Para fazer uma toracocentese temos que ter mais de 1 cm de líquido no raio x de tórax em decúbito lateral.
A exceção fica para os derrames pleurais simétricos ocasionados por congestão pulmonar já que nestes casos, um pouco de diurético faz com que o derrame desapareça.
Não é necessário que a toracocentese seja realizada em centro cirúrgico, mas deve ser preferencialmente utilizado um local limpo e reservado para pequenos procedimentos. A toracocentese pode também ser realizada à beira do leito se necessário.
O procedimento deve ser realizado preferencialmente com o paciente sentado, com os braços e a cabeça apoiados em travesseiros, sobre um anteparo (como uma mesa) ou com a mão ipsilateral ao derrame apoiada sobre o ombro contralateral.
Os pacientes submetidos à ventilação mecânica, e aqueles nos quais as más condições clínicas não permitam este posicionamento, devem permanecer deitados em decúbito lateral do lado do derrame ou semi-sentados no leito.
O melhor local para se realizar a toracocentese deve ser determinado a partir da propedêutica, geralmente na região subescapular e sempre na borda superior do arco costal, para evitar o feixe vásculo-nervoso.
O próprio aspecto do líquido da punção já pode trazer alguma informação.
- A cor, a transparência, a viscosidade e o odor devem ser descritos
- Líquidos leitosos nos reportam para o diagnóstico de neoplasia ou hipertrigliceridemia.
- Líquido sanguinolento nos farão pensar em neoplasia, infarto pulmonar, tuberculose ou mesmo pode ter ocorrido acidente de punção.
TRANSUDATO E EXSUDATO
- Derrame Pleural Transudativo: forma-se quando fatores sistêmicos que influenciam a produção e a absorção do líquido pleural estão alterados.
- Derrame Pleural Exsudativo: forma-se quando fatores locais que regulam a formação e a absorção do líquido pleural estão alterados
As principais causas de transudato são insuficiência cardíaca congestiva, embolia pulmonar, atelectasias, hipoalbuminemia, diálise peritoneal, cirrose hepática, síndrome nefrótica, glomerulonefrite e neoplasias.
As principais causas de exsudatos são neoplasia (metastática), doenças infecciosas e tromboembolia pulmonar.
CRITÉRIOS DE LIGHT
Para a distinção de exsudatos e transudatos baseiam-se em parâmetros bioquímicos, relação entre os níveis de LDH e de proteínas no líquido pleural e no soro. A enzima LDH pode ser pedido quando algum dano tecidual ou celular são suspeitados.
TIPOS DE DERRAME PLEURAL
Derrame pleural na insuficiência cardíaca congestiva
O derrame pleural é uma condição muito frequente na insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Trata-se de um transudato, podendo, erroneamente, ser caracterizado como exsudato pelos critérios de Light.
Na maioria das vezes, o derrame pleural é bilateral (em até 88% das vezes segundo alguns autores), mas com volume maior a direita. Quando unilateral, é mais frequente a direita, na proporção de 2:1 em relação à esquerda.
Clinicamente o indivíduo apresenta-se com os sinais e sintomas característicos da ICC, com dispneia progressiva, podendo evoluir até ortopnéia e dispneia paroxística noturna, nictúria, edema de membros inferiores, turgência de jugular, presença de terceira bulha e estertores crepitantes à ausculta pulmonar.
A ausculta pulmonar pode estar mascarada pela presença do próprio derrame, com abolição do murmúrio vesicular na região correspondente.
Na radiografia de tórax, além do derrame pleural, evidencia-se aumento da área cardíaca e sinais de congestão pulmonar.
O derrame pleural devido a ICC resolve-se com o seu tratamento. Em casos isolados, com derrames volumosos e pacientes muito dispnéicos, a toracocentese evacuadora pode ser necessária. Em derrames refratários, também de maior volume e em pacientes sintomáticos, podese fazer a pleurodese e, mais raramente ainda, a derivação entre o espaço pleural e cavidade peritoneal.
Secundário a Embolia
- Epidemiologia: 40-50% dos casos de TEP
- Sinais clínicos: Dor torácica, hemoptise, dispneia desproporcional ao grau de derrame.
