- O que é?
A epidemiologia é uma disciplina básica da saúde pública voltada para a compreensão do processo saúde-doença no âmbito de populações. Analisa a distribuição, a frequência e os fatores determinantes de doenças, propondo medidas de prevenção, controle ou erradicação de doenças; fornecendo indicadores que servem de suporte ao planejamento e avaliação das ações/políticas de saúde.
Os dados coletados podem ser valores absolutos (brutos), que são aqueles obtidos em uma certa situação e local. Também podem ser valores relativos (coeficiente/índice), com o uso de frações.
Um coeficiente/taxa é calculado através da razão entre duas frequências. Possui a capacidade de indicar risco e probabilidade.
- Raciocínio epidemiológico
Possui como componentes a frequência, a distribuição e os determinantes. Analisa padrões do processo saúde-doença.
- Conceitos básicos1.Dado: matéria-prima para gerar informações;
2. Informação: gerida pela combinação e interpretação de dados;
3. SIS (Sistema de Informação em Saúde): formulação de indicadores, coleta e processamento de dados, produção de informações;
- O que é Vigilância Epidemiológica?
O SUS a definiu como “um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. As ações de vigilância epidemiológica passaram a ser operacionalizadas num contexto de reorganização do sistema de saúde brasileiro, caracterizada pela descentralização de responsabilidades, pela universalidade, integralidade e equidade na prestação de serviços.
A vigilância epidemiológica tem como propósito fornecer orientação técnica para os profissionais de saúde, que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos, tornando disponíveis, para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem como dos fatores que a condicionam, numa área geográfica ou população definida. (Exemplo: Mapa vivo do PSF)
Além disso, a vigilância epidemiológica é um importante instrumento para o planejamento, a organização e efetivação dos serviços de saúde.
São funções da vigilância epidemiológica:
- coleta de dados;
- Processamento de dados coletados;
- Análise e interpretação dos dados processados;
- Recomendação das medidas de prevenção e controle apropriadas;
- Promoção das ações de prevenção e controle indicadas;
- Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas;
- Indicadores Epidemiológicos
- Conhecimentos gerais: Idade, sexo, gênero, etc.
- Características familiares: Estado civil, dimensão da família, morbidade familiar por causas específicas.
- Características étnicas: Raça, cultura, religião, etnia, etc.
- Nível socioeconômico: Ocupação, renda pessoal, nível de instrução, tipo e zona de residência, etc.
- Ocorrências durante a vida intrauterina/ao nascer: Número de fetos gestados, características do parto, hábitos maternos, etc.
- Características endógenas: Constituição física, estado fisiológico, tipo de comportamento, etc.
- Ocorrências acidentais: Doenças sofridas, medicamentos usados, etc.
- Hábitos e atividades: Uso de inseticidas, uso de drogas ilícitas e lícitas, atividade física, etc.
- Vigilância Sanitária
Um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e da circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo: o controle de bens de consumo que se relacionem com a saúde e o controle da prestação de serviços que se relacionam com a saúde.
No Brasil, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é responsável por criar normas e regulamentos e dar suporte para todas as atividades da área no País. A ANVISA também é quem executa as atividades de controle sanitário e fiscalização em portos, aeroportos e fronteiras.
- Notificação Compulsória
A notificação compulsória consiste na comunicação da ocorrência de casos individuais, agregados de casos ou surtos, suspeitos ou confirmados, da lista de agravos relacionados na Portaria, que deve ser feita às autoridades sanitárias por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, visando à adoção das medidas de controle pertinentes. Além disso, alguns eventos ambientais e doenças ou morte de determinados animais também se tornaram de notificação obrigatória. É obrigatória a notificação de doenças, agravos e eventos de saúde pública.
As doenças de notificação compulsória são aquelas cuja gravidade e capacidade de disseminação do agente causador é potencial de causar surtos e epidemias. É necessária a adoção de medidas eficazes de prevenção e controle.
O que pode ser notificado: cólera, febre amarela, influenza, poliomielite, sarampo, varíola e até casos de violência doméstica.
- O que é Vigilância em Saúde?
