo sejam contínuos e entrelaçados, costuma-se dividi-los em vários tempos.

  • Insinuação:

Também chamado de encaixamento e é a passagem da maior circunferência da apresentação através do anel do estreito superior. Tem como tempo preliminar a redução dos diâmetros, o que, nas apresentações cefálicas é conseguido pela flexão (apresentação do vértice) ou deflexão (apresentação de face).

Na apresentação pélvica, a redução dos diâmetros se faz por maior aconchego dos membros inferiores sobre o tronco ou por desdobramento deles para baixo ou para cima.

Nas apresentações córmicas de fetos de tamanho normal, a insinuação não se dá, à conta das grandes dimensões dos diâ­ metros que se apresentam. Por isso, o parto pela via vaginal é impossível. Somente nos fetos mortos, ou nos de pequenas dimensões, poderão se processar mecanismos atípicos capazes de possibilitar o parto transpélvico espontâneo. Para que se processe a insinuação, é necessário haver redução dos diâmetros da cabeça, o que será obtido pela orientação de diâmetros e por flexão.

No início dessa fase, a cabeça fetal se encontra acima do estreito superior da bacia, em flexão moderada, com a sutura sagital orientada no sentido do diâmetro oblíquo esquerdo ou do transverso e com a pequena fontanela (fontanela lambdoide) voltada para esquerda.

  • Descida:

Completando a insinuação, a cabeça migra até́ as proximidades do assoalho pélvico, onde começa o cotovelo do canal. Até aí mantém a mesma atitude e conserva o mesmo sentido, apenas exagerando um pouco a flexão. O ápice do ovoide cefálico atinge o assoalho pélvico e a circunferência máxima se encontra na altura do estreito médio da bacia.

A descida, em realidade, se processa desde o início do trabalho de parto e só termina com a expulsão total do feto. Seu estudo, como tempo autônomo, tem apenas propósito didático, para facilitar a descrição. O movimento da cabeça, nesse tempo do mecanismo do parto, é turbinal: à medida que o polo cefálico roda, vai progredindo no seu trajeto descendente. É a penetração rotativa.

  • Rotação interna da cabeça:

Uma vez que a extremidade cefálica distenda e dilate o conjunto muscular aponeurótico que compõe o diafragma pélvico, sofre movimento de rotação que levará a sutura sagital a se orientar no sentido anteroposterior da saída do canal.

O assoalho pélvico, principalmente depois de distendido pela cabeça fetal, é côncavo para cima e para diante, escavado em forma de goteira. Apresenta planos inclinados laterais por onde o feto desliza ao nascer. A fenda vulvar limitada, em cima, pelo arco inferior do púbis e para os lados e para baixo pelo diafragma pélvico, apresenta, quando totalmente distendida, forma ovalar, com o eixo maior no sentido anteroposterior. Ao forcar a distensão do assoalho pélvico, a cabeça fetal desliza nas paredes laterais (planos inclinados) e roda para acomodar os seus maiores diâmetros aos mais amplos da fenda vulvar

  • Desprendimento:

Terminado o movimento de rotação, o suboccipital coloca­ se sob a arcada púbica; a sutura sagital orienta-se em sentido anteroposterior. Dada a curvatura inferior do canal do parto, o desprendi­ mento se processa por movimento de deflexão. A nuca do feto toma apoio na arcada púbica e a cabeça oscila em torno desse ponto, em um movimento de bisagra. Como o maior diâmetro do ovoide cefálico (occipitomentoniano) continua orientado no sentido do eixo do canal, a passagem da cabeça através do anel vulvar deverá se fazer pelos diâmetros anteroposteriores, de menores dimensões, que são os originados do suboccipital. Essa região se acomoda assim à arcada inferior da sínfise, em redor da qual a cabeça vai bascular para possibilitar o desprendimento.

  • Rotação externa da cabeça:

Imediatamente após desvencilhar-se, livre agora no exterior, a cabeça sofre novo e ligeiro movimento de flexão, pelo seu próprio peso, e vai executar rotação de 1/4 a 1/8 de circunferência, voltando o occipital para o lado onde se encontrava na bacia.

PERÍODO PREMONITÓRIO (PRÉ-PARTO)

Resumo: descida do fundo uterino, contrações intensificadas, amolecimento e apagamento do colo uterino, e amadurecimento da cérvice.

É caracterizado pela descida do fundo uterino. Situada perto do apêndice xifoide, a cúpula do útero gravídico baixa de 2 a 4 cm, condicionando maior amplitude à ventilação pulmonar que estava dificultada pela compressão do diafragma.

Nesse período pode ter dores lombares, estiramento das articulações da cintura pélvica e transtornos circulatórios decorrentes dos novos contatos. As secreções das glândulas cervicais estão maiores, com eliminação de muco, as vezes mesclado de sangue. A porção vaginal do colo vai se encurtando e inicia-se a percepção, as vezes dolorosa, das metrossíntoles intermitentes do útero com as contrações que vão se intensificando.

A atividade uterina começa desde o início da gravidez, mas se mantem reduzida até as 30 semanas, ficando limitada a pequenas áreas da matriz. Após as 30 semanas, o aumento da atividade é gradual, especialmente após as 36 semanas, resultante do incremento, na intensidade e na frequência, das contrações de Braxton-Hicks, mais bem coordenadas e que envolvem áreas cada vez maiores.

No pré-parto, o amolecimento do colo fica acentuado, combinado com o apagamento, que anuncia a incorporação da cérvice ao segmento inferior e caracteriza-se a maturação, a ser considerado nos exames vaginais.

Um dos hormônios mais relevantes nessa fase é a relaxina que é produzida pelo corpo lúteo, pela decídua e pelo cório. A relaxina atua em todo o decurso da gravidez, auxiliando as transformações do tecido de conexão e presente em diversos sítios anatômicos. Ela serve como mediador da dilatação cervical e das alterações histológicas que coincidem com o amadurecimento progressivo do colo.

Alguns autores chamam de fase latente o final do pré-parto ou ao início do trabalho, quando as contrações uterinas, embora rítmicas, não determinam ainda a dilatação progressiva do colo.

DIAGNÓSTICO DO TRABALHO DE PARTO

É necessário considerar o trabalho de parto como síndrome; os elementos que a compõem não têm, isoladamente, valor absoluto e é somente o conjunto deles que garante a precisão. Podem ser considerados:

  • Contrações dolorosas, rítmicas (no mínimo duas em 10min), que se estendem a todo o útero e tem duração de 50 a 60 segundos. Observar 12 contrações por hora (2/10min) é sinal valioso de trabalho de parto verdadeiro ou iminente
  • Dilatação de 4 cm com colo apagado ou 5cm independentemente do apagamento.
  • Formação da bolsa das águas
  • Perda do tampão mucoso

FASE DE DILATAÇÃO OU PRIMEIRO PERÍODO

Resumo: contrações uterinas dolorosas, modificação ativa da cérvice, ampliação completa da cérvice, abertura do diafragma, formação do canal de parto e ruptura – amniotomia.

É iniciado com as contrações uterinas dolorosas, que começam por modificar ativamente a cérvice, e termina quando a sua ampliação está completa (10cm). Algumas mulheres referem dor da contração no hipogástrico, outras na região sacra e outras em ambos os lugares.

Nesse período abre-se o diafragma cervicossegmentário e se forma o canal do parto, isto é, a continuidade do trajeto uterovaginal, com 2 fenômenos predominantes: o apagamento do colo ou desaparecimento do espaço cervical, a incorporação dele à cavidade uterina e a dilatação da cérvice, e, ao fim deste processo, as suas bordas limitantes ficam reduzidas a simples relevos, aplicados a parede vaginal.

O orifício externo do colo vai se ampliando, pouco a pouco, de modo que é criado o espaço onde irá coletar o líquido amniótico, tumefazendo as membranas ovulares (âmnio e cório), descoladas do istmo. É a bolsa das águas o polo inferior do ovo; insinua-se a ela, a princípio, pelo orifício interno do colo, cujos lábios transmite a onda contratural, e mantém-se tensa no momento da contração, relaxando-se nos intervalos.

A ruptura (amniotomia), com evasão parcial do conteúdo liquido do ovo, dá-se em 80% dos casos, no final da dilatação ou no início da expulsão.

FASE DE EXPULSÃO OU SEGUNDO PERÍODO

Resumo: dilatação se completa, contrações mais frequentes e intensa, sístole involuntária do útero, contração voluntária da prensa abdominal, expulsão do feto, retração do útero e relaxamento da mulher.

Inicia-se quando a dilatação está completa e se encerra com a saída do feto. É caracterizada pela associação sincronizada da força contrátil do diafragma e da parede abdominal, cuja formações musculoaponeuróticas ao se contraírem, formam uma cinta muscular poderosa que comprime o útero de cima para baixo e de diante para trás.

Nessa fase, ocorre uma sucessão de contrações uterinas cada vez mais intensas e frequentes, com intervalos progressivamente menores, até adquirirem o aspecto subintrante de 5 contrações a cada 10min.

Por meio dessas contrações, o feto é propelido através do canal de parto, facilitado pelo colo dilatado e passa então a distender lenta e progressivamente a parede inferior do diafragma vulvoperitoneal depois de percorrer a vagina. São movimentos de vaivém que a apresentação descreve as contrações como da musculatura do abdome. Ao comprimir as paredes vaginais, o reto e a bexiga, o polo inferior do feto provoca, por via reflexa, o aparecimento das contrações voluntárias da prensa abdominal.

É necessário estar presente e somados os 2 fatores: sístole involuntária do útero e contração voluntária da presa abdominal, para maior eficiência do período expulsivo.

Nesse período, a grávida imobiliza do tórax, firma os braços em pontos de apoio, susta a respiração, abaixa o diafragma e executa forte contração da musculatura abdominal. Como efeito desse esforço, desce a apresentação pelo canal do parto, cumprindo os tempos preliminares do mecanismo da expulsão.

Passa a pressionar o períneo que se deixa distender, encosta-se às paredes do reto, elimina-lhe o conteúdo ocasional e turgesce o ânus. Em pouco tempo, a vulva se entreabre, dilata-se lentamente, e se deixa penetrar pela apresentação. Assim, desprende-se o feto do corpo materno e ele fica ligado apenas pelo cordão umbilical. Também tem a eliminação do líquido amniótico remanescente na cavidade uterina.

O útero se retrai, logo a seguir, ficando o seu fundo na cicatriz umbilical. Após isso, a mulher passa por um período de relaxamento profundo e essa é a fase de repouso clinico, mesmo tendo contrações uterinas ainda que são indolores.

DURAÇÃO

  • A fase latente pode durar em média 20 horas nas primíparas e 14 horas nas multíparas
  • O parto propriamente dito (fase ativa) tem o seu período de dilatação completado em cerca de 12 horas, nas primíparas e de 7 horas nas multíparas
  • A expulsão leva, respectivamente, 50 e 20 minutos

SECUNDAMENTO

É a fase após o nascimento do feto, caracterizado pelo descolamento, descida e expulsão da placenta.

O deslocamento ocorre pela retração do músculo uterino que reduz a superfície interna do útero, pregueando a zona de inserção da placenta, que vai gerar o seu descolamento. A partir disso, forma-se o hematoma retroplacentário.

A descida da placenta ocorre por meio das contrações e a ação gravitacional que fazem com que ela migre para o segmento inferior do útero, cérvice e então para a vagina. E a sua expulsão é feita pelo canal vaginal e ela provoca um novo puxo determinado pelos esforços abdominais semelhantes ao segundo período.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  • Rezende, Jorge; Montenegro, Carlos Antônio B.; Filho, JRezendeObstetrícia. 12ª edição, Guanabara Koogan, 2013.
  • Sass, Nelson. Obstetrícia / Nelson Sass e Leandro Gustavo de Oliveira. – 1. ed. – [Reimpr.] – Rio de Janeiro: Guanabara ­Koogan, 2017.
  1. Caracterizar o partograma, sua importância e aplicação no seguimento da parturiente.

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O partograma é a representação gráfica do trabalho de parto e permite acompanhar a sua evolução, documentar, diagnosticar alterações e indicar a tomada de condutas apropriadas para a correção dos desvios, evitando intervenções desnecessárias. A FEBRASGO define o partograma como o registro gráfico da dilatação do colo e a descida da apresentação no trabalho de parto.

Na forma mais comum de montagem do partograma utiliza-se papel quadriculado, colocando nas abscissas o tempo em horas e, nas ordenadas, em centímetros, a dilatação cervical à esquerda e a descida da apresentação à direita. Para a descida da apresentação, considera-se o plano zero de DeLee – espinhas ciáticas do estreito médio da bacia; acima desse ponto estão os valores negativos e abaixo, positivos.

O plano de De Lee é um plano imaginário utilizado para a avaliação da descida fetal durante o trabalho de parto. O ponto zero é a espinha isquiática e acima da espinha os números estão no negativo (-1cm e -2cm) e abaixo da espinha os números estão no positivo (+1cm e +2cm)

Na construção do partograma existem duas linhas paralelas denominadas linhas de alerta e linhas de ação. Quando a dilatação atinge ou cruza a linha de alerta, significa a necessidade de melhor observação clínica. Somente quando a curva de dilatação cervical atinge a linha de ação é que a intervenção médica se torna necessária.

A curva de dilatação cervical se processa de forma ascendente, de início com menor velocidade de dilatação. No final, após 4cm de dilatação, a velocidade aumenta espontaneamente. Essa diferenciação na velocidade de cervicodilatação caracteriza a fase latente e a fase ativa do parto.

Considerações:

  • Cada divisória corresponde a 1h na abscissa e 1cm de dilatação cervical e de descida na apresentação na ordenada.
  • O registro começa quando a grávida estiver na fase ativa do trabalho de parto.
  • Os toques vaginais são realizados a cada 2h.
  • A cada toque deve-se anotar a dilatação cervical, a altura da apresentação, a variedade de posição e as condições da bolsa das águas e do líquido amniótico.
  • Quando a bolsa estiver rota, por convenção, registra-se a dilatação cervical com um triângulo e a apresentação e a respectiva variedade de posição são representadas por uma circunferência.
  • É considerado obrigatório pela OMS desde 1994.

As principais características do parto normal são: início espontâneo, apresentação cefálica de vértice, única; gravidez a termo (37 a 42 semanas), nenhuma intervenção artificial e duração menor que 12 horas em primíparas e 8 horas em multíparas.

Na evolução normal do trabalho de parto, a curva de dilatação cervical se processa à esquerda da linha de ação; quando essa curva ultrapassa a linha de ação, trata-se de parto disfuncional.

Benefícios:

  • Facilita o acompanhamento do trabalho de parto por principiantes
  • Facilita a supervisão da qualidade da assistência
  • Favorece a utilização racional de ocitócicos, analgesia e amniotomia, contribuindo para diminuir a incidência de cesárea
  • Sua utilidade é muito grande no diagnóstico das distócias e na conduta a ser adotada em cada uma delas
  • É útil no diagnóstico precoce das distócias e na conduta a ser adotada em cada uma delas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  • Rezende, Jorge; Montenegro, Carlos Antônio B.; Filho, JRezendeObstetrícia. 12ª edição, Guanabara Koogan, 2013.
  • Manual de orientação assistência ao abortamento, parto e puerpério, 2010.
  1. Caracterizar parto eutócico e distócico, citando as principais causas para a indicação de cirurgia cesárea.

DISTÓCIA

Uma das principais causas de morbidade neonatal.

Distócia: trabalho de parto difícil.

Etiologia: anomalias da contratilidade uterina por causas fetais ou da pelve materna.

Classificação

  • Trabalho de parto fisiológico.
  • Primeiro estágio é dividido em fase latente e fase ativa.
  • Fase latente até a dilatação cervical de 3 a 4 cm, contrações irregulares.
  • Fase ativa: a partir de 4 cm de dilatação; contrações mais frequentes e regulares.
  • Trabalho de parto distócico

 Distúrbios da duração: trabalho de parto mais lento do que a progressão normal

Contrações

Fase ativa: 3 a 5 contrações a cada 10 minutos. Conduta: amniotomia ou infusão de ocitocina.

Feto

  • Causas fetais de distócia: macrossomia, apresentação anômala, malformações fetais.
  • Estimar o peso fetal através de manobras de Leopold ou por ultrassonografia.
  • A macrossomia pode exigir um parto cesáreo.
  • Assinclitismo: a sutura sagital é desviada anteriormente ou posteriormente.
  • Variedades transversas e posteriores: rotação manual ou fórceps.

Pelve materna

  • Avaliação pelvimétrica clínica em todas as pacientes.
  • A bacia com alteração da pelvimetria interna ou externa (distócia óssea) muitas vezes requer parto cesáreo.

Pelvimetria clínica 

  • O estreito superior

A entrada pélvica (conjugada obstétrica) não pode ser medida manualmente. A medida conjugada diagonal pode ser estimada a partir do promontório do sacro até o ponto mais baixo da sínfise púbica (normalmente a conjugada diagonal > 11,5 cm).

  • O estreito médio

É estimado a partir do diâmetro bi-isquiático entre as espinhas isquiáticas (normalmente > 10,5 cm). Todavia a avaliação considera mais as características da espinha ciática (pelvigrafia interna) do que a pelvimetria.

  • O estreito inferior
  • É estimado através da medida da distância entre as tuberosidades isquiáticas
  • Representa a dimensão de um punho entre as tuberosidades isquiáticas no períneo (normalmente, a distância tuberoisquiática é >8cm).

Desproporção cefalopélvica

O diagnóstico é sugerido por estimativa clínica pré-natal das dimensões pélvicas (exame físico) ultrassonografia e ocorrência de trabalho de parto prolongado. Se o aumento do trabalho restaura o progresso normal e o peso fetal for inferior a 5.000 g em mulheres sem diabetes ou inferior a 4.500 g em mulheres com diabetes, o trabalho de parto pode continuar com segurança. Se a progressão é mais lenta que o esperado para o segundo estágio do trabalho de parto, as mulheres são avaliadas para determinar se o parto operatório vaginal (com fórceps ou extração a vácuo) é seguro e apropriado.

Apresentação occiptoposterior

A apresentação fetal anormal mais comum é a occiptoposterior. O pescoço fetal é, normalmente, um pouco defletido; e assim, um maior diâmetro do polo cefálico deve passar através do canal de parto. Muitas apresentações occiptoposteriores necessitam de parto operatório vaginal ou cesariana.

Apresentação de face ou fronte

Na apresentação de face, a cabeça é hiperestendida, e a posição é designada pela posição do queixo (mento). Quando o queixo é posterior, é menos provável que a cabeça rotacione e, menos ainda, o parto vaginal, necessitando de cesariana. A apresentação da fronte, muitas vezes, converte-se espontaneamente na apresentação do occipício ou face.

Apresentação pélvica

A segunda apresentação fetal anormal mais comum é a pélvica (nádegas antes da cabeça). Existem alguns tipos:

  • Pélvica verdadeira: Os quadris estão flexionados e os joelhos estendidos
  • Pélvica completa: O feto parece estar sentado com quadris e joelhos flexionados
  • Pélvica incompleta: Uma ou ambas as pernas estão completamente estendidas e se apresentam antes das nádegas

A apresentação pélvica constitui-se em problema, visto que a porção insinuada contribui muito pouco para a dilatação cervical, o que pode ocasionar o encarceramento do polo cefálico na hora do parto, frequentemente comprimindo o cordão umbilical.

A compressão do cordão umbilical pode causar hipoxemia fetal. A cabeça do feto está provavelmente comprimindo o cordão umbilical, se este for visível no introito, em particular em primíparas, nas quais o períneo não foi afrouxado por partos anteriores.

Os fatores que predispõem à apresentação pélvica incluem trabalho de parto prematuro, anormalidades uterinas e anomalias fetais. Se o parto é vaginal, a apresentação pélvica pode aumentar o risco de trauma ao nascimento, distócia e morte perinatal. A prevenção das complicações é mais eficiente e fácil do que seu tratamento, assim a apresentação pélvica precisa ser identificada antes do parto. A cesariana, normalmente, é realizada com 39 semanas ou quando a paciente entra em trabalho de parto, embora a versão cefálica externa possa, algumas vezes, mover o feto para a apresentação cefálica antes do trabalho de parto, geralmente com 37 ou 38 semanas. Esta técnica envolve pressionar delicadamente o abdome materno para reposicionar o feto. Uma dose tocolítica de ação rápida (terbutalina, 0,25 mg SC) pode auxiliar. A taxa de sucesso é, aproximadamente, de 50 a 75%.

Situação transversa

A apresentação fetal é dita transversa quando o eixo longitudinal fetal se encontrar oblíquo ou perpendicular, em vez de paralelo, ao eixo longitudinal materno. A apresentação córmica requer cesariana, a menos que o feto seja o segundo gemelar.

Distócia de ombro

Nesta rara condição, a apresentação é cefálica, mas o ombro anterior do feto está alojado atrás da sínfise púbica, dificultando o parto vaginal. A distócia de ombro é identificada após o desprendimento do polo cefálico, quando a cabeça parece estar sendo puxada de volta em direção à vulva (sinal da tartaruga). Os fatores de risco incluem macrossomia fetal, obesidade materna, diabetes mellitus, distócia anterior de ombro, parto operatório vaginal e trabalho de parto prolongado. O risco de morbidade (p. ex., lesão do plexo braquial, fraturas ósseas) e mortalidade neonatal é maior.

Uma vez reconhecida a distócia de ombro, a equipe auxiliar é convocada para a sala de parto e várias manobras são realizadas sequencialmente para se desprender o ombro anterior:

  • As coxas são abduzidas e hiperflexionadas para alargar a pelve (manobra de McRobert) e aplica-se pressão suprapúbica auxiliar para rotacionar e desprender o ombro anterior. Evita-se pressão sobre o fundo uterino, porque pode piorar a situação ou causar ruptura uterina
  • O obstetra introduz uma mão na parede vaginal posterior e pressiona o ombro posterior para rotacionar o feto em qualquer direção de maior facilidade (manobra de Woods)
  • O obstetra insere uma mão pela concavidade do sacro, pressiona o cotovelo posterior em direção ao sacro e apreende o antebraço e a mão, puxando-os para fora para desprender a totalidade do braço posterior

Essas manobras aumentam o risco de fratura do úmero ou clavícula. Algumas vezes, a clavícula é intencionalmente fraturada em direção oposta ao pulmão fetal para desprender o ombro. Pode-se realizar episiotomia em qualquer momento para facilitar as manobras.

Se todas as manobras forem ineficazes, o obstetra flexiona a cabeça do feto e inverte os movimentos cardinais do trabalho de parto, reposicionando a cabeça do feto de volta na vagina ou útero; então é realizado o parto por cesariana (manobra de Zavanelli).

Recomendações para Cesária

  • A operação cesariana não é recomendada como forma de prevenção da transmissão vertical em gestantes com infecção por vírus da hepatite B e C;
  • A operação cesariana programada é recomendada para prevenir a transmissão vertical do HIV;
  • A operação cesariana é recomendada em mulheres que tenham apresentado infecção primária do vírus Herpes simples durante o terceiro trimestre da gestação;
  • A operação cesariana não é recomendada como forma rotineira de nascimento de feto de mulheres obesas;
  • A operação cesariana é recomendada para mulheres com três ou mais operações cesarianas prévias;
  • O trabalho de parto e parto vaginal não é recomendado para mulheres com cicatriz uterina longitudinal de operação cesariana anterior, casos em que há maior comprometimento da musculatura do útero, aumentando o risco de sua ruptura no trabalho de parto.
  • Recomendação alta para apresentação fetal pélvica.

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REFERÊNCIA:

  1. Descrever a fisiopatologia e a epidemiologia do diabetes gestacional, citando as suas possíveis complicações para a gestante, o concepto e a puérpera.
  • O diabetes é uma causa grave de morbidade feto-neonatal.
  • Acomete 3 a 5% das gestações (8 a 10%, se considerarmos também a glicemia alterada em jejum e a tolerância alterada).
  • Em 90% dos casos, trata-se de diabetes gestacional.

 Fisiopatologia

A gestação é caracterizada por aumento da resistência periférica à ação insulínica e incremento na produção de insulina pelas células betapancreáticas. É considerado um estado de resistência à insulina, que pode levar à passagem do estado normal de tolerância à glicose ao de portadora de diabetes. Esse aumento da resistência ocorre em virtude da secreção placentária de hormônios antagônicos à ação da insulina (hormônio lactogênio placentário, de crescimento, cortisol, o estrogênio e a progesterona) e de enzimas, as insulinases, que quebram as cadeias de insulina.

O metabolismo energético na gestação tem duas fases maternas bem distintas:

  • A primeira é a anabólica, do início de gestação até a 2ª° semana, na qual o aumento da produção dos hormônios placentários determina hiperplasia e hipertrofia das células beta, com consequente aumento da produção de insulina. Nesta fase, a glicemia das gestantes tende a diminuir, aumentando a reserva de glicogênio e de gordura e ocorre a inibição da gliconeogênese.
  • A segunda é a catabólica, da 24ª semana até o final da gestação, na qual a placenta aumenta substancialmente a sua produção de hormônios hiperglicemiantes, com consequente aumento da resistência periférica à insulina, hiperinsulinismo, diminuição da reserva de glicogênio e gordura e aumento da gliconeogênese.

As gestantes que não têm reserva pancreática adequada para responder a essa necessidade de aumento da produção de insulina, requerida pela gestação, desenvolvem hiperglicemia de graus variáveis. É a partir dessa hiperglicemia que se dão as complicações para o concepto. A glicose passa para o compartimento fetal por
difusão facilitada. Assim, quando as mães apresentam níveis altos de glicemia, os conceptos também terão hiperglicemia e serão estimulados a produzir mais insulina que, por ser um hormônio anabolizante, determinará macrossomia fetal e, consequentemente, maior risco de traumatismo fetal à parturição, entre outros efeitos.
Após a ligadura do cordão umbilical ao nascimento, o concepto com níveis elevados de insulina metaboliza rapidamente a glicose e desenvolve hipoglicemia neonatal. A hiperinsulinemia também retarda a produção do surfactante pulmonar, levando ao atraso na maturidade pulmonar fetal e, por esse motivo, ao risco aumentado da síndrome de desconforto respiratório no berçário.

Além disso, a hiperglicemia fetal está associada ao aumento de radicais livres de oxigênio, que são os responsáveis pela maior ocorrência de malformações fetais nessa população.

Esses fetos com hiperglicemia ainda aumentam a produção de urina, levando ao aumento do volume de líquido amniótico e consequente polidrâmnio. O aumento da glicemia materna associa-se a aumento da produção de HbA1c, que tem alta afinidade pelo oxigênio e acarreta menor passagem de oxigênio ao feto, que desenvolve graus variáveis de hipóxia, aumentando a produção de glóbulos vermelhos e, consequentemente, a poliglobulia, responsável pela maior ocorrência de icterícia neonatal e trombose de veia renal. Dessa maneira, é óbvio que esses recém-nascidos (RN) tenham elevada incidência de resultado perinatal adverso e mortalidade.

Para evitar essas complicações, deve-se diagnosticar a hiperglicemia na gestação, seja na forma mais grave de DMG ou de hiperglicemia gestacional, e propor uma terapêutica que consiga manter a gestante euglicêmica. .

Diagnóstico

Na primeira consulta de pré-natal deve ser solicitada glicemia de jejum com o objetivo primordial de identificar casos de diabetes tipo 2 que não tenham sido diagnosticados previamente à gestação. Essas gestantes deverão ser seguidas como portadoras de diabetes pré-gestacional.

 Para diagnóstico de diabetes utilizam-se os mesmos critérios usados fora da gestação.

Observação:

Considerando os resultados da glicemia de jejum na primeira consulta, realiza-se diagnóstico de diabetes gestacional quando os valores de glicemia de jejum forem de 92 a 125mg/dl. Quando os valores de glicemia de jejum forem inferiores a 92 mg/dl, a paciente deverá realizar o teste de tolerância à glicose oral com sobrecarga de 75 gramas (TTGO-75g) e duração de 2 h (jejum, 1 h e 2 h) entre 24 e 28 semanas de idade gestacional.

Diagnóstico do diabetes gestacional é confirmado na presença de pelo menos um dos valores do TTGO-75g igual ou superior aos limites de normalidade

  • Exame oftalmológico (retinopatia).
  • Clearance de creatinina em 24 horas e proteinúria (nefropatia).
  • TSH, T3 L, T4 L.
  • ECG (se sintomático, o diabetes presente por um longo tempo).
  • Pressão arterial.
  • Peso (IMC).
  • Controle da dieta (2.200-2.400 kcal/dia para mulheres com peso normal

Dieta: tratamento inicial

O tratamento clínico baseia-se na adoção de medidas dietéticas apropriadas para a gestante diabética.

  • Preconizamos ingesta de 1.800 a 2.200 calorias diárias totais, fracionadas e constituídas por aproximadamente 50% de carboidratos, 30% a 35% de lipídios e 15% a 20% de proteínas.
  • A dieta deve ser fracionada em seis refeições: café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia. A participação de nutricionista na elaboração e flexibilização da dieta é essencial.
  • Os adoçantes artificiais podem ser ingeridos durante a gestação, moderadamente, sendo preferido o uso do aspartame ou de adoçantes naturais como a estévia.

Exercício físico

  • A avaliação por profissional afeito ao seguimento de gestantes e, em especial, de gestantes com diabetes gestacional poderá possibilitar melhor controle glicêmico por meio da prática de exercícios físicos apropriados para cada gestante e para o trimestre da gestação.
  • A caminhada de 30 minutos, três vezes por semana, e a prática de exercícios resistidos supervisionados por educador físico são boas opções.

Monitoração glicêmica

  • A monitoração do controle metabólico na gravidez é realizada pela avaliação da glicemia sanguínea capilar (dextro).
  • Para o diabetes gestacional, as glicemias devem ser aferidas ao menos quatro vezes por dia (perfil glicêmico simplificado): jejum e 1 hora pós-prandial (café da manhã, almoço e jantar).
  • Caso a paciente necessite de insulina, devemos acrescentar mais duas medidas de glicemia capilar (antes do jantar e na madrugada – 3 h da manhã) – perfil glicêmico completo.
  • O controle metabólico é considerado adequado quando se observam, no mínimo, 70% dos valores glicêmicos dentro dos padrões normais por dia.

Insulina

  • Nas diabéticas gestacionais prefere-se insulina humana de ação intermediária (NPH) fracionada em três doses diárias, em maior proporção no período da manhã.
  • Dose inicial de insulina.

A dose inicial diária de insulina será calculada e fracionada da seguinte maneira:

  • Dose inicial: 0,4 a 0,9 unidades por kg/paciente = dose total diária.
  • Fracionamento:
  • Antes do desjejum: 1/2 da dose.
  • Antes do almoço: 1/4 da dose.
  • Às 22 h: 1/4 da dose.
  • Poderá haver necessidade de ajustes na dose de NPH e também de utilização de insulina regular previamente às refeições, caso a paciente apresente valores de glicemia pré-prandiais adequados e pós-prandiais elevados.
  • Para introdução de insulina regular (R) pode-se iniciar, nas diabéticas gestacionais, com a dose de 2 UI 30 minutos antes das refeições.
  • Os ajustes de dose de insulina deverão ser realizados levando-se em consideração os valores de glicemia capilar de perfil glicêmico de uma semana, evitando-se correções pontuais e desnecessárias.

Hipoglicemiantes orais

  • Glibenclamida é utilizada em diabetes gestacional: 2,5 mg/dia (aumentando 2,5 mg, em seguida 5 mg, a cada semana a uma dose máxima de 20 mg/dia)
  • Monitoramento domiciliar da glicemia.
  • Iniciar tratamento insulínico em caso escasso controle glicêmico.

Avaliação fetal

  • Assim que for firmado o diagnóstico de diabetes gestacional, deverá ser realizada ultrassonografia obstétrica com o objetivo de avaliar o crescimento fetal, com atenção especial para o diagnóstico de macrossomia.
  • Posteriormente a esse primeiro exame, preconiza-se o exame seriado (mensal) com o objetivo de acompanhar o crescimento fetal.
  • O controle da movimentação fetal como método auxiliar na avaliação do bem-estar fetal, apesar de subjetivo, tem-se mostrado simples e prático na orientação da gestante diabética, sendo aplicado principalmente em pacientes ambulatoriais.
  • Após o diagnóstico de diabetes gestacional, o que usualmente ocorre após a 28ª semana, realiza-se a avaliação da vitalidade fetal utilizando-se o perfil biofísico fetal semanalmente (devendo-se incluir a cardiotocografia fetal em casos de outras doenças associadas ao diabetes ou mau controle glicêmico).

Referências:

  • RENZO, Gian Carlo di; GERLI, Sandro; FONSECA, Eduardo.Manual prático de Ginecologia e Obstetrícia Para Clínica e Emergência: On the Road. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
  • Manual de Orientação – Gestação de Alto Risco – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2011.
  1. Explicar as causas de hipocalemia e hipoglicemia do RN.
  • Hipoglicemia

Aproximadamente 15 a 20% dos bebês de mães diabéticas desenvolvem hipoglicemia durante o período neonatal imediato. O nível de glicemia materna durante o parto é altamente preditivo da hipoglicemia neonatal e por isso deve ser controlado. Acostumado a conviver com altas taxas de glicose, consequentemente, hiperinsulinismo, após o nascimento, interrompido subitamente o aporte de glicose materna pela placenta, e ainda presente o hiperinsulinismo, o IMD é candidato à hipoglicemia que pode levar à convulsão, com sequela neurológica.

  • Hipocalcemia e hiperbilirrubinemia

A hipocalcemia neonatal (cálcio plasmático < 7 mg/dℓ) em séries recentes de gestações diabéticas bem controladas ocorre em 5% ou menos de casos. A hiperbilirrubinemia neonatal incide em aproximadamente 25% dos IMD, taxa 2 vezes maior do que em bebês normais, sendo a prematuridade e a policitemia os principais fatores determinantes. O monitoramento rigoroso do IMD é necessário para evitar a morbidade decorrente de kernicterus, convulsão e lesão neurológica.

Apesar dos avanços conferidos pela utilização de insulina, ainda se observam nos RN maiores morbidade e mortalidade neonatais devido a presença de macrossomia, hipoglicemia, policitemia e hipocalcemia.

A hiperglicemia materna acarreta hiperglicemia fetal, estimulando o pâncreas fetal e resultando e, hipertrofia e hiperplasia das células-beta, com aumento dos níveis de insulina fetal. Com a separação do binômio materno-fetal no nascimento, a transferência de aporte glicêmico é interrompida, levando à hipoglicemia neonatal. A hiperinsulinemia traz ainda outras consequências como macrossomia, aumento das necessidades de oxigênio, hipoxemia crônica e, decorrente dela, aumento do número de hemácias para compensação do transporte de oxigênio. O aumento das taxas de hemoglobina glicolisada fetal, ávida por oxigênio, favorece a hipóxia tecidual e pode gerar óbito fetal, o que explica o sofrimento fetal.

Como a insulina é um potente hormônio de crescimento, há excessivo crescimento fetal, especialmente do tecido adiposo. O feto da mulher diabética mal controlada tem risco elevado de morte intrauterina e de macrossomia, com concentração desproporcional de tecido adiposo nos ombros e no tórax, dobrando o risco de distócia do parto.

A prevenção de complicações perinatais é o principal objetivo do diagnóstico e tratamento da intolerância aos carboidratos na gestação e DG. Se o diabetes existia prévio à gestação, há o risco aumentado de abortamentos espontâneos e malformações fetais. O DG aumenta a ocorrência de macrossomia, distócias, aspiração de mecônio, hipocalcemia, hipomagnesemia, hiperbilirrubinemia, policitemia, hipoglicemia e morte neonatal.

A macrossomia é definida por um feto com peso acima de 4 quilos ou acima do percentil 90 em relação à idade gestacional. A macrossomia está associada à incidência aumentada de hiperbilirrubinemia, hipoglicemia e acidose. É um fator predisponente para traumas de parto vaginal com distócia de ombro, paralisia facial, lesões de plexo braquial e fratura de clavícula. Portanto, é importante diagnosticar a macrossomia para com a indicação de parto cesariano prevenir as complicações acima relatadas. Mesmo com tratamento intensivo do diabetes na gestação, a macrossomia pode ocorrer. Hipoglicemia no recém-nascido é definida como uma glicemia menor que 35 mg/dL no termo e, como menor que 25 mg/dL na criança prematura. A orientação é dosar glicose no filho de mulheres com DG cada 30 minutos, 1 e 2 horas após o parto. Se o valor for 40 mg/dL ou menos deve-se iniciar alimentação precocemente. O risco de ocorrência de hipoglicemia não está limitado a algumas horas após o parto, pois a hiperinsulinemia crônica intrauterina pode inibir a liberação de glicogênio e diminuir a produção hepática de glicose.

Saúde da Mulher – Problema 3: “Gravidez não é doença! Mas ás vezes parece… “

Questões
  1. Descrever as adaptações fisiológicas da gravidez.
  2. Caracterizar as manifestações clínicas em cada trimestre da gravidez.
  3. Descrever o pré-natal de acordo com as orientações do Ministério da Saúde, sua importância e periodicidade.
  4. Relacionar as medidas obstétricas realizadas clinicamente com a avaliação do crescimento e vitalidade fetal. Falar do ácido fólico e do uso de vitaminas.
  5. Discutir políticas públicas referentes à gravidez.
Respostas
  1. Descrever as adaptações fisiológicas da gravidez.