- Mecanismo: isquemia com aumento da permeabilidade capilar ou atelectasia secundária a dor.
- 20% transudato
- Exsudato, neutrofílico e hemorrágico: clássico.
Derrame pleural por tuberculose
O derrame pleural na TB expressa o processo inflamatório de hipersensibilidade tardia do tipo IV (imunidade mediada por células), resultante da presença do bacilo ou de antígenos do M. tuberculosis no espaço pleural.
Esses bacilos ou antígenos podem entrar no espaço pleural após ruptura de foco caseoso pulmonar na região subpleural, por contigüidade da lesão pulmonar, por ruptura de gânglio mediastinal ou por via hematogênica/linfática.
Os neutrófilos são predominantes de início, havendo posteriormente predomínio de linfócitos. A liberação local de citocinas representa um mecanismo importante no recrutamento da população celular envolvida na resposta inflamatória, com ação direta nas células mesoteliais e no endotélio vascular.
As células mesoteliais ativadas são envolvidas na regulação do afluxo celular, na liberação de óxido nítrico, no balanço da coagulação e fibrinólise, na proliferação celular e na fibrogênese.
As alterações descritas direcionam o influxo de líquido, proteínas e células inflamatórias para o espaço pleural.
No exame físico do tórax observamos abolição do murmúrio vesicular e do frêmito tóraco-vocal, e macicez à percussão. O derrame pleural é quase sempre unilateral e à direita, de pequeno a moderado volume (entre 500-1000ml, ocupando menos de um quarto do volume do hemitórax). O líquido pleural na tuberculose tem aspecto serofibrinoso e cor amarelada. A análise bioquímica mostra tratar-se de exsudato.
Derrame pleural parapneumônico
É a causa mais comum de DP exudativo, é associada a pneumonia ou abcessos. A incidência de derrame pleural nas pneumonias varia de 36% a 57%, sendo sua presença considerada como um fator de pior prognóstico, com maior morbidade e mortalidade.
A conduta frente à pneumonia com derrame pleural é a toracocentese, exceto em casos em que o derrame é muito pequeno, de difícil punção (derrames com espessura menor que 10 mm na radiografia de tórax em decúbito lateral com raios horizontais). Nestes casos o paciente deverá ser submetido a um controle radiográfico em 48 horas e, caso o derrame pleural tenha aumentado, a toracocentese deve então ser realizada. É feita com o objetivo de diagnóstico do agente etiológico e definir qual o estágio de evolução do derrame.
Os sintomas estão relacionados à pneumonia adjacente, sendo muitas vezes, indistinguível da mesma.
Sintomas clássicos de pneumonia como febre, tosse, esforço respiratório, letargia, mal-estar e quando existe lesão inflamatória pleural, dor torácica, dor abdominal; sendo que nestes casos o derrame pleural já está presente ao internamento.
Atualmente, a maioria dos autores considera três estágios evolutivos dos derrames pleurais associados à pneumonia: derrame parapneumônico não complicado, derrame parapneumônico complicado e empiema pleural.
O derrame pleural parapneumônico não complicado ocorre nas primeiras 48-72 horas (5-7dias) do quadro pneumônico, sendo geralmente de pequeno volume, é estéril. Trata-se de um exsudato, com número de células aumentado, com predomínio depolimorfonucleares. O exame do líquido mostra níveis de glicose acima de 60 mg/dl, DHL menor que 500 u/l e pH maior que 7,30. Tratamento antimicrobiano da pneumonia, não havendo necessidade de drenagem torácica.
Empiema
O empiema pleural é a presença de pus na cavidade pleural e os indivíduos com empiema frequentemente se queixam de dor torácica pleurítica e têm febre refratária por vários dias no curso de sua pneumonia. Na maioria das vezes o empiema pleural está associado a uma pneumonia bacteriana subjacente, constituindo-se na progressão do derrame parapneumônico complicado.
Além da antibioticoterapia, é necessária a drenagem completa da cavidade pleural. O derrame é >40% do hemitórax e há espessamento pleural >5mm. Na análise do líquido, o pH <7,2-7,3, glicose<60mg/dL ou relação liquido/soro <0,5, DHL >1000UI/L.
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