Realiza ações de monitoramento contínuo do país por meio de observação e análise permanentes da situação de saúde da população, por meio de ações destinadas a controlar determinantes, riscos e dados de saúde. Busca garantir a integralidade da atenção à saúde.
- Prevalência
A prevalência quantifica o número de casos existentes de uma doença em uma população. O número de casos existentes de doença é igual à soma dos casos novos e dos casos antigos.
- Incidência
Frequência com que surgem novos casos de uma doença, num intervalo de tempo.
- O que é risco?
É a probabilidade de ocorrência de uma doença ou evento adverso à saúde.
- O que é fator de risco?
O elemento ou característica positivamente associado ao risco de desenvolver uma doença. Como, por exemplo, idade, tabagismo, etc.
- O que é vulnerabilidade?
Suscetibilidade de um grupo ou indivíduo a adquirir uma doença ou sofrer um agravo.
- Prevenção
Ação antecipada baseada no conhecimento da história natural da doença. Atua prevenindo doenças por meio de vacinas, palestras e orientações.
- Promoção da Saúde
Promove qualidade de vida, reduz vulnerabilidade e riscos à saúde. Consiste em políticas, planos e ações envolvidas em saúde.
- Definições importantes
- Surto: Aumento repentino do número de casos de uma doença em uma certa região;
- Epidemia: Quando um surto ocorre em diversas regiões, envolvendo uma determinada doença;
- Pandemia: Quando uma epidemia ganha caráter global, atingindo diversos países;
- Endemia: Quando uma doença é relativamente constante em uma determinada região.
- Natimorto: extraído do corpo da mãe sem sinal de vida.
- Neonatal: 4 primeiras semanas de vida.
- Pós-neonatal: 28 dias até 1 ano de vida.
- Perinatal: 22 semanas de gestação até o 7º dia de vida.
- Indicadores de Saúde
- Crescimento vegetativo: diferença entre óbitos e nascimentos.
- Crescimento demográfico: população absoluta + crescimento total
- Esperança de vida: número médio de anos de vida esperados para um recém-nascido em determinado espaço geográfico
- Fecundidade: razão entre o número de nascidos vivos numa determinada época e o número de mulheres em idade fértil (15 a 49 anos).
- Natalidade: frequência de nascidos vivos no total da população.
- Razão de Sexos: razão entre o número de homens por 100 mulheres. Se o índice resultante for menor que 100, há predominância feminina.
- Razão de dependência: razão entre a população economicamente dependente (menores de 15 anos e maiores de 65) e a população economicamente ativa (15 a 64 anos de idade).
- Mortalidade Geral: Avalia mortalidade por todas as causas. Razão do número de óbitos pela população total, x1000.
- Letalidade: Número de óbitos por uma doença/Número de casos da doença, x1000.
- O que é morbidade?
Refere-se ao conjunto dos indivíduos que adquiriram doenças num dado intervalo de tempo. Denota-se morbidade ao comportamento das doenças e dos agravos à saúde em uma população exposta.
- Transição demográfica-epidemiológica
Altera o perfil de natalidade e mortalidade e também o perfil de doenças, visto que se espera a redução de doenças infectocontagiosas e o aumento de doenças crônicas (envelhecimento populacional).
- Curva de Nelson de Moraes
A curva de Nelson Moraes é uma representação gráfica da mortalidade proporcional. O eixo x representa faixas etárias predeterminadas (menor que 1 ano; 1 a 4 anos; 5 a 19 anos; 20 a 49 anos; 50 anos ou mais) e o eixo y é a mortalidade proporcional para cada faixa etária representada no eixo x. A curva possui 4 tipos com formas características que correspondem a distintas condições de vida da população estudada: N invertido, L (ou J invertido), V (ou U) e J.
- Forma de N: Tipo 1 – Equivale a um nível de saúde muito baixo, onde a proporção de mais de 50 anos é inferior a 50% e é alta a proporção de óbitos de menores de 1 ano e no grupo de 20 – 49 anos;
- Forma de J invertido: Tipo 2 – Equivale a um nível de saúde baixo, onde a proporção de óbito de mais de 50 anos está abaixo de 20% e é altíssima a proporção (quase 50%) de óbitos de menores de 1 ano;
- Forma de V: Tipo 3 – Equivale a um nível de saúde regular, onde a proporção de óbitos de menores de 1 ano é alta e a do grupo de mais de 50 anos é próxima de 50%;
- Forma de J: Tipo 4 – Equivale a um nível de saúde elevado, onde a proporção de óbitos mostra-se mais elevada no grupo etário de mais de 50 anos (+ 70%). Essa curva é característica em países desenvolvidos.