ALTERAÇÕES METABÓLICAS

  Até 24 a 26 semanas, o organismo materno experimenta uma fase de anabolismo materno, direcionando o aporte energético para as reservas maternas; daí em diante, inicia-se uma fase catabólica da gestação aumentando o aporte energético para o feto.

  • Metabolismo da glicose, carboidratos e lipídios

 Na fase anabólica, observa-se aumento na lipogênese, na glicogênese hepática e na transferência de glicose para o feto; isso causa uma redução na glicemia basal e de jejum.

  Na fase catabólica, o metabolismo glicêmico tem como objetivo suprir o feto com glicose e aminoácidos, enquanto utiliza ácidos graxos livres e cetonas como substrato materno. O hormônio lactogênico placentário e a prolactina causam aumento no número de células beta pancreáticas. A gravidez normal leva a um a um aumento na secreção de insulina e, no início, a um aumento na sensibilidade à insulina. 

Com o passar da gestação e o aumento de ácidos graxos livres circulantes derivados da estimulação do mecanismo de lipólise, ocorre aumento na resistência insulínica. Essas mudanças podem explicar o aumento fisiológico do colesterol e triglicérides durante a gestação.

  • Metabolismo proteico

  Existe aumento da retenção proteica, com acumulo de até 1000g de proteína ao final da gestação. É observado aumento da albumina total e redução de sua fração plasmática. Proteínas como fibrinogênio e alfa e betaglobulinas também apresentam níveis aumentados.

SISTEMA DIGESTÓRIO

As alterações nesse sistema são diversas e mudanças nas preferencias alimentares são bem comuns.

  • Orofaringe

  A gengiva é a principal afetada. O aumento e ingurgitamento da papila interdigital da gengiva podem causar sangramento gengival, úlceras e dor. Essas mudanças incluem os hormônios gestacionais e alterações vasculares e inflamatórias.

  Pode ocorrer o granuloma gravídico que é a lesão benigna da gengiva, caracterizado por pequenas manchas rosas ou avermelhadas, lisas ou lobuladas. Também pode ocorrer a sialorreia que tem sua causa relacionada com o refluxo gastroesofágico, náuseas, vômitos gestacionais, algumas medicações. A sialorreia é a secreção salivar exacerbada.

  • Esôfago

A alteração e reclamação mais comum é a pirose (queimação) e é encontrado em até 80% das gestantes; tem como principal causa o refluxo gastroesofágico. É decorrente da diminuição do tônus do esfíncter esofágico inferior, do menor peristaltismo gastrointestinal e do maior tempo de esvaziamento gástrico decorrentes das altas taxas de progesterona e do aumento da pressão intra-abdominal pelo útero gravídico. A progesterona promove relaxamento de toda a musculatura lisa e diminuição da concentração plasmática de motilina.

  • Estômago

A topografia é alterada, sendo deslocado superior e posteriormente até adquirir a posição dorsoventral. Além de ter o seu tempo de esvaziamento aumentado. Funcionalmente, a produção de ácido gástrico está diminuída nos dois primeiros trimestres e aumentada no terceiro trimestre.

  • Fígado

O fígado é empurrado em direção ao tórax, pois há deslocamento cranial do diafragma. Também ocorre abertura do ângulo costofrênico. É comum estar palpável no exame físico. A função hepática continua a mesma, apenas o transporte de sais biliares que se apresenta parcialmente inibido – é um efeito secundário da ação do estrógeno e progesterona.

As dosagens de colesterol total e de triglicerídeos aumentam durante a gravidez, porém, em níveis discretos. A concentração sérica de fosfatase alcalina apresenta-se significativamente maior que o normal no terceiro trimestre, sendo justificada pelo aumento de produção dessa substancia pela placenta.

A dosagem de gamaglobulina sofre redução significativa. As taxas de aminotransferases, bilirrubina e ácidos biliares devem permanecer normais.

  • Vesícula biliar

A motilidade é reduzida, o seu volume em jejum e o volume residual após a contração da vesícula pode estar aumentados, porém, não ocorre mudança no tamanho do ducto hepático comum.

  • Pâncreas

Os níveis séricos de amilase permanecem normais ou sofrem aumento discreto.

  • Intestinos

É muito comum que as mulheres se sintam constipadas durante a gestação; é referido por 30% das grávidas. A constipação provavelmente é causada pela distensão abdominal e pelas mudanças hormonais que afetam a motilidade colônica e o intestino delgado.

O aumento da progesterona é o maior responsável pela redução da contratilidade intestinal. Também há quedas nas taxas de motilina – hormônio estimulante gastrointestinal, causada pelo aumento da progesterona que reduz a sua liberação.

Como resultado da diminuição da motilidade e do aumento da absorção de água e sódio, as fezes podem sofrer desidratação excessiva. Tais modificações tem papel importante na piora dos sintomas dos mamilos hemorroidários.

SISTEMA RENAL E URINÁRIO

   Ocorre uma elevação do fluxo plasmático glomerular causado pelo aumento da volemia associado à redução da resistência vascular periférica. Devido ao aumento do fluxo, ocorre também uma aceleração do ritmo de filtração glomerular. Essas modificações ocorrem a partir da décima semana e sofrem redução discreta antes do termo da gestação.

   A osmolaridade plasmática se modifica na gravidez. Ocorre filtração de maiores quantidades de sódio e água no glomérulo, que são compensadas por maior reabsorção tubular desses elementos, resultante da ação da aldosterona e da arginina-vasopressina.

   Devido à influência da posição materna no fluxo plasmático glomerular e no ritmo de filtração glomerular, observa-se depuração renal até 20% menor em posição supina que em decúbito lateral. O padrão de excreção urinária é maior à noite, em razão do repouso em decúbito, com maior mobilização dos fluidos extravasculares e menor capacidade de reabsorção de água livre.

   A gestação promove aumento das concentrações de óxido nítrico, endotelina e relaxina. Esta, produzida pelo corpo lúteo, age na osmolaridade plasmática, aumentando o ritmo de filtração glomerular. A endotelina, apesar de ter potente ação vasoconstritora, age como estabilizadora do tônus vascular nos vasos renais.

  A progesterona provoca hipotonia da musculatura dos ureteres e da bexiga, causando discreta hidronefrose e aumento do volume residual vesical. Fatores mecânicos, como aumento do plexo vascular ovariano direito, rotação do útero para a direita e compressão extrínseca uterina, predispõem à acentuação da hidronefrose do lado direito e redução da capacidade vesical.

  A bexiga encontra-se mais elevada ao longo da gestação, com retificação do trígono vesical, provocando refluxo vesicoureteral. Incontinência urinária é queixa comum. Durante o trabalho de parto, a compressão da apresentação fetal sobre a bexiga acarreta edema e microtraumas na mucosa, aumentando as chances de hematúria e infecção. Tais transformações aumentam o risco de formação de cálculos e de infecções do trato urinário.

PELE E ANEXOS

Ocorre uma hipervascularização e hiperpigmentação. Os níveis elevados de estrogênios levam à proliferação de vasos em todos o tegumento (angiogênese), e a produção de progesterona leva a vasodilatação.

Comumente observamos: nevo aracnoide, eritema palmar, aumento da sudorese, aumento da secreção sebácea e hipertricose. Existe tendência ao aumento da oleosidade da pele, em especial no primeiro trimestre, podendo ser observadas manifestações acneicas. Pode haver aumento da pilificação facial, e, eventualmente, no tronco e membros. Esse fenômeno reverte espontaneamente após o parto; nessa época, frequentemente, ocorre aumento da queda de cabelos, em graus variáveis, com retomada do padrão normal de 6 a 12 meses após o final da gravidez.

A hiperpigmentação está relacionada ao estímulo que a progesterona exerce sobre a secreção do hormônio melanotrófico pela hipófise. Esse hormônio, por sua vez, age sobre as moléculas de tirosina na pele, induzindo à produção de melanina. O aumento da produção de melanina determina o aparecimento de hiperpigmentação em áreas específicas: face e fronte (melasmas ou cloasmas gravídicos), linha nigra (projeção cutânea da linha alba), aréola mamária com surgimento de aréola secundária (sinal de Hunter) e regiões de dobras. Essa hiperpigmentação pode piorar com a exposição solar e tende a desaparecer algumas semanas após o final da gestação. As estrias são comuns, tanto pelo aumento da distensão da pele como pelo aumento da produção de cortisol.

TRATO REPRODUTOR

  • Ovários

Os ovários abrigam o corpo lúteo gravídico até por volta da 12a semana de gestação, sendo este o responsável pela produção progestagênica até que o trofoblasto devidamente implantado seja capaz de assumir tal produção. O crescimento e a manutenção do corpo lúteo gravídico se dão por estímulo dos altos níveis de hCG produzidos pelo trofoblasto. Após o final do primeiro trimestre, com a estabilização e a redução dos níveis de hCG, observa-se a involução desse corpo lúteo.

Existe um aumento significativo da rede vascular arterial e venosa ovariana em número e calibre dos vasos. Os pedículos ovarianos contribuem com até 30% do suprimento sanguíneo do útero na gravidez. Outras modificações são observadas nos ovários.

Devido à ação da hCG circulante, pode ocorrer estimulação folicular, com aparecimento de cistos múltiplos e bilaterais (chamados de cistos tecaluteínicos) que regridem completamente ao fim do puerpério. Podem, ainda, ser encontrados focos de reação decidual esparsos em ambos os ovários.

  • Tubas uterinas

Inicialmente, elas são perpendiculares, mas, na gestação elas se estiram, tornando-se paralelas ao útero. A vascularização intensa e reação decidual irregular modifica a aparência da tuba, em especial das fimbrias.

Os ligamentos largos, redondo e paramétrios ficam edemaciados e se tornam congestos.

  • Útero

A coloração uterina passa a ser violácea, devido ao aumento da vascularização e da vasodilatação venosa. A retenção hídrica do espaço extravascular torna a consistência do útero amolecida. As alterações de volume e peso são marcantes, e um útero não gravídico tem aproximadamente 60 a 70 g de peso e 10 ml de capacidade, podendo atingir 700 a 1.200 g e 5 l de capacidade ao final da gestação.

Até a 12a semana de gestação, o útero está intrapélvico, assimétrico, com aumento do corno onde se encontra implantado o embrião (sinal de Piskacek). Com o crescimento do útero e até por volta de 20 semanas, ele se torna esférico e passa a ocupar também a região abdominal, desviando-se para o lado direito. A dextrorrotação pode levar à compressão do ureter ipsilateral, com estase urinária.

Com o progredir do peso do órgão sobre a vagina, o útero ocupa os fórnices vaginais laterais, traduzindo o sinal de Noble-Budin. Para melhor suprimento sanguíneo das fibras musculares, com o crescimento do útero, ele transforma sua forma esférica em cilíndrica com o alongamento dessas fibras, fenômeno também conhecido como conversão uterina.

As fibras miometriais sofrem hiperplasia, hipertrofia e alongamento, sendo a hipertrofia o fenômeno mais pronunciado e podendo ocorrer um aumento de até 10 vezes o diâmetro da fibra muscular.

Ocorre aumento significativo da irrigação uterina, provido pelas artérias uterinas (ramos das artérias ilíacas internas) e pelas artérias ovarianas (ramos diretos da aorta), sendo que o aporte sanguíneo do útero representa cerca de 3 a 6% do débito cardíaco no início da gestação, chegando até 12% no final dela. As alterações vasculares observadas no território uteroplacentário sofrem influência das alterações hormonais, com aumento da vasogênese e da vasodilatação, e também das alterações decorrentes das ondas de invasão trofoblástica, com remodelamento vascular e queda da resistência no leito placentário.

O endométrio sofre modificações celulares em toda a sua extensão, com formação da decídua basal (onde se implanta o embrião), da decídua reflexa (que envolve o saco gestacional) e da decídua parietal (que reveste a porção do útero onde não houve a implantação); as decíduas parietal e reflexa se fundem ao redor da 16a semana de gestação, quando o feto ocupa toda a cavidade uterina.

O istmo, região compreendida entre o corpo uterino e a cérvix, torna-se edemaciado e amolecido, o que corrobora para um aumento da anteversoflexão uterina (sinal de Hegar) no primeiro trimestre e consequente polaciúria por compressão vesical. Na gestação, o istmo alonga-se e incorpora-se ao corpo uterino até a 16a semana de gestação, sendo então chamado de segmento inferior.

O colo do útero edemacia-se e amolece progressivamente, mudando sua consistência – inicialmente similar àda cartilagem nasal para algo parecido com a cartilagem labial (regra de Goodell). Além disso, com as alterações hormonais progressivas da gestação, é comum observarmos a eversão do epitélio colunar da endocérvix, bem como sua metaplasia pela exposição ao conteúdo vaginal, geralmente mais ácido. Ocorre ainda hipertrofia glandular da endocérvix, com maior produção de muco e maior viscosidade, dando origem ao tampão mucoso, ou rolha de Schröeder.

  • Vagina e vulva

Na vagina, o aumento da vascularização leva a hiperemia e edema da mucosa vaginal, tornando-a arroxeada (sinal de Kluge). Pelo aumento do calibre das artérias vaginais, é possível palpar sua pulsação e paredes laterais vaginais, configurando o sinal de Osiander.

Pelo aumento do edema e hipertrofia das células musculares, observa-se diminuição do pregueamento da mucosa vaginal, aumentando sua elasticidade e plasticidade para a formação do canal de parto ao termo. Com a produção crescente de progesterona, ocorre um acúmulo de glicogênio e consequente proliferação de Lactobacillus, que, por sua vez, produzirão mais ácido lático e causarão diminuição do pH vaginal (3,5 a 6,0), fundamental no controle de infecções bacterianas, porém predispondo a gestante a mais infecções fúngicas.

Na vulva, existe aumento significativo da vascularização local, fazendo surgir varizes vulvares em algumas pacientes. A coloração, pelo mesmo motivo, também se apresenta arroxeada, configurando o sinal de Jacquemier-Chadwick. Ocorre retenção de líquidos e consequente edema do vestíbulo vaginal.

MAMAS

As ações estrogênicas e progestagênica, associadas à produção de prolactina hipofisária, promovem o crescimento e o desenvolvimento mamário, através de hiperplasia e diferenciação celular. Já no início da gravidez são comuns as queixas de mastalgia e/ou sensibilidade mamária; o aumento do volume acentua essas queixas, já a partir da 6a semana. Esses sintomas habitualmente diminuem com o progredir da gestação.

Ocorre aumento do mamilo e de sua pigmentação. A papila torna-se mais saliente e erétil. Comumente, observa-se hiperpigmentação areolar com aparecimento de aréola secundária (sinal de Hunter), bem como aumento da vascularização do órgão, sendo visíveis esses vasos através da pele (rede venosa de Haller). Ocorre aumento das glândulas sebáceas dos mamilos (os chamados tubérculos de Montgomery). Após a 20a semana de gestação, é possível visualizar a saída de colostro após a expressão do mamilo.

A produção e a secreção de colostro após o parto se dá por desbloqueio dos receptores de prolactina, após a dequitação e a queda dos níveis de progesterona e estrogênio. Progressivamente, ocorre transição do colostro para leite maduro, e a manutenção da produção e a secreção láctea se dão por mecanismo neuroendócrino, mediado por prolactina e ocitocina.

SISTEMA CARDIOVASCULAR

No início da gravidez ocorre vasodilatação periférica devido ao aumento do oxido nítrico (NO), fator vasoativo, elaborado pelo endotélio vascular. O acréscimo da frequência cardíaca pode ser visto na 5° semana de gestação o que contribui para elevação do debito cardíaco (DC = volume sistólico + frequência cardíaca). A elevação progressiva na FC prossegue até o 3° trimestre geralmente é de 10-15 bpm, com aumento do DC em média de 5l/min para 7l/min em 20 semanas.

O volume plasmático materno aumenta em até 10% já no início da gravidez (entre a 6a e a 7a semana) e continua a elevar-se até o terceiro trimestre, aumentando de 30 a 50% acima dos valores pré-gravídicos ao redor da 32a semana e permanecendo estável até o final da gravidez.

O papel da hipervolemia no organismo materno está associado ao aumento das necessidades de suprimento sanguíneo nos órgãos genitais, em especial em território uterino. Exerce, ainda, função protetora para a gestante e o feto em relação à redução do retorno venoso (observada nas posições supina e ereta, na segunda metade da gravidez) e às perdas sanguíneas esperadas durante o parto.

Durante o 2°/3° trimestre o útero impede o retorno venoso do coração quando a gravida assume a posição se supina (síndrome de hipotensão supina), pois, o útero realiza uma compressão na veia cava inferior e nas veias pélvicas, gerando aprisionamento de sangue nas pernas e coxas, exibindo edema MMII, tendência a hipotensão lipotimia ortostática, varicosidades, hemorroidas e até perda de consciência, adotando o decúbito lateral esquerdo, posição em que o DC é restaurado quase automaticamente. A compressão da veia cava inferior pelo útero grávido, em especial na posição supina, pode levar à redução da pré-carga e quedas abruptas da pressão arterial e bradicardia por reflexo vagal, chegando à lipotimia (síndrome da hipotensão supina). Durante o trabalho de parto, a pressão arterial eleva-se, devido ao aumento do débito cardíaco durante as contrações e também pela ação de catecolaminas liberadas devido à dor. 

  • Pressão Arterial

 As gravidas exibem redução na pressão arterial devido ao decréscimo da resistência vascular periférica. A diminuição da pressão diastólica é mais acentuada (10-15 mmHg) do que a sistólica (5-10 mmHg). Assim, no início da gravidez há aumento da pressão de pulso e mais tarde se equipara àquela encontrada fora da gravidez. A aferição precisa da pressão diastólica é fundamental para caracterizar o estado hipertensivo na gravidez.    

Durante o parto: cada contração uterina leva a autotransfusão de 300-500 ml de sangue de volta para o sistema circulatório. O DC aumenta 34% durante as contrações e 12% nos intervalos. A resposta simpática a dor e à ansiedade causa maior elevação na FC e na pressão sanguínea.

Pós-parto imediato: útero contraindo firmemente, autotransfusão sanguínea (300 ml), aumentando DC (60-80%), seguindo pelo rápido declínio para valores anteriores ao parto em 1 hora. Em 6-8 semanas o DC reassume seus valores não gravídicos.

  • Renina, angiotensina II e volume plasmático

O sistema renina-angiotensina-aldosterona tem sua atividade aumentada de forma a suplantar a ação de mecanismos excretores, sofrendo aumento da filtração glomerular e do peptídeo atrial natriurético. Fora do ciclo gravídico-puerperal, elevações agudas da volemia ativam receptores de volume e barorreceptores presentes nos átrios e em grandes vasos, assim como a baixa osmolaridade plasmática provoca a excitação de quimiorreceptores do hipotálamo anterior. Esses estímulos acarretam secreção de peptídeo atrial natriurético, que atua em receptores presentes em rins, adrenais e vasos, acarretando excreção de sódio e água, e vasodilatação. Durante a gravidez, apesar do aumento progressivo dos níveis séricos de peptídeo atrial natriurético, o aumento lento da volemia torna os receptores menos sensíveis aos estímulos, permitindo o acúmulo de sódio e água pelo organismo materno. Ocorre ainda queda da resistência vascular sistêmica, que atinge seu máximo entre a 14a e 24a semanas. Esse fenômeno começa já no início da gravidez, mediado pela progesterona, pela prostaciclina e também pela ação de óxido nítrico. Essas substâncias levam à refratariedade vascular aos estímulos vasoconstritores da angiotensina II e catecolaminas. A vasodilatação aciona os barorreceptores atriais, com estimulação da vasopressina (com retenção de água) e também do sistema renina-angiogensina-aldosterona (levando à retenção de sódio), o que também contribui para o aumento progressivo da volemia. A resistência vascular periférica começa a subir progressivamente após a 22a/24a semanas, voltando aos níveis pré-gravídicos no termo.

  • Modificações cardíacas

O coração sofre alterações de posição, volume e função. O aumento da volemia e débito cardíaco leva à remodelação cardíaca, com hipertrofia dos miócitos e aumento de seu volume como um todo. O aumento do órgão está associado a alterações nas valvas cardíacas – é frequente a observação de refluxo discreto valvar (especialmente em valvas mitral e tricúspide) ao exame clínico e à ecocardiografa. À ausculta, 90% das gestantes apresentam sopro sistólico leve (especialmente em borda esternal e foco mitral), até 20% sopro diastólico leve (em geral, em foco aórtico), e em até 10% pode ser observado sopro contínuo (associado à hipervascularização no local das mamas). A posição cardíaca altera-se progressivamente. A elevação do diafragma faz com que haja desvio para cima e para a esquerda, além de leve rotação anterior. As modificações anatômicas e funcionais devem ser levadas em conta na interpretação de exames – a área cardíaca pode parecer aumentada à radiografa de tórax na segunda metade da gravidez, e à eletrocardiografa são observadas alterações, como o desvio do eixo cardíaco em 15 a 20º para esquerda, além de alterações fisiológicas nas ondas Q, T e no segmento ST.

Alterações vasculares mais relevantes:

  • Aumento da frequência cardíaca (10-20%)
  • Aumento do volume sistólico (10%)
  • Aumento do debito cardíaco (30-50%)
  • Diminuição da pressão arterial média (10%)
  • Diminuição da resistência periférica (35%)

SISTEMA SANGUÍNEO

  Na gravidez ocorre aumento no volume plasmático e consequentemente da volemia materna, causando diluição na maioria dos fatores circulantes, principalmente hemodiluição das hemácias, dessa forma os níveis plasmáticos de contagem de hemácias, hematócrito e concentração de hemoglobina estão reduzidos, mesmo que a concentração de eritrócitos esteja aumentada.

  Hemoglobina se reduz de 13,3 g/dl para 11 g/dl, por isso, a mulher gravida requer maior quantidade de ferro alimentar para suprir as suas necessidades e as do concepto e aumento da absorção pelo intestino, sua quantidade é determinada pela ingesta, perda e armazenamento. Concentrações de hemoglobina abaixo de 11,0 g/dL devem ser consideradas anormais, em particular no final da gestação, sendo em geral causadas por deficiência de ferro, e não pela hipervolemia da gravidez.

   A hipovolemia induzida pela gravidez tem funções importantes. Primeira, responder às demandas metabólicas do útero aumentado com seu sistema vascular intensamente hipertrofiado. Segunda, prover nutrientes e elementos em abundância para dar suporte ao rápido crescimento da placenta e do feto. O aumento do volume intravascular também protege a mãe e, consequentemente, o feto contra os efeitos deletérios das posições supina e ereta sobre o retorno venoso. Por fim, salvaguardar a gestante contra os efeitos adversos da perda sanguínea associada ao parto.

 Estabelece-se, assim, um estado de hemodiluição e, consequentemente, a viscosidade plasmática está diminuída, o que reduz o trabalho cardíaco. Esses processos adaptativos iniciam-se já no primeiro trimestre de gestação, por volta da 6° semana, com expansão mais acelerada no segundo trimestre, para finalmente reduzir sua velocidade e estabilizar seus níveis nas últimas semanas do período gravídico.

  • Ferro

A quantidade total de ferro no organismo é determinada pela ingesta, perda e armazenamento. Existem 2,3 g de Fe total no organismo da mulher. 1 g é necessário para uma gestação normal, sendo 300 mg ativamente transferidos ao feto e placenta, 200 mg são perdidos via trato gastrintestinal. O aumento de eritrócitos circulantes (450 ml) requer 500 mg de Fe. Uma série de eventos contribui para essa demanda de ferro: o consumo pela unidade feto placentária, a utilização para produção de hemoglobina e mioglobina resultante do aumento da massa eritrocitária e da musculatura uterina, e a depleção por meio de perdas sanguíneas e do aleitamento.  A maior parte do Fe é utilizada durante a metade final da gestação e atingem a média de 6 a 7 mg/dia. Na maioria das gestantes, a necessidade de Fe não é suprida pelas reservas, sem suplementação de ferro não haverá o aumento ideal no volume eritrocitário materno, e a hemoglobina e o hematócrito diminuirão de forma evidente à medida que o volume plasmático aumenta. Ao mesmo tempo, a produção de hemácias pelo feto não é prejudicada porque a placenta transfere ferro mesmo quando a mãe apresenta anemia ferropriva grave. Efeitos adversos do ferro suplementar: refluxo e constipação. No momento do parto vaginal e nos dias seguintes, metade dos eritrócitos adicionados é perdida (500 a 600 ml de sangue), cesariana ou parto vaginal de gêmeos (1 L).

  • Funções Imunológicas

O início da gestação é pró-inflamatório, durante a implantação e a placentação, o blastocisto deve penetrar o revestimento epitelial da cavidade uterina e invadir o tecido endometrial. O trofoblasto substitui o endotélio e a musculatura lisa dos vasos sanguíneos para assegurar suprimento sanguíneo. Atraindo células invasoras, gerando morte celular e células de reparo, caracterizando um ambiente inflamatório, assegurando a retirada de restos celulares e o reparo do endométrio. O meio da gestação é anti-inflamatório, o crescimento e desenvolvimento fetal induzem um esse estado. O parto é caracterizado por influxo de células imunes ao miométrio, caracterizando processo inflamatório. 

Ao contrário dos glóbulos vermelhos, os glóbulos brancos têm sua concentração aumentada (leucócitos no 3° trimestre: 9 mil/mm3) e no puerpério imediato (20 mil/mm3), devido ao aumento dos polimorfonucleares e linfócitos CD8. A concentração de plaquetas se encontra diminuída (75-320 mil/mm3), devido a hemodiluição e ao consumo de plaquetas (no leito uteroplacentário) caracterizando uma plaquetopenia gestacional no 3° trimestre com contagem inferior a 100.000 mm3.

  • Coagulação e Fibrinólise

Ocorrem alterações importantes na coagulação sanguínea sendo caracterizadas por estado de hipercoagulabilidade, com aumento significante de diversos fatores de coagulação, notadamente do fibrinogênio e redução da atividade fibrinolítica do plasma. As proteínas infamatórias da fase aguda estão aumentadas em todo o período gestacional. A proteína C reativa apresenta níveis plasmáticos mais elevados no momento próximo ao parto. A velocidade de hemossedimentação, por sua vez, eleva-se por causa do aumento de fibrinogênio e globulinas no sangue, perdendo seu valor em investigações diagnósticas na gravidez.

Especula-se que todas essas alterações do mecanismo de coagulação sejam mediadas por processos hormonais, relacionados aos altos níveis de estrógeno e progesterona. Todos os fatores de coagulação estão elevados, com exceção dos fatores XI e XIII. Da mesma forma, observa-se aumento em até 50% do fibrinogênio e dímero D (os valores normais de fibrinogênio estão entre 300 e 600 mg/dL). Ocorre diminuição dos níveis plasmáticos de proteína S e resistência à proteína C ativada. A atividade fibrinolítica está reduzida, provavelmente à custa da elevação de inibidores dos ativadores de plasminogênio.

A contração miometrial é o principal mecanismo de defesa, comprimindo os vasos sanguíneos no leito placentário, imediatamente após há deposito de fibrina na ferida placentária utilizando o fibrinogênio circulante. A desvantagem desse mecanismo de hipercoagulubilidade que impede o sangramento patológico do pós-parto é o aumento do risco de tromboembolismo.

A proteína C ativada, em conjunto com os cofatores proteína S e fator V, atua como um anticoagulante neutralizando os fatores pró-coagulantes Va e VIIIa. Durante a gravidez, a resistência à proteína C ativada aumenta de maneira progressiva, estando relacionada com a redução na proteína S livre e com o aumento no fator VIII, que ocorrem concomitantemente.

A gravidez está associada a acréscimo de 20-200% nos níveis de fibrinogênio e de fatores II, VII, VIII, X e XII. A resultante desses efeitos na coagulação na gravidez é promover a formação, extensão e estabilidade do coágulo.

TRATO RESPIRATÓRIO

O sistema respiratório também passa por modificações anatômicas e funcionais. A demanda de oxigênio aumenta de 20 a 30%. Já no início da gravidez é frequente a sensação de falta de ar, explicada pela ocorrência de discreta hiperventilada, com elevação do volume minuto, que progride até o termo (chegando a aumentar até 50% em relação aos níveis basais). Esse aumento está relacionado ao aumento de até 40% no volume corrente. Tal alteração está relacionada à hemodiluição observada durante a gestação, com queda dos níveis de hemoglobina e frequência respiratória mantida. O aumento do volume corrente estabelece situação de hiperventilação, gerando queda da pressão parcial de dióxido de carbono (pCO2). Essa redução gera gradiente que facilita a excreção do CO2 fetal. A alcalose respiratória e o aumento do pH, compensado por redução do bicarbonato, criam situação favorável à passagem de oxigênio para o feto.

Os centros respiratórios do sistema nervoso central sofrem alteração em sua homeostase, de tal forma que elevações na pCO2 deflagram esforços respiratórios exagerados. Essa alteração está ligada aos níveis crescentes de progesterona ao longo da gestação. A progesterona ainda age diretamente na musculatura lisa dos brônquios e vasos pulmonares, facilitando o fluxo aéreo e também o fluxo sanguíneo, pela queda da resistência vascular. A pressão parcial de oxigênio está aumentada durante a gestação.

Paralelamente ao aumento do volume corrente, ocorre redução da capacidade funcional residual em até 20%, relacionada à elevação do diafragma, com consequentes reduções dos volumes de reserva expiratória e volume residual. A capacidade vital e a capacidade inspiratória não estão alteradas durante a gestação. A elevação do diafragma já é observada no primeiro trimestre, entretanto, o aumento do volume uterino diminui sua capacidade de excursão. Ocorre aumento da circunferência e diâmetro da caixa torácica, com abertura do ângulo costofrênico em até 35 graus.

A sensação de dispneia ocasionada pelas adaptações do sistema respiratório durante a gestação pode ser agravada por certo grau de congestão e edema das mucosas nasais. O volume expiratório forçado (FEV 1) não se altera durante a gravidez, refletindo função estável das grandes vias aéreas nesse período.

Embora a queixa de falta de ar seja frequente, dispneia importante, crescente e relacionada a esforços deve levar o clínico a pesquisar alterações cardiopulmonares. 

MODIFICAÇÕES ENDÓCRINAS 

  • Hormônios hipotalâmicos

As modificações hipotalamohipofisárias afetam a tireoide, a adrenal, as gônadas, o balanço hídrico e a lactação, e influencia no crescimento fetal.  O GnRH está aumentado e estimula o crescimento placentário.

O hormônio liberador de tireotrofina (TRH) é secretado pelo hipotálamo e estimula as células tireotróficas da hipófise anterior a liberarem o hormônio tireoestimulante (TSH).

  • Hormônios Hipofisários

O lobo anterior da hipófise aumenta de tamanho à custa de hiperplasia e hipertrofia, em especial dos lactótrofos, estimulados por estrogênio. A prolactina estimula esse aumento.

Durante o primeiro trimestre, o hormônio do crescimento é secretado predominantemente pela hipófise materna, mas com oito semanas já é possível detectar hormônio do crescimento secretado pela placenta.

O hormônio do crescimento placentário é o principal determinante da resistência à insulina na segunda metade da gestação. E os níveis séricos maternos mantêm correlação positiva com o peso ao nascimento, e negativa com a restrição ao crescimento fetal e a resistência arterial uterina.

O estrogênio, o hormônio liberador de tireotrofina e a serotonina estimulam a secreção de prolactina, cuja principal função é assegurar a lactação. No início da gravidez, atua para iniciar a síntese de DNA e o processo de mitose das células epiteliais glandulares e das células alveolares pré-secretoras, além de aumentar o número de receptores de estrogênios de prolactina nessas células. Finalmente, ela promove a síntese de RNA nas células alveolares, a galactopoiese e a produção de caseína, lactalbumina, lactose e lipídeos.

  • Paratireoide

A redução aguda ou crônica no cálcio plasmático ou a redução aguda no magnésio estimulam a liberação do paratormônio (PTH). Acontece aumento no metabolismo de cálcio, em razão das novas demandas fetais, o que leva a uma diminuição do nível sérico de cálcio total, sem alterações no cálcio iônico. Apesar da redução dos níveis de PTH no início da gestação, que vem a ser o estimulador normal para a produção ativa de vitamina D nos rins.

  • Tireoide 

Aumento da tireoide devido a hiperplasia glandular e aumento na vascularidade. Os níveis elevados de TBG (globilina ligadora de tiroxina) aumentam as concentrações séricas totais de tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3), mas não alteram os níveis fisiologicamente importantes de T4 e T3 livres, o feto depende da tiroxina materna, que atravessa a placenta em pequenas quantidades para manter normal a função tireoidiana fetal. Deve-se lembrar que a tireoide fetal só começa a concentrar iodo com 10 a 12 semanas de gestação.

A função tireoidiana está alterada devido à redução dos níveis séricos de iodo, por causa do aumento da taxa de filtração glomerular, glicosilação da globulina transportadora de hormônios tireoidianos e consequente redução nas frações livres dos hormônios e estimulação direta dos receptores de TSH pela β-hCG. Essas alterações podem provocar aumento do volume glandular.

  • Adrenais

As adrenais não sofrem mudanças morfológicas durante a gestação. A depuração metabólica do cortisol é menor durante a gestação, ocorrendo uma maior resistência em sua metabolização, assim, em resposta aos níveis elevados de progesterona durante a gravidez, haveria necessidade de mais cortisol livre para manter a homeostase.

O sistema renina angiotensina aldosterona é o principal determinante na secreção de aldosterona associado ao ACTH e à hipercalemia. Tal sistema é estimulado durante a gravidez, devido à redução na resistência vascular, na pressão arterial e declínio progressivo da responsividade vascular à aldosterona. O aumento de progesterona sérica de origem placentária faz com que haja uma competição com a aldosterona pelos receptores para mineralocorticoides, tendo, portanto, efeito natriurético. Existe também aumento do cortisol sérico, decorrente da redução de sua excreção e do aumento de sua meia-vida. Os níveis circulantes e excretados de andrógenos adrenais encontram-se reduzidos, possivelmente pelo consumo e pela metabolização em estrogênio placentário.

  • Ovários

A produção ovariana de progesterona se dá no corpo lúteo até a 7a semana de gestação a partir da qual a placenta assume sua autonomia hormonal. A produção de andrógenos também está elevada, mas tais substratos são convertidos em estrogênio na placenta, o que não acarreta repercussão fetal.

SISTEMA NERVOSO CENTRAL, VISÃO, OLFATO E AUDIÇÃO

As principais queixas em relação às alterações do SNC são: a sonolência e a diminuição da memória e da concentração. A sonolência já se manifesta no início da gravidez, devendo-se ao aumento dos níveis de progesterona sérica e a alcalose respiratória resultante da hiperventilação.

Alterações vasculares da artéria cerebral média e posterior contribuem para a lentificação geral do SNC, que está associada às alterações de memória e concentração, principalmente no terceiro trimestre. As modificações do padrão de sono contribuem para alterações da concentração e queixas de fadiga frequente. Durante a gestação, diminuem os períodos de apneia do sono, porém ocorre aumento da dispneia na posição supina (dispneia paroxística noturna), no final da gravidez. Essas alterações são maiores com o aumento do volume uterino e do peso corporal, sendo mais intensas em gestações gemelares.

O ciclo grávido-puerperal é permeado por alterações no psiquismo da mulher. Manifestações como hiperemese gravídica, enxaqueca e alguns distúrbios psiquiátricos (hipomania, depressão) podem estar relacionadas a alterações vasculares e hormonais exclusivas da gravidez, por ser um momento único, podem surgir inseguranças e dificuldades psicoafetivas, é dever do obstetra oferecer apoio emocional e identificar as situações nas quais a ajuda profissional deve ser solicitada.

Quanto às modificações oftalmológicas, existe alteração da acuidade visual devido à presença de edema e opacificações pigmentares da córnea. A pressão intraocular está diminuída devido ao aumento da velocidade de reabsorção do humor aquoso.

É comum haver alterações de refração, com mudança de grau de óculos, bem como irritações frequentes causadas pela utilização de lentes de contato, associadas ao edema de córnea.

A mucosa nasal apresenta-se edemaciada e com aumento da vascularização, a exemplo do que ocorre no restante do organismo materno. Assim, epistaxes, rinites vasomotoras e hiposmia são frequentes.
Pode ocorrer diminuição da acuidade auditiva, assim como zumbidos (“tinitus”) e vertigens, principalmente nas gestantes que apresentarem alterações vasculares vestibulococleares mais acentuadas.

SISTEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO

As modificações musculoesqueléticas são decorrentes da embebição gravídica, alterações hormonais, como a relaxina secretada pela placenta e das alterações posturais desencadeadas pelo aumento uterino. As articulações, através desses processos adaptativos, preparam o organismo para a parturição – na pelve, as articulações das sinosotoses sacro ilíacas, sacrococcígeas e sínfise púbica se apresentam embebidas e com maior elasticidade, podendo ser observado aumento de até 2 cm na sínfse púbica. Essas alterações aumentam a capacidade pélvica, mas também afetam a postura e a movimentação maternas. A embebição e o relaxamento das articulações, especialmente nos membros inferiores, podem ser responsáveis por dores crônicas e até alterações ortopédicas, como entorses, luxações e até fraturas. A postura é afetada por alterações no eixo da coluna e no centro de gravidade materna, geradas pelo aumento do volume uterino e das mamas; de modo instintivo, a mulher desloca o corpo todo posteriormente, provocando acentuação da lordose e hipercifose da coluna vertebral.
Para compensação, ocorre afastamento dos pés (para ampliação da base de sustentação). Durante a deambulação, o afastamento dos pés e a redução da amplitude os passos levam à alteração motora (“marcha hanserina”). Nesse processo de alterações corpóreas, existe sobrecarga de grupos musculares que não são rotineiramente utilizados. As alterações da posição da coluna podem, ainda, levar à compressão de raízes nervosas, com dores e parestesias nos membros superiores e inferiores, além de lombalgia e fadiga muscular.

Referências Bibliográficas:

  • Manual de assistência pré-natal / Sérgio Peixoto. ed. – São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2014.
  • CUNNINGHAM, F. Gary et al.Obstetrícia de Williams. Porto Alegre: Amgh, 2016.
  • REZENDE FILHO, Jorge de; MONTENEGRO, Carlos Antônio Barbosa.Rezende Obstetrícia Fundamental.  ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
  • http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/08/embebicao-gravidica.pdf
  • Williams24ª Ed. 2016, Obstetrícia de Williams.
2. Caracterizar as manifestações clínicas em cada trimestre da gravidez.

  Os primeiros sinais e os sintomas da gravidez:

  • Atraso da menstruação;
  • As mamas começam a ficar doloridas e inchadas e há o escurecimento dos mamilos;
  • Aumento da frequência urinária;
  • Enjoos e vômitos;
  • Pequeno sangramento, às vezes, acompanhado por cólicas uterinas;
  • Movimento fetal;
  • Alterações da pele;
  • Cansaço e sonolência.

   O tempo de duração de uma gestação é de 40 semanas ou nove meses, podendo chegar no máximo até 42 semanas. Quando a mulher percebe o atraso da menstruação, geralmente está na sexta semana de gestação. Começamos a contar a partir do primeiro dia da sua última menstruação

  • 8ª semana: as mamas começam a se desenvolver e se preparam para a amamentação. Há um aumento da vontade de fazer xixi. Até essa fase, o bebê é conhecido como embrião e sua formação acontece primeiro no sentido da cabeça para os pés. Os olhos começam a se formar e o coração já está batendo desde a quarta semana de gestação.
  • 12ª semana: a placenta está totalmente formada e é por meio dela que o sangue da mãe passa para o bebê através do cordão umbilical, levando para ele tudo o que necessita para se desenvolver. O bebê já pode chupar o dedo. Tem os músculos funcionando, os genitais estão definidos e os rins já produzem urina.
  • 14ª semana: a pele do bebê está mais grossa e forma-se a impressão digital. Na barriga da grávida pode ser percebida uma linha escura (linha nigra), pois a pele ganha mais resistência. Essas mudanças de cor na pele facilitam o aparecimento de manchas, principalmente no rosto. Por isso é importante o uso de protetor solar diariamente durante a gestação. As mulheres que trabalham com computador precisam usar o protetor solar por causa da luz fluorescente, que também pode manchar a pele.
  • 16ª semana: as mamas aumentam ao máximo e a aréola fica ainda mais escura para tornar a pele mais resistente. Há também uns pontinhos que fazem a hidratação e a lubrificação natural das mamas, preparando-as para a amamentação. Nessa fase, os genitais do bebê já estão bem visíveis e fica mais fácil identificar o sexo.
  • 20ª a 24ª semana: a pele está mais grossa, as sobrancelhas já estão presentes e tem cabelo aparecendo. O bebê já está desenvolvido e os órgãos dos sentidos estão completos. Já pode perceber os estímulos que vem de fora da mãe e sentir. Com aproximadamente 24 semanas, o bebê já pode ouvir, mas não é preciso evitar o barulho porque há uma grande quantidade de sons produzidos no interior do corpo da mãe, fruto do funcionamento dos seus órgãos. O bebê ouve todos esses sons, inclusive os batimentos do coração da mãe. Após o nascimento, ao aproximar o ouvido do bebê do coração da mãe, o nenê consegue identificar os batimentos da mãe e se acalma.
  • 28ª semana: o útero aumenta de tamanho e empurra o intestino materno. As atividades do estômago e intestino diminuem, podendo causar intestino preso. O período de sono e vigília (período em que está acordado) do bebê está mais definido. As contrações do útero ficam mais fortes e passam a ser percebidas pela mãe. As gestantes não precisam ficar assustadas quando sentirem essas contrações, pois não significa trabalho de parto prematuro. A placenta produz hormônios que conseguem manter a gravidez. É importante deixar o corpo funcionar adequadamente. A mulher pode estar bastante ansiosa com as exigências próprias dessa fase, no entanto, é importante manter o bem-estar e a tranquilidade.
  • 32ª semana: o tamanho do útero começa a dificultar a respiração da mãe, faz aumentar a vontade de fazer xixi e aumenta ainda mais a pressão sobre os vasos sanguíneos. O sistema nervoso já trabalha em conjunto e o bebê consegue movimentar a cabeça. Os sistemas respiratório e digestivo do bebê estão quase funcionando. Os pulmões são os últimos órgãos a se formar. Geralmente, até a 32ª semana o bebê está sentado. Depois, ele muda de posição.
  • Entre a 36ª e a 40ª semana pode acontecer o encaixe do feto na bacia da mãe, o que faz com que a barriga dela abaixe.
  • Na 37ª semana – O bebê está praticamente maduro e com 40 semanas está completamente preparado para a vida fora do útero.

  • Náuseas e vômitos são tão frequentes no início da gravidez que muitas vezes são utilizados como símbolos que expressam a gestação. Ocorrem principalmente no primeiro trimestre. Normalmente, o também chamado “mal-estar matinal”, caracterizado por náuseas, vômitos, indisposição matinal e sialorreia, começa entre a primeira e a segunda semana de atraso menstrual e pode durar até o fim do terceiro mês de gravidez. No entanto, cerca de 20% das mulheres sentem náuseas e vômitos por um longo período de tempo e 2% desse grupo sofrem até o final da gravidez. A teoria é de que são causadas pelo aumento da concentração de gonadotrofina coriônica humana (hCG). Assim, a elevação dos níveis séricos de β-hCG, que ocorre no primeiro trimestre, coincide com o aumento da prevalência de náuseas e vômitos nessa mesma época. O estímulo de β-hCG leva a um aumento dos hormônios tireoidianos (T3 e T4), com predomínio da forma livre do hormônio T4. Essa elevação do T4 livre também pode estar relacionada com a gênese e manutenção de náuseas e vômitos.
  • Sialorreia: Algumas gestantes referem aumento da salivação no decorrer do pré-natal. Isso pode estar associado à ingesta de amido, ao estímulo do ramo trigêmeo e à hipertonia vagal. Geralmente, existe um fundo psicológico associado a esse sintoma, por isso, nesses casos, o tratamento psicológico deve ser instituído.
  • Pirose: Sintoma causado pelo refluxo gastroesofágico, comum principalmente no final da gravidez, devido à compressão do estômago pelo útero gravídico. Orientações sobre evitar o decúbito horizontal logo após as refeições, assim como fracionar a dieta, evitando a ingestão de alimentos como café, chá, chocolate e frituras, normalmente são suficientes. Nos casos mais graves, a utilização de hidróxido de alumínio ou de magnésio, isolados ou combinados, é indicada.
  • Sensação de plenitude: Também é frequente no final da gestação pela compressão do estômago pelo útero gravídico. Orienta-se dieta fracionada com menor volume de alimento em alguns casos, sugerindo a ingestão de substâncias pastosas.
  • Constipação: Apresenta-se como queixa comum da gestante durante o pré-natal e deve-se à lentificação do trânsito intestinal, própria desse período. O tratamento consiste desde o aumento da ingestão de líquidos até o uso de laxativos, nos casos mais graves. A suplementação dietética com fibras vegetais ajuda a reduzir a constipação durante a gravidez. Essa suplementação aumenta a frequência de evacuação em 67% das gestantes que a utilizam versus 23% das que não a adotam. Além disso, faz a consistência das fezes ficar mais amolecida. Se não houver resposta à suplementação com fibras, laxativos suaves serão mais efetivos (77%) do que os formadores de volume.
  • Hemorroidas: O aumento do volume uterino, que comprime a veia cava inferior e dificulta o retorno venoso, associado à constipação, favorece a dilatação das veias retais, levando ao aparecimento de hemorroidas. O tratamento consiste na prevenção da constipação, uso de anestésicos locais e, nos casos de trombose da veia retal, retirada desta com anestesia local. O tratamento cirúrgico para correção da hemorroida não é indicado durante a gravidez. Deve-se evitar esforço às evacuações.
  • Picamalacia: A picamalacia é a perversão alimentar que ocorre em algumas gestantes, caracterizada pelo desejo de ingerir substâncias atípicas. O tratamento consiste em persuadir a gestante dessa prática, mostrando o risco de tal atitude no evoluir normal da gravidez, favorecendo a anemia, interferindo na absorção de nutrientes e facilitando o aparecimento de parasitoses.
  • Fraquezas, desmaios, tonturas e vertigens: Esses sintomas aparecem devido à vasodilatação e à hipotonia vascular, comuns na gestação, principalmente no segundo trimestre, pela estase sanguínea nos membros inferiores e pelve e, em algumas situações, pela hipoglicemia em períodos de jejum prolongado. A hipotensão supina que ocorre no terceiro trimestre deve-se à compressão da veia cava inferior pelo útero gravídico. A simples orientação de, nessas ocasiões, manter-se deitada do lado esquerdo até o cessar dos sintomas, além de adotar uma dieta fracionada e manter-se em ambientes arejados costumam ser tratamentos efetivos.
  • Varicosidades: Assim como as hemorroidas, as varizes podem aparecer principalmente no final da gravidez e devem-se à dificuldade do retorno venoso imposto pela compressão do útero gravídico à veia cava inferior. Variam desde a sensação de desconforto ao final do dia até casos mais graves, como trombose e tromboflebite. Seu tratamento consiste na orientação de repouso, com os membros superiores elevados e utilização de meias elásticas. Nos casos mais graves, há necessidade de utilização de heparina para promover a anticoagulação. O tratamento cirúrgico não é indicado durante a gravidez.
  • Edema: Uma das queixas mais comuns das gestantes na segunda metade da gravidez ocorre devido ao aumento da volemia e da estase sanguínea, com aumento da permeabilidade capilar e da pressão intravascular. A conduta baseia-se em medidas paliativas, como evitar tempos prolongados na posição ortostática, repouso periódico em decúbito lateral esquerdo e, novamente, uso de meias elásticas.
  • Câimbras: Sintoma de etiologia incerta, ocorre provavelmente devido ao desequilíbrio iônico de cálcio e fósforo. É mais frequente à noite ou pela manhã, despertando a grávida, ou após o ato de se espreguiçar.
  • Síndromes dolorosas: Quadro de dor abdominal baixa e lombossacra que resulta da distensão das articulações sacroilíacas e da sínfise púbica. Seu manejo consiste em corrigir a postura, evitar o ortostatismo prolongado, realizar exercícios de relaxamento, como ioga e hidromassagem, acupuntura e analgésicos (paracetamol).
  • Sintomas urinários: Representados pela polaciúria e pela nictúria sem disúria, no primeiro trimestre devem-se à compressão do útero na bexiga, e, no final da gravidez, à compressão da apresentação fetal. São sintomas inócuos que dispensam tratamento específico.
  • Sonolência e insônia: A sonolência é um sintoma sem etiologia conhecida e que não necessita de tratamento. A insônia pode ocorrer em gestantes mais ansiosas, pelo medo e pelas incertezas que as mudanças da gravidez podem trazer para a vida cotidiana. Nos casos mais acentuados, pode-se fazer uso de ansiolíticos em pequenas dosagens.
  • Síndrome do túnel do carpo: Síndrome que ocorre devido ao edema do túnel do carpo, de etiologia não perfeitamente elucidada. Sua incidência varia de 25 a 50%. Os sintomas são dores nas mãos e parestesia à noite e no início da manhã. Costuma ser autolimitada, com melhora dos sintomas em 60% das pacientes 30 dias após o parto e em 95% 1 ano depois. O tratamento conservador é feito com imobilização da mão com tala. O tratamento cirúrgico reserva-se aos casos mais graves e, geralmente, não é realizado durante a gestação.
  • Congestão nasal e epistaxes: Devido à produção aumentada de hormônios esteroides, que levam à vasodilatação e ao aumento da vascularização da mucosa nasal, surge o desconforto da congestão nasal, que é tratado geralmente com uso de soro fisiológico. A epistaxe costuma ser resolvida com leve compressão local.
  • Gengivorragia: Decorrente da mesma forma da congestão da mucosa oral. Em alguns casos, pode levar a doença periodontal por hipertrofia gengival. A higiene bucal adequada, com escova de cerdas macias, é o tratamento preconizado.
  • Corrimento: O corrimento fisiológico da gravidez consiste em conteúdo vaginal de consistência fluida que não causa irritação e deve-se à modificação da flora de Doderlein, maior descamação do epitélio vaginal e transudação acentuada. Tal situação não requer tratamento, o qual se reserva ao aparecimento de infecções causadas por cândida ou vaginose bacteriana.

Referências Bibliográficas:

  • Cartilha da Grávida – FEBRASGO.
  • Guia Prático de Condutas – Como lidar com náuseas e vômitos na gestação: recomendação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia – FEBRASGO.
  • Manual de assistência pré-natal / Sérgio Peixoto. – 2a. Ed. – São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2014.
3. Descrever o pré-natal de acordo com as orientações do Ministério da Saúde, sua importância e periodicidade.

  O objetivo do acompanhamento pré-natal é assegurar o desenvolvimento da gestação, permitindo o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para a saúde materna, inclusive abordando aspectos psicossociais e as atividades educativas e preventivas. A unidade básica de saúde (UBS) deve ser a porta de entrada preferencial da gestante no sistema de saúde.

 Entende-se por avaliação pré-concepcional a consulta que o casal faz antes de uma gravidez, objetivando identificar fatores de risco ou doenças que possam alterar a evolução normal de uma futura gestação. Constitui, assim, instrumento importante na melhoria dos índices de morbidade e mortalidade materna e infantil.
As atividades desenvolvidas na avaliação pré-concepcional devem incluir anamnese e exame físico, com exame ginecológico, além de alguns exames laboratoriais. A investigação dos problemas de saúde atuais e prévios e a história obstétrica são importantes para a avaliação do risco gestacional. A história clínica objetiva identificar situações de saúde que podem complicar a gravidez, como diabetes pré-gestacional, a hipertensão, as cardiopatias, os distúrbios da tireoide e os processos infecciosos, incluindo as doenças sexualmente transmissíveis (DST). O uso de medicamentos, o hábito de fumar e o uso de álcool e drogas ilícitas precisam ser verificados, e a futura gestante deve ser orientada quanto aos efeitos adversos associados. Na história familiar, destaca-se a avaliação de doenças hereditárias, pré-eclâmpsia, hipertensão e diabetes. Na história obstétrica, é importante registrar o número de gestações anteriores e de partos pré-termo, o intervalo entre os partos, o tipo de parto, o peso ao nascimento e as complicações das gestações anteriores, como abortamento, perdas fetais e hemorragias e malformações congênitas.

No exame geral, cabe verificar especialmente a pressão arterial (PA), o peso e a altura da mulher.
Podem ser instituídas ações específicas quanto aos hábitos e ao estilo de vida:

  • Orientação nutricional visando à promoção do estado nutricional adequado tanto da mãe como do recém-nascido, além da adoção de práticas alimentares saudáveis;
  • Orientações sobre os riscos do tabagismo e do uso rotineiro de bebidas alcoólicas e outras drogas;
  • Orientações quanto ao uso de medicamentos e, se necessário mantê-los, realização da substituição para drogas com menores efeitos sobre o feto;
  • Avaliação das condições de trabalho, com orientação sobre os riscos nos casos de exposição a tóxicos ambientais;
  • Administração preventiva de ácido fólico desde o período pré-gestacional, para a prevenção de anormalidades congênitas do tubo neural, especialmente nas mulheres com antecedentes desse tipo de malformações (5mg, VO/dia, durante 60 a 90 dias antes da concepção);
  • Orientação para registro sistemático das datas das menstruações e estímulo para que o intervalo entre as gestações seja de, no mínimo, 2 (dois) anos.

Os Estados e municípios necessitam dispor de uma rede de serviços organizada para a atenção obstétrica e neonatal, com mecanismos estabelecidos de referência e contrarreferência, garantindo-se os seguintes elementos:

1° PASSO: Iniciar o pré-natal na Atenção Primária à Saúde até́ a 12ª semana de gestação (captação precoce)

2° PASSO: Garantir os recursos humanos, físicos, materiais e técnicos necessários à atenção pré-natal.

3° PASSO: Toda gestante deve ter assegurado a solicitação, realização e avaliação em termo oportuno do resultado dos exames preconizados no atendimento pré-natal.

4° PASSO: Promover a escuta ativa da gestante e de seus (suas) acompanhantes, considerando aspectos intelectuais, emocionais, sociais e culturais e não somente um cuidado biológico: “rodas de gestantes”.

5° PASSO: Garantir o transporte público gratuito da gestante para o atendimento pré-natal, quando necessário.

6° PASSO: É direito do (a) parceiro (a) ser cuidado (realização de consultas, exames e ter acesso a informações) antes, durante e depois da gestação: “pré-natal do (a) parceiro (a)”.

7° PASSO: Garantir o acesso à unidade de referência especializada, caso seja necessário.

8° PASSO: Estimular e informar sobre os benefícios do parto fisiológico, incluindo a elaboração do “Plano de Parto”.

9° PASSO: Toda gestante tem direito de conhecer e visitar previamente o serviço de saúde no qual irá dar à luz (vinculação).

10° PASSO: As mulheres devem conhecer e exercer os direitos garantidos por lei no período gravídico-puerperal.

Condições básicas para assistência pré-natal efetiva:

  • Realização de anamnese, exame físico e exames complementares indicados;
  • Classificação do risco gestacional (em toda consulta) e encaminhamento, quando necessário, ao pré-natal de alto risco ou à urgência/emergência obstétrica;
  • Oferta de medicamentos necessários (inclusive sulfato ferroso, para tratamento e profilaxia de anemia, e ácido fólico, com uso recomendado desde o período pré-concepcional e durante o primeiro trimestre de gestação);
  • Medicamentos básicos e vacinas (contra tétano e hepatite B);
  • Realização de testes rápidos na unidade básica de saúde, assim como apoio laboratorial, garantindo a realização dos exames de rotina:

Calendário de Consultas: As consultas de pré-natal poderão ser realizadas na unidade de saúde ou durante visitas domiciliares, em situações especiais.

O calendário de atendimento pré-natal deve ser programado em função dos períodos gestacionais que determinam maior risco materno e perinatal. Deve ser iniciado precocemente (1º trimestre) e ser regular e completo, garantindo-se que todas as avaliações propostas sejam realizadas e preenchendo-se o cartão da gestante e a ficha de acompanhamento pré-natal.

O número mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde para todas as gestantes é de seis consultas, com início o mais precocemente possível, sendo assim distribuídas: Uma no 1º trimestre (até a 12ª semana), duas no 2º trimestre e três no 3º trimestre; A gestante deverá ser atendida sempre que houver uma intercorrência, independente do calendário estabelecido; Para as gestantes de alto risco, a definição do cronograma de consultas deve ser adequada a cada caso e depende diretamente do agravo em questão; Além dessas seis consultas consideradas como o mínimo adequado, a mulher deve ter ao menos um retorno puerperal.

Na primeira consulta, deve-se pesquisar os aspectos socioepidemiológicos, os antecedentes familiares, os antecedentes pessoais gerais, ginecológicos e obstétricos, além da situação da gravidez atual. Os principais componentes são: data precisa da última menstruação;  regularidade dos ciclos;  uso de anticoncepcionais; paridade; intercorrências clinicas, obstétricas e cirúrgicas;  detalhes de gestações previas; hospitalizações anteriores; uso de medicações; história previa de DST;  exposição ambiental ou ocupacional de risco; reações alérgicas; história pessoal ou familiar de doenças hereditárias/malformações; atividade sexual; uso de tabaco, álcool ou outras drogas lícitas ou ilícitas; história infecciosa prévia; vacinações prévias; história de violências.

São indispensáveis os seguintes procedimentos: avaliação nutricional (peso e cálculo do IMC), medida da pressão arterial, palpação abdominal e percepção dinâmica, medida da altura uterina, ausculta dos batimentos cardiofetais, registro dos movimentos fetais, realização do teste de estimulo sonoro simplificado, verificação da presença de edema, exame ginecológico e coleta de material para colpocitologia oncótica, exame clínico das mamas e toque vaginal de acordo com as necessidades de cada mulher e com a idade gestacional.

No exame físico, os mais importantes componentes que precisam ser incluídos na primeira visita pré-natal são os seguintes: peso, altura, pressão arterial, avaliação de mucosas, da tireoide, das mamas, dos pulmões, do coração, do abdome e das extremidades.

No exame ginecológico/obstétrico, deve-se avaliar a genitália externa, a vagina, o colo uterino e, no toque bi digital, o útero e os anexos. Após a 12a semana, deve-se medir a altura do fundo uterino no abdome. A ausculta fetal será́ possível após a 10-12 semana, com o sonar-doppler.

Nas visitas subsequentes, torna-se obrigatório medir a altura uterina, pesar a paciente, mensurar a pressão arterial, verificar a presença de anemia de mucosas, a existência de edemas e auscultar os batimentos cardíacos fetais. Deve-se avaliar o mamilo para lactação. A definição da apresentação fetal deverá ser determinada por volta da 36ª semana.

Na pesquisa de sintomas relacionados à gravidez também deverá ser questionada a existência de náuseas, vômitos, dor abdominal, constipação, cefaleia, síncope, sangramento ou corrimento vaginal, disúria, polaciúria e edemas.

As anotações deverão ser realizadas tanto no prontuário da unidade (Ficha Clínica de Pré- Natal) quanto no Cartão da Gestante. Em cada consulta, o risco obstétrico e perinatal deve ser reavaliado.

Exames por período gestacional:

fds

Ultrassonografia obstétrica: é um recurso útil na assistência pré-natal, mas as decisões terapêuticas devem ser baseadas no raciocínio clínico.

Caso a gestante inicie o pré-natal precocemente, o primeiro ultrassom pode ser realizado entre 10-13 semanas para avaliação de translucência nucal, como rastreamento para cromossomopatias. O segundo exame, ou na eventualidade de que apenas um seja factível ou esteja disponível, deve ser realizado entre 20-24 semanas, pois nessa época a biometria fetal indica com relativa precisão a idade gestacional e possibilita avaliação morfológica fetal. Ultrassonografias adicionais devem ser solicitadas, dependendo da suspeita clínica.

Referência Bibliográfica: Manual Técnico do Pré-Natal e Puerpério; Atenção a Gestante e a Púerpera no SUS-SP; Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – 2010

4. Relacionar as medidas obstétricas realizadas clinicamente com a avaliação do crescimento e vitalidade fetal. Falar do ácido fólico e do uso de vitaminas.

ÁCIDO FÓLICO

  A formação e o fechamento do tubo neural ocorrem entre os dias 17 e 30 após a concepção, ou seja, de quatro a seis semanas após o primeiro dia do último período menstrual. Durante esse tempo crítico da gravidez, a medula espinal, o encéfalo, os ossos e a pele que circunda essas estruturas tem seu desenvolvimento embriológico. Um defeito do tubo neural ocorre quando o tubo neural não se fecha corretamente.

  Defeito aberto do tubo neural (DATN) é a segunda anomalia congênita mais prevalente nos Estados Unidos, perdendo apenas para malformações cardíacas, e está associado com significativa morbidade e mortalidade. O DATN inclui anencefalia, espinha bífida aberta (mielomeningocele) e a encefalocele.

  A anencefalia é um defeito caracterizado pela ausência da calota craniana e da pele que a recobre, de tal modo que o tubo neural da porção craniana é exposto e há degeneração secundária do encéfalo. Esse grave defeito é incompatível com a vida extrauterina, fazendo com que a maioria dos óbitos ocorra no útero ou poucas horas após o parto. A encefalocele é um defeito craniano que geralmente ocorre na região occipital, com herniação cística preenchida por líquido ou tecido cerebral. A espinha bífida aberta (mielodisplasia ou mielomeningocele) caracteriza-se pela ausência do arco neural e da pele que o recobre, com lesão secundária dos nervos expostos.

  O ácido fólico é uma vitamina hidrossolúvel pertencente ao complexo B, também conhecido como vitamina B9 ou vitamina M. O folato é a forma natural encontrada nos alimentos. Apresenta papel fundamental no processo de multiplicação celular, na formação de proteínas estruturais e hemoglobina. O ácido fólico é utilizado como suplemento nutricional e na fortificação de alimentos, podendo ser transportado através de membranas. Atua como coenzima no metabolismo de aminoácidos, na síntese de purinas e pirimidinas e dos ácidos nucleicos (DNA e RNA), sendo vital para a divisão celular e síntese proteica.

   A deficiência de folato pode impedir a renovação celular adequada durante um momento crítico no fechamento do tubo neural, resultando assim na sua formação incompleta. Várias evidências apoiam a hipótese da relação entre a deficiência de ácido fólico e DATN:

  • O efeito do ácido fólico sobre a redução da incidência de ocorrência ou da recorrência de DATN tem sido confirmado em vários ensaios clínicos controlados.
  • A administração de antagonistas do ácido fólico aumenta o risco de DATN.
  • As concentrações de folato sérico e células vermelhas do sangue são mais baixas em mulheres que geram crianças com DATN do que nas demais.
  • O ácido fólico desempenha um papel importante na estabilidade genômica, evitando rotura cromossômica e hipometilação de DNA.

   A deficiência de ácido fólico pode determinar o acúmulo sérico de homocisteína, podendo associar-se à síndrome hipertensiva da gestação, ao descolamento prematuro de placenta, a abortamentos espontâneos de repetição, a partos prematuros, ao baixo peso ao nascer, à restrição de crescimento fetal, a algumas doenças crônicas cardiovasculares, cerebrovasculares, demência e depressão. Há evidências de que a ingestão de ácido fólico possa diminuir o risco de cânceres infantis. Recentemente, alguns autores demonstraram que a utilização de ácido fólico pode associar-se com a diminuição de partos prematuros, constatando que após a adição compulsória de ácido fólico na farinha de trigo houve discreta redução nas taxas de recém-nascidos de baixo peso e prematuros, especialmente os pré-termos extremos.

Qual a dosagem ideal recomendada para a suplementação de ácido fólico?  Em 1992, o Serviço de Saúde Pública Americano recomendou que todas as mulheres em idade fértil consumissem 400 µg (0,4 miligrama) de ácido fólico sintético todos os dias para reduzir o risco de gravidez afetada por DATN. Caso houvesse antecedente de DATN ou diante de fatores de risco, a recomendação era aumentar a dosagem em 10 vezes, ou seja, 4.000 µg (4 miligramas) de ácido fólico sintético, começando 30 dias antes da concepção e continuando durante os primeiros três meses da gravidez.

Riscos: O ácido fólico, na dosagem recomendada, é seguro e não parece causar danos demonstráveis para o desenvolvimento fetal durante a gestação nem para as gestantes. Todavia, com o aumento da ingestão e da concentração sanguínea de folato na população geral, os possíveis efeitos da alta ingestão de folato estão se tornando uma importante questão de saúde pública. Os efeitos adversos de doses altas não são claramente demonstrados na literatura, mas parece haver um risco potencial da suplementação com ácido fólico em mascarar a deficiência de vitamina B12, condição que é rara em mulheres em idade reprodutiva. Outros riscos teóricos incluem interações medicamentosas, reações alérgicas e efeitos cancerígenos.

NUTRIENTES

  • Calorias: No primeiro trimestre não há necessidade de aumento dessa ingesta. As recomendações de aumento de calorias ingeridas no segundo e no terceiro trimestres são de 340 kcal/dia e 452 kcal/dia, respectivamente.
  • Proteínas: Há recomendação de aumento de ingesta proteica de 0,8 g/kg/dia, em não grávidas adultas, para 1,1 g/kg/dia nas gestantes, uma vez que a unidade feto-placentária consome aproximadamente 1 kg de proteínas durante a gestação.
  • Carboidratos: A recomendação diária de consumo de carboidratos aumenta de 130 g/dia para 175 g/dia na gestação, em função das necessidades fetais e da passagem de glicose do compartimento materno para o fetal por difusão facilitada.
  • Lipídios: A ingesta de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa tem mostrado efeitos benéficos no desenvolvimento neurológico e ocular dos recém-nascidos, devendo ser usada no último trimestre da gravidez, sob a forma de alimentação baseada em peixes oleaginosos, com baixa contaminação mercurial ou mesmo comprimidos, contendo DHA. Dois são os principais ácidos graxos: o DHA (ômega 3) e o EPA (ômega 6). Os estudos mostram que o DHA, principal ácido graxo, deve ser consumido na dose de 200 mg/dia, nos últimos meses de gravidez, o que equivale a duas porções semanais de peixes como salmão, atum, albacora ou camarão
  • Ferro: É recomendado um aumento no consumo diário de ferro de 15 mg/dia para 30 mg/dia na gravidez. Revisões sistemáticas têm demonstrado que a suplementação de ferro reduz em 70% o risco de anemia materna na gestação a termo.
  • Ácido fólico (Vitamina B9): O fechamento do tubo neural se dá ao redor da 6ª semana de gestação, e existem evidências de que o ácido fólico é essencial na prevenção dos defeitos de fechamento de tubo neural (DTN), como espinha bífida ou meningomielocele. Na população de baixo risco recomenda-se a dose diária de 0,4 a 0,8 mg de ácido fólico. Nas populações de alto risco para DTN, a dose é de 5 mg/dia. Seu uso deve ser iniciado um mês antes da gravidez e continuado até a 12ª semana gestacional.
  • Cálcio: A formação do esqueleto fetal necessita de 30 g de cálcio durante a gravidez, quantidade facilmente mobilizável do compartimento materno. Durante a gravidez, há um aumento na absorção do cálcio, o que contribui para seu acúmulo. Estudos observacionais apontaram para a diminuição na incidência da pré-eclâmpsia com a suplementação de cálcio em áreas de baixa ingesta, no entanto, outros estudos não evidenciaram os mesmos efeitos em mulheres saudáveis e bem nutridas. Assim, hoje não há indicação de suplementação universal de cálcio.
  • Vitamina A: A vitamina A é lipossolúvel e importante para o desenvolvimento embrionário. Sua ausência/ deficiência está relacionada a abortamento, microcefalia, distúrbios oculares e da visão fetal. A dose diária recomendada é de 2700 ui. Seu suplemento diário, em doses menores que 10.000 ui, está relacionado à redução na anemia materna e à cegueira noturna. Doses diárias maiores que 10.000 ui podem ser teratogênicas, e o médico/nutricionista deve ter cuidado com polivitamínicos não balanceados para a gravidez.
  • Vitamina D: A necessidade diária de vitamina D é de 400 a 800 ui. O uso de vitamina D na gravidez é alvo de intensa investigação no momento; no entanto, ainda não ficou comprovada sua necessidade de uso universal e os trabalhos não mostraram redução na taxa de pré-eclâmpsia, morte fetal intraútero ou morte neonatal.
  • Polivitamínicos: o CDC e o Instituto de Medicina Americano recomendam o uso de polivitamínicos para mulheres que não têm uma dieta adequada. São consideradas de risco para tal situação pacientes com gestação gemelar, usuárias de drogas, tabagistas, vegetarianas estritas e aquelas com deficiência de lactase. Para as pacientes com nutrição adequada, não existem evidências da necessidade universal do uso de tais medicações.

Referências Bibliográficas:

  • Guia Prático de Condutas – Recomendação sobre a Suplementação Periconcepcional de Ácido Fólico na Prevenção de Defeitos de Fechamento do Tubo Neural (ANENCEFALIA E OUTROS DEFEITOS ABERTOS DO TUBO NEURAL) – FEBRASGO.
  • Manual de assistência pré-natal / Sérgio Peixoto. – 2a. Ed. – São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2014.
5. Discutir políticas públicas referentes à gravidez.

  O planejamento feito pela Prefeitura deixa as mulheres muito tranquilas para terem seus filhos na cidade. Na cidade, os projetos desenvolvidos pelo Governo Municipal são destinados às mulheres que querem engravidar e até os primeiros meses de vida do bebê.

  No Progesta 12, a Prefeitura de São Caetano do Sul oferece orientações preventivas às mulheres que pretendem engravidar, num conceito de gravidez de 12 meses. As moradoras que planejam ter filho são beneficiadas, três meses antes da previsão da concepção, com um conjunto de ações como suporte nutricional (suplemento e vitaminas), realização de exames, recebimento de medicamentos e orientações físicas. Tudo para garantir um início de gestação saudável, aumentando a expectativa de uma gravidez tranquila e sem sobressaltos.

  Já as gestantes de São Caetano do Sul têm à disposição uma competente rede de Unidades Básicas de Saúde (UBSs) prontas aos atendimentos de rotina, além do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) e da Casa da Gestante (esse equipamento público atende uma média de 300 mulheres por mês) – as mulheres com gestação de alto risco fazem o acompanhamento no (CAISM), enquanto os casos comuns são encaminhados às UBSs. Quando algum problema ocorre, as moradoras e os bebês têm à disposição leitos públicos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nos módulos neonatal, pediátrico e adulto. Ações que também contribuem para a pequena mortalidade no município são o aumento da cobertura vacinal; as visitas domiciliares dos profissionais de Saúde do Programa Saúde da Família (PSF); o programa Bebê Cidadão, com atendimento de um pediatra na residência da gestante sempre no período entre a saída da mamãe da maternidade e a primeira consulta agendada na rede; a promoção da Semana de Amamentação, iniciativa para orientar enfermeiros, agentes de saúde, pediatras e obstetras para os benefícios da prática; o Disque Amamentação; o Mãe Canguru; o Curso de Gestantes; e o Programa Juventude Precavida.

  O Curso de Gestantes foi implantado em 2013 e consiste em palestras que são divididas em dois módulos, onde visam desenvolver capacidades naturais e instintivas da mulher, além de fortalecer o vínculo e participação dos pais no processo de gestação, parto, pós-parto e início da vida do bebê. No 1º módulo, os profissionais do grupo multidisciplinar abordam os temas Nutrição da gestante e do lactante, pré-natal de alto risco, Saúde bucal na gestação, Importância da atividade física na gestação, Aspectos psicológicos da gestação e pós-parto e Puerpério. Já no 2º, pré-natal de baixo risco, o parto, atendimento do recém-nascido na sala de parto e triagem neonatal, a alimentação nos 1.000 dias, cuidados com o bebê, amamentação e Planejamento familiar. Na oportunidade, também foram distribuídos enxovais em parceria com o Fundo Social de Solidariedade.

Ref. Bib.: Governo do Estado de São Paulo; São Caetano do Sul, Saúde. – 2010. Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul –

 

 

 

 

Saúde da Mulher – Problema 2: “Se falar qualquer coisa, se mete em tudo; se não falar nada, é omisso… “

Questões
  1. Explicar o ciclo menstrual a partir da menarca.
  2. Caracterizar o climatério, relacionando as modificações hormonais do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano ocorridas nesta fase.
  3. Caracterizar tensão pré-menstrual, suas causas e tratamento.
  4. Descrever o diagnóstico e o tratamento da mulher no climatério, caracterizando os principais distúrbios relacionados a ele, bem como as indicações e contraindicações da reposição hormonal.
  5. Identificar os critérios de avaliação clínica da mulher do climatério (índice de Kupperman).
  6. Caracterizar a microbiota vaginal
  7. Definir vulvovaginites, epidemiologia e as formas de transmissão.
  8. Enumerar exames complementares e tratamento das principais vulvovaginites.
  9. Refletir a respeito da resistência ao tratamento pelo casal.
  10. Definir DST, os dados epidemiológicos destas doenças e descrever as mais prevalentes.
  11. Enumerar os programas no âmbito de saúde pública voltados para as DST
  12. Caracterizar a fisiopatologia da clamídia.
  13. Caracterizar a fisiopatologia da sífilis.
  14. Caracterizar a fisiopatologia da gonorreia.
Respostas
  1. Explicar o ciclo menstrual a partir da menarca.
  • Eixo hipotálamo-hipófise-ovário

  No início do ciclo menstrual começa a ocorrer a secreção de um hormônio de liberação pelo hipotálamo, o chamado Hormônio Liberador de Gonadotrofina (GnRh). Este hormônio vai cair na circulação porta-hipofisária, chegando a adenohipófise, onde vai estimulá-la a secretar dois hormônios sexuais, o Hormônio Foliculoestimulante (FSH) e o Hormônio Luteinizante (LH). Os hormônios ovarianos – estrogênio e progesterona – são secretados pelos ovários em resposta aos dois hormônios da adenohipófise, o LH o FSH.

  Antes da puberdade, a secreção de GnRH é contínua e não consegue despertar a secreção de gonadotrofinas pela hipófise. Na puberdade, por maturação do sistema límbico, a secreção de GnRH torna-se pulsátil, restringindo-se, primeiro, à fase REM do sono e generalizando-se, depois, ao sono não-REM e finalmente às 24 horas. A liberação de GnRH é modulada por influências inibitórias (dopaminérgicas, endorfinérgicas) e excitatórias (noradrenergicas).

  A secreção de LH e FSH é regulada pelos produtos de secreção ovárica e rege-se por um mecanismo de feedback negativo, isto é, um aumento dos esteroides ováricos suprime a libertação de gonadotrofinas.

  • O 17-B-estradiol (E2) é o estrogênio produzido pelas células da granulosa, que inibe a secreção de LH.
  • A secreção de FSH é também inibida pelo estradiol, que bloqueia a resposta dos gonadotropos produtores de FSH. Todavia, o feedback negativo da produção de FSH é efetuado pela inibina, produzida pelo corpo amarelo (inibina A) e pelas células da granulosa (inibina B). Esta glicoproteína inibe a síntese da subunidade B da FSH e a secreção de GnRH.
  • A progesterona regula a liberação de LH. A administração de progesterona aumenta as concentrações plasmáticas de LH. Este hormônio pode amplificar ou atenuar o efeito de feedback positivo do estradiol, dependendo do momento da administração. Continuamente, tem um efeito inibidor sobre a secreção de gonadotrofinas.
  • A secreção e síntese de FSH é estimulada pela ativina. A ativina é sintetizada pelas células da hipófise. A prolactina também inibe a liberação de GnRH, diminuindo a secreção basal de LH e FSH. Finalmente, a LH pode inibir a secreção de GnRH, através da denominada via curta de retrocontrole.Fisiologia ovariana

A produção hormonal ovariana é dependente de duas estruturas distintas:

  • O folículo, que sintetiza estrogênios a partir de androgênios (testosterona e androstenediona), na fase pré-ovulatória.
  • O corpo lúteo que fabrica estrogênios e progesterona a partir do colesterol.

   Portanto, para o correto funcionamento é indispensável a adequada maturação do folículo que resulte em ovulação e consequente formação do corpo lúteo.

   Os hormônios ovarianos têm a sua principal atuação no trato genital e nas mamas:

  • Estrogênios propiciam o desenvolvimento das estruturas uterinas, da vagina, da vulva e dos ductos mamários.
  • Progesterona exerce uma ação trófica nos alvéolos mamários e estimulam as alterações secretórias do endométrio, indispensáveis à implantação do ovo, além de inibir a contratilidade uterina, ação necessária à manutenção da integridade gestacional.

  Quando a gravidez não acontece, os níveis de estrogênios e de progesterona caem, devido à atresia do corpo lúteo, ocasionando a perda menstrual. A regulação do ciclo ovariano depende da interação entre os diferentes níveis de estímulo e controle da produção das gonadotrofinas e dos esteroides:

  • O FSH propicia a maturação folicular e a produção de estradiol e receptores de LH no folículo.
  • O LH desencadeia a ovulação e estimula a síntese de precursores androgênicos pelas células tecais e de progesterona e estradiol pelo corpo lúteo.
  • A prolactina (PRL) é produzida pela hipófise em quantidade controlada pela dopamina sintetizada no cérebro e, em níveis fisiológicos, estimula a mama e a lactação, a síntese de esteroides pelo corpo lúteo e de testosterona pelo testículo. Quando aumentada, atua negativamente no retrocontrole de alça curta, na maturação do folículo e na fabricação de hormônios no corpo lúteo.

Ovogênese

    Os folículos ovarianos são formados a partir da interação entre as células germinativas que alcançam a crista gonadal e as células somáticas da crista. A velocidade de consumo folicular, modulada por mecanismos endócrinos não é a mesma nos diferentes períodos da vida.

  A mulher nasce com um número determinado de folículos nos dois ovários, diminuindo gradualmente este número por oclusão e/ou recrutamento para ovulação. Dos cerca de 6-7 milhões de folículos existentes em cada ovário na 20ª semana de vida intrauterina, o feto feminino nasce com 1 a 2 milhões. Do nascimento à puberdade, a velocidade de consumo folicular é atenuada a 300-500 folículos/dia, permitindo que a mulher inicie sua vida reprodutiva com uma população de 300.000-500.000 folículos. Nos anos reprodutivos, a mulher consome cerca de 1.000 folículos a cada ciclo ou 30 folículos diariamente. De modo que numa mulher de 50 anos, com ciclos menstruais ainda regulares, cada ovário contém entre 2.500-4.000 folículos residuais já insensíveis às gonadotrofinas.

  A função ovariana basal é contínua e os ovários têm sua própria atividade e regulação local. Nos anos reprodutivos, a resposta ovariana aos pulsos de LH e FSH ocorre de maneira variável em ciclos de aproximadamente 28 dias. Logo, hipotálamo e hipófise, via modificações nos níveis de LH e FSH, controlam e modulam apenas a etapa final do crescimento folicular. À medida que diminui a reserva folicular, os níveis basais de FSH se elevam. Os níveis basais de LH, relevantes na fase folicular tardia, permanecem mais estáveis e elevam-se tardiamente na vida reprodutiva, já no período pré-menopausa.

Formação dos folículos ovarianos

  A formação de folículos ováricos inicia-se, no ovário fetal, pelas 12-16 semanas de gestação. Quando o ovócito entra na meiose, é rodeado por uma camada de células do estroma ovárico, constituindo-se o folículo primordial. Pelas 20-30 semanas, estas células fusiformes transformam-se em células cuboides (já chamadas células da granulosa) e o folículo passa a designar-se por folículo primário. As células da granulosa dividem-se e criam o folículo secundário. Segregam mucopolissacarídeos que constituem um halo protetor do ovócito – a zona pelúcida. O folículo secundário continua a crescer. Nesta altura, ocorrem 2 outros fenômenos:

  • É recrutada mais uma camada de células do interstício, que se diferenciam e constituem a teca interna e a teca externa.
  • As células da granulosa segregam um líquido folicular que se acumula em vesículas (folículo vesicular). O líquido vesicular possui mucopolissacarídeos, eletrólitos, glicosaminoglicanos, hormonas esteroides, oxitocina, ativina, inibina, FSH, LH, vasopressina e proteínas do plasma.

  Um destes folículos vai prosseguir o seu desenvolvimento e, neste, o líquido das vesículas soma-se a uma área central, o antro – é o folículo maduro, folículo antral ou folículo de Graaf.

  À medida que o folículo se desenvolve, o ovócito primário completa a primeira divisão da meiose, de que resultam o ovócito secundário e o primeiro corpo polar, que se fragmenta e acaba por desaparecer. O ovócito secundário inicia, depois, a segunda divisão meiótica, que é interrompida, por ação de um fator inibidor da meiose (inibina), em metáfase II, completando-se apenas se ocorrer fertilização.

  O ovócito secundário está contido num folículo de Graaf. As células da granulosa deste folículo formam um anel à volta do ovócito e um pedículo que o suporta. O anel designa-se por corona radiata e o pedículo é o cumulus oophorus. Entre o ovócito e a corona radiata mantém-se a zona pelúcida que vai funcionar como barreira à penetração dos espermatozoides.

Ovulação

Na fase pré-menstrual, em decorrência do aumento do GnRH, taxas de FSH iniciam o recrutamento dos folículos primordiais, que se desenvolverão no próximo ciclo, um dos quais alcançará o estágio ovulatório, chamado de folículo dominante.

  • Concentrações de inibina B são máximas nesta fase. Há também um rápido aumento da liberação de GnRH.
  • Os folículos em crescimento, muitos dos quais atingem o estágio antral, aceleram a síntese de estrogênios que auxiliam o FSH na fabricação de seus próprios receptores.
  • Estradiol elevado, atuando em conjugação com inibina A, deprime as concentrações de FSH e de LH, assim como a amplitude dos pulsos de LH. O LH ativa a síntese de androgênios na teca e inicia a luteinização e a produção de progesterona na camada granulosa.
  • Ao mesmo tempo o gerador hipotalâmico acelera a liberação de GnRH, provavelmente devido à retroalimentação negativa da progesterona remanescente do ciclo anterior.
  • Na pré-ovulação, os níveis de estradiol e inibina A aumentam diariamente, causando a diminuição das concentrações de FSH e LH pelo mecanismo de feedback negativo. O folículo dominante cresce, enquanto os demais param de crescer e sofrem atresia. Os níveis de androgênios locais e periféricos, provenientes dos folículos em crescimento, aumentam.
  • Nesta fase, a frequência de liberação de LH continua em torno de um por hora. A concentração de estradiol se eleva continuamente até atingir um pico no dia anterior à ovulação, quando detona a “onda” de LH, que aumenta cerca de 10 vezes. Outros fatores ovarianos parecem contribuir para o pico de LH. Elevação pré-ovulatória de progesterona facilita a ação de feedback positivo dos estrogênios e induz FSH máximo no meio do ciclo.
  • O surto de LH induz o término da divisão de redução do oócito contido no folículo dominante e condiciona a fabricação de citocinas envolvidas na ovulação. Prossegue a luteinização da granulosa e a produção de progesterona e de prostaglandinas.
  • Elevação de FSH libera o oócito das fixações foliculares e assegura a produção de receptores de LH necessários para assegurar uma fase lútea adequada.
  • A ruptura do folículo acontece 36 horas após os surtos de LH. A ovulação é seguida da queda nas taxas de estradiol, pela perda do grande promotor da sua produção, o folículo dominante.

Imediatamente após a ovulação as células da granulosa aumentam de tamanho e são transformadas em células lúteas, que produzem estradiol e progesterona.

Esses esteroides controlam a sua própria produção por um sistema regulatório intraovariano e pela interação com o hipotálamo e a hipófise, através da retroação de alça longa.

  • Estradiol e progesterona voltam a crescer com o aumento da secreção do corpo lúteo, situação que se mantém até a regressão da estrutura, caso a fecundação não ocorra. Inibina A também é produzida pelo corpo lúteo e sua concentração sérica máxima é encontrada na fase lútea média.
  • Progesterona atinge taxas máximas cerca de oito dias após a ovulação e, além das ações sistêmicas, age no próprio ovário, impedindo o crescimento de novos folículos. Progesterona sinaliza o gerador hipotalâmico a diminuir a frequência dos pulsos de LH.
  • Queda gradativa da secreção de LH resulta na diminuição da produção de estradiol e progesterona pelo corpo lúteo na ausência de gestação. A involução do corpo lúteo completa-se em torno de 14 dias depois da ovulação, quando a menstruação ocorre.
  • A baixa de estradiol e progesterona libera o eixo do feedback negativo e a liberação de FSH estimula a síntese de estradiol antes mesmo do início da menstruação.

Ciclo menstrual

  Em condições normais, em um ciclo ovulatório, o endométrio é estimulado em sequência pelo estradiol e pela progesterona secretados no ovário.

O ciclo ovárico divide-se, fisiologicamente, em 3 fases sequenciais:

  • Fase folicular: que se inicia com o sangramento menstrual e se prolonga por, geralmente, 15 dias. Esta fase termina no dia do pico de LH, sob a influência do estradiol e dos fatores de crescimento; o endométrio se regenera de forma bastante rápida, atingindo a espessura máxima em torno da ovulação. É a fase proliferativa, caracterizada por divisão celular intensa, pelo crescimento e aumento de calibre dos vasos e das glândulas. Nela ocorre uma extensa formação de receptores de progesterona, indispensável para a atuação desse hormônio na fase seguinte.
  • Fase ovulatória: com 1 a 3 dias de duração, culminando na ovulação. Ocorre de 12 a 24 horas após o pico de LH.
  • Fase lútea: com uma duração mais constante de, aproximadamente, 13 dias, terminando com o início da hemorragia menstrual. Na fase inicial, após a ovulação, o corpo lúteo produz quantidades cada vez maiores de progesterona e estrogênio. A combinação de estrogênio e progesterona exerce uma retroalimentação negativa no hipotálamo e na adenohipófise. A secreção de gonadotrofinas ainda mais suprimida pela produção de inibina lútea permanece diminuída ao longo da maior parte da fase lútea. Na fase lútea tardia, o decréscimo da síntese de estradiol e de progesterona resulta na compactação da mucosa, na diminuição acentuada da vascularização e início da desagregação endometrial, que prossegue até o início do fluxo menstrual.

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Diferenças nos períodos de vida

  • Período fértil: ovulação, formação do corpo lúteo, secreção de inibina, estrogênio e progesterona. Feedback negativo de FSH e LH.
  • Climatério: insuficiência do corpo lúteo, amenorreia, anovulação temporária ou definitiva. Redução até o quase total desaparecimento da progesterona, do estradiol e da inibina, decorrentes da falência folicular, redução das células secretoras e diminuição dos receptores de gonadotrofinas. Para compensar essas mudanças, há aumento da secreção de androstenediona, pelo estroma do ovário e pelas suprarrenais, que irá sofrer conversão periférica para estrogênios. Elevação progressiva das gonadotrofinas, com aumento de FSH e LH.

Referências Bibliográficas:

  • FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA. Climatério: Manual de Orientação. 2010.
  • Fisiologia do Sistema Reprodutor Feminino, FORTUNATO, JM Soares, Dr; Universidade Federal Fluminense.
  • FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA. Manual de Ginecologia Endócrina. 2015.
2. Caracterizar o climatério, relacionando as modificações hormonais do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano ocorridas nesta fase.

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   A menopausa é a última menstruação da mulher. Segundo a OMS, o climatério corresponde ao período de vida da mulher compreendido entre o final da fase reprodutora até a senilidade. Em geral, varia dos 40 aos 65 anos. Nesse período ocorre a menopausa definida como a interrupção permanente da menstruação e reconhecida após 12 meses consecutivos de amenorreia. No climatério observa-se diminuição da fertilidade e, progressivamente, declínio da produção de estradiol pelo ovário, embora mantenha certo equilíbrio hormonal pela maior produção de androgênios e sua conversão periférica em estrogênio. A menopausa precoce ocorre quando se estabelece antes dos 40 anos de idade, e tardia após os 55 anos. A menopausa, a interrupção permanente da menstruação, ocorre, em média, aos 51 anos de idade.

     Existem duas teorias principais para a ocorrência da menopausa. A primeira acredita que a atrofia dos folículos ovarianos relacionada à idade pode levar a uma produção diminuída de estrogênio e assim alterar o feedback hipotalâmico-hipofisário. A segunda acredita que as alterações na produção hipotalâmica de hormônio liberador de gonadotrofinas relacionadas à idade e os seus efeitos subsequentes sobre o FSH e o LH podem ser responsáveis pelo aumento da taxa de perda dos folículos ovarianos.

Durante o climatério observa-se redução acentuada das células germinativas e unidades foliculares, condição que evolui para o desaparecimento completo dos folículos, determinando a esterilidade definitiva. Dessa forma, a camada cortical e os vasos ovarianos sofrem atrofia progressiva, ao passo que o estroma hipertrofia em resposta ao estímulo gonadotrófico. A diminuição dos folículos ovarianos leva ao declínio progressivo dos estrógenos e da inibina. Por mecanismo de retroação, observa-se elevação progressiva das gonadotrofinas FSH e LH, na tentativa de manter a foliculogênese. Estas, atuando sobre o estroma do ovário, fazem com que haja maior produção de androgênios (testosterona e androstenediona). Esses androgênios, juntamente com os produzidos pelas adrenais nos tecidos periféricos, através da aromatase são convertidos em estrona, principal hormônio da mulher no climatério.

 É no período do climatério que se verifica redução progressiva importante das dimensões dos ovários. Mulheres após a menopausa apresentam menor volume ovariano que na pré-menopausa, sugerindo que a alteração volumétrica seja principalmente relacionada com a redução da capacidade funcional.

Portanto, o ovário perde a capacidade de responder aos hormônios hipofisários, hormônio foliculoestimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH), o que faz cessar a produção ovariana de estrogênio e progesterona. O eixo ovariano-hipotalâmico-hipofisário mantém-se intacto durante a transição da menopausa; assim, os níveis de FSH aumentam em resposta à insuficiência ovariana e à ausência de feedback negativo do ovário. 

  • transição menopáusica é evidenciada por altos níveis de FSH associados à duração variável do ciclo e ausência da menstruação, enquanto o período pós-menopausa é indicado por amenorreia. Essa transição começa com a alteração do ciclo menstrual, acompanhada por níveis crescentes de FHS e termina com o último período menstrual.
  • Amenopausa é definida retrospectivamente como o último período menstrual seguido por 12 meses de amenorreia.
  • Após-menopausa é o período após a última menstruação.

Na época da menopausa, a mulher precisa reajustar sua vida de uma em que era fisiologicamente estimulada pela produção de estrogênio e progesterona para uma desprovida desses hormônios. A perda dos estrogênios geralmente causa mudanças fisiológicas acentuadas, incluindo “fogachos” caracterizados por rubor extremo da pele, sensações psíquicas de dispneia, irritabilidade, fadiga, ansiedade e diminuição da resistência e da calcificação dos ossos no corpo inteiro.

Os principais problemas de saúde na menopausa são sintomas vasomotores, atrofia urogenital, osteoporose, doença cardiovascular, câncer, declínio cognitivo e problemas sexuais. Além dos hormônios, existem agonistas/antagonistas do estrogênio, fármacos de ação central e bifosfonatos para tratar os problemas de saúde da menopausa. As mulheres têm solicitado mais informações sobre terapias complementares e alternativas, que estão sendo estudadas com mais rigor. As muitas opções disponíveis atualmente tornam mais desafiador e mais gratificante o tratamento das mulheres na menopausa.

Referências Bibliográficas:

  • GOLDMAN L., AUSIELLO D. Cecil: Medicina. 24ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. Vol I e II.
  • GUYTON, A.C., HALL, J.E Tratado De Fisiologia Médica 13. Ed. Rj . Guanabara Koogan, 2017.
  • BEREK, J. & NOVAK. S. Tratado de Ginecologia. 15ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
3. Caracterizar tensão pré-menstrual, suas causas e tratamento.

  A TPM é uma síndrome comum em mulheres na fase reprodutiva, sendo caracterizada por sintomas físicos e emocionais que ocorrem de forma cíclica durante a fase lútea do ciclo menstrual, tem início geralmente entre 25 e 35 anos.

  Mulheres que apresentam sintomatologia mais severa são classificadas como portadoras de distúrbio disfórico pré-menstrual (DDPM). Em ambos os casos, os sintomas diminuem com o início do sangramento menstrual.

  • Sintomas Emocionais

Depressão, agressividade, irritabilidade, ansiedade, confusão mental e isolamento social.

  • Sintomas Físicos

Mastalgia, distensão abdominal, cefaleia e edema de extremidades.

  • Causas

  Diversas teorias têm sido propostas para justificar a etiologia da SPM e do TDPM. Fatores hormonais, psicológicos e ambientais parecem estar envolvidos; no entanto, ainda não há conclusões precisas que justifiquem essa patologia.

  Uma das teorias para explicar o mecanismo fisiopatológico da síndrome pré-menstrual é a que os sistemas endócrino, reprodutor e serotoninérgico convergem para efetuar a regulação do comportamento.

  Assim como em outros transtornos do humor femininos, o papel dos hormônios sexuais tem importância central; entretanto, os estudos não confirmaram nenhuma correlação entre TDPM e excesso de estrógeno, déficit de progesterona, abstinência de estrógeno ou mudanças nas taxas de estrógeno/ progesterona.

  A oscilação normal nos níveis dos estrógenos e da progesterona, no ciclo menstrual, atua sobre a função serotoninérgica, em mulheres mais sensíveis, levando às manifestações da SPM. Os sintomas pré-menstruais ocorreriam como resultado de uma sensibilidade diferenciada para os efeitos dos esteroides gonadais sobre as flutuações de humor, sendo perturbadores nas mulheres com SPM e TDPM. É provável que a etiologia dessa “sensibilidade diferenciada” seja multifatorial e, em parte, geneticamente determinada.

  Embora o neurotransmissor específico ou a anomalia neuroendócrina em mulheres com TDPM não seja conhecida, a serotonina, noradrenalina, GABA, allopregnanolone (Allo, um metabólito da progesterona ansiolítico que age no receptor GABA), endorfinas e fatores envolvidos na homeostase de cálcio podem todos ser envolvidos.

  Evidências implicam a serotonina como um importante fator na etiopatogênese da SPM e do TDPM. Estudos têm demonstrado baixa significativa de serotonina total, em comparação com controles nos últimos dez dias do ciclo, e a exacerbação de sintomas quando ocorre depleção de triptofano.

  Os níveis livres de triptofano (aminoácido precursor da serotonina) mostraram alterações durante o ciclo menstrual correlacionadas com as concentrações plasmáticas de estrogênio. Várias anormalidades no sistema serotoninérgico podem ser observadas em mulheres com SPM e TDPM. Estas incluem níveis séricos anormais de serotonina total, serotonina plaquetária e captação plaquetária; resposta anormal para precursores serotoninérgicos e exacerbação de sintomas pré-menstruais ou após depleção da metergoline e triptofano.

  Causas ambientais podem também estar relacionadas à TPM. Entre elas, ressalta-se o papel da dieta. Alguns alimentos parecem ter importante implicação no desenvolvimento dos sintomas, como chocolate, cafeína, sucos de frutas e álcool. As deficiências de vitamina B6 e de magnésio são consideradas. Porém, até o momento, o papel desses nutrientes na causa ou no tratamento não foi confirmado.

  • Síndrome pré-menstrual

  É um distúrbio altamente prevalente entre as mulheres em idade fértil; chamada mais frequentemente de TPM e são os sintomas citados acima e é diagnosticado quando eles estão presentes em pelo menos cinco dias que antecedem a menstruação e também por pelo menos dois a três ciclos consecutivos. Os sintomas são de leve a moderada intensidade.

  • Distúrbio disfórico pré-menstrual

  É a forma severa da TPM. Caracterizada por sintomas físicos e comportamentais mais graves causando importante alteração na vida social das mulheres portadoras.

Acredita-se que os sintomas são resultantes da interação entre os neurotransmissores do sistema nervoso central e os hormônios normalmente produzidos durante o ciclo menstrual.

Para ser diagnosticada com esse distúrbio, a mulher deve apresentar pelo menos cinco desses sintomas:

  • Depressão importante associada a desilusão ou falta de solução para a sua dor, tensão e ansiedade em excesso, importante labilidade emocional, irritabilidade e raiva, diminuição do interesse em atividades do dia-a-dia ou isolamento social, falta de energia, mudança de apetite, sensação da perda do controle, dificuldade de concentração e sintomas somáticos (distensão abdominal, mastalgia, cefaleia ou dores na articulação).

Tratamento

Inicialmente, o tratamento é não medicamentoso por um período de dois a três meses. Se não houver melhora ou nas pacientes que se encontram na DDPM, inicia-se a terapia medicamentosa.

  • Inibidores seletivos da receptação de serotonina – é antidepressivo e ansiolítico
  • Ansiolíticos
  • Análogo do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH)
  • Danazol
  • Bromocriptina
  • Espirolactona
  • Estrogênio
  • Progesterona
  • Anticoncepcionais orais combinados
  • Suplementos e vitaminas: cálcio, magnésio, vitamina B6 e fitoterápicos.
  • Exercícios aeróbicos e atividades de relaxamento podem melhorar os sintomas mais leves.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

4. Descrever o diagnóstico e o tratamento da mulher no climatério, caracterizando os principais distúrbios relacionados a ele, bem como as indicações e contraindicações da reposição hormonal.

    No período do climatério ocorrem alterações na fisiologia da mulher, caracterizadas por alterações hormonais, modificações funcionais, modificações morfológicas e outras alterações em sistemas hormoniodependentes.

Sintomas vasomotores

  Os sintomas vasomotores afetam até 75% das mulheres na perimenopausa; na maioria delas, persistem por 1 a 2 anos após a menopausa, mas em outras podem continuar por 10 anos ou mais.  As manifestações neurogênicas compreendem os sintomas mais comuns da síndrome do climatério, isto é, ondas de calor, sudorese, calafrios, palpitações, cefaleia, tonturas, parestesia, insônia, perda da memória e fadiga. Um processo central, provavelmente iniciado no hipotálamo, aumenta a temperatura corporal central, a taxa metabólica e a temperatura cutânea; essa reação causa vasodilatação periférica e sudorese em algumas mulheres. Os sintomas vasomotores são consequência da supressão do estrogênio, e não da simples deficiência de estrogênio.

  • Tratamento: A terapia sistêmica com estrogênio é o tratamento mais eficaz dos sintomas vasomotores. Embora as doses convencionais geralmente sejam eficazes, as mulheres jovens e aquelas submetidas à ooforectomia (ablação de 1 ou 2 ovários) recente podem necessitar de doses maiores. As mulheres saudáveis e não fumantes em transição perimenopausa que apresentam fogachos, mas ainda menstruam, podem ser beneficiadas por contraceptivos orais. As doses suprafisiológicas de estrogênios e progestágenos contidas em contraceptivos orais tratam eficazmente os sintomas vasomotores e controlam o ciclo. Estrogênios conjugados orais em baixas doses, estradiol oral e estradiol transdérmico costumam ser eficazes e estão associados a um grau mínimo de efeitos colaterais. A administração concomitante de progestágeno é necessária nas mulheres não submetidas à histerectomia.
  • A terapia hormonal deve ser usada na menor dose efetiva durante o menor tempo possível para alcançar seus objetivos.
  • Como os sintomas vasomotores parecem resultar da supressão do estrogênio, a dose deve ser reduzida aos poucos quando se deseja interromper a terapia com estrogênio. A suspensão abrupta do tratamento pode levar ao reaparecimento dos sintomas.

Atrofia urogenital

   A atrofia urogenital causa ressecamento e prurido vaginal, dispareunia, disúria e urgência urinária. Esses problemas são comuns em mulheres na menopausa e respondem bem ao tratamento. 

  • Tratamento: A aplicação vaginal de baixas doses de estrogênio é preferível quando não há sintomas vasomotores. Baixas doses de estrogênio em creme são eficazes quando usadas apenas 1 ou 2 vezes/semana. O comprimido vaginal de estradiol é mais fácil de usar que o creme. Um anel vaginal com estrogênio é outra formulação conveniente; é inserido na vagina a cada 3 meses e libera lentamente uma baixa dose de estradiol. Os lubrificantes vaginais não hormonais aumentam o conforto durante a relação sexual. A terapia vaginal com estrogênio parece reduzir os sintomas urinários, como polaciúria e urgência, bem como a probabilidade de infecções urinárias recorrentes na pós-menopausa.

Osteoporose

  A diminuição da massa óssea e a osteoporose afetam cerca de 30 milhões de mulheres norte-americanas ou aproximadamente 55% das mulheres com mais de 50 anos de idade. A queda de estrogênio faz diminuir a atividade dos osteoblastos e aumenta a atividade dos osteoclastos. Assim, não se forma osso e, o que é mais importante, há reabsorção; a matriz óssea se desfaz e libera cálcio (desmineralização), ocorrendo alta remodelação óssea e instalando-se progressivamente a osteopenia e a osteoporose (que se caracteriza por fragilidade esquelética, baixa massa óssea e qualidade óssea alterada).

  • Tratamento: As mulheres com alimentação deficiente em cálcio e vitamina D são beneficiadas por modificações da dieta e administração de suplementos. A terapia hormonal previne e trata eficazmente a osteoporose.

Manifestações tegumentares

  O hipoestrogenismo atua diminuindo a produção de colágeno pela alteração da polimerização dos mucopolissacarídeos. Na derme diminui a síntese de ácido hialurônico e com isto diminui o conteúdo de água. O ressecamento da pele é fator importante, tanto pelo adelgaçamento da epiderme como pela diminuição da capacidade de renovação da camada córnea, o que dificulta a hidratação da pele. Com o avançar da idade, a pele perde a elasticidade, os músculos enfraquecem e ficam frouxos, permitindo o aparecimento das rugas. Dada à redução no número de melanócitos, podem aparecer manchas hipocrômicas na pele ou formação de sardas e melanose (pigmento escuro) nas áreas expostas ao sol, devido à hiperplasia de melanócitos da junção dermoepidérmica.

Alterações visuais

Entre os 40-45 anos observa-se a presbiopia em virtude de modificações na acomodação visual.

Alterações dentárias

Modificações metabólicas, circulatórias e tróficas facilitam o descolamento e a retração da gengiva, favorecendo as infecções e as cáries dentárias.

Doença cardiovascular

  A doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morte nas mulheres; é responsável por aproximadamente 45% da mortalidade. Os distúrbios associados ao aumento do risco de cardiopatia incluem diabetes, hipertensão e hiperlipidemia.

  • Tratamento: O aumento absoluto do risco por 10.000 mulheres-ano atribuível à terapia hormonal foi pequeno, com sete ocorrências a mais de DC, oito de câncer de mama, oito de acidente vascular cerebral e oito de embolia pulmonar, com menos seis ocorrências de câncer colorretal e menos cinco de fratura de quadril.

 Câncer de mama

   O câncer de mama é a principal questão de saúde na menopausa, pois é a doença mais comum em mulheres e a segunda maior causa de morte por câncer. Muitos desses fatores de risco são compatíveis com a hipótese de que a exposição prolongada ao estrogênio aumenta o risco de câncer de mama. O uso prolongado de terapia hormonal, geralmente definido como mais de 5 anos, é associado a um aumento do risco de câncer de mama. A terapia hormonal não deve ser prescrita a mulheres com história de câncer de mama e só deve ser usada por mulheres com alto risco depois de avaliação rigorosa dos possíveis riscos e benefícios.

Doença de Alzheimer

  As mulheres têm maior risco de desenvolver a doença que os homens. Houve duplicação do risco de demência (em especial, doença de Alzheimer) em mulheres designadas aleatoriamente para terapia hormonal. A terapia hormonal foi associada a um efeito adverso sobre a cognição, visto que as mulheres randomizadas para terapia hormonal tiveram pontuação bem menor no Mini Exame do Estado Mental Modificado que as mulheres tratadas com placebo.

Disfunção sexual

  Embora os incômodos sexuais costumem aumentar com o envelhecimento, o auge ocorre na meia-idade (45 a 64 anos) e o nível mais baixo é relatado em mulheres a partir de 65 anos. A disfunção sexual feminina costuma ser multifatorial, o que inclui depressão ou ansiedade, conflitos no relacionamento, estresse, fadiga, história de abuso sexual, uso de medicamentos ou problemas físicos, como a endometriose ou a vaginite atrófica, que tornam a atividade sexual desconfortável. Houve aumento da dor durante a relação sexual e o desejo sexual diminuiu durante a transição menopáusica, mas outros fatores não foram afetados – dentre eles, a excitação, a frequência e o prazer sexual.

Terapia hormonal

   A terapia hormonal ainda é uma opção bem razoável para mulheres saudáveis com fogachos, sobretudo nos primeiros 10 anos após a menopausa ou antes dos 60 anos de idade. A terapia hormonal deve ser usada na menor dose eficaz durante o menor tempo possível para alcançar seus objetivos. A necessidade de continuação deve ser avaliada pelo menos 1 vez ao ano.

   O uso de estrogênio sem oposição da progesterona está associado a aumento do risco de hiperplasia e câncer do endométrio. Portanto, recomenda-se a terapia com associação de estrogênio-progesterona em todas as mulheres que tenham útero.

 Em geral, a terapia hormonal combinada de baixa dose está associada a menor incidência de sangramento intercorrente e de mamas doloridas. Algumas mulheres podem preferir a administração transdérmica de estradiol por adesivo, spray ou gel.

  A administração transdérmica de estradiol, ao contrário da administração oral, não parece aumentar o risco de tromboembolia venosa ou de doença biliar, embora ainda seja contraindicada em mulheres sob alto risco. As contraindicações à terapia hormonal são cânceres de mama ou endométrio suspeitos ou confirmados, sangramento genital anormal não diagnosticado, doença cardiovascular e doença ativa do fígado ou da vesícula biliar.

Terapia hormonal em relação à sexualidade

  A estrogenioterapia é muito eficaz no tratamento do ressecamento vaginal e da dispareunia; no entanto, não há evidências que apoiem um efeito importante do estrogênio sobre o interesse sexual, a excitação e a resposta orgástica, apesar de seu papel no tratamento de sintomas da menopausa.  O tratamento com estrogênio oral e vaginal mostrou diminuição da dispareunia e melhora considerável do prazer do orgasmo e do interesse sexual nas mulheres tratadas com estrogênio.

  Ao contrário do tratamento com estrogênio, a utilização de androgênio costuma melhorar a função sexual em populações selecionadas de mulheres na pós-menopausa. Os possíveis riscos da terapia com androgênio são acne, engrossamento irreversível da voz e alterações desfavoráveis da função hepática e dos níveis de lipídios. Além de aumentar riscos cardiovasculares ou câncer de mama.

5. Identificar os critérios de avaliação clínica da mulher do climatério (índice de Kupperman).

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  O climatério é o período de transição entre a fase reprodutiva e o estado não reprodutivo da vida da mulher, estendendo-se até os 65 anos de idade. É um acontecimento fisiológico com maior impacto na função reprodutora, mas essa modificação abrange vários outros processos simultaneamente, em diferentes órgãos e sistemas. A carência estrogênica manifesta-se distintamente em cada mulher. É caracterizado por mudanças hormonais e metabólicas que, embora sejam fisiológicas, podem acarretar alterações envolvendo os aspectos psicossociais, podendo vir, ou não, acompanhado de sintomas.

  O hipoestrogenismo pode ocasionar sintomas desconfortáveis que afetam o bem-estar da mulher. Além dos fatores biológicos, o climatério é influenciado por aspectos psicossociais e culturais, cujo conhecimento é fundamental para uma assistência mais qualificada e humanizada.

  O Índice Menopausal de Kupperman (IMK) é um dos instrumentos mais utilizados na avaliação clínica da sintomatologia, que envolve onze sintomas ou queixas. A cada um deles são atribuídas diferentes pontuações segundo a sua intensidade e prevalência. Os escores totais são classificados em leves (valores até 19), moderados (entre 20 e 35) ou intensos (maior que 35). Assim, quanto maior a pontuação obtida, mais intensa é a sintomatologia climatérica.

  O conhecimento dos sintomas contribui para determinar as necessidades das mulheres e para redimensionar as formas de atendimento.  O estudo teve como objetivo descrever os sintomas climatéricos através da aplicação do IMK considerando que este instrumento permite aos profissionais desenvolver ações preventivo- promocionais específicas, favorecendo maior impacto e resultado na saúde destas mulheres.

Ref. Bib.: Aplicação do Índice Menopausal de kupperman: um estudo transversal com mulheres climatéricas; MELO E MAGANHA, Celia Regina; Revista de Saúde Pública do Paraná. Dez 2016.

6. Caracterizar a microbiota vaginal.

   A população microbiana da vagina é muito influenciada por fatores hormonais. As crianças recém-nascidas são colonizadas por lactobacilos ao nascer, predominando por 6 semanas. Após esse período, a microbiota modifica-se e passa a incluir estafilococos, estreptococos e enterobacteriaceae. Quando a produção de estrogênio é iniciada na puberdade, a microbiota sofre novas mudanças, os lactobacilos se tornam predominantes e outros organismos são isolados (estafilococos, estreptococos e outras bactérias anaeróbias).

  A microbiota vaginal é, principalmente, dominada por Lactobacillus crispatus, L. jensenii and L. gasseri, que protegem a mucosa contra o estabelecimento de microrganismos patogênicos, através de três mecanismos: aderência especifica ao epitélio, o que bloqueia a colonização dos patógenos; produção de componentes antimicrobianos; e, agregação com os patógenos, o que melhora o efeito microbicida.

  A microflora vaginal representa um dos mais importantes mecanismos de defesa da função reprodutora, mantendo o meio saudável e impedindo a proliferação de micro-organismos estranhos à mesma.

  A flora bacteriana vaginal, associada à presença de diversos componentes da imunidade inata e adquirida, constituem importante mecanismo de defesa para evitar a invasão e proliferação de patógenos microbianos nos locais expostos ao meio ambiente externo.

A secreção vaginal normal é constituída de: secreções das glândulas sebáceas e sudoríparas vulvares, de Bartholin e de Skene; transudato da parede vaginal; células vaginais e cervicais esfoliadas; muco cervical; líquidos endometriais e da tuba; e microrganismos com seus produtos metabólicos. O tipo e a quantidade de células esfoliadas, muco cervical e líquidos do sistema genital superior são determinados por processos bioquímicos influenciados pelos níveis hormonais

A flora vaginal normal é principalmente aeróbica, com uma média de seis espécies diferentes de bactérias, sendo as mais comuns os lactobacilos produtores de peróxido de hidrogênio. A microbiologia da vagina é determinada por fatores que afetam a capacidade de sobrevivência das bactérias. Esses fatores incluem o pH vaginal e a disponibilidade de glicose para metabolismo das bactérias.

O pH da vagina normal é menor que 4,5, mantido pela produção de ácido láctico. As células epiteliais vaginais estimuladas por estrogênio são ricas em glicogênio.

As secreções vaginais normais têm consistência flocular e cor branca, sendo geralmente localizadas na porção da vagina situada em nível inferior (fórnix posterior). 

Referências Bibliográficas:

  • LINHARES, Iara Moreno; GIRALDO, Paulo Cesar; BARACAT, Edmund Chada. Novos conhecimentos sobre a flora bacteriana vaginal. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo ,  56, n. 3,p. 370-374,    2010.
  • MURRAY, PATRICK R.; ROSENTHAL, KEN S.; PFALLER, MICHAEL A. Microbiologia Médica. 7ed. Ed. Elsevier, 2014.
  • MARTÍN, Rebeca et al. La microbiota vaginal: composición, papel protector, patología asociada y perspectivas terapéuticas. Journal Enfermedades Infecciosas y Microbiología Clínica. Oviedo, p. 160-167. mar. 2017
  • BEREK, J. & NOVAK. S. Tratado de Ginecologia. 15ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
7. Definir vulvovaginites, epidemiologia e as formas de transmissão.

  Vulvovaginites e vaginoses são as causas mais comuns de corrimento vaginal patológico. São afecções do epitélio estratificado da vulva e/ou vagina, diferenciando-se das cervicites, que acometem a mucosa glândulas, onde as causas mais comuns são infecções por clamídia e gonococo.

  Os agentes etiológicos mais frequentes nas vulvovaginites e vaginoses são os fungos, as bactérias anaeróbicas em número significativamente aumentado, a tricomonas que é um protozoário e até mesmo um aumento exacerbado da flora normal de lactobacilos.

  Elas se manifestam através de corrimento vaginal cujas características podem ser bastante variáveis, quanto a cor, textura e quantidade. Podem estar associados a prurido vulvovaginal, odor fétido, dor ou ardor ao urinar, dor ás relações sexuais e sensação de desconforto pélvico.

  Vulvovaginites infecciosas são: vaginose bacteriana, candidíase vulvovaginal, tricomoniase vaginal e vaginite inflamatória descamativa.

Candidíase vulvovaginal

  • É um problema frequente em todo o mundo, afetando todas as classes sociais.
  • 10 a 20% das mulheres durante a vida reprodutiva podem ser colonizadas com cândida sp, assintomáticas, não requerendo tratamento
  • Estima-se que 75% das mulheres tenham pelo menos um episódio de candidíase vulvovaginal durante a vida
  • Incidência aumenta após a menarca, com picos entre 30 e 40 anos
  • Agente causal: cândida albicans (80 a 92% dos casos) e não albicans (glabarta, tropicalis, krusei, parapsilosis e sccharomyces cerevisae)
  • Candidaé um gênero de fungos dimórficos que existem na forma de blastosporos, responsáveis pela transmissão e colonização assintomática, e de micélios, que são produzidos pela germinação dos blastosporos e estimulam a colonização, além de facilitarem a invasão tecidual.

A candidíase sintomática é causada por uma resposta imunológica inata agressiva e deve ser tratada.

  • Fatores de risco: estado hiperestrogênico, diabetes mellitus, imunossupressão por medicamentos ou doenças de base, gravidez, uso de tamoxifeno, uso de antibióticos, hábitos alimentares e vestimentas propicias a proliferação do fungo
  • Sintomas: prurido, ardência, corrimento geralmente grumoso e sem odor, dispareunia, disúria externa
  • Sinais característico: eritema e fissuras valvares, corrimento grumoso, com placas aderidas a parede vaginal de cor branca, edema vulvar, escoriações e lesões satélites pustulosas (pelo ato de coçar)
  • Teste das aminas é negativo
  • Tratamento: antifúngico oral, aplicação tópica de fármacos do grupo dos azóis

Vaginose bacteriana

  • É o problema mais frequente do trato genital inferior, entre as mulheres em idade reprodutiva
  • Causa mais prevalente de corrimento vaginal com odor fétido
  • Associada a perda da flora vaginal normal de lactobacilos (diminuição do número)
  • Supercrescimento de bactérias predominantemente aeróbicas
  • Não é sabido o fator desencadeante, porém, supõe-se a influência da alcalinização repetida da vagina, decorrente de coitos frequentes ou uso de duchas vaginais
  • Sexualmente transmissível
  • Fatores associados: tampões retidos, duchas constantes, múltiplos parceiros e troca recente de parceiro
  • Sinais: corrimento perolado, odor fétido principalmente após o coito e pós menstrual
  • Odor vaginal tipo peixe, notável sobretudo após o coito
  • Secreções cinzas e formam uma fina camada de revestimento das paredes vaginais
  • Exame microscópico: número elevado de células-alvo e ausência de leucócitos
  • Tratamento: antibiótico

Tricomoníase

  • Agente causador: trichomonas vaginalis – protozoário flagelado
  • Essencialmente transmitido no sexo – sexualmente transmissível
  • Taxa alta de transmissão – 70% dos homens contraem a doença após uma única exposição a uma mulher infectada
  • Taxa de transmissão do homem para mulher é muito maior
  • Acomete o epitélio escamoso
  • Infecção cervicovaginal, com o colo uterino apresentando microulcerações que dão aspecto de morango ou framboesa
  • Pode alterar a citologia oncótica – a resposta inflamatória altera o núcleo e os halos inflamatórios celulares
  • Causa lesão intraepiteliais escamosas que desaparecem após a cura
  • Corrimento vaginal fétido, purulento e abundante – pode ser acompanhado por prurido vulvar
  • Exame microscópico: tricomonas móveis e aumento do número de leucócitos
  • O parceiro sexual deve ser tratado
  • Tratamento por antibiótico
  • Teste das aminas pode ser positivo

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

8. Enumerar exames complementares e tratamento das principais vulvovaginites.

Vaginose bacteriana

  1. Diagnóstico
  • Exame a fresco ou esfregaço corado do conteúdo vaginal, que mostra a presença de “células-chave” ou “clue-cells”, que são células epiteliais, recobertas por bactérias aderidas à sua superfície;
  • pH da secreção vaginal: a medida do pH vaginal é um teste rápido e simples, que produz informações valiosas. E realizado por meio de uma fita de papel indicador de pH, colocada em contato com a parede vaginal, durante um minuto. Deve-se tomar cuidado para não tocar o colo, que possui um pH muito mais básico que a vagina e pode provocar distorções na leitura. O valor do pH vaginal normal varia de 4,0 a 4,5. Na vaginose bacteriana é sempre maior que 4,5; e
  • Teste das aminas: algumas aminas são produzidas pela flora bacteriana vaginal, particularmente pelos germes anaeróbios. Essas aminas podem ser identificadas quando o conteúdo vaginal é misturado com 1 ou 2 gotas de KOH a 10%. Na presença de vaginose bacteriana, ocorre a Liberação de aminas com odor fétido, semelhante ao odor de peixe podre.

 O diagnóstico da vaginose bacteriana se confirma quando estiverem presentes três dos seguintes critérios, ou apenas os dois últimos:

  • Corrimento vaginal homogêneo, geralmente acinzentado e de quantidade variável;
  • pH vaginal maior que 4,5;
  • Teste das aminas positivo; · presença de “clue cells” no exame bacterioscópico, associada à ausência de lactobacilos.

2.Tratamento 

  • Metronidazol 500mg, VO, de 12/12 horas, por 7 dias;
  • Metronidazol 2g, VO, dose única;
  • Tinidazol 2g, VO, dose única; ou · Tianfenicol 2,5g/ dia, VO, por 2 dias;
  • Secnidazol 2g, VO, dose única; ou · Metronidazol Gel 0,75%, 1 aplicador vaginal (5g), 2 vezes ao dia, por 5 dias;
  • Clindamicina 300mg, VO, de 12/12 horas, por 7 dias;
  • Clindamicina creme 2%, 1 aplicador à noite, por 7 dias (contra-indicado em gestantes)

3.Gestantes 

  • Metronidazol 250 mg, VO, de 8/8 horas, por 7 dias (somente após completado o 1º trimestre);
  • Metronidazol 2g, VO, dose única (somente após completado o primeiro trimestre);
  • Clindamicina 300 mg, VO, de 12/12 horas por 7 dias; ou · Metronidazol Gel 0,75%, 1 aplicador vaginal (5g), 2 vezes ao dia, por 5 dias (uso limitado em gestantes, tendo em vista insuficiência de dados quanto ao seu uso nesta população).

4.Parceiros

Não precisam ser tratados. Alguns autores recomendam tratamento de parceiros apenas para os casos recidivantes.

Candidíase

  1. Diagnóstico 
  • Exame direto (a fresco) do conteúdo vaginal, que revela a presença de micélios birrefrigentes e/ou de esporos, pequenas formações arredondadas birrefringentes. A visualização dos fungos é facilitada adicionando-se KOH a 10% à lâmina a ser examinada.
  • Esfregaço corado do conteúdo vaginal (Papanicolaou, Gram, Giemsa ou Azul de Cresil)
  • Cultura: só tem valor quando realizada em meios específicos; deve ser restrita aos casos nos quais a sintomatologia é muito sugestiva e todos os exames anteriores sejam negativos; também é indicada nos casos recorrentes, para identificar a espécie de cândida responsável.
  • Teste do pH vaginal: é um teste simples e rápido, feito com uma fita de papel indicador de pH colocada em contato com a parede vaginal, durante um minuto; deve-se tornar cuidado para não tocar o colo, que possui um pH básico, o que pode causar distorções na interpretação; valores menores que 4 sugerem candidíase.
  • O simples achado de cândida na citologia oncótica em uma paciente assintomática, não permite o diagnóstico de infecção clínica, e, portanto, não justifica o tratamento.
  • Nos casos de candidíase recorrente, a mulher deve ser aconselhada e orientada a realizar o teste anti-HIV, além de serem investigados os fatores predisponentes citados anteriormente.
  1. Tratamento
  • Miconazol, creme a 2%, via vaginal, 1 aplicação à noite ao deitar-se, por 7 dias;
  • Miconazol, óvulos de 200 mg, 1 óvulo via vaginal, à noite ao deitar-se, por 3 dias;
  • Miconazol, óvulos de 100 mg, 1 óvulo via vaginal, à noite ao deitar-se, por 7 dias;
  • Tioconazol creme a 6,5%, ou óvulos de 300mg, aplicação única, via vaginal ao deitar-se;
  • Isoconazol (Nitrato), creme a 1%, 1 aplicação via vaginal, à noite ao deitar-se, por 7 dias;
  • Terconazol creme vaginal a 0,8%, 1 aplicação via vaginal, à noite ao deitar-se, por 5 dias;
  • Clotrimazol, creme vaginal a 1%, 1 aplicação via vaginal, à noite ao deitar-se, por 6 a 12 dias;
  • Clotrimazol, óvulos de 500mg, aplicação única, via vaginal; ou · Clotrimazol, óvulos de 100mg, 1 aplicação via vaginal, 2 vezes por dia, por 3 dias;
  • Clotrimazol, óvulos de 100mg, 1 aplicação via vaginal, à noite ao deitar-se, por 7 dias;
  • Nistatina 100.000 UI, 1 aplicação, via vaginal, à noite ao deitar-se, por 14 dias.

O tratamento sistêmico deve ser feito somente nos casos recorrentes ou de difícil controle; nestes casos, deve-se investigar causas sistêmicas predisponentes. Tratar com:

  • Itraconazol 200mg, VO, de 12/12h, só duas doses;
  • Fluconazol 150mg, VO, dose única;
  • Cetoconazol 400mg, VO, por dia, por 5 dias. Para alívio do prurido (se necessário): embrocação vaginal com violeta de genciana a 2%.
  1. Gestantes

A candidíase vulvovaginal é muito comum no transcorrer da gravidez, podendo apresentar recidivas pelas condições propícias do pH vaginal que se estabelece nesse período. Qualquer um dos tratamentos tópicos acima relacionados podem ser usados em gestantes; deve ser dada preferência ao Miconazol, Terconazol ou Clotrimazol, por um período de 7 dias. Não deve ser usado nenhum tratamento sistêmico.

  1. Tratamento

Não precisam ser tratados, exceto os sintomáticos. Alguns autores recomendam o tratamento via oral de parceiros apenas para os casos recidivantes.

Tricomoníase vaginal

  1. Diagnóstico

Para o diagnóstico das infecções genitais baixas, utiliza-se comumente o exame direto (a fresco) do conteúdo vaginal. Colhe-se uma gota do corrimento, coloca-se sobre a lâmina com uma gota de solução fisiológica, e observa-se ao microscópio, com o condensador baixo.

  • Exame do conteúdo vaginal a fresco: observam-se os parasitas flagelados movimentandose ativamente entre as células epiteliais e os leucócitos.
  • Esfregaço do conteúdo vaginal corado pelos métodos de Gram, ou Giemsa, ou Papanicolaou.
  • Cultura: valiosa apenas em crianças, em casos suspeitos e com exame a fresco e esfregaço repetidamente negativos. É muito difícil de ser realizada pois requer meio específico e condições de anaerobiose (meio de Diamond).
  • Teste do pH vaginal: é um teste simples e rápido, feito com uma fita de papel indicador de pH colocada em contato com a parede vaginal, durante um minuto; deve-se tomar cuidado para não tocar o colo, que possui um pH básico, o que pode causar distorções na interpretação; valores acima de 4,5 sugerem tricomoníase.

2.Tratamento

  • Metronidazol 2 g, VO, dose única
  • Tinidazol 2 g, VO, dose única;
  • Metronidazol 500 mg, VO, de 12/12 horas, por 7 dias;
  • Secnidazol 2 g, VO, dose única.
  1. Gestantes

Tratar somente após completado o primeiro trimestre, com Metronidazol 2 g, VO, dose única.

  1. Parceiros

Tratar sempre, ao mesmo tempo que a paciente, e com o mesmo medicamento e dose.

Referência: Ministério da Saúde Secretaria de Políticas de Saúde Coordenação Nacional de DST e AIDS; MANUAL DE CONTROLE DAS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS DST (Brasília 3 a edição – 1999). http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd08_13.pdf

9. Refletir a respeito da resistência ao tratamento pelo casal.

  O corrimento vaginal é um dos principais sintomas referidos em consultórios de ginecologia. Estima-se que a frequência dos corrimentos seja de 5-15% em clínicas ginecológicas em geral, enquanto que, em clínicas especializadas em doenças sexualmente transmissíveis (DST), possa atingir 32-64%. Uma análise criteriosa dos métodos diagnósticos disponíveis mostra aqueles mais adequados a depender da suspeita clínica. Por fim, o tratamento adequado deve ser instituído, baseado no diagnóstico correto, a fim de que o sucesso terapêutico seja atingido.

  Portanto, é importante o tratamento e acompanhamento do casal em casos como o de Candidíase, por exemplo, em que o tratamento é eficaz se ambos os parceiros aderirem à terapia medicamentosa. Além disso, ao tratar o casal é necessário instruir sobre a importância do uso de preservativos; a higienização antes e depois da relação sexual (utilizar um sabão com um pH similar ao da pele) e evitar o uso constante de roupas sintéticas justas. No caso do aparecimento da infecção e durante o seu tratamento é aconselhável a abstinência sexual e a não partilha de qualquer objeto de higiene pessoal.

  Dentre as possíveis razões de resistência ao tratamento pelo casal estão: indisponibilidade do parceiro para comparecer as consultas médicas e ausência do aparecimento sintomas por parte do homem.

  1. Definir DST, os dados epidemiológicos destas doenças e descrever as mais prevalentes.

 As doenças sexualmente transmissíveis incluem uma grande variedade de organismos que são transmitidos através do contato íntimo envolvendo a pele e/ou superfícies mucosas da orofaringe, vagina, pênis e reto.

Epidemiologia

  • As DST permanecem como infecções comuns. Muitas das mais importantes doenças sexualmente transmissíveis não são notificadas.
  • O cancro mole ou cancroide é visto principalmente nos grandes conglomerados urbanos, especialmente entre profissionais do sexo.
  • A incidência da sífilis declinou para 2,2 por 100.000 nos Estados Unidos cm 2000, mas vem aumentando a partir de então, principalmente entre homens homossexuais.
  • Aproximadamente 20% da população dos EUA está infectada com o vírus herpes simples tipo 2 (HSV-2), porém a maioria das novas infecções é causada pelo HSV-1.
  • Estima-se que 20 milhões de pessoas nos EUA apresentam HPV, e a cada ano, aproximadamente 5,5 milhões de pessoas adquirem infecção pelo HPV.
  • Segundo estimativas da OMS (2013), mais de um milhão de pessoas adquirem uma DST diariamente.
  • A cada ano, estima-se que 500 milhões de pessoas adquirem uma das DST curáveis (gonorreia, clamídia, sífilis e tricomoníase).
  • Da mesma forma, calcula-se que 530 milhões de pessoas estejam infectadas com o vírus do herpes genital (HSV-2, do inglês Herpes Simplex Virus tipo 2) e que mais de 290 milhões de mulheres estejam infectadas pelo HPV.
  • A infecção pelo HPV causa 530.000 casos de câncer de colo uterino e 275.000 mortes por essa doença/ano.
  • A sífilis na gravidez causa aproximadamente 300.000 mortes fetais e neonatais/ano e coloca 215.000 RN sob o risco de morte prematura, baixo peso ao nascimento ou sífilis congênita.
  • As DSTs estão presentes em todo o mundo e possuem taxas estimadas mais elevadas na África subsaariana.
  • Em 2016, no Brasil, foram notificados 15.247 casos de gestantes com sífilis.
  • De 1999 a 2015, foram notificados no SINAN 514.678 casos confirmados de hepatites virais no Brasil. Destes, 161.605 (31,4%) são referentes aos casos de hepatite A, 196.701 (38,2%) de hepatite B, 152.712 (29,7%) de hepatite C e 3.660 (0,7%) de hepatite D.
  • De 2007 até junho de 2016, foram notificados no Sinan 136.945 casos de infecção pelo HIV no Brasil, sendo 71.396 no Sudeste (52,1%), 28.879 no Sul (21,1%), 18.840 no Nordeste (13,8%), 9.152 no Centro-oeste (6,7%) e 6.868 na Região Norte (6,3%).
  • No Brasil, no período de 2000 até junho de 2016, foram notificadas 99.804 gestantes infectadas com HIV.

Referências Bibliográficas:

  • Boletim epidemiológico de Hepatites Virais – Ministério da Saúde. 2016.
  • Boletim epidemiológico HIV-AIDS – Ministério da Saúde. 2016.
  • Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis. Ministério da Saúde.
  • GOLDMAN L., AUSIELLO D. Cecil: Medicina. 24ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. Vol I e II.
  1. Enumerar os programas no âmbito de saúde pública voltados para as DST.
  • Programa Nacional de DST e Aids

Foi criado em maio de 1985, a partir da publicação da portaria nº 236. Tem como objetivos:

  • Reduzir a incidência de infecção pelo HIV/Aids e por outras DSTs.
  • Ampliar o acesso ao diagnóstico, ao tratamento e à assistência.
  • Fortalecer as instituições públicas e privadas responsáveis pelo controle das DST e da AIDS.
  • Promover a adoção de práticas seguras em relação as DST.
  • Promover a garantia dos direitos fundamentais das pessoas atingidas direta ou indiretamente pelo HIV/aids.
  • Aprimorar o sistema de vigilância epidemiológica das DST e da infecção pelo HIV.
  • Reduzir a morbimortalidade decorrente das DST e da infeção pelo HIV.
  • Assegurar a qualidade do sistema de diagnóstico laboratorial das DST e da infeção pelo HIV.
  • Promover a articulação com outros setores governamentais e da sociedade civil para o estabelecimento e fortalecimento de políticas públicas nas áreas de DST/aids e de prevenção do uso indevido de drogas.

   Esses objetivos norteiam as diretrizes e estratégias do Programa Nacional de DST/Aids, que servirão de base para as ações de prevenção, de assistência, de garantia dos direitos humanos, no contexto da tomada de decisões de políticas.

Estratégias públicas:

  • Campanhas de massa, por intermédio da mídia impressa e eletrônica, e intervenções educativas trabalhando atitudes e valores relacionados à autoestima – e à conscientização sobre o risco – da população. Esses trabalhos de intervenção consideram aspectos culturais, situações particulares do cotidiano da população e características regionais, além de se articularem internamente com as atividades-meio do componente de promoção à saúde;
  • Apoio a projetos de intervenção comportamental e elaboração de materiais educativos e informativos, buscando atingir os diferentes grupos sociais, estimulando-os a adotar práticas mais seguras que reduzam a transmissão do HIV/aids;
  • Apoio às iniciativas comunitárias na criação e manutenção de ambientes favoráveis à redução da vulnerabilidade e do risco de infecção pelo HIV;
  • Desenvolvimento de parcerias com o setor empresarial, estimulando ações integradas com os órgãos governamentais conveniados, nas três esferas de governo: federal, estadual e municipal
  • Estímulo à demanda e promoção ao acesso a dispositivos de prevenção, como os preservativos e seringas descartáveis; x capacitação de recursos humanos para formação de agentes multiplicadores de informação sobre as DST e o HIV/aids.

Serviços de Prevenção

  • Centro de Testagem e Aconselhamento:

Os serviços de testagem e aconselhamento são de fundamental importância para as ações de promoção à saúde e constituem espaços que garantem o acesso da população à realização do diagnóstico precoce, ao mesmo tempo em que possibilitam o contato com grupos que se encontram em situação de risco e vulnerabilidade. O teste é acompanhando de atividades de educação, aconselhamento e de intervenção. Os CTA têm como objetivos:

  • Promover o acesso ao diagnóstico da infecção pelo HIV, de forma confidencial e gratuita, acompanhado de ações de aconselhamento;
  • Capacitar e atualizar, de forma continuada, os profissionais que atuam na rede de CTA implantada – e em implantação – no país;
  • Promover uma maior integração dos CTA com os outros programas da rede pública de saúde. A implantação desse tipo de serviço pressupõe as seguintes linhas estratégicas para sua viabilização:
  • Apoio a projetos de implantação e implementação de CTA nas regiões de maior incidência e/ou maior vulnerabilidade;
  • Capacitação de equipe técnica para supervisão, avaliação da qualidade do serviço prestado à população e capacitação dos profissionais que atuam com testagem e aconselhamento;
  • Criação de comitê-assessor, nos níveis estadual/regional/federal, para subsidiar os programas no monitoramento e normalização dos serviços de testagem e das ações de aconselhamento;
  • Apoio técnico à realização de estudos e pesquisas desenvolvidas por equipes dos CTA e apoio à participação de equipes em fóruns técnico-científicos, de âmbito nacional ou internacional.

Serviço de Informação por Telefonia – Disque Saúde/Pergunte Aids

  É um serviço telefônico gratuito, de atendimento disponível ao público em geral, com funcionamento de 24 horas por dia. Tem por objetivo tornar disponíveis informações gerais sobre a transmissão e a prevenção das DST/HIV e drogas, além das referências de serviços de assistência nesse campo. Após 1997, este serviço passou a abranger outros agravos à saúde, informando sobre os programas de atenção básica, de agentes comunitários de saúde, e de saúde da família, sobre farmácia básica, planos e seguros de saúde e transplantes e doação de órgãos, conselhos de saúde, ações do Ministério da Saúde e as formas de encaminhamento de denúncias de violências contra crianças e adolescentes.

Promoção ao Uso do Preservativo

 É o principal insumo de prevenção para a redução das taxas de infecção pelo HIV. A estratégia adotada pela CN-DST/Aids para promoção ao uso do preservativo prevê:

  • Oferta gratuita, distribuição e gerenciamento logístico do preservativo masculino;
  • Oferta gratuita, disponibilidade e gerenciamento logístico do preservativo feminino para segmentos específicos da população;
  • Marketing social e campanhas de promoção ao uso do preservativo;
  • Desenvolvimento de redes de distribuição apoiadas em base comunitárias;
  • Realização de testes, controle de qualidade e avaliação do preservativo;
  • Realização de estudos de aceitabilidade, demanda e consumo de preservativos;
  • Assessoria e treinamento de equipes técnicas dos projetos e das Coordenações Estaduais e Municipais de DST/Aids engajadas no gerenciamento logístico, na avaliação e na armazenagem dos preservativos;

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

12. Caracterizar a fisiopatologia da clamídia.

  São denominadas uretrites não gonocócicas (UNG) as uretrites sintomáticas, cujas bacterioscopias pela coloração de Gram e/ou cultura são negativas para o gonococo. Vários agentes têm sido responsabilizados por estas infecções, sendo os principais: Chlamydia trachomatis, Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma hominis, Trichomonas vaginalis, dentre outros. A C. trachomatis é o agente mais comum. É uma bactéria, obrigatoriamente intracelular. A transmissão se faz pelo contato sexual, sendo o período de incubação, no homem, de 14 a 21 dias.

   A UNG caracteriza-se pela presença de corrimentos mucoides, discretos, com disúria leve e intermitente. A uretrite subaguda é a forma de apresentação de cerca de 50% dos pacientes com uretrite causada por C. trachomatis. As uretrites causadas por C. trachomatis podem evoluir para: prostatite, epididimite, balanites, conjuntivites e a síndrome uretro-conjuntivo-sinovial.

  Das infecções sexualmente transmissíveis, a infecção por Chlamydia trachomatis é a mais comum. A clamídia é um parasita intracelular que infecta o epitélio do canal endocervical e a uretra. Cerca de 80% das pacientes infectadas por clamídia é assintomática, mas se os sintomas existem, estes manifestam-se de 1 a 3 semanas após a infecção, como um corrimento vaginal purulento, sangramento pós-coital ou intermenstrual, dor abdominal baixa e dispareunia.

    A infecção por clamídia não tratada pode levar a sequelas importantes, como gravidez ectópica, doença inflamatória pélvica e até infertilidade. Por este motivo, e, pelo fato de que a sintomatologia se assemelha a outras doenças vaginais, o diagnóstico laboratorial se faz necessário. Os parceiros sexuais devem ser encaminhados para a avaliação e tratamento, e as relações sexuais devem ser evitadas até o final da terapia e estabelecimento de cura. A grande dificuldade em diagnosticar CT deve-se à ausência de sintomatologia em cerca 70% a 80% das mulheres infectadas.

  Quando presentes, os sintomas são vagos e inespecíficos, podendo-se manifestar sob a forma de disúria, corrimento e discreto prurido vaginal. O exame ginecológico poderá fornecer alguma pista; quando apresentar corrimento cervical mucopurulento, o colo uterino mostrar-se friável, sangrar facilmente ao toque com a pinça de Cheron, bem como a presença de ectopia cervical, são sinais que podem sugerir infecção.                                     

Referências:

13. Caracterizar a fisiopatologia da sífilis.

   A sífilis é uma doença crônica infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum, é geralmente adquirida por contato sexual com outro indivíduo infectado. Os estágios precoces são infectantes. Ocorre a cura espontânea das lesões precoces, seguida de um longo período de latência. Em cerca de 30% dos pacientes não tratados, a doença tardia do coração, do sistema nervoso central (SNC) ou de outros órgãos pode se desenvolver anos após a infecção inicial.

   O agente causador da sífilis, o T. pallidum é uma bactéria fina, helicoidal. O organismo tem de 6 a 14 espirais e é afunilado em cada extremidade. É muito fino para ser visto por microscopia óptica após coloração de Gram, mas pode ser visualizado em material a fresco por microscopia de campo escuro ou em espécimes fixados pela coloração de prata ou pela imunofluorescência direta.

  O T. pallidum pode penetrar através de membranas mucosas normais e de leves abrasões nas superfícies epiteliais. As primeiras lesões surgem no local da inoculação primária. O número mínimo de treponemas necessários para estabelecer a infecção é desconhecido, mas pode ser tão baixo quanto um. Provavelmente, o lento crescimento dos treponemas em humanos reflete, em parte, a natureza prolongada da doença e o período de incubação relativamente longo.

  A sífilis é uma doença sistêmica desde o início. Os treponemas são capazes de se fixar de forma específica às células do hospedeiro. A maioria dos treponemas é encontrada nos espaços intercelulares, mas são vistos ocasionalmente no interior das células fagocíticas. No entanto, não existe nenhuma evidência de sobrevivência intracelular prolongada de treponemas. O T. pallidum não é conhecido por produzir toxinas.

   A lesão patológica primária da sífilis é uma endarterite focal com um aumento nas células adventícias, proliferação endotelial e presença de um infiltrado inflamatório em torno dos vasos afetados. Os linfócitos, células plasmáticas e monócitos predominam na lesão inflamatória. Com a resolução do processo, há uma considerável fibrose. Podem ser observados treponemas na maioria das lesões de sífilis precoce e em algumas lesões tardias, como a meningoencefalite da paresia geral.

   A reação granulomatosa é comum na sífilis secundária e na tardia.  O hospedeiro também responde à infecção, produzindo numerosos anticorpos e, em alguns casos também, podem se formar imunocomplexos circulantes. Por exemplo, na síndrome nefrótica que foi ocasionalmente descrita na sífilis secundária, os espécimes de biópsia renal provenientes desses pacientes mostraram uma glomerulonefrite membranosa caracterizada por depósitos focais subepiteliais na membrana basal, contendo imunoglobulina G (IgG), C3 e anticorpo treponêmico.

Ref.Bib.: Goldman Cecil Medicina, Capítulo 327: Sífilis| Lee Goldman, MD and Andrew I. Schafer, MD

14. Caracterizar a fisiopatologia da gonorreia.

A Neisseria gonorrhoeae é um organismo transmitido via sexual que infecta primariamente o epitélio colunar das superfícies mucosas, causando uretrite cm homens e endocervicite e uretrite cm mulheres. Outros locais de infecção primária incluem reto, faringe e conjuntiva, sendo que a vulvovaginite pode ocorrer em meninas pré-púberes. A complicação mais frequente é a salpingite aguda, ou a doença inflamatória pélvica, que, por sua vez, pode levar à infertilidade e à gravidez ectópica. Outras complicações são epididimite, uretrite posterior, estreitamento uretral, abscesso da glândula de Bartholin e peri-hepatite. Pode ocorrer bacteremia com o aparecimento lesões cutâneas características, artrite e, raramente, endocardite ou meningite.

Epidemiologia

  • Segunda doença infecciosa mais relatada nos EUA, com 336.742 casos notificados em 2008.
  • Maior prevalência para homens heterossexuais com mais de uma parceira sexual (2,7%)
  • A gonorreia é altamente transmissível. O risco de um homem para uma mulher durante um único ato sexual vaginal desprotegido é de 50% a 70%. O risco de uma mulher para um homem é de 20%.

Fisiopatologia

  O patógeno possui um envelope gonocócico, semelhante à de bactérias gram-negativas. Possui fímbrias que facilitam sua fixação e invasão nas células hospedeiras. Após se fixar nas células epiteliais do hospedeiro, os gonococos são sujeitos a endocitose dentro da célula, em um processo facilitado pela Por (proteína 1). Então, eles se replicam dentro da célula e são liberados no espaço subepitelial.

  Além disso, alguns gonococos podem apresentar mecanismos de evasão contra a morte intracelular e continuam a multiplicar-se no interior das células do hospedeiro. As infecções uretrais típicas resultam em uma inflamação provavelmente por conta da liberação de lipo-oligossacarideos tóxicos.

Síndromes clínicas

  • Gonorreia urogenital em homens: corrimento uretral purulento e disúria.
  • Gonorreia do Trato Genital Inferior em Mulheres: metrorragia, manchas pós-coito, disúria.
  • Doença inflamatória pélvica no trato genital inferior feminino: dor abdominal baixa, sangramento vaginal, febre, calafrios, uretrite.
  • Infecção retal: em mulheres apresenta prurido anal, corrimento mucopurulento, dor, tenesmo.
  • Infecção Gonocócica Disseminada: desconforto articular, lesões cutâneas, febre, prostração.

Referências Bibliográficas:

  1. GOLDMAN L., AUSIELLO D. Cecil: Medicina. 24ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. Vol I e II.

Saúde da Mulher – Problema 1: “E a vida continua… ”

Questões

  1. Descrever a epidemiologia e os fatores de risco do câncer de mama.
  2. Descrever a fisiopatologia do câncer de mama e relacioná-la às manifestações clínicas.
  3. Diferenciar os tipos de câncer de mama.
  4. Caracterizar os métodos diagnósticos e os planos terapêuticos para o câncer de mama, correlacionando o resultado do tratamento à qualidade de vida da mulher.
  5. Identificar as complicações do tratamento e das complicações do câncer de mama.
  6. Descrever as políticas públicas para a prevenção, o tratamento e o seguimento da mulher quanto ao câncer de mama.
  7. Caracterizar o estadiamento do câncer de mama.
  8. Como é realizado o rastreamento para câncer de mama?

Respostas

  1. Descrever a epidemiologia e os fatores de risco do câncer de mama.

Epidemiologia

  • O carcinoma mamário é a neoplasia maligna mais frequente em mulheres e uma das principais causas de morte por câncer.
  • Anualmente, é diagnosticado cerca de 1 milhão de novos casos de carcinoma de mama no mundo todo.
  • Anualmente, cerca de 100 mil novos casos são diagnosticados nos EUA, e cerca de 46 mil mulheres morrem por esse tipo de câncer.
  • No Brasil, o câncer da mama é o segundo mais incidente entre a população feminina, estimando-se cerca de 50 mil novos casos por ano.
  • Nas regiões brasileiras consideradas de elevada incidência, o risco estimado de uma mulher ter câncer mamário é de 1 em 8.
  • O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima para 2014 e 2015, que sejam diagnosticados 57.120 novos casos de câncer de mama no Brasil com um risco estimado de 56,09 casos a cada 100 mil mulheres.
  • O câncer de mama é raro antes dos 25 anos. A incidência aumenta com a idade média de diagnóstico sendo de 61 anos para mulheres caucasianas, 56 anos para hispânicas e 46 anos para mulheres afro-americanas.

Fatores de risco

  • Idade: O tumor é muito raro antes dos 25 anos; a incidência aumenta a partir de 30 anos, com pico entre 50 e 60 anos.
  • O fator de risco mais importante é o sexo; somente 1% dos casos de câncer de mama ocorrem em homens.
  • Dados epidemiológicos mostram clara associação, em países ocidentais, entre incidência do câncer da mama e alguns comportamentos, como dieta hipercalórica, rica em lipídeos e gordura animal, e falta de exercício físico.
  • Idade da Menarca. Mulheres que atingem a menarca antes dos 11 anos de idade têm um risco 20% maior, comparado ao de mulheres que tiveram a menarca acima dos 14 anos de idade.
  • História familiar de câncer da mama é fator de risco bem estabelecido para a doença. Cerca de 1/3 das mulheres com carcinoma mamário tem história familiar de um ou mais parentes de primeiro grau com a mesma neoplasia, embora somente pequena fração desses casos (5 a 10%) seja de carcinoma de mama hereditário.
  • Hiperplasia Atípica. Uma história anterior de biópsias mamárias, especialmente se revelam hiperplasia atípica, aumentam o risco de carcinoma invasivo.
  • Influências hormonais têm papel preponderante. Estímulo estrogênico por longo tempo (menarca precoce, menopausa tardia, primeira gestação tardia – após os 35 anos) aumenta consideravelmente o risco de desenvolvimento de carcinoma mamário.
  • Terapia hormonal na menopausa sem acompanhamento médico.
  1. Descrever a fisiopatologia do câncer de mama e relacioná-la às manifestações clínicas.

Hiperplasias Epiteliais***

  Hiperplasias epiteliais caracterizam-se por proliferação do epitélio para o interior de ductos/dúctulos mamários. Em geral, tal alteração não forma massa palpável ou lesão, sendo diagnosticada incidentalmente em biópsias. Com base no padrão citológico e de crescimento arquitetural, as hiperplasias epiteliais são divididas em ductais ou lobulares.

  • Hiperplasia epitelial ductal: É definida como aumento do número de células acima da membrana basal. Os ductos normais são revestidos por 2 camadas de células, uma epitelial e uma mioepitelial. Caracteriza-se hiperplasia quando existem 3 ou mais camadas de células revestindo um ducto.
  • Hiperplasia ductal sem atipia:
    • Hiperplasia ductal discreta é a forma mais branda, com a presença de 3 ou 4 camadas de células acima da membrana basal. Trata-se de lesão frequente, mas que não tem risco de desenvolver câncer da mama.
    • Na hiperplasia ductal usual ou moderada/florida, as células proliferam além de 3 ou 4 camadas e têm tendência a preencher os ductos envolvidos. Está associada a risco 1,5 a 2 vezes maior de desenvolver carcinoma. Alterações moleculares (perda de expressão do TGFbeta-RII e do receptor de estrógeno alfa) são encontradas em hiperplasias usuais sem atipias e podem estar relacionadas com maior atividade proliferativa, predispondo ao desenvolvimento de câncer.
  • Hiperplasia ductal com atipias: É lesão caracterizada por proliferação de células. As lesões são pequenas; as células envolvem parcialmente dois ductos. Trata-se de diagnóstico de exclusão que deve ser feito quando elementos que definem carcinoma ductal in situ (CDIS) de baixo grau estão presentes, mas incompletamente. Os critérios que definem CDIS de baixo grau são: população uniforme de células; espaços regulares entre as células ou formação de micropapilas; núcleos hipercromáticos. Para o diagnóstico de hiperplasia ductal atípica (HDA), as lesões devem conter um dos dois primeiros critérios, ou ter ambos, porém sem envolver completamente dois ductos e medir menos que 2 mm. As hiperplasias atípicas expressam ciclina D1 e receptores de estrógeno e de progesterona, mas são negativas para p53 e amplificação do HER2/neu. Cerca de 50% das hiperplasias atípicas associadas a carcinomas invasores exibem os mesmos padrões de perda de heterozigose observados no componente invasor da mesma mama, sugerindo que essas lesões sejam precursoras do carcinoma invasor. Para mulheres na perimenopausa (entre 40 e 55 anos) com HDA, o risco relativo de evolução para carcinoma invasor é cerca de 4 vezes, e o risco absoluto, de 10%. Hiperplasia ductal atípica é indicador de risco para carcinoma mamário; 3,7 a 22% das mulheres com essa lesão desenvolvem carcinoma invasor. Quando há história familiar de câncer da mama em parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha), o risco relativo dobra, ficando em torno de 8 a 10 vezes.
  • Hiperplasia lobular atípica: Em geral trata-se de lesão não palpável e assintomática. A lesão envolve as unidades ductulolobulares terminais. A hiperplasia lobular atípica (HLA) tende a ter distribuição multifocal e bilateral. Microscopicamente, é caracterizada por proliferação de células que crescem preenchendo e expandindo parcialmente menos de 50% dos dúctulos de um ou mais lóbulos. As células da HLA podem se estender pelos ductos, proliferando abaixo da camada epitelial, denominado envolvimento ductal por células da HLA. O diagnóstico diferencial de HLA deve ser feito com carcinoma lobular in situ (CLIS), que tem o mesmo padrão citológico, porém exibe maior proliferação celular, que preenche e distende mais de 50% das unidades lobulares. As hiperplasias/neoplasias lobulares são, em geral, positivas para ceratinas de alto peso molecular e para receptores de estrógeno e de progesterona, e negativas para E-caderina, CKS/6, p53 e HER2/neu. As mesmas mutações no gene da E-caderina são detectadas tanto em carcinoma lobular invasor como em focos adjacentes de HLA e CLIS, sugerindo que tais lesões sejam precursoras do carcinoma lobular invasor. Perda de material cromossômico em 16p, 16q, 17p e 22q e ganho em 6q são identificados com frequência semelhante na HLA e no CLIS, sugerindo que ambas as lesões têm caráter neoplásico.

Fisiopatologia do Carcinoma de Mama

  Os carcinomas da mama podem ser divididos em dois grandes grupos: carcinomas hereditários e carcinomas não hereditários/esporádicos.

  • Carcinomas hereditários representam 5 a 10% dos carcinomas da mama. Clinicamente, os critérios para se classificar um câncer da mama como hereditário são: aparecimento precoce (antes dos 45 anos), bilateralidade, família com 3 ou mais casos de câncer da mama, família com dois ou mais parentes com câncer de mama.

Cerca de 90% desses casos são devidos às deleções gênicas de BRCA1 (cromossomo 17q21) e BRCA2 (cromossomo 13q12-13); ambos são considerados genes supressores de tumor e têm papel importante na reparação de danos no DNA e no controle da proliferação celular.

  • O BRCA 1 localiza-se na região cromossômica 17q21. Indivíduos com mutação nesse gene têm risco elevado de desenvolver câncer da mama (50 a 80% aos 70 anos; o risco da população normal é de 12%).
  • O BRCA 2 localiza-se na região cromossômica 13q12-13. Mutações constitucionais nesse gene aumentam sensivelmente o risco de desenvolver carcinoma da mama, tanto no gênero feminino (50 a 70% aos 70 anos) como no masculino (5 a 7%; o risco da população geral é de 0,02%). Mutações no BRCA 2 também aumentam o risco de câncer do ovário (10% aos 70 anos).

 Os carcinomas associados a mutações no BRCA 1 caracterizam-se por serem pouco diferenciados, com margens de crescimento expansivas, terem infiltrado linfocitário e serem negativos para receptores de estrógeno e HER2/neu. A melhor compreensão do perfil de expressão gênica dos carcinomas da mama possibilitou, nos últimos anos, a identificação de tumores com o chamado fenótipo basal. Carcinomas associados ao BRCA 1 exibem esse fenótipo, que é caracterizado pela expressão dos marcadores ceratina 5, P-caderina, p63 e EGRF. Embora não existam subtipos histológicos associados ao BRCA 2, tumores com anormalidades nesse gene são comumente positivos para receptores de estrógeno e mostram expressão de ciclina D1 e de p27.

 Apesar de anormalidades nos genes BRCA 1 e BRCA 2 serem responsáveis por cerca de 90% dos casos de câncer da mama hereditário, mutações germinativas em outros genes, como o p53 (síndrome de Li-Fraumeni), PTEN (síndrome de Cowden), ATM e CHEK2, também estão associadas ao carcinoma mamário hereditário.

  • Os carcinomas não hereditários ou esporádicos estão relacionados com estimulação estrogênica prolongada e têm uma via carcinogenética que passa por lesões proliferativas (hiperplasias ductais e lobulares, carcinoma in situ e carcinoma invasivo***). Mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2 em carcinomas mamários esporádicos (não hereditários) é rara (< 5% dos casos). Como está resumido na figura abaixo, grande parte das alterações genéticas relacionadas com os diferentes passos da progressão tumoral é conhecida. O perfil da expressão gênica pode separar o câncer de mama em 4 subtipos moleculares:
    • Luminal A (positivo para receptor estrogênico, negativo para HER2/neu): Esses cânceres geralmente têm crescimento lento e respondem bem aos tratamentos hormonais. Inversamente, apenas um pequeno número irá responder à quimioterapia convencional.
    • Luminal B (positivo para receptor estrogênico, superexpressão de HER2/neu): Eles são algumas vezes referidos como cânceres triplo-positivos. Eles compõem o maior grupo de cânceres RE-positivos que têm mais probabilidade de ter metástases linfonodais e podem responder à quimioterapia.
    • Positivo para HER2/neu (superexpressão de HER2/neu e negativo para receptor estrogênico): Esses cânceres são usualmente pouco diferenciados, têm alta taxa proliferativa e estão associados a alta frequência de metástases cerebrais.
    • Semelhante ao basal/Basal-símile (negativo para receptor estrogênico e negativo para HER2/neu): Cânceres basal-símile são um subgrupo de carcinomas “triplo-negativos”. Muitos carcinomas que se originam em mulheres com mutações BRCA1 são deste tipo. Estes cânceres são geralmente de alto grau e têm alta taxa de proliferação. Eles estão associados a um curso agressivo, metástases frequentes para vísceras e cérebro, e um prognóstico pobre. 

  Os tumores RE-positivos (receptor de estrógeno) e HER2/neu-negativos são os chamados tumores luminais, que incluem grande parte dos carcinomas ductais e os carcinomas lobulares (quando há mutação no gene da E-caderina). Os tumores RE-negativos e HER2/neu-negativos são os chamados carcinomas da mama com fenótipo basal, que se caracterizam por apresentarem marcadores sugestivos de diferenciação mioepitelial, como ceratina 5, P-caderina, p63 e EGFR. Neste grupo estão incluídos os carcinomas hereditários ligados ao BRCA 1.

  Mais de 95% das malignidades mamárias são adenocarcinomas, que são divididos em carcinomas in situ e carcinomas invasivos. O carcinoma in situ se refere a uma proliferação neoplásica que está limitada aos ductos e lóbulos pela membrana basal. O carcinoma invasivo (sinônimo de carcinoma “infiltrante”) penetrou da membrana basal para o estroma. Aqui as células têm potencial para invadir a vasculatura e, consequentemente, atingir linfonodos regionais e sítios distantes.

Carcinoma in situ

  Carcinoma in situ é definido como proliferação epitelial maligna restrita aos ductos ou dúctulos mamários, e distingue-se do carcinoma invasor pela ausência de invasão estromal. Existem dois tipos distintos: o lobular e o ductal.

       Aneuploidia e expressão de HER2/neu são mais comuns no grupo de alto grau de malignidade, enquanto receptores hormonais (estrógeno e progesterona) são mais encontrados em carcinomas de baixo grau.

  • Carcinoma Ductal In Situ

 O CDIS consiste em uma população clonal maligna de células limitadas aos ductos e lóbulos pela membrana basal. As células mioepiteliais estão preservadas, apesar de poderem estar em menor número. O CDIS pode se espalhar pelos ductos e lóbulos e produzir lesões extensas envolvendo um setor inteiro da mama. Quando o CDIS envolve lóbulos, os ácinos estão usualmente distorcidos e abertos, e adquirem o aspecto de pequenos ductos.

  Se não tratadas, as mulheres com um CDIS pequeno, de baixo grau, desenvolvem câncer invasivo na proporção de 1% ao ano. Em sua maioria, esses cânceres estão no mesmo quadrante e têm um grau similar e padrão de expressão de RE e HER2/neu. Presume-se que as mulheres com alto grau ou extensos CDIS progridam para carcinoma invasivo em maiores taxas. A mastectomia é curativa em 95% dos casos.

  A classificação histológica do carcinoma ductal in situ (CDIS) baseia-se apenas no padrão arquitetural da neoplasia, dividindo-o nos seguintes tipos: comedocarcinoma, cribiforme, micropapilar, papilar e sólido. O termo comedocarcinoma refere-se a tumor de alto grau nuclear associado a área de necrose extensa que ocupa o interior do ducto. Na verdade, somente os tipos comedocarcinoma e micropapilar apresentam relevância clínica, o primeiro por se associar mais a focos de invasão e o segundo pela tendência à multicentricidade. O CDIS de baixo grau caracteriza-se por grau nuclear 1 ou 2, ausência de necrose e, frequentemente, arquitetura cribiforme; o de grau intermediário possui grau nuclear 1 ou 2, como o de baixo grau, mas exibe áreas de necrose; pode apresentar-se sob vários padrões. O carcinoma in situ de alto grau, mostra, além de necrose, atipias nucleares acentuadas, com grau nuclear 3. Além de recidivar com maior frequência, o carcinoma in situ de alto grau tem maior tendência a desenvolver focos de invasão do estroma.

  • Carcinoma Lobular in Situ (CLIS)

  O CLIS é sempre um achado incidental de biópsia, já que não está associado a calcificações ou reações estromais que produzem densidades mamográficas. Quando ambas as mamas são biopsiadas, o CLIS é bilateral em 20% a 40% dos casos. O CLIS é mais comum em mulheres jovens, com 80% a 90% dos casos ocorrendo antes da menopausa.

  As células do CLIS e do carcinoma lobular invasivo são idênticas no aspecto e dividem anormalidades genéticas, como aquelas que levam à perda de expressão da E-caderina, uma proteína de adesão celular transmembrana que contribui para a coesão normal das células epiteliais mamárias. Mulheres com CLIS desenvolvem carcinoma invasivo com uma frequência similar à das mulheres com CDIS não tratado. Em pacientes sob observação por mais de 20 anos, um carcinoma invasivo desenvolve-se em 25% a 35%, ou cerca de 1% ao ano.

Progressão Tumoral

   As diversas características histológicas dos carcinomas e supostas lesões precursoras são as manifestações exteriores das complexas mudanças genéticas e epigenéticas que guiam a carcinogênese. Um modelo de carcinogênese postula que uma célula normal deve adquirir várias novas capacidades para se tornar maligna.

  Populações de células que abrigam algumas, mas não todas, as mudanças genéticas e epigenéticas necessárias para a carcinogênese dão surgimento às lesões mamárias que estão associadas a um risco aumentado de progressão do câncer. Essas alterações são mudanças proliferativas, as quais podem provir da perda dos sinais de inibição do crescimento, aumentos aberrantes nos sinais pró-crescimento, ou decréscimo da apoptose. Por exemplo, muitas lesões iniciais (como hiperplasia ductal atípica e hiperplasia lobular atípica) mostram aumento da expressão dos receptores hormonais e regulação anormal da proliferação. A perda da heterozigosidade hormonal (LOH) é raramente detectada em uma alteração proliferativa típica, mas torna-se mais frequente em hiperplasias atípicas e está quase universalmente presente no carcinoma in situ.

  Em algum ponto durante a progressão do tumor, o clone maligno também se torna imortal e adquire a habilidade de guiar a neoangiogênese.

   O tipo celular mais comum de origem da maioria dos carcinomas é a célula luminal REexpressiva, já que em sua maioria dos cânceres são RE-positivos e lesões precursoras, como as hiperplasias atípicas, são mais similares a este tipo de célula.

Quadro clínico

O câncer de mama pode ser percebido em fases iniciais, na maioria dos casos, por meio dos seguintes sinais e sintomas:

  • Nódulo (caroço), fixo e geralmente indolor: é a principal manifestação da doença, estando presente em cerca de 90% dos casos quando o câncer é percebido pela própria mulher.
  • Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja.
  • Alterações no bico do peito (mamilo).
  • Pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço.
  • Saída de líquido anormal das mamas.
  • Abaulamento de uma parte da mama.
  • Edema (inchaço) da pele.
  • Eritema (vermelhidão) na pele.
  • Inversão do mamilo.
  • Sensação de nódulo aumentado na axila.
  • Espessamento ou retração da pele ou do mamilo.
  • Secreção sanguinolenta ou serosa pelos mamilos.
  • Inchaço do braço.

Ref. Bib.:

  • INCA.
  • Instituto Oncoguia.
  • BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo – Patologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Gen, Guanabara Koogan, 2011.
  • KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N.; MITCHELL, R. N. Robbins. Bases patológicas das doenças. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
  • KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N.; MITCHELL, R. N. Robbins. Patologia básica. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
3. Diferenciar os tipos de câncer de mama.
  • Carcinoma invasor

  Incluem-se neste grupo todos os carcinomas mamários que se infiltram no estroma, independentemente da coexistência de componente in situ. Tal como os carcinomas in situ, também os invasores são divididos em dois grandes grupos: ductais e lobulares. Ao lado disso, alguns subtipos (carcinomas tubulares, medulares, mucinosos) e algumas formas especiais de apresentação (doença de Paget, carcinoma inflamatório) têm grande interesse prático devido ao seu prognóstico distinto.

  • Carcinoma ductal

  O carcinoma ductal invasor que é o tipo mais frequente de câncer da mama, representa um grupo heterogêneo de lesões que se caracterizam por ausência de achados morfológicos que permitam enquadrá-las em um dos subtipos especiais. O carcinoma ductal tem comportamento mais agressivo do que a maioria dos tipos especiais, com sobrevida de 5 anos em 60% das pacientes.

  • Carcinoma lobular

  O carcinoma lobular representa 10% dos carcinomas invasores da mama e tem bom prognóstico, com sobrevida de 10 anos em 80 a 90% das pacientes. Apesar desse aspecto favorável, o carcinoma lobular invasor tem maior tendência à bilateralidade e taxa elevada de recidiva sistêmica tardia, com metástases em diferentes locais (cavidade abdominal, pleura, pulmão etc.). Clinicamente, o carcinoma lobular invasor apresenta-se como massa palpável ou lesão difusa que produz pouca alteração na textura da mama, não sendo por isso detectada pela mamografia.

  • Carcinoma tubular

  Constitui 5 a 10% dos carcinomas da mama e caracteriza-se pela formação de túbulos arredondados, ovoides ou angulados, imersos em estroma. A lesão apresenta-se como nódulo palpável, duro, com diâmetro médio de 1 cm, na maioria dos casos detectável à mamografia; é multifocal em 10 a 56% dos casos e bilateral em 9 a 38% das pacientes. O carcinoma tubular “puro” é o câncer mamário invasor de melhor prognóstico. Também vale ressaltar que os carcinomas tubulares podem estar associados a carcinomas lobulares (invasores ou in situ), constituindo os chamados carcinomas tubulolobulares. Esses tumores são mais frequentes em casos familiares, especialmente ligados a mutações no gene BRCA 2.

  • Carcinoma medular

  O carcinoma medular corresponde a cerca de 7% dos carcinomas da mama e tem prognóstico um pouco melhor do que o dos carcinomas ductais em geral. Apresenta-se em geral como massa palpável móvel, bem delimitada, com tamanho variável (2 a 5 cm). O aspecto macroscópico reflete essa apresentação clínica, pois o tumor é bem delimitado, lobulado, homogêneo e de consistência macia, podendo ser confundido com fibroadenoma. Células gigantes bizarras, focos de metaplasia escamosa e necrose podem estar presentes. O carcinoma medular é mais frequente em mulheres jovens e em casos familiares, estando associado frequentemente a anormalidades no BRCA 1.

  • Carcinoma mucinoso

  Também conhecido como carcinoma coloide, mucoide ou gelatinoso, representa 2 a 3% dos carcinomas da mama e, em geral, manifesta-se em mulheres após a menopausa; tem bom prognóstico, com sobrevida de 10 anos em 80 a 90% dos casos. Clinicamente, apresenta-se como massa de consistência amolecida, com padrão inespecífico à mamografia. Macroscopicamente, o tumor é bem circunscrito, apresenta aspecto gelatinoso e contém áreas de hemorragia. Alguns estudos mostram maior frequência de carcinoma mucinoso em mulheres com mutações no BRCA 1.

  • Carcinoma micropapilar

   Trata-se de um tipo especial de carcinoma caracterizado por proliferação de células malignas em arranjos micropapilares no interior de espaços císticos no estroma da mama, sem revestimento epitelial ou endotelial. Metástases axilares são frequentes quando do diagnóstico do tumor. Invasão vascular na periferia do tumor é observada em mais de 60% dos casos. Embora raro na forma pura, cerca de 3 a 6% dos carcinomas da mama apresentam pelo menos focalmente esse tipo de padrão arquitetural.

  • Doença de Paget

   Doença de Paget da mama é uma entidade clinicopatológica caracterizada por lesão eczematosa do mamilo causada por disseminação intraepidérmica de células malignas de um carcinoma intraductal ou invasor subjacente. A doença de Paget pode ser sinal tanto de neoplasia localizada e curável como a primeira manifestação de carcinomas de mau prognóstico. Em 50% dos casos, a lesão subjacente é um carcinoma invasor ou intraductal extenso; em apenas 10% das pacientes, o tumor não é palpável e está confinado aos ductos logo abaixo do mamilo. Em praticamente todos os casos da doença de Paget, suas células são positivas para a proteína do oncogene HER2/neu. Recentemente, foi demonstrado que esta proteína atua como um fator de motilidade de células malignas e que estas podem ser atraídas por um componente isolado da epiderme humana. Por tudo isso, a expressão do HER2/neu parece relacionar-se com a capacidade de deslocamento das células no interior do sistema ductal, o que torna esse marcador um determinante da extensão dos carcinomas intraductais e, portanto, um fator prognóstico para recidiva em cirurgias conservadoras.

  • Carcinoma inflamatório

  A denominação carcinoma inflamatório refere-se a uma forma de apresentação clínica do carcinoma mamário e não a um subtipo histológico. O tumor tem grande importância clínica por produzir sinais semelhantes a processo inflamatório, como edema, vermelhidão e calor, podendo simular condições benignas (p. ex., abscessos, necrose gordurosa). Histologicamente, caracteriza-se por embolização maciça de vasos linfáticos da derme por células neoplásicas. Na maioria das vezes, trata-se de carcinoma pouco diferenciado e com péssimo prognóstico.

  • Carcinoma metaplásico

  Carcinoma metaplásico é neoplasia formada por uma mistura complexa de áreas de tipo usual de carcinoma com elementos escamosos e/ou sarcomatoides. Trata-se de tumor raro (menos de 1 % dos carcinomas da mama) que tem comportamento clínico e biológico heterogêneo. A maioria é agressiva e metastatiza por via hematogênica, com exceção do subtipo fibromatose-símile, que tem maior propensão a recidivar localmente. Estudos recentes mostram que provavelmente grande parte desses tumores é de origem mioepitelial, pois expressa frequentemente marcadores dessas células, como p63, P-caderina, EGFR e ceratina 5. Estudos citogenéticos indicam que o tumor está relacionado com o carcinoma de fenótipo basal.

Ref. Bib.:

  • Instituto Oncoguia
  • BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo – Patologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Gen, Guanabara Koogan, 2011.
4. Caracterizar os métodos diagnósticos e os planos terapêuticos para o câncer de mama, correlacionando o resultado do tratamento à qualidade de vida da mulher.

Diagnóstico

   O diagnóstico deve começar pelo exame clínico da mama (ECM). Deve ser realizado como parte do exame físico e ginecológico, e constitui a base para a solicitação dos exames complementares. Deve contemplar os seguintes passos para a adequada realização: inspeção estática e dinâmica, palpação das axilas e palpação da mama com a paciente em decúbito dorsal.

  • Raio X

A radiografia de tórax é utilizada para detectar se o câncer de mama se disseminou para os pulmões.

  • Mamografia

  As alterações patológicas da mama que podem ser vistas na mamografia são: massas, calcificações, áreas com densidades assimétricas ou distorção de arquitetura, ductos proeminentes, espessamento da pele ou mamilo e retração do mamilo.

  • Cintilografia óssea

  É uma forma de diagnóstico por imagem que avalia funcionalmente os órgãos e não apenas sua morfologia. Para a realização do exame é administrado ao paciente uma injeção intravenosa de um rádio fármaco – tecnécio99m. A captação óssea nas imagens adquiridas após 3 horas da injeção é proporcional à atividade metabólica no osso, se devendo principalmente à adsorção do rádio fármaco aos cristais de hidroxiapatita. É indicado para tumores com grandes chances de metástase óssea e para pacientes com alterações bioquímicas sugestivas e metástases já instaladas.

  • Tomografia computadorizada

  Muitas vezes é utilizada para guiar precisamente o posicionamento de uma agulha de biópsia em uma área suspeita de câncer.

  • Ressonância magnética

  Utilizada como exame de imagem complementar no diagnóstico de nódulos e de densidades assimétricas na mama, junto à mamografia e à ultrassonografia.  Além de permitir uma avaliação detalhadas dos nódulos, sem a utilização de raio X, também proporciona uma visão mais abrangente da região profunda do tecido mamário, ideal para o controle de próteses mamárias.

  • Ultrassonografia

  Possibilita identificar lesões que não podem ser visualizadas na mamografia, quando a mama é densa, e também permite distinguir se a lesão é solida ou cística, por exemplo. É muito utilizada para orientar punções, biópsias ou marcações pré-cirúrgicas de lesões não palpáveis.

  • Hemograma

  Os marcadores tumorais são macromoléculas presentes no tumor, no sangue ou em outros líquidos biológicos, cujo aparecimento e ou alteração em sua concentração, está relacionado com a gênese e o crescimento de células neoplásicas (câncer).

  Tais substâncias funcionam como indicadores da presença de câncer, e podem ser produzidas diretamente pelo tumor ou pelo organismo, em resposta à presença do tumor. Os marcadores tumorais, em sua maioria, são proteínas ou fragmentos de proteínas, incluindo antígenos de superfície celular, proteínas citoplasmáticas, enzimas e hormônios, que fornecem informações sobre o tumor e como ele poderá reagir aos diferentes tipos de tratamento.

Os principais marcadores tumorais usualmente acompanhados são:

  1. CA 15.3: É o marcador tumoral por excelência do câncer de mama, é o mais sensível e específico. Quando associado com outros marcadores, como CEA, por exemplo, é importante para a escolha do seguimento do tratamento. Na fase inicial, apenas 23% dos casos apresentam aumento. A elevação do CA 15.3 após o tratamento indica recorrência ou metástase antes do paciente apresentar evidências clínicas.
  2. CEA (Antígeno Carcinoembrionário): É uma proteína normalmente encontrada em pequenas quantidades no sangue de pessoas saudáveis, mas ela se torna elevada em algumas pessoas que têm câncer. Por exemplo, um nível elevado de CEA tem sido achado em mais da metade das pessoas que têm câncer de cólon, pâncreas, estômago, pulmão ou mama. Muitas vezes, o aumento dos níveis de CEA pode sugerir que o tratamento atual não está funcionando.
  3. MCA – O Mucin-like carcinoma associated antigen (MCA): É uma glicoproteína utilizada como marcador tumoral para o câncer de mama. Tem boa correlação com o CA 15.3, sendo útil na avaliação prognóstica e no controle terapêutico.
  4. CA 27,29: Similarmente ao antígeno CA 15–3, o CA 27,29 é encontrado no sangue da maioria das pacientes de câncer de mama. Exames seriados de CA 27,29 podem auxiliar o médico a verificar se o tratamento está funcionando. Após o término do tratamento, auxiliam na detecção da recorrência da doença.
  5. CA 125: A proteína CA 125 é produzida por uma variedade de células, particularmente por células de câncer de ovário. É o marcador tumoral utilizado principalmente para o câncer de ovário, sendo também útil para o câncer de endométrio e endometriose.
  6. CA 19.9: É um marcador tumoral do trato gastrointestinal, em câncer de pâncreas e trato biliar como primeira escolha e no câncer colorretal como segunda escolha. O CA 19.9 é um carboidrato de superfície celular, também conhecido como antígeno de Lewis.
  7. Catepsina D: A catepsina D é uma endoprotease lisossomal ácida, encontrada em praticamente todas as células dos mamíferos, sendo um marcador tumoral muito utilizado em câncer de mama.
  •  Exame da secreção mamilar

  Parte do líquido pode ser coletada para análise da presença ou não de células cancerosas. Em geral, se a secreção for leitosa ou verde clara é improvável que seja câncer. Se for vermelha ou vermelha acastanhada, sugerindo que contém sangue, pode, eventualmente, ser causa por câncer, apesar de uma lesão, infecção ou tumores benignos seja as causas mais prováveis.

  • Diagnóstico das lesões palpáveis

Para avaliar por imagem as lesões palpáveis são utilizadas dois métodos:

  • Ultrassonografia (USG) em mulheres com menos de 35 anos
  • Mamografia em mulheres com idade igual ou superior a 35 anos

  A mamografia pode ser complementada pela USG nas seguintes situações: 1. Quando o nódulo for sem expressão, pois a mama é densa ou porque está em zona cega na mamografia; 2. Nódulo regular ou levemente lobulado, que possa ser um cisto; 3. Densidade assimétrica difusa, que possa ser lesão sólida, cisto ou parênquima mamário.

Se houver lesões suspeitas deve-se buscar a confirmação do diagnóstico que pode ser citológico, por meio de punção aspirativa por agulha fina (PAAF), ou histológico, quando o material for obtido por punção, utilizando-se agulha grossa (PAG) ou biópsia cirúrgica convencional.

A PAAF – punção aspirativa por agulha fina é um procedimento ambulatorial, de baixo custo, de fácil execução e raramente apresenta complicações, que permite o diagnóstico citológico das lesões. Não é necessária anestesia para esse procedimento.

A PAG – punção aspirativa por agulha grossa ou core biopsy é também um procedimento ambulatorial, realizado sob anestesia local, que fornece material para diagnóstico histopatológico (por congelação, quando disponível), permitindo inclusive a dosagem de receptores hormonais.

Nas lesões palpáveis com imagem negativa (mamografia e USG), deve ser feito a investigação com a PAAF, PAG ou biópsia cirúrgica.

O diagnóstico prévio reduz o estresse da mulher quanto ao conhecimento do procedimento cirúrgico a que será submetida, otimiza o planejamento das atividades do centro cirúrgico, além de ser custo inferior quando comparado a uma interação para biópsia cirúrgica convencional.

  • Diagnóstico das lesões não palpáveis

A conduta nas lesões não palpáveis segue a proposta do BI-RADS (Breast imaging reporting and data system).

Nos casos de categoria 3 da BI-RADS, deve ser realizado dois controles radiológicos com intervalo semestral, seguidos de dois controles com intervalo anual. Nas lesões de categoria 4 e 5 da BI-RADS, está indicado o estudo histopatológico, que pode ser realizado por meio de PAG, mamotomia ou biópsia cirúrgica.

  • Diagnóstico histológico

Deve conter todos os elementos necessários para o adequado manuseio clinico da paciente sob o ponto de vista prognóstico e terapêutico, apresentando a descrição das características da neoplasia, do estado linfonodal, comprometimento das margens cirúrgicas de ressecção e o resultado dos marcadores prognósticos avaliados por imunohistoquímica.

Biópsias

É a remoção de uma pequena quantidade de tecido para avaliação anatomopatológica da presença (ou não) de câncer. Se células cancerosas estão presentes, o patologista determinará o tipo de câncer de mama a que corresponde.

Existem vários tipos de biópsias, como biópsia de aspiração por agulha fina, biópsia por agulha grossa e biópsia cirúrgica, cada uma com seus prós e contras. A escolha do tipo de biópsia depende da situação específica. Alguns dos fatores que o médico irá considerar incluem tipo de lesão, tamanho, localização, quantidade de tumores e outros problemas clínicos e preferências pessoais da paciente.

  • Punção aspirativa por agulha fina:

Consiste na remoção de uma amostra de células do tecido mamário alterado, para exame. A PAAF é um procedimento rápido e pode ser realizado com anestésico local, embora normalmente não seja necessário. Na PAAF é utilizada uma agulha de calibre 20/21G acoplada a uma seringa para aspiração.

O posicionamento da agulha é comumente guiado por ultrassom. A coleta do material é realizada com movimentos de vai-e-vem da seringa. O procedimento descrito poderá ser repetido diversas vezes, até que se obtenha quantidade suficiente de material, que posteriormente será colocado em lâminas. O material obtido é submetido à análise citológica. Um pequeno curativo será colocado sobre a região puncionada.

  • Agulha grossa:

  Consiste na retirada de fragmentos de tecido, com uma agulha de calibre um pouco mais grosso que da PAAF, acoplada a uma pistola especial. O posicionamento da agulha de biópsia poderá ser guiado por mamografia digital estereotáxica ou ultrassom.

  O procedimento é realizado com anestesia local e geralmente se retiram vários fragmentos de alguns milímetros. Esse procedimento permite visualizar na tela do equipamento de imagem, em tempo real, a área a ser biopsiada, a agulha, e o seu trajeto até a região da alteração, além da quantidade de tecido que ainda deverá ser retirada.

  Após localização da área a ser biopsiada é feita assepsia da pele e, em seguida, o trajeto da agulha de biópsia será anestesiado. Posteriormente é realizada uma pequena incisão na pele com bisturi, para facilitar a introdução da agulha de biópsia. Os fragmentos são obtidos por movimentos da agulha dentro da lesão, a cada incursão, a agulha será retirada e o fragmento colhido em um frasco. Esse procedimento é repetido várias vezes, até que se obtenha quantidade suficiente de tecido para análise.

  Ao término do procedimento será feita a compressão local, a fim de evitar sangramento da área biopsiada e será feita a aproximação das bordas da incisão com um curativo compressivo. Este procedimento não necessita internação, a paciente deve retornar no dia seguinte para trocar o curativo.

  • Biópsia assistida a vácuo (mamotomia)

  Consiste na retirada de fragmentos de tecido, utilizando uma agulha mais grossa, que a core biopsy que por sua vez está acoplada a um sistema a vácuo. A agulha tem corte rotatório conectado a uma cânula que permite a sucção do tecido mamário. O procedimento pode ser guiado por ultrassom ou mamografia.

  A grande vantagem dessa técnica dá-se pela melhor capacidade do estudo de microcalcificações, densidades assimétricas e distorções, somente caracterizadas pela mamografia e com elevado índice de erro na core biopsy. Outras vantagens da mamotomia incluem: inserção única da agulha com único disparo, colocação de clipe metálico marcador para abordagens futuras e melhor controle da região e obtenção de fragmentos contíguos com maiores dimensões da lesão, resultando em menor número de resultados subestimados.

  Similar a core biopsy a área a ser biopsiada, a sonda de biópsia e o seu trajeto até a alteração, além da quantidade de tecido que ainda deverá ser retirada são localizados na tela do equipamento de imagem utilizado. Durante o procedimento a sonda permanece no mesmo local até a retirada de quantidade suficiente de material, que é colocado em um frasco com formol e encaminhado ao laboratório de patologia. Em alguns casos, antes da retirada da sonda do local da biópsia, pode ser colocado um clipe marcador, de titânio, que servirá de guia para uma eventual intervenção cirúrgica, ou simplesmente para orientar os futuros controles mamográficos.

  Terminado o procedimento será feita a compressão da região a fim de evitar sangramento da área biopsiada, em seguida é feita a aproximação das bordas da incisão com um curativo compressivo.

  Embora o objetivo da mamotomia seja o diagnóstico, em parte dos casos, consegue-se a retirada total da lesão, porém isso não é necessário para que se obtenha o diagnóstico. Se a alteração for identificada como maligna, a precocidade do diagnóstico e a identificação do tipo de tumor pela mamotomia darão ao seu médico a oportunidade de adotar condutas, que podem incluir a cirurgia e outras formas de tratamento, com dados mais objetivos em mãos. 

  Nestes casos, mesmo que toda a lesão tenha sido retirada na mamotomia, haverá a necessidade de se retirar uma quantidade maior de tecido, por meio de cirurgia.

  • Biópsia cirúrgica

  É realizada no centro cirúrgico durante o ato cirúrgico e tem a grande vantagem de poder se fazer a biópsia por congelamento durante o procedimento o que permite dar ao cirurgião as margens de segurança. Se a margem ainda tiver doença o cirurgião avança um pouco mais e o congelamento se repete até que as margens cirúrgicas estejam livres de doença.

  • Biópsia do linfonodo

  Se os linfonodos axilares estão aumentados, eles serão verificados para a disseminação da doença. Mesmo se os linfonodos não se encontrem alterados, os gânglios linfáticos axilares geralmente são investigados para metástases, no momento da cirurgia para retirada do tumor mamário. Isto é realizado com a biópsia do linfonodo sentinela ou dissecção dos linfonodos axilares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

5. Identificar as complicações do tratamento e das complicações do câncer de mama.

  Sabe-se que o tratamento cirúrgico do câncer de mama (CM) pode propiciar o surgimento de complicações físico-funcionais no braço homolateral, devido à dissecção dos linfonodos axilares.

  As cirurgias por câncer de mama, bem como as terapias adjuvantes, podem resultar em algumas complicações físicas, dentre elas: infecção, necrose de pele, seroma, aderência e deiscência cicatriciais, limitação da amplitude de movimento (ADM) do ombro, cordão axilar, dor, alteração sensorial, lesão de nervos motor e/ou sensitivo, fraqueza muscular e linfedema.

  Independente da técnica radical ou conservadora, a dissecção axilar tem sido um tratamento cirúrgico padrão para o câncer de mama. Problemas como linfedema, dor, parestesias, diminuição da força muscular e redução da amplitude de movimento (ADM) do membro envolvido são frequentemente observados e relatados pelas mulheres operadas da mama.

  O câncer de mama é a principal neoplasia que acomete as mulheres e sua principal complicação é o linfedema, que causa importantes alterações físicas, emocionais, sociais e psicológicas. O seu diagnóstico precoce deve ser preconizado.

  • Linfedema

  O linfedema de membro superior é a principal complicação decorrente do tratamento do câncer de mama, sendo definido como um acúmulo de linfa nos espaços intersticiais, causado pela destruição dos canais de drenagem axilar, provocados pela cirurgia e/ou radioterapia.

   Após a obstrução linfática, os coletores linfáticos do braço necessitam trabalhar com uma resistência aumentada, e a instalação do edema dependerá da fadiga e do fracasso de bombeamento dos vasos linfáticos. Quando o linfedema não é tratado rapidamente, torna-se uma doença crônica causando o inchaço da área afetada, aumento de volume, sensação de peso, desconforto, perda parcial de mobilidade, deformações estéticas e dor.

  Nessas situações a drenagem linfática é altamente eficaz, já que não só ajuda a diminuir o líquido linfático acumulado no membro afetado, como também encontra percursos colaterais que ajudam a drenar ou reduzir o edema.

  O linfedema pode ser desencadeado logo após a cirurgia, semanas, ou até mesmo anos mais tarde. A probabilidade de desenvolver após a cirurgia de mastectomia, depende do número de gânglios removidos, da quantidade de radiação recebida e na capacidade que as funcionalidades restantes ainda tiverem para compensar a perda.

  A prevenção e redução é o principal objetivo no tratamento do linfedema, muito embora, as medidas com esse objetivo sejam paliativas e muitas vezes criticadas na literatura. Na fase precoce, quando os tecidos ainda estão relativamente preservados, pode-se reduzir o membro ao seu tamanho inicial.

Cuidados que devem ser tomados para evitar o surgimento de linfedema em pacientes submetidas à dissecação axilar:

  • Não ignorar qualquer edema de braço, pescoço e parede torácica.
  • Hidratar o braço e o local cirúrgico sempre que necessário.
  • Nunca permitir a aplicação de injeção, vacinas, coleta de sangue, acupuntura, medição de pressão e até mesmo a quimioterapia no braço do lado operado.
  • Evitar movimentos repetitivos, vigorosos contra resistência.
  • Evitar carregar peso com o membro afetado.
  • Manter o membro protegido do sol.
  • Evitar qualquer tipo de trauma e cortes.
  • Fazer exercícios como caminhadas, natação, aeróbica, ciclismo, balé e ioga.
  • Evitar o uso de sutiã apertado e sem aro metálico.
  • Não depilar a axila afetada com gilete.
  • Manter o peso ideal e beber muita água.
  • Utilizar água morna e sabonete neutro no banho.
  • Evitar dormir sobre o braço do lado operado, para não comprometer a circulação sanguínea do mesmo.

REFERÊNCIAS

  • Diagnóstico do linfedema: análise dos métodos empregados na avaliação do membro superior após linfadenectomia axilar para tratamento do câncer de mama, Anke Bergmann, Inês Echenique Mattos, Rosalina Jorge Koifman. (Revista Brasileira de Cancerologia 2004; 50(4): 311-320)
  • http://www1.inca.gov.br/rbc/n_50/v04/pdf/artigo4.pdf
  • BATISTON, Adriane Pires; SANTIAGO, Silvia Maria. Fisioterapia e complicações físico-funcionais após tratamento cirúrgico do câncer de mama.Fisioterapia e Pesquisa, [S.l.], v. 12, n. 3, p. 30-35, dec. 2005. ISSN 2316-9117. Disponível em: <http://www.journals.usp.br/fpusp/article/view/76623/80395>. Acesso em: 03 apr. 2017. doi:http://dx.doi.org/10.1590/fpusp.v12i3.76623.
  • Complicações e condutas fisioterapêuticas após cirurgia por câncer de mama: estudo retrospectivo. Simony Lira do Nascimento, Riza Rute de Oliveira, Mariana Maia Freire de Oliveira, Maria Teresa Pace do Amaral. http://www.scielo.br/pdf/fp/v19n3/a10v19n3.pdf
  • STANDRING, Susan Gray´S Anatomia. ed. Rio de Janeiro, Elsevier, 2010
  • Padronização da nomenclatura dos linfonodos axilares baseada em critérios anatômicos. Luiz Carlos Buarque de Gusmão, Jacqueline Silva Brito Lima, Lídia Clotildes Firmino Costa, Paula Maria de Mendonça Rodas, Gilson Santos de Melo. http://www.rbmastologia.com.br/wp-content/uploads/2015/06/MAS_v22n1_3-5.pdf
  • Instituto Oncoguia.
6. Descrever as políticas públicas para a prevenção, o tratamento e o seguimento da mulher quanto ao câncer de mama.

Prevenção

  • Estima-se que por meio da alimentação, nutrição e atividade física é possível reduzir em até 28% o risco de a mulher desenvolver câncer de mama.
  • Controlar o peso corporal e evitar a obesidade, por meio da alimentação saudável e da prática regular de exercícios físicos, e evitar o consumo de bebidas alcoólicas são recomendações básicas para prevenir o câncer de mama.
  • A amamentação também é considerada um fator protetor.
  • Para mulheres na menopausa, é aconselhável não fazer reposição hormonal.
  • Rastreamento.

Programa Nacional de Controle do Câncer de Mama

  • Formular políticas e propor diretrizes técnicas para as ações de controle.
  • Promover e coordenar a produção de informação epidemiológica sobre câncer.
  • Prover apoio técnico às secretarias estaduais e municipais de saúde nas ações de controle do câncer.
  • Apoiar a expansão da oferta do tratamento do câncer.
  • Capacitar profissionais em áreas estratégicas.
  • Planejar e implementar ações de comunicação em saúde.
  • Desenvolver pesquisa voltada ao controle do câncer.
  • Monitorar e avaliar as ações no nível nacional.
  • A priorização do controle do câncer de mama foi reafirmada em março de 2011, com o lançamento do plano nacional de fortalecimento da rede de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer pela presidente da República Dilma Roussef. O plano previu investimentos técnico e financeiro para a intensificação das ações de controle nos estados e municípios. No âmbito da detecção precoce, as perspectivas apontadas foram: garantia de confirmação diagnóstica das lesões palpáveis e das identificadas no rastreamento; implantação da gestão da qualidade da mamografia; ampliação da oferta de mamografia de rastreamento na população alvo; comunicação e mobilização social; e fortalecimento da gestão do programa. Na atenção terciária, foi apontada a necessidade de dar continuidade às ações de ampliação do acesso ao tratamento do câncer com qualidade, conforme objetivos da Política Nacional de Atenção Oncológica.
  • Em maio de 2013, a política de atenção oncológica foi atualizada pela Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse mesmo ano, foi instituído o Sistema de Informação de Câncer (SISCAN), uma versão em plataforma web que integra os Sistemas de Informação do Câncer do Colo do Útero (SISCOLO) e do Câncer de Mama (SISMAMA).
  • Para dinamizar a organização da atenção secundária, em 2014 foi publicada a Portaria n°189, que estabeleceu inncentivos financeiros de custeio e de investimento para a implantação de Serviços de Referência para Diagnóstico do Câncer de Mama (SDM). Esta Portaria definiu critérios para habilitação das unidades, além do rol mínimo de exames necessários para o diagnóstico. 

Cuidados Paliativos

  Os cuidados paliativos devem incluir as investigações necessárias para o melhor entendimento e manejo de complicações e sintomas estressantes tanto relacionados ao tratamento quanto à evolução da doença. Considerando a carga devastadora de sintomas físicos, emocionais e psicológicos que se avolumam no paciente com doença terminal, faz-se necessária a adoção precoce de condutas terapêuticas dinâmicas e ativas, respeitando-se os limites do próprio paciente frente à sua situação de incurabilidade.

A abordagem dos Cuidados Paliativos para o câncer:

  • Fornecer alívio para dor e outros sintomas estressantes
  • Reafirmar vida e a morte como processos naturais.
  • Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente.
  • Não apressar ou adiar a morte.
  • Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente, em seu próprio ambiente.
  • Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte.
  • Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto.

Reconstrução mamária

A lei que determina a cirurgia imediata de reconstrução mamária, nos casos de mutilação decorrentes de tratamento de câncer, foi publicada em 2013.

A nova legislação inclui dois parágrafos ao artigo 2º da lei de 1999:

  • Quando existirem condições técnicas, a reconstrução será efetuada no mesmo tempo cirúrgico.
  • No caso de impossibilidade de reconstrução imediata, a paciente será encaminhada para acompanhamento e terá garantida a realização da cirurgia imediatamente após alcançar as condições clínicas requeridas

O país conta hoje com 181 serviços de saúde credenciados e habilitados pelo Ministério da Saúde para realizar a cirurgia reparadora. Em dois anos, foram habilitados 11 novos serviços. Em 2012, foram realizadas pelo SUS 1.394 cirurgias reparadoras de mama, 50 a mais que no ano anterior.

Ref. Bibliográfica: INCA

7. Caracterizar o estadiamento do câncer de mama.

Tratamento

  • Mastectomia radical: A mastectomia radical retira toda a mama, os músculos peitorais subjacentes e os linfonodos axilares contíguos. Não é mais indicada, exceto nas circunstâncias mais incomuns, com acometimento extenso do músculo peitoral por extensão direta do tumor.
  • Mastectomia radical modificada: A radical modificada preserva o músculo peitoral maior. A retirada da mama é semelhante à empregada na mastectomia radical; mas nem a dissecção dos linfonodos axilares nem a excisão cutânea são tão extensas. As taxas de sobrevida da mastectomia radical e da radical modificada não são diferentes.
  • Mastectomia total: A mastectomia total é a retirada de toda a mama, a papila e o complexo areolar sem ressecção dos músculos subjacentes ou excisão intencional dos linfonodos axilares. Os linfonodos em posição baixa na parte superior externa da mama e na parte inferior da axila costumam ser excisados.
  • Mastectomia com preservação da pele e da papila: O número de pacientes com cânceres pequenos vem crescendo; outras estão sendo submetidas à mastectomia profilática em virtude de mutações genéticas e de outras lesões de alto risco. As pacientes podem decidir se submeter a uma mastectomia com preservação da pele (MPPe) e retirada do complexo aréolo-papilar (CAP), que deixa uma “bolsa” de pele para acomodar a reconstrução mamária, bem como a uma mastectomia com preservação da papila (MPPa), que conserva o CAP.
  • Radioterapia pós-mastectomia: A combinação de mastectomia total seguida por radioterapia. Estudos clássicos, tanto randomizados prospectivos quanto de controles históricos, mostraram que a radioterapia adjuvante melhora o controle local, mas não as taxas de sobrevida geral.
  • Tratamento conservador da mama com ou sem radioterapia: O tratamento apenas com radioterapia, sem excisão do tumor, está associado a uma alta taxa de recorrência local, assim como a excisão local sem radioterapia.
  • Terapia sistêmica adjuvante: Em muitas pacientes, o controle local e regional do câncer de mama é alcançado apenas com uma combinação de cirurgia e radioterapia. O objetivo do tratamento sistêmico adjuvante é eliminar metástases ocultas durante o período pós-operatório inicial e, assim, diminuir o risco de recorrência local e a distância.
  • Terapia sistêmica neoadjuvante: O uso tradicional da quimioterapia neoadjuvante era limitado ao câncer de mama inoperável localmente avançado ou ao carcinoma inflamatório. O objetivo da terapia sistêmica pré-operatória era converter pacientes inoperáveis em candidatas à ressecção de acordo com as respostas patológicas e clínicas. As indicações de quimioterapia neoadjuvante foram ampliadas para incluir mulheres com grandes tumores operáveis que desejam preservar a mama, em vez de realizar mastectomia.
  • Terapia hormonal: A manipulação hormonal com tamoxifeno ou um inibidor da aromatase, sozinha ou combinada a um esquema citotóxico, é benéfica em grupos selecionados de mulheres. O tamoxifeno, um análogo do estrogênio, proporciona benefícios consideráveis tanto antes quanto depois da menopausa; diminui cerca de 50% o risco anual de recorrência e em torno de 25% o risco anual de morte. Esses benefícios ocorrem nos casos de tumor receptor de estrogênio positivo.  O tamoxifeno, quando combinado à quimioterapia citotóxica, aumenta a sobrevida em mulheres com linfonodos axilares positivos e receptor de estrogênio positivo. Além do tamoxifeno, no tratamento adjuvante de pacientes com tumor receptor de estrogênio positivo, foi aprovado o uso de inibidores da aromatase, cujo mecanismo de ação é a inibição da enzima aromatase, com consequente bloqueio da conversão de androgênios em estrogênios. Esses fármacos devem ser administrados somente após a menopausa ou a mulheres na pré-menopausa tratadas com supressão da atividade ovariana ou ooforectomizada.  As pesquisas sugerem que a substituição do tamoxifeno por um inibidor da aromatase, como o letrozol, após 2,5 anos ou 5 anos, pode aumentar a sobrevida, embora o uso concomitante dos dois fármacos não seja vantajoso.

   As recomendações atuais de terapia sistêmica adjuvante no câncer de mama são resumidas da seguinte maneira:

  1. Antes da menopausa, as mulheres com acometimento dos linfonodos devem ser tratadas com quimioterapia combinada adjuvante. O tamoxifeno deve ser acrescentado ao esquema nas pacientes com tumor receptor de estrogênio positivo após terapia citotóxica
  2. As mulheres na pré-menopausa sem sinais de acometimento dos linfonodos, mas com tumores grandes (> 1 cm), aneuploides ou receptor de estrogênio negativo devem ser tratadas com quimioterapia combinada. O tamoxifeno deve ser administrado às pacientes com receptor de estrogênio positivo.

Estádios I e II

  • Cirurgia, que pode ser conservadora, com retirada apenas do tumor.
  • Mastectomia, com retirada da mama e reconstrução mamária. A avaliação dos linfonodos axilares tem função prognóstica.
  • Após a cirurgia, o tratamento complementar com radioterapia pode ser indicado em algumas situações.
  • O tratamento sistêmico será determinado de acordo com o risco de recorrência (idade da paciente, comprometimento linfonodal, tamanho tumoral, grau de diferenciação), assim como das características tumorais. Esta última baseia-se principalmente na mensuração dos receptores hormonais (receptor de estrogênio e progesterona) – quando a hormonioterapia pode ser indicada; e também de HER-2 (fator de crescimento epidérmico 2) – com possível indicação de terapia biológica anti-HER-2.

Estádio III

  • Pacientes com tumores maiores, porém ainda localizados, enquadram-se no estádio III.
  • Tratamento sistêmico (na maioria das vezes, com quimioterapia) é a modalidade terapêutica inicial.
  • Após resposta adequada, segue-se com o tratamento local (cirurgia e radioterapia).

Estádio IV

  • A modalidade principal nesse estádio é sistêmica, sendo o tratamento local reservado para indicações restritas.
  • Atenção à qualidade de vida da paciente com câncer de mama deve ser preocupação dos profissionais de saúde ao longo de todo o processo terapêutico.

Estadiamento

  Não produzem metástases: carcinoma intraductal ou lobular in situ. Produzem metástases raramente: câncer coloide ou mucinoso puro; câncer medular, adenocarcinoma tubular; carcinoma adenoide cístico. Produzem metástases com frequência moderada elevada: todos os outros tipos.

  • Sistema TNM

ESTÁDIO I: Tumor com diâmetro inferior a 2 cm sem comprometimento linfático e sem metástases.

ESTÁDIO II: Tumor diâmetro inferior a 5 cm com linfonodos axilares comprometidos porém móveis e sem metástases distantes ou um tumor com mais de 5 cm sem comprometimento linfático ou metástases distantes.

ESTÁDIO III: Todos os cânceres mamários de qualquer tamanho com possível comprometimento cutâneo, fixação peitoral ou na parede torácica, e comprometimento linfático incluindo linfonodos axilares e linfonodos mamários internos, tumores fixos mas sem metástases disseminadas.

ESTÁDIO IV: Qualquer forma de câncer mamário com ou sem comprometimento linfático, fixação peitoral, ulceração cutânea ou fixação à parede torácica, mas com metástases disseminadas.

8. Como é realizado o rastreamento para câncer de mama?

Rastreamento

  • Detecção precoce do CA de mama: exame clínico, a partir dos 40 anos de idade e anualmente.
  • A partir dos 50 anos até os 69 anos se realiza mamografia de rastreamento, a cada dois anos.
  • A partir dos 35 anos realiza-se mamografia de rastreamento em mulheres com fatores de risco.

  Em geral, são identificados três padrões de lesões: alterações benignas, lesões malignas in situ e lesões malignas invasivas. As lesões benignas estão associadas com um risco variável de câncer de mama, que vão do menor (lesões não proliferativas e sem atipias) ao maior risco (lesões proliferativas com atipias). As lesões malignas in itu podem ser ductais ou lobulares, e também variam em relação ao risco de câncer de mama invasivo (maior risco para as lesões lobulares in situ).

  As técnicas de rastreamento mais conhecidas e estudadas são os exames de imagem, o exame clínico das mamas (ECM) e o autoexame das mamas.

  • Mamografia (MMG): é um exame radiológico, realizado com equipamento específico, e que emite uma dose mínima de radiação. A MMG é considerada o padrão ouro para o rastreamento da população de risco padrão (standard).
  • O exame clínico das mamas (ECM): consiste na inspeção visual e palpação das mamas feitas por um profissional de saúde. A sensibilidade e especificidade do ECM são menores do que a da MMG.

Esse procedimento é ainda compreendido como parte do atendimento integral à saúde da mulher, devendo ser realizado em todas as consultas clinicas, independente da faixa etária.

  • Rastreamento por mamografia, para as mulheres com idade entre 50 a 69 anos, com o máximo de dois anos entre os exames.
  • Exame clínico da mama e a mamografia anual, a partir dos 35 anos, para as mulheres pertencentes a grupos populacionais com risco elevado de desenvolver CA de mama.

Grupos populacionais que são considerados com o risco elevado de desenvolvimento do CA de mama:

  • Mulheres com história familiar de pelo menos um parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnostico de CA de câncer de mama, abaixo dos 50 anos de idade
  • Mulheres com história familiar de pelo menos um parente de primeiro grau com diagnostico de CA de mama bilateral ou CA de ovário, em qualquer faixa etária
  • Mulheres com história familiar de CA de mama masculino
  • Mulheres com diagnostico histopatológico de lesão mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA:

 

Resumo Multiplicação Celular e Carcinogênese

Problema 1: “Nada será como antes”

Divisão celular

  • Fase G0: Células que já atingiram um estágio de desenvolvimento e não precisam mais se dividir. Ex.: neurônios e as hemácias.
  • Fase G1: temos crescimento em volume, produção de RNA, a duplicação de centrossomos e o primeiro O checkpoint G1-S monitora a integridade do DNA antes da célula começar a replicação.
  • Fase S: temos a duplicação dos cromossomos. Ocorre a síntese de DNA, para que ambas as células-filhas fiquem com a mesma quantidade de material genético da célula-mãe.
  • Fase G2: continua a síntese de proteínas iniciada em G1 e de Ocorre duplicação dos centríolos. Haverá aumento de volume celular. Nesta fase teremos o 2º checkpoint, que irá cessar o ciclo se o DNA estiver danificado ou se a replicação do DNA tiver sido incompleta.
  • Mitose:
    • Prófase: O envelope nuclear se rompe e os cromossomos replicados se condensam. Cada cromossomo consiste em 2 cromátides-irmãs, mantidas juntas no centrômero. A condensina compacta a cromatina.
    • Metáfase: O cinetócoro (especialização dos cromossomos em que os microtúbulos são inseridos) se desenvolve. Os cromossomos se alinham na placa equatorial. Os microtúbulos do cinetócoro puxam os cromossomos em direção a um dos polos. Teremos o terceiro checkpoint.
    • Anáfase: As cromátides-irmãs são separadas. Os microtúbulos do cinetócoro se encurtam e as cromátides se afastam do plano equatorial, indo em direção aos seus polos.
    • Telófase: O envelope nuclear se reforma. Os cromossomos se descondensam. Um anel contrátil transitório se desenvolve na citocinese e se contrai para separar as duas células-filhas.
    • Citocinese: Este processo indica o fim da divisão celular, com a formação de duas células-filhas idênticas à célula-mãe.

 Regulação da Divisão celular

   O ciclo celular é regulado por ativadores e inibidores. A progressão do ciclo celular é conduzida por proteínas denominadas ciclinas e por enzimas chamadas cinases dependentes de ciclina (CDKs). As CDKs e as ciclinas formam complexos, e a partir destes, as CDKS podem fosforilar substratos proteicos.

   Os complexos de ciclina-CDK estão ativos nas fases G1, S e G2. Alguns destes complexos regulam a transição de G1 para S, através da fosforilação da proteína Rb (o que permite a progressão do ciclo).

   Além destes mecanismos de regulação, existem os de vigilância. Estes estão preparados para detectar danos ao DNA ou aos cromossomos. Esses pontos de fiscalização são denominados checkpoints, que garantem que células danificadas não completem a replicação.

   Quando as células detectam danos no DNA, a ativação dos checkpoints retarda a progressão do ciclo celular e ativa os mecanismos de reparo. Caso haja um dano muito grave, as células entrarão em apoptose. Um mecanismo de reparo envolve um sistema formado por produtos de alguns genes. Esse mesmo sistema estimula a síntese da proteína p53, a qual estimula genes que codificam outras proteínas que param o ciclo em G1, S ou G2 ou induzem apoptose.

   Os inibidores de CDK (CDKIs) obrigam o ciclo celular a obedecer aos checkpoints, e fazem isso através da modulação da atividade do complexo CDK-ciclina. Caso algum CDKI esteja danificado ocorrerá a permissão da divisão de células com DNA defeituoso, resultando em células-filhas mutantes com potencial para desenvolver tumores malignos.

Perda do controle da multiplicação celular

   Anomalias na regulação do ciclo celular e a perda de controle da mitose geram células cancerosas. Duas classes de genes, os proto-oncogenes e os genes supressores de tumor são os mais relacionados à regulação do ciclo celular.

  • Proto-oncogenes: responsáveis pela produção de proteínas que atuam na estimulação do ciclo celular.
  • Genes supressores de tumor: responsáveis pela produção de proteínas que atuam inibindo o ciclo celular.

  Mutações nos proto-oncogenes os transformam em oncogenes (genes causadores de câncer). As que afetam os genes supressores de tumor perturbam o sistema inibidor (CDKI) e o ciclo celular fica desregulado, promovendo a ocorrência desordenada de divisões celulares e o surgimento de células cancerosas.

  • Alteração da senescência celular: Os telômeros (segmentos de moléculas de DNA) atuam como “capas protetoras” da extremidade dos cromossomos. Em células normais os telômeros são encurtados, as extremidades dos cromossomos ficam cada vez mais curtas, até atingir um limite de vida da célula, paralisando-se as divisões celulares e sinalizando o fim da vida da célula. Em células cancerosas esse limite é transposto graças a atividade de uma enzima, a telomerase, que atua na reposição constante dos telômeros, mantendo-os sempre com o tamanho original, permitindo assim, que as células se dividam continuamente e se tornem praticamente “imortais”.

Agentes carcinógenos

  • Químicos: agentes alquilantes, combustíveis fosseis, benzopireno (tabaco), etc.
  • Físicos: Raios UV, radiação, etc.
  • Biológicos: vírus HPV, Helicobacter pylori, etc.

Neoplasia

  • O seu significado é crescimento novo. As neoplasias desfrutam de certo grau de autonomia e tendem a aumentar de tamanho.
  • As neoplasias/tumores podem ser classificadas em malignos ou benignos. A palavra câncer é a denominação genérica usada apenas para tumores malignos e originou-se devido a capacidade de invadirem os tecidos vizinhos.
  • Tumor benigno: Permanecerá localizado.
  • Tumor maligno/neoplasia: A lesão pode invadir e destruir estruturas e disseminar-se para locais distantes (metástases) para causar morte. As metástases são implantes secundários de um tumor, as quais são descontínuas com o tumor primário e localizadas em tecidos remotos.

Nomenclatura

ORIGEM BENIGNO MALIGNO
Mesenquimal
Fibroblasto Fibroma Fibrossarcoma
Tecido adiposo Lipoma Lipossarcoma
Osso Osteoma Osteossarcoma
Cartilagem Condroma Condrossarcoma
Vasos sanguíneos Hemangioma Hemangiossarcoma
Vasos linfáticos Linfangioma Linfagiossarcoma
Musculo liso Leiomioma Leiomiossarcoma
Musculo estriado Rabdomioma Rabdomiossarcoma
Epitelial
Projeções epiteliais Papiloma Carcinoma
Padrão glandular Adenoma Adenocarcinoma
  • Displasia

  Caracteriza distúrbio na formação.  Surgimento de anomalias durante o desenvolvimento de um órgão ou tecido corporal, em que ocorre uma proliferação celular que resulta em células com tamanho, forma e características alteradas.

  • Metaplasia

  Transformação de um tecido em outro diferente (mais resistente ao ambiente adverso). É uma substituição adaptativa reversível que só ocorre em tecidos renováveis (epitélios e conjuntivos, nunca em músculo ou tecido nervoso).

  • Aplasia

Iniciou-se o desenvolvimento, porém interrompeu-o precocemente. É letal quando o órgão afetado é único e essencial. Exemplo: Microcefalia.

  • Anaplasia

Caracteriza “formação retrógrada”, sugerindo desdiferenciação ou perda de diferenciação estrutural e funcional das células normais. Transformação de um tecido já diferenciado num indiferenciado, com aumento considerável da capacidade de multiplicação de tais células, sendo comum nas neoplasias malignas.

Câncer de Colo de Útero
  • Fisiopatologia

Os HPVs de alto risco oncogênico (16 e 18) são considerados mais importantes na oncogênese cervical. Já os HPVs de baixo risco oncogênico (6, 11) são a causa do condiloma acuminado sexualmente transmitido.

Fatores de risco para câncer cervical:

  1. Múltiplos parceiros sexuais.
  2. Parceiro do sexo masculino com múltiplas parceiras sexuais prévias ou atuais.
  3. Idade precoce na primeira relação sexual.
  4. Alta paridade.
  5. Infecção persistente por um HPV de alto risco oncogênico, por exemplo, HPV 16 ou HPV18.
  6. Imunossupressão.
  7. Uso de nicotina.

  O epitélio endocervical possui apenas uma camada celular. Os hormônios esteroides na adolescência promovem a metaplasia deste epitélio. A endocérvix fica exposta a acidez vaginal e para prevenir este problema as células basais se proliferam e “imitam” o epitélio ectocervical. Porém esta ocorrência predispõe o colo uterino ao HPV, já que este vírus ataca células metaplásicas com mais facilidade.

  Os HPVs infectam as células basais imaturas do epitélio escamoso em áreas de ruptura epitelial ou células escamosas metaplásicas imaturas presentes na junção escamocolunar.

   Uma vez dentro da célula, o capsídeo viral se perde e inicia-se a transcrição do seu material genético. Vão ser produzidas proteínas virais através dos genes. Algumas dessas proteínas são a E1 e E2 que iniciam replicação viral através da transcrição dos genes E6 e E7.

   O gene E4 interfere na diferenciação celular e forma a coilocitose, um halo em volta do núcleo celular. Ele é identificado no Papanicolau.  O gene E6 provoca a estimulação da mitose e a degradação da proteína P53, que possui a função de parar o ciclo celular em caso de erros no DNA. O gene E7 estimula a proliferação celular através da degradação da proteína Rb (retinoblastoma), que trabalha na reparação do DNA.

   Esses fatores podem provocar proliferação celular acelerada, causando tumores. Para se tornar um carcinoma invasor, o tumor precisa acumular diversas mutações para incapacitar o sistema imune, impedir a apoptose e produzir proteínas de força invasora.

Quadro Clínico

  • Fase inicial: assintomático
  • Sangramento vaginal
  • Leucorréia de cor escura e com mau cheiro (corrimento vaginal)
  • Dor pélvica
  • Dores lombares e abdominais
  • Perda de apetite e peso
  • Obstruções das vias urinárias e intestinais

Tratamento

O tipo de tratamento dependerá do estadiamento da doença, tamanho do tumor e fatores pessoais, como idade e desejo de ter filhos.

Estádio I: Câncer localizado no colo do útero.

Estádio II: O câncer se espalha além do colo uterino, mas não chega até a parede óssea da pelve. O câncer envolve a vagina, mas não seu terço inferior (sua saída).

Estádio III: O câncer se estende até a parede óssea da pelve e/ou envolve o terço inferior de vagina.

Estádio IV: O câncer se estende para locais distantes (metástases) ou envolve a bexiga ou intestino baixo.

Estágio 0 (Carcinoma In Situ): Criocirurgia, cirurgia a laser, histerectomia, biópsia em cone (desejo de engravidar).

Estágio 1A1:  Conização (desejo de engravidar), histerectomia (tumor nas margens do cone).

Estágio 1A2:

  • Histerectomia radical com remoção dos linfonodos da pelve;
  • Radioterapia para pacientes que não podem realizar cirurgia;
  • Traquelectomia radical com remoção dos linfonodos da pelve se a paciente desejar ter filhos.

Estágios IB e IIA:

  • Lesões menores que 4 cm nos estágios IB1 ou IIA: histerectomia radical, traquelectomia radical (desejo de engravidar), histerectomia radical com retirada dos linfonodos pélvicos (casos específicos), radioterapia e braquiterapia (pacientes que tenham alguma contraindicação para realizar cirurgia).
  • Lesões maiores que 4 cm nos estágios IB2 ou IIA: quimiorradioterapia concomitante, e radioterapia exclusiva quando houver alguma contraindicação ao uso de quimioterapia.

Estágios IIB, IIIA, IIIB e IVA: Nestes estágios a quimiorradioterapia concomitante será feita da mesma forma que para o estádio IB2.

Estágio IVB: Neste estágio o câncer de colo do útero é considerado incurável. Os tratamentos são controversos, e quimioterapia, radioterapia e cirurgia são consideradas paliativas e indicadas de acordo com cada caso.

TERMOS

  1. Conização: retirada de um fragmento do colo do útero em forma de cone para remover o tecido anormal. Pode ser utilizada para diagnosticar o tumor antes de tratamento complementar com cirurgia ou radioterapia.
  2. Criocirurgia: destrói as células tumorais por congelamento.
  3. Cirurgia a Laser: destrói o tumor usando um feixe de luz intensa.
  4. Histerectomia: consiste na remoção do útero e colo do útero. Pode incluir a retirada das trompas e ovários.
  5. Histerectomia radical: retirada do colo do útero, útero, parte da vagina, e linfonodos da área.
  6. Traquelectomia: A traquelectomia radical permite que algumas destas mulheres possam ser tratadas mantendo a fertilidade. A traquelectomia remove o colo do útero e a parte superior da vagina, mantendo o corpo do útero. Os gânglios linfáticos também são removidos.

Classificação de Bethesda

É um sistema representativo para uma melhor compreensão da neoplasia.  É a nomenclatura mais utilizada para classificar as anomalias do epitélio pavimentoso cervical assim como do epitélio glandular.

  • Categorias
    • ASC-US – Células escamosas de significado indeterminado
    • ASC-H – Células escamosas atípicas, não é possível excluir uma lesão de alto grau
    • LSIL – Lesão intraepitelial escamosa de alto grau (corresponde a NIC I)
    • HSIL – Lesão intraepitelial escamosa de alto grau (corresponde a NIC II e III)
    • Carcinoma de células escamosas

 NIC – NEOPLASIA INTRAEPITELIAL CERVICAL

  As NIC são precedidas por um longo período de alterações celulares, de tal modo que elas podem ser evitadas. Microscopicamente, essas alterações se caracterizam por uma evolução que vai desde a simples atipia celular até graus mais severos de displasia ou de neoplasia intraepitelial cervical (NIC). Quanto maior o grau da NIC, maior a espessura do epitélio e a proporção nele de células indiferenciadas.

Classificação:

  • NIC I – Células indiferenciadas ocupando o terço inferior (baixo grau)
  • NIC II – Células indiferenciadas ocupando mais de um terço (alto grau)
  • NIC III (carcinoma in situ) – Células indiferenciadas através de toda espessura do epitélio (alto grau)

Epidemiologia

  • É o terceiro tipo de câncer mais comum entre as mulheres.
  • Aproximadamente 530 mil casos novos por ano no mundo.
  • Responsável pelo óbito de 274 mil mulheres por ano.
  • Risco estimado de 17 casos a cada 100 mil mulheres
  • É o tipo de câncer que aparece como o primeiro mais incidente na região norte – 24 casos por 100 mil mulheres; 10,1 mortes por 100 mil mulheres.
  • Centro-oeste e nordeste: segundo câncer mais incidente – 28/100mil e 18/100 mil, respectivamente. Taxa de mortalidade de 5,9/100 mil mulheres.
  • Sudeste: terceiro mais incidente – 15/100 mil mulheres. Taxa de mortalidade de 3,6/100 mil mulheres.
  • Sul: quarto mais incidente – 14/100 mil mulheres. Taxa de mortalidade de: 4,2/100 mil mulheres.

Prevenção

Prevenção primária:

  • Vacina bivalente: protege contra os tipos oncogênicos 16 e 18
  • Vacina quadrivalente: protege contra os tipos não oncogênicos 6 e 11 e os tipos oncogênicos 16 e 18.
  • Utilização de preservativo nas relações sexuais.
  • Evitar múltiplos parceiros sexuais.
  • Realizar exame ginecológico periódico.
  • Realizar o exame de Papanicolau pelo menos uma vez por ano.

Prevenção secundária – rastreamento.

 Diagnóstico

  • Papanicolau

  Também pode ser chamado de esfregaço cervicovaginal e colpocitologia oncótica cervical. Para garantir um resultado correto, a mulher não deve ter relações sexuais nos dois dias anteriores ao exame, evitar também o uso de duchas, medicamentos vaginais e anticoncepcionais locais nas 48 horas anteriores à realização do exame. É importante também que não esteja menstruada, porque a presença de sangue pode alterar o resultado.

   Para a colheita do material, é introduzido um instrumento chamado espéculo na vagina e então o médico faz a inspeção visual do interior da vagina e do colo do útero. A seguir, o profissional provoca uma pequena escamação da superfície externa e interna do colo do útero com uma espátula de madeira e uma escovinha. As células colhidas são colocadas numa lâmina para análise em laboratório especializado em citopatologia.

  • Colposcopia

  É um exame visual especializado do colo uterino, da vagina e da vulva. É necessário ter um colposcópio que serve como lente de aumento. Esse exame é indicado nos casos onde a citologia mostrou células anormais.

  Durante o exame é colocado um espéculo vaginal para separar as paredes da vagina. O colposcópio é colocado a cerca de 30 centímetros em frente à vagina. É aplicado uma solução de vinagre diluído e depois outra com iodo sobre o colo uterino e a vagina para identificar qualquer área anormal. Se áreas anormais forem diagnosticadas durante a colposcopia, como frequência se realiza uma biópsia para ajudar no diagnóstico final.

Problema 2: “Eu, fazer esse exame? Nem pensar! ”
Câncer de Próstata

   O adenocarcinoma da próstata se desenvolve por um conjunto de fatores genéticos, ambientais e hereditários.

  • Idade: A maioria dos pacientes com adenocarcinoma clínico encontra-se na 7ª ou 8ª décadas de vida; a frequência aumenta com a idade, chegando a ser de cerca de 70% em indivíduos com mais de 80 anos.
  • Raça: O adenocarcinoma da próstata é mais frequente em negros, do que em brancos e amarelos. Nos receptores de andrógeno (AR), há um gene relacionado ao cromossomo X que contém sequência polimorfa composta por repetição de códon que codifica glutamina (CAG) e que varia entre as raças na seguinte proporção crescente: negros, brancos e asiáticos (menor incidência de câncer de próstata).
  • Fatores ambientais: Ingestão de grandes quantidades de gordura de origem animal pode aumentar a incidência, uma vez que este nutriente elevaria as taxas de androgênios e estrogênios, os quais, por sua vez, induziriam ao desenvolvimento de tumores da próstata.
  • Fatores genéticos: Em algumas famílias, a herança é de padrão autossômico dominante; nesses casos, o risco de um homem desenvolver adenocarcinoma prostático se o pai ou um irmão tiverem o tumor é duas vezes maior e, se ambos o têm, nove vezes maior.
  • Hormônios:

   Alguns estudos clínicos mostram que andrógenos circulantes em níveis aumentados são capazes de estimular o crescimento de câncer prostático. O crescimento e a sobrevida das células do câncer de próstata dependem de andrógenos, que se ligam ao receptor androgênico (AR) e induzem a expressão de genes pró-crescimento.

 A importância dos andrógenos na manutenção do crescimento e sobrevida das células do câncer de próstata pode ser observada no efeito terapêutico da castração ou do tratamento com antiandrogênicos, que geralmente induzem regressão da doença. Infelizmente, a maioria dos tumores eventualmente se torna resistente ao bloqueio androgênico. Os tumores escapam por uma variedade de mecanismos, incluindo uma hipersensibilidade em níveis baixos de andrógeno (por exemplo, amplificação do gene de AR) e mutações no receptor androgênico que permitem sua ativação.

  Uma mudança genética estrutural muito comum no câncer de próstata são os rearranjos cromossômicos que justapõem a sequência de codificação do gene de um fator de transcrição da família ETS próximo ao promotor TMPRSS2 regulado por androgênio. A superexpressão dos fatores de transcrição ETS não transforma diretamente as células epiteliais da próstata, mas torna as células epiteliais prostáticas normais mais invasivas.

Epidemiologia

  • Quarta causa de morte por neoplasias no Brasil.
  • Corresponde a 6% do total de óbitos de homens.
  • Tanto a incidência como a mortalidade aumentam exponencialmente após a idade de 50 anos.
  • Brasil – 2012: 60.180 casos novos (30,8%) – risco estimado de 62 casos novos a cada 100 mil homens.
  • O câncer mais incidente entre os homens.

Quadro clínico

 O câncer de próstata precoce não causa sintomas. Em uma situação mais avançada apresenta polaciúria, noctúria (urinar mais à noite), dificuldade em iniciar e manter um jato contínuo de urina, hematúria (sangue na urina) e disúria (ato de urinar doloroso). O câncer de próstata pode também causar problemas com a função sexual, como dificuldade em atingir uma ereção ou ejaculação dolorosa.

  O câncer avançado pode se disseminar pelo corpo, provocando sintomas diferentes dos urinários. Dores no períneo, alterações do funcionamento intestinal, dores ao nível dos rins e nos ossos, cansaço, perda de força e de peso, são algumas das manifestações clínicas provocadas pela extensão a órgãos vizinhos ou à distância (metástases).

Prevenção

A prevenção contra o câncer de próstata é feita por meio de dois níveis de programas de prevenção:

  • Primária: Previne a ocorrência da enfermidade. É necessária a limitação da exposição a agentes causais ou fatores de risco como o tabagismo, sedentarismo, dieta inadequada.
  • Secundária: Consiste no diagnóstico precoce por meio de rastreamento com o objetivo de reduzir a incidência e prevalência do câncer de próstata.

Diagnóstico

  • Toque retal: É o teste mais utilizado, apesar de suas limitações, uma vez que somente as porções posterior e lateral da próstata podem ser palpadas.
  • Dosagem do PSA: O antígeno prostático específico (PSA) é uma substância produzida pelas células da glândula prostática. O PSA é encontrado principalmente no sêmen, mas uma pequena quantidade é também encontrada no sangue. A maioria dos homens saudáveis têm níveis menores de 4 ng/ml de sangue. A chance de um homem desenvolver câncer de próstata aumenta proporcionalmente com o aumento do nível do PSA.

Rastreamento

A forma mais aceita atualmente de rastreamento do câncer de próstata é a associação entre o toque retal e a dosagem sérica do PSA.

Recomenda-se que homens a partir de 50 anos procurem seu urologista para discutir a prática e a realização da avaliação. Aqueles com maior risco da doença (história familiar, raça negra) devem procurar o urologista a partir dos 45 anos. Os exames consistem na dosagem sérica do PSA e no exame digital retal, com periodicidade anual.

Tratamento

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Estadiamento

Através do Sistema TNM.

Escala de Gleason

O sistema de Gleason é uma graduação histológica. Quanto mais diferentes das células normais forem as células do câncer, mais agressivo será o tumor e mais rápida será sua disseminação.

A escala de graduação do câncer da próstata varia de 1 a 5, com o grau 1 sendo a forma menos agressiva:

  • Grau 1: As células são uniformes e pequenas e formam glândulas regulares, com pouca variação de tamanho e forma, com bordas bem definidos.
  • Grau 2: As células variam mais em tamanho e forma e as glândulas mostram-se frouxamente agrupadas e com bordos irregulares.
  • Grau 3: As células variam ainda mais em tamanho e forma, constituindo glândulas muito pequenas, uniformes, anguladas ou alongadas, individualizadas e anarquicamente espalhadas pelo estroma.
  • Grau 4: Muitas das células estão fusionadas em grandes massas amorfas ou formando glândulas irregulares, que são distribuídas anarquicamente, exibindo infiltração irregular e invadindo os tecidos adjacentes. As glândulas podem apresentar, ainda, células pálidas e grandes, com padrão hipernefróide.
  • Grau 5: Tumor anaplásico. A maioria das células estão agrupadas em grandes massas que invadem os órgãos e tecidos vizinhos.

   Para se obter o escore total da classificação de Gleason, que varia de 2 a 10, o patologista gradua de 1 a 5 as duas áreas mais frequentes do tumor e soma os resultados. Quanto mais baixo é o escore de Gleason, melhor será o prognóstico do paciente.

Prostatite

  • Prostatite bacteriana aguda: Resulta de bactérias semelhantes àquelas que causam as infecções do trato urinário. As bactérias se implantam na próstata geralmente por refluxo intraprostático de urina da uretra posterior ou da bexiga urinária. Associada a febre, calafrios e disúria. Ao exame retal, a próstata é sensível e mole. O diagnóstico pode ser estabelecido por cultura de urina e pelas características clínicas.
  • Prostatite bacteriana crônica: Clinicamente apresenta dor lombar, disúria e desconforto perineal. Os pacientes geralmente têm história de infecção recorrente do trato urinário causadas pela mesma bactéria.
  • Prostatite não bacteriana crônica: Forma mais comum de prostatite; é indistinguível da prostatite crônica bacteriana em termos de sinais e sintomas, mas não há história de infecção recorrente do trato urinário.

    Hiperplasia Prostática Benigna

    É a mais comum doença prostática benigna em homens com mais de 50 anos. Resulta da hiperplasia nodular das células do estroma prostático e células epiteliais, e muitas vezes leva a obstrução urinária.

   Se caracteriza pela formação de grandes nódulos na região periuretral da próstata, os quais, quando suficientemente grandes, comprimem e estreitam o canal uretral, causando a obstrução parcial, ou praticamente completa da uretra.

  O mecanismo seria a ação da diidrotestosterona (DHT). A testosterona penetra na célula epitelial prostática e por ação de uma enzima, a 5α-redutase, é transformada em DHT. Esse intermediário liga-se a receptores androgênicos nucleares, formando um complexo que atua sobre genes específicos, iniciando-se um processo de transcrição e de síntese das proteínas que modulam a proliferação das células epiteliais. Além disso, a DHT estimula o estroma prostático a secretar fatores de crescimento que promovem a proliferação de glândulas prostáticas.

  • Aspectos clínicos: Obstrução urinária, aumento da resistência ao fluxo urinário, aumento da frequência urinária, noctúria, gotejamento pós-miccional, disúria e retenção urinária.

Cascata da Metástase

Possui etapas que consistem em: invasão local, intravasamento nos vasos sanguíneos e vasos linfáticos, trânsito na vasculatura, saída dos vasos, formação de micrometástases e crescimento de micrometástases em tumores macroscópicos.  Para fins de discussão, a cascata metastática pode ser subdividida em duas fases: invasão da MEC e disseminação vascular e realojamento das células tumorais.

  • Invasão da matriz extracelular

  Os tecidos humanos são organizados em uma série de compartimentos separados por dois tipos de MEC: membrana basal e tecido conjuntivo intersticial. Um carcinoma deve primeiro romper a membrana basal, depois atravessar o tecido conjuntivo e finalmente entrar na circulação penetrando a membrana basal vascular.

1ª Etapa (afrouxamento das células tumorais): A interação célula-célula é mediada por uma família de glicoproteínas transmembranas chamadas “caderinas”. Elas então mediam a adesão no tecido epitelial para promover adesão e transmitir sinais entre elas.  Em diversos tumores, há uma diminuição da expressão de E-caderinas. Isso ocorre pois para que essa molécula de adesão execute sua função corretamente, ela depende da ligação com as “cateninas”, que sofrem mutação gênica no câncer.

2ª Etapa (degradação da MEC): Células tumorais podem elas mesmas secretar enzimas proteolíticas ou induzir as células estromais (fibroblastos) a elaborar proteases, como as metaloproteinases (MMP). As MMP regulam a invasão tumoral através da liberação de fatores de crescimento sequestrados da MEC.

3ª Etapa (alterações na fixação das células tumorais às proteínas da MEC): O terceiro passo na invasão envolve alterações na ligação das células tumorais a proteínas da MEC. Células normais possuem receptores que ajudam a manter as células num estado quiescente. A clivagem das proteínas da membrana basal pelas MMP2 e9, por exemplo, gera novos sítios que se ligam a receptores nas células tumorais e estimulam a migração.

4ª Etapa
: A locomoção é a última etapa da invasão, e é um processo complexo que envolve muitas famílias de receptores e proteínas de sinalização que eventualmente colidem no citoesqueleto de actina. As células devem se ligar à matriz na extremidade do avanço, soltar-se da matriz na extremidade final e contrair o citoesqueleto de actina para seguir adiante. Além disso, alguns produtos da clivagem dos componentes da matriz e alguns fatores de crescimento possuem atividade quimiotática para as células tumorais.

  • Disseminação Vascular e Realojamento de Células Tumorais

 Quando em circulação, as células tumorais são vulneráveis à destruição pelas células imunes. Assim, algumas células tumorais formam êmbolos por agregação e adesão aos leucócitos circulantes, particularmente plaquetas, proporcionando alguma proteção contra as células efetoras antitumorais do hospedeiro. Entretanto, a maior parte circula como célula única. O extravasamento das células tumorais ou dos êmbolos tumorais envolve adesão ao endotélio vascular, seguida pela saída através da membrana basal dentro do parênquima do órgão por meio de mecanismos semelhantes àqueles envolvidos na invasão. O local de extravasamento e distribuição das metástases podem ser previstos pela localização do tumor primário e sua drenagem vascular ou linfáticas. Muitos tumores se metastatizam para o órgão que apresenta o primeiro leito capilar que encontram após entrar na circulação. Tal tropismo pode se relacionar aos seguintes mecanismos:

  • Expressão de moléculas de adesão pelas células tumorais
  • Expressão de quimiocinas e seus receptores
  • Depois que alcançam um alvo, as células tumorais devem ser capazes de colonizar o local, mas alguns ambientes não são permissivos, como os músculos esqueléticos. Parece que esses tumores secretam citocinas, fatores de crescimento e proteases que agem sobre as células estromais residentes, os quais tornam o local metastático habitável para a célula cancerosa.
Problema 3: “Mas essas doenças acontecem em crianças? ”

Tumores sólidos e tumores não-sólidos

  • Tumores Sólidos: É um dos tipos mais comuns, podendo surgir em todos os órgãos. Se caracteriza como a disseminação para outros tecidos, a partir de um sítio primário.
  • Tumores Não Sólidos: Acometem o sistema linfohematopoieitico e são caracterizados por seu poder de infiltração.

Hematopoese

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  A hematopoese é o processo contínuo e regulado de produção de células do sangue que envolve renovação, proliferação, diferenciação e maturação celular.

 Ocorre a partir da célula hematopoiética pluripotente ou célula-tronco. Sua origem se dá durante a 3ª semana de vida no saco vitelínico. Durante o 3º mês, as células tronco hematopoiéticas (CTH) migram para o fígado, que se torna sítio principal de formação de células sanguíneas até o nascimento. A partir daí a medula óssea para a ser o sítio principal da hematopoese.

   As células-tronco têm duas propriedades que a tornam capaz de manter a homeostase hematológica do organismo, ou seja, produzir o que for necessário e na medida certa: 

  1. Pluripotência: que é a capacidade de uma única célula tronco dar origem a todas as demais.
  2. Autorrenovação: quando uma célula tronco se divide, ao menos uma deve migrar para os nichos especializados na medula, aonde receberão nutrientes e fatores necessários para tal.
Leucemia

  É uma neoplasia maligna do sistema hematopoiético caracterizada pela proliferação clonal da célula-tronco, que progressivamente substitui a medula óssea normal, impedindo o crescimento e a diferenciação das células normais e atinge o sangue periférico. Uma vez na circulação, as células neoplásicas podem infiltrar praticamente todas as vísceras, com preferência pelo fígado e baço.

Leucemia Linfoide Aguda

  • Epidemiologia: É a leucemia mais comum na infância. Um pico de incidência entre 2-10 anos é registrado. É mais comum na raça branca e tem discreta predominância no sexo masculino.
  • Patogênese: São neoplasias compostas de células B ou T imaturas, chamadas de linfoblastos. Pode ocorrer por alterações cromossômicas (hiperploidia e hipoploidia). Muitas dessas alterações desregulam a expressão e a função dos fatores de transcrição necessários para o funcionamento normal de células B e T, interrompendo sua maturação. Pode ocorrer por translocação cromossômica dos genes 12-21, 9-22.
  • Manifestações clínicas: Possui início repentino e violento, apresenta fadiga e anemia (↓hemácias), hemorragia (trombocitopenia), hepatoesplenomegalia. Também ocorre infiltração neoplásica, com dor óssea e linfadenopatia. Pode acontecer alterações do SNC, com cefaleia, vômito e paralisia dos nervos. Nessa leucemia a dor óssea é muito frequente – 80% dos casos; adenomegalia cervical ou generalizada é mais frequente – 75% dos casos; o acometimento do sistema nervoso central e dos testículos é mais comum; febre neoplásica é mais comum – 70% dos casos.
  • Diagnóstico
  1. Hemograma: leucocitose (variável), plaquetopenia (< 100 mil), anemia (Hb < 10) g/dl), neutropenia e trombocitopenia (casos graves).
  2. Mielograma: blastos (>25%)
  3. Biópsia: (> 25%)
  4. Citogenética: alterações cromossômicas
  5. Imunofenotipagem
  • Tratamento
  1. Correção de Hemograma
  2. Quimioterapia
  3. Medicamentos
  4. Transplante de células hematopoiéticas.
  • Prognóstico
  • Positivo: 2-10 anos
  • 75-85% de cura.

Leucemia Mieloide Aguda

  • Epidemiologia: É a leucemia aguda mais comum, afetando uma faixa etária bastante ampla. Sua incidência começa a se elevar a partir dos 15 anos e tende a aumentar progressivamente com a idade. O pico de incidência é aos 60 anos.
  • Patogênese: Mutações oncogênicas adquiridas que impedem a diferenciação, resultando na acumulação de blastos mieloides na medula. Pode ocorrer por translocação cromossômica dos genes 8-21, 15-17; pela deleção do gene 16.
  • Manifestações clínicas: Início abrupto, anemia, neutropenia, trombocitopenia. Hepatoesplenomegalia não é muito comum. Presença de cloroma e hiperplasia gengival.
  • Diagnóstico
  1. Hemograma: leucocitose (blastos), ↓eritrócitos, Hb, plaquetas e neutrófilos.
  2. Mielograma: mínimo 20% blastos na MO (bastão de Auer)
  3. Biópsia: idem mielograma
  4. Imunofenotipagem: HLA-DR, CD35 e CD13.
  5. Citogenética: alterações cromossômicas.
  • Tratamento
  1. Transfusão (plaquetopenia e anemia)
  2. Terapia especifica de LMA (deve ser feita com quimioterapia de alto poder mielotóxico, para tentar destruir completamente o clone mieloblástico. O transplante halogênico de células hematopoiéticas é um importante item da terapia, sendo a única chance de cura em alguns pacientes).
  • Prognóstico: 50% sobrevivência (mau prognóstico).

Leucemia Linfoide Crônica

  • Epidemiologia: É a segunda leucemia mais comum e acomete caracteristicamente a população idosa, sendo a mais comum leucemia nessa faixa etária, com preferência 2:1 no sexo masculino. A LLC praticamente não é vista em pessoas com menos de 30 anos de idade e não acomete crianças.
  • Patogênese: Possui clone neoplásico que é um linfócito B maduro, porém bloqueado numa fase de diferenciação, que impede a sua transformação em plasmócito. A evolução da doença é o acúmulo de linfócitos B neoplásicos na medula óssea, passando em seguida para o sangue periférico e atingindo os linfonodos, baço e fígado. A deleção de 13q é a anormalidade mais comum; outras anormalidades incluem deleção de 11q (15% a 20%), trissomia do 12 (15% a 20%) e deleção de 17p (5% a 10%).
  • Quadro clínico: Os pacientes são frequentemente assintomáticos. Podemos encontrar hepatoesplenomegalia, sudorese, anorexia, fadiga, linfadenopatia e infecções recorrentes.
  • Diagnóstico
  1. Hemograma: leucocitose, trombocitopenia e anemia (↓hemácias)
  2. Mielograma: linfoblastos
  3. Biópsia: se necessário
  4. Imunofenotipagem: CD5, CD23, CD38, CD19, CD20, ZAP.
  5. Citogenética: Deleções 13q, 11q.
  • Tratamento: Transplante medular e quimioterapia.
  • Prognóstico: A sobrevida geral é de 4-6 anos, logo mau prognóstico.

Leucemia Mieloide Crônica

  • Epidemiologia: O pico de incidência da LMC é na fase adulta, entre 45-55 anos, porém pode ocorrer em crianças. Existe um discreto predomínio no sexo masculino.
  • Patogênese: O clone neoplásico da LMC provavelmente é uma célula-tronco. Por razões desconhecidas essas células adquirem uma anomalia citogenética denominada cromossomo Philadelfia que, na verdade, é uma translocação entre os braços longos do cromossomo 9 e 22. A posição desses genes forma um oncogene híbrido, responsável pela síntese de proteína P210 incriminada no aumento da divisão celular e no bloqueio da apoptose.
  • Manifestações clínicas e laboratoriais
  • Fase Crônica (3-5 anos): Caracterizado por hiperplasia medular e capacidade de maturação das células mieloides. Anemia branda/moderada, hipermetabolismo celular resultando em fadiga, perda de peso, anorexia, desconforto abdominal (esplenomegalia).
  • Fase Acelerada (3-18 meses): Perda progressiva de diferenciação celular. Pior da anemia e trombocitopenia.
  • Fase Blástica (3 meses): Quadro semelhante à leucemia aguda. Presença de mais de 20% de blastos no sangue periférico ou medula.
  • Diagnóstico
  1. Hemograma: Leucocitose/granulócitos, trombocitose, ↓hemácias
  2. Mielograma: ↑blastos (fase blástica), ↓blastos (fase crônica)
  3. Citogenética: Ph t(9;22).
  4. Plaquetometria;
  5. Citoquímica e Imunofenotipagem;
  6. BCR/ABL no sangue periférico ou na medula óssea;
  7. Biópsia de medula óssea incluindo determinação de fibrose medular.
  • Tratamento
  • Correção de plaquetopenia e anemia: hemocomponentes filtrados.
  • Quimioterapia e corticoides
  • Transplante de MO: em casos de +Ph ou doença recidiva.
  • Inibidores de tyrosine kinase (faz com que a célula siga seu caminho normal para a apoptose) e transplante medular.

    Exames para o diagnóstico de leucemia

  • Mielograma ocorre quando uma amostra de sangue da medula óssea é retirada por meio de uma agulha. Esse exame é feito sob anestesia local e consiste na aspiração da medula óssea seguida da confecção de esfregaços em lâminas de vidro, para exame ao microscópio. Os locais preferidos para a aspiração são a parte posterior do osso ilíaco (bacia) e o esterno (parte superior do peito
  • Os exames de citogenética, como o cariótipo, são fundamentais, pois avaliam especificamente os cromossomos (a busca é pelo cromossomo Philadelphia).
  • o FISH (Hibridização Fluorescente in situ) é outro tipo de exame que avalia os cromossomos, e detecta as alterações pequenas não visualizadas.
  • Há ainda o teste molecular de reação em cadeia da polimerase (PCR), utilizado para o diagnóstico e acompanhamento da doença. Ele mede, no sangue ou medula óssea, a quantidade do gene de fusão causador deste tipo de câncer, o BCR-ABL.
Problema 4: “Mas eu só estou um pouco cansada…”

Pólipos

 Pólipos são lesões originadas na mucosa, com a proliferação de seus tecidos. O pólipo extravasa para a luz e pode ser séssil ou pediculado. Os pólipos que continuam acumulando novas células e crescendo são denominados neoplásicos.

Pólipos não-neoplásicos constituem a maioria dos pólipos colônicos (cerca de 90%) e podem ser de três tipos: hiperplásicos, hamartomatosos e inflamatórios.

  1. Pólipos hiperplásicos: são os mais frequentes, geralmente pequenos, sésseis e múltiplos; sua frequência aumenta com a idade, sendo mais comuns no retossigmoide de indivíduos acima de 50 anos.
  2. Pólipos hamartomatosos: são lesões decorrentes de defeitos do desenvolvimento e constituídas por tecidos próprios do local, com diferenciação aberrante, levando ao aparecimento de massas; podem ser esporádicos ou associados a síndromes hereditárias.
  3. Pólipos inflamatórios: são lesões nodulares, secundárias a ulceração e reparo da mucosa, que surgem após inflamações no cólon.


Pólipos neoplásicos: são constituídos por proliferação das células epiteliais que revestem a mucosa, com diferentes graus de displasia, sendo por isso considerados lesões pré-cancerosas. Sua prevalência aumenta com a idade. Mais de 70% desses pólipos localizam-se no retossigmoide, 20% no sigmoide e os 10% restantes nas porções proximais do cólon.

  1. Adenoma tubular: é o tipo mais comum. A lesão é encontrada do estômago ao reto, mas cerca de 90% localizam-se no cólon. Pode ser uma lesão solitária, esporádica, ou múltipla, associada à síndrome de polipose familiar.
  2. Adenoma viloso: O adenoma viloso tem o pior prognóstico: o risco de transformação maligna é dez vezes maior do que o do adenoma tubular. O tumor localiza-se na porção distal do intestino grosso e manifesta-se em indivíduos após a 6ª década de vida. A lesão é geralmente única e apresenta sinais clínicos mais frequentes. O adenoma viloso é descoberto em geral por sangramento retal; ocasionalmente, apresenta hipersecreção de muco.
  3. Adenoma tubuloviloso: A lesão consiste na combinação de componente tubular com componente viloso, podendo este variar de 25 a 50% da lesão. O risco de transformação maligna é proporcional à quantidade do componente viloso. O adenoma tubuloviloso tem a mesma localização do adenoma tubular e apresenta-se como tumoração séssil ou pediculada, com características histológicas de estruturas tubulares e vilosas.

Síndrome da Polipose Familiar

 A polipose familiar do cólon é doença genética de herança autossômica dominante, causada por mutações no gene APC. A doença caracteriza-se por numerosos pólipos adenomatosos na mucosa do cólon. Na forma clássica, os pacientes desenvolvem 2.500 adenomas, localizados predominantemente no cólon descendente e no sigmoide. A transformação maligna é sugerida, macroscopicamente, por ulceração.

Transformação maligna dos adenomas

    O aspecto mais importante quando se examina um adenoma é identificar se a lesão apresenta focos de carcinoma intramucoso ou invasivo. A probabilidade de se encontrar carcinoma em adenoma correlaciona-se com o tamanho da lesão (maior que 2 cm), com sua estrutura histológica (tubular ou vilosa) e com a intensidade das atipias celulares, isto é, com o grau de displasia. Os carcinomas intramucosos apresentam baixo potencial de metástase, pois os vasos linfáticos localizam-se abaixo da muscular da mucosa. O carcinoma é considerado invasivo quando ultrapassa a muscular da mucosa.

Câncer de Cólon

Fisiopatologia

   Há múltiplos fatores envolvidos no surgimento do câncer de cólon, entre eles os fatores genéticos (hereditários ou adquiridos). Acredita-se que agentes cancerígenos (físicos, químicos e biológicos), principalmente ambientais e dietéticos (dieta rica em gordura animal), provoquem mutações genéticas especificas no DNA nuclear das células do epitélio intestinal, produzindo mutações, fraturas cromossômicas e outras alterações do material genético.

 As condições hereditárias mais frequentes são a polipose adenomatosa familiar (PAF), o câncer colorretal hereditário sem polipose (HNPCC), também denominada síndrome de Lynch, síndrome do carcinoma colorretal hereditário, polipose juvenil familiar e síndrome do adenoma plano.

 Além dos fatores genéticos e ambientais, acredita-se que processos inflamatórios também possam estar envolvidos, como a doença de Crohn.

  A carcinogênese colorretal está relacionada com duas vias, denominadas via supressora (APC/beta-catenina) e via mutadora (instabilidade de microssatélites).

Via supressora: De acordo com esse modelo, o carcinoma colorretal desenvolve-se seguindo uma sequência de eventos moleculares, em etapas cumulativas. Nesta via há transtornos na regulação da proliferação celular, promovendo instabilidade genômica, o que favorece mutações sucessivas em múltiplos genes supressores e proto-oncogenes, resultando em adenomas que evoluem para adenocarcinoma, configurando a sequência adenoma-carcinoma.  A progressão de adenoma para carcinoma deve-se a mutações adicionais em alguns genes que promovem crescimento do adenoma, aumento do grau de displasia e desenvolvimento da capacidade invasiva, resultando em carcinoma. Os principais genes mutados no carcinoma colorretal são:

  • APC: Gene supressor no cromossomo 5 e encontra-se intimamente envolvido na patogênese da polipose familial do cólon (FAP). O produto do gene APC liga-se à beta-catenina, uma proteína; o complexo formado (APC-beta-catenina) favorece a degradação da beta-catenina nas células. Com mutação no gene APC, o complexo não se forma e, portanto, a beta-catenina não é degradada. Permanecendo íntegra, a beta-catenina desloca-se para o núcleo, onde atua como fator de transcrição para diversos genes que estimulam a divisão celular. Além disso, há também diminuição da apoptose.
  • K-RAS: O RAS é o oncogene mais ativo em adenomas e carcinomas do cólon e está situado no cromossomo 12. Mutações no RAS atuam durante a progressão da neoplasia.
  • SMAD: Os genes SMAD2 e SMAD4 localizam-se no cromossomo 18q21 e estão envolvidos na sinalização do TGF-beta, que inibe a proliferação celular. A perda da função desses genes está relacionada com a autonomia de proliferação celular.
  • p53: Situado no cromossomo 17, o gene p53 codifica uma fosfoproteína nuclear que, quando ocorre agressão ao DNA, inibe a proliferação celular e desencadeia a apoptose.


Via mutadora: Caracteriza-se por alterações genômicas em genes de reparo do DNA. Os produtos desses genes são “revisores” do DNA, pois detectam erros ocorridos durante sua replicação. A maioria das mutações envolve o hMSH2 (cromossomo 2p22) e o hMLHl (cromossomo 3p21). No genoma humano, existem 50.000 a 100.000 sequências repetitivas de um a seis nucleotídeos chamadas microssatélites. Mutações nos genes de reparo do DNA associam-se muitas vezes a alterações nas sequências repetitivas, referidas como instabilidade de microssatélites (IMS). E tais mutações resultam em aumento da proliferação celular e/ou diminuição da apoptose.

   O desenvolvimento de tumores no colorreto segue uma progressão clara de pólipo para adenoma benigno e depois para tumor maligno. Quando surge um tumor maligno na mucosa, este se dissemina para as camadas mais profundas da parede intestinal e acaba penetrando na serosa. A invasão da serosa acarreta um risco significativo de metástase. As células também podem invadir canais linfáticos ou vasculares e disseminarem-se ainda mais. Os principais sítios metastáticos do câncer de colón são o fígado (através da veia porta), pulmões (através da veia cava inferior), peritônio (por contato) e linfonodos.

Epidemiologia

  • O câncer colorretal é considerado como doença de indivíduos idosos, com pico de incidência na sexta década de vida.
  • Mais de 90% de todos casos de câncer de cólon e reto ocorrem em pacientes maiores de 50 anos.
  • A incidência na população jovem (menores de 40 anos) varia de 2,1 a 14,6%. Em menores de 30 anos a incidência é de menos de 1%.
  • É a quarta neoplasia mais comum no mundo, superada pelos tumores de pulmão, mama e próstata.
  • Segundo a OMS, temos mais de 940 mil novos casos por ano e 500 mil mortes anuais.
  • No Brasil, está entre as cinco primeiras causas de morte por câncer, e possui maior incidência nas regiões Sul e Sudeste.

Fatores de risco

  • Idade (maioria dos casos diagnosticada após os 60 anos)
  • Dietas pobres em frutas, verduras e legumes
  • Dietas rica em gordura animal (responsável por 66 a 75% dos casos de câncer de cólon e reto)
  • História de parentes de primeiro grau com adenomas diagnosticados antes dos 60 anos de idade
  • História pessoal pregressa de adenomas ou câncer de mama, ovário ou endométrio
  • Portadores de colite ulcerativa crônica ou doença de Crohn
  • Condições hereditárias (cerca de 7% dos casos de câncer) – síndromes genéticas (PAF e HNPCC)
  • Tabagismo

Rastreamento

Possui objetivo de diminuir a incidência e mortalidade por câncer do intestino na população alvo.  O rastreamento para câncer do intestino é realizado de acordo com a estimativa de risco para a neoplasia de cada população:

  • Baixo risco – indivíduos com idade superior a 50 anos e sem outros fatores de risco
  • Risco moderado – pacientes com história familiar de câncer do intestino em um ou mais parentes de primeiro grau, história pessoal de pólipo maior do que 1cm ou múltiplos pólipos de qualquer tamanho e os indivíduos com antecedentes pessoal de câncer do intestino tratado com interação curativa
  • Alto risco – indivíduos com história familiar de FAP ou HNPCC, ou com diagnóstico de doença inflamatória intestinal na forma da pancolite ou colite esquerda.

  O protocolo de rastreamento para o câncer do intestino mais utilizado para população de risco baixo e moderado é a realização anual da pesquisa de sangue oculto nas fezes, seguida pela colonoscopia ou retossigmoidoscopia nos indivíduos com resultado positivo.

Quadro clínico

O câncer colorretal se desenvolve de forma lenta e gradual. A suspeita de tumores se faz através de sintomas e sinais como: dor abdominal, alterações dos hábitos intestinais (aumento de frequência evacuatória, constipação, alteração do calibre das fezes, diarreia), perda de sangue e/ou muco nas fezes, etc.

Colón Ascendente/ Ceco Colón Descendente Reto
Anemia Ferropriva (+++) Anemia Ferropriva (+) Muco nas fezes
Diarréia Constipação Intestinal Sangue vivo
Fadiga Fadiga Dor ao evacuar
Perda de Peso Sangue oculto nas fezes  
Inapetência Tenesmo e Cólica  
  Fezes caprinas  
  Perfuração Intestinal  
  Perda de peso (inapetência).  

Diagnóstico

Hemograma: anemia em função do sangramento. Algumas enzimas podem ser pedidas como marcadores hepáticos e tumorais (CEA – antígeno carcinoma embrionário)

Pesquisa de Sangue Oculto nas fezes: A ideia por trás desse exame é que os vasos sanguíneos nas superfícies de pólipos grandes ou de câncer colorretal são frágeis e facilmente danificados pela passagem de fezes. Esse exame detecta tal sangramento por meio de reações químicas, entretanto não nos possibilita saber o local de origem.

Retossigmoidoscopia: Exame feito por meio de sonda iluminada, sigmoidoscópio, que é inserido no reto e cólon inferior, para detectar pólipos e outras anormalidades.

Colonoscopia: Exame semelhante a retossigmoidoscopia, entretanto a sonda iluminada (colonoscópio) é inserida no reto e em todo o cólon. As vantagens em relação ao outro exame são que esse permite remoção de possíveis pólipos encontrados por biópsia.

Enema Opaco: ingesta de solução de sulfato de bário, distende o colón e permite sua visualização de pólipos ou outras alterações em raio-x.

Biópsia: Aqui com amostras dos pólipos, podem ser feitos testes genéticos (mudanças nos genes), de instabilidade das microssatélites e análise histológica.

Tratamento

  • Cirurgia: consiste na retirada do tumor juntamente com parte do cólon ou reto e os linfonodos adjacentes. Os melhores resultados estão relacionados a métodos radicais, como, a extensão da ressecção, a remoção de linfonodos, etc.
  • O tratamento rádio e quimioterápicos podem apresentar vantagens nos estádios II e III. A quimioterapia pode ser administrada para destruir qualquer célula cancerosa que possa ter permanecido no organismo após a operação, para controlar o crescimento tumoral ou para aliviar os sintomas ocasionados pela doença. Pode vir a causar efeitos colaterais como mucosite (inflamação da parte interior da boca) e neutropenia febril (baixa de neutrófilos). O tratamento para pacientes em estádio IV é baseado em quimioterapia com objetivo paliativo.

Estadiamento

As classificações mais utilizadas são a de DUKES e o sistema TNM.

Problema 5: “O que fazer com uma dor de cabeça? ”
Câncer de Pulmão

Fisiopatologia

 O câncer do pulmão pode ser dividido em quatro tipos histológicos principais: carcinoma epidermoide (ou de células escamosas), adenocarcinoma, carcinoma de células grandes e carcinoma de células pequenas.

  Assim como ocorre com muitas outras neoplasias, a gênese do câncer pulmonar resulta da interação de fatores ambientais com alterações genômicas múltiplas. De longe, o fumo, em associação com outras substâncias, como asbestos, radônio e radicais livres, é responsável por cerca de 90% dos casos do câncer do pulmão em homens e 70% em mulheres.

  Muitos estudos associam anormalidades em oncogenes e genes supressores de tumor ao aparecimento do câncer pulmonar. Nesse sentido, o oncogene RAS tem grande interesse. Em fumantes, transversões de guanina para timina são atribuídas a carcinógenos contidos no tabaco, como o benzopireno; tais mudanças são suficientes para transformar o proto-oncogene em oncogene RAS.

  O gene supressor de tumor mais comum é o p53, cuja expressão anormal favorece a proliferação celular descontrolada e a diminuição da apoptose. Mutações no gene p53 são também causadas pelo benzopireno, que provoca transversões do tipo G:C para T:A.

  • Carcinoma epidermoide (escamoso)
  • Tipo mais frequente de câncer de pulmão.
  • Mais associado ao tabagismo.
  • Melhor prognóstico.
  • Tumor com localização usualmente central.
  • Metástases vão para os linfonodos regionais, sendo tardia a disseminação hematogênica.
  • Mutações: p53, EGFR, Rb1.
  • Adenocarcinoma
  • Mais frequente em mulheres.
  • Associação com o tabagismo é menos importante.
  • O tumor se localiza predominantemente na periferia dos pulmões.
  • Mutações: K-RAS, Rb1, p53, EGFR, C-MET.
  • Alto potencial metastático.
  • Carcinoma de células grandes
  • Tipo menos frequente.
  • Comportamento altamente agressivo.
  • Evolui rapidamente para óbito.
  • Localização predominantemente periférica.
  • Carcinoma de células pequenas
  • Predomina na 6ª/7ª década de vida e é mais comum em homens.
  • Grande associação com o tabagismo.
  • Pior prognóstico.
  • Dá metástase com frequência, sobretudo para a medula óssea.
  • Localização predominantemente central.
  • Possuem grânulos neurossecretores.

Epidemiologia

  • A incidência estimada de câncer de pulmão no mundo aumentou 51% desde 1985.
  • Coincide com um aumento paralelo na produção de tabaco e consumo de cigarro.
  • Predominante entre 35 e 75 anos (pico de incidência aos 55 aos 65 anos).
  • História familiar: risco 2,5 vezes maior do que na população geral.
  • Segundo o INCA, em 2008 o câncer do pulmão foi responsável por 20.485 mortes, sendo 13.050 homens e 7.435 mulheres.

Fatores de risco

  • Tabagismo: benzopireno. Quanto maior a carga tabágica, maior a probabilidade do aparecimento do câncer.
  • Raça: O risco de CA, em homens negros, foi 50% maior em homens brancos nos últimos 10 a 15 anos.
  • Poluição
  • Riscos industriais: asbesto, radônio, urânio.
  • Radiação ionizante.
  • Doenças pulmonares (ex.: DPOC).

Rastreamento

  • A partir dos 55 anos.
  • Carga tabágica acima de 20 maços-ano.
  • Tomografia computadorizada de baixa dose (TCBD).

Quadro clínico

  • Tosse – sintoma mais comum (45 a 75%)
  • Hemoptise – entre 27 a 57%
  • Dor torácica – 27 a 49% dos casos de CA de pulmão
  • Sibilos ou Estridor – sibilos sugerem obstrução do brônquio, enquanto que obstrução grande da via aérea produz estridor
  • Dispneia

Efeitos metastáticos:

As metástases extrapulmonares para CA de pulmão ocorrem mais frequentemente para o fígado, suprarrenais, ossos e cérebros

  • Rouquidão e paralisia do diafragma.
  • Derrame pleural.
  • Síndrome de Pancoast.
  • Síndrome da veia cava superior.
  • Coração – dispneia, tosse, pulso paradoxal, estase jugular e aumento da área cardíaca.
  • Fígado – aumento do volume, icterícia e ascite.
  • Suprarrenal – insuficiência é raramente observada
  • Óssea – dor torácica, sensibilidade óssea.
  • Sistema nervoso central – assintomáticos ou cefaleia, náusea, vomito, tontura, hemiparesias, déficit de nervos cranianos ou perdas de campo visual.

Diagnóstico

  • Radiografia de tórax: Tem alta sensibilidade para tumores periféricos.
  • Tomografia de tórax: Este exame nos dá noções precisas do tamanho, localização e níveis de invasão do tumor.
  • Citologia de Escarro: É mais sensível para os tumores centrais. A diferenciação entre carcinoma de pequenas células e do grupo carcinoma de grandes células têm alto nível de confiabilidade.
  • Toracocentese: Indicado em casos de derrame pleural, para realização de citologia do líquido, com sensibilidade entre 40 a 70%.

 Tratamento

Cirurgia: A ressecção cirúrgica de CA de pulmão tem se tornado um procedimento seguro, com baixas taxas de complicações e mortes pós-operatórias. Realizar se o tipo histológico for carcinoma de grandes células, se o estadiamento clínico for I ou II.

Quimioterapia: Mais indicado para carcinoma de pequenas células e estádios avançados.

Estadiamento

O estadiamento do CA de pulmão baseia-se na extensão anatômica do tumor. É estadiada de acordo com o sistema TNM. Onde T = tamanho do tumor, N = envolvimento de linfonodos, M= metástases a distância.

Metástase

As metástases ocorrem nos linfonodos do hilo pulmonar, nos linfonodos cervicais e abdominais, na pleura e no pericárdio. Metástases hematogênicas ocorrem sobretudo para suprarrenais, fígado, ossos e cérebro.

  • Sistema nervoso central (SNC)
    • Calota craniana, leptomeninges, parênquima cerebral.
    • 80-85% no lobo frontal e 10-15% no cerebelo.
    • Cefaleia, vômito, náuseas, alteração da consciência e crises convulsivas.
  • Metástases ósseas
    • Coluna, costelas, fêmures.
    • Dor, fraturas, hipercalcemia, imobilidade.
  • Metástases hepáticas
    • Anorexia, dor e hepatomegalia.
    • Dor, fraturas, hipercalcemia, imobilidade.

Tumor de Pancoast

  • Localizam-se posteriormente no ápice dos lobos superiores, junto ao plexo braquial.
  • São frequentes: dor, alteração na temperatura cutânea e atrofia muscular do ombro e das porções do membro superior secundária ao comprometimento nervoso.
  • O tumor pode invadir a pleura e a parede torácica, destruindo a primeira e a segunda costelas, causando intensa dor. Pode também invadir e destruir o corpo vertebral. Nesses casos, devido ao acometimento da cadeia simpática e do gânglio estrelado, é comum o aparecimento da síndrome de Horner, que se caracteriza por: enoftalmia unilateral, ptose palpebral, miose e anidrose da face e do membro superior.

Síndrome da Veia Cava Superior

  • A síndrome da veia cava superior é decorrente de obstrução vascular pelo tumor.
  • Causa edemas, insuficiência respiratória, dispneia, hipoxemia e produção de escarro.

Carga tabágica

carga tabagica

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