- Doutrinas do SUS
- Universalidade: Atenção à saúde para todo e qualquer cidadão.
- Equidade: Tratar todo cidadão entendendo suas limitações e diferenças, oferecendo-lhe um atendimento digno.
- Integralidade: Tratar o paciente em sua integralidade, visando sua observação na esfera biopsicossocial.
- Diretrizes do SUS
- Regionalização/Hierarquização: Os serviços de saúde devem ser organizados em níveis de complexidade crescentes, dispostos em uma certa localidade e com uma população definida para ser atendida.
- Descentralização: Redistribuição das responsabilidades e poderes entre as esferas municipal, estadual e federal.
- Resolubilidade: O sistema necessita ser capaz de solucionar problemas de maneira objetiva e eficaz.
- Participação dos cidadãos: A população deve se mostrar ativa, próxima e informada no sistema de saúde.
- Complementaridade do setor privado: Caso o SUS não possua um certo serviço, o setor privado pode disponibilizá-lo, desde que obedeça aos princípios e normas do SUS.
- Níveis de Atenção
- Primário: É o primeiro contato do cidadão com o sistema de saúde. Responsável pela prevenção e, também, pela promoção de saúde.
- Secundário: Com grau intermediário de tecnologia e capacitação. Possui diversas especialidades para atender a população.
- Terciário: Com grau elevado de tecnologia e capacitação. Atende casos que demandam alta assistência, encaminhamentos do nível secundário e eventos raros.
- Níveis de Prevenção
- Primária: Evita ou remove exposição a um fator de risco/agente causador. Exemplo: imunização.
- Secundária: Detecta problemas de saúde em fase precoce.
- Terciária: Promove reabilitação, reintegração precoce, etc. Objetivo de reduzir custos socioeconômicos dos estados de saúde da população.
- Quaternária: Detecta indivíduos em risco de tratamento excessivo, protegendo-os de novas intervenções médicas inapropriadas.
- Sistemas de Informação
- SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica): Base para as ações da Estratégia Saúde em Família. Possui dados socioeconômicos de famílias de uma certa região.
- SINAN (Sistema de Informação de Agravos e Notificação): Usado para armazenar notificações compulsórias.
- SIS-HiperDia (Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos): Possui dados epidemiológicos da população, facilitando a distribuição de remédios e o trabalho das equipes de saúde.
- SIM (Sistema de Informação de Mortalidade): dados sobre óbitos e suas causas.
- SINASC (Sistema de Informação de Nascidos Vivos)
- SISVAN (Sistema de Informação de Vigilância Alimentar e Nutricional)
- SI-API (Sistema de Avaliação de Doses Aplicadas de Vacinas)
- SIS EAPV (Sistema de Informação sobre Eventos Adversos Pós Vacinais)
- Estratégia Saúde em Família
Objetivo de analisar, organizar e propor táticas para a melhora da situação da saúde da população. Composta por uma equipe multiprofissional com, no mínimo, um médico, um enfermeiro, um ou dois auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Pode possuir outras especialidades, caso seja possível.
Possui como princípios: prestar assistência integral e contínua, intervir sobre os fatores de risco à saúde, humanizar práticas de saúde, etc.
A USF (Unidade de Saúde da Família) deve identificar o perfil sociodemográfico e epidemiológico das famílias no território abrangido, reconhecer os problemas e riscos de saúde e propor ações efetivas. Para isso, faz uso do SIAB.
- Modelos Clínicos
- Modelo Clínico Centrado na Pessoa
Fornece atendimento ao paciente em sua integralidade, atendendo sua esfera biopsicossocial.
- Explorando a doença e a experiência da pessoa com a doença
Avalia a história da moléstia, realiza exames, e avalia a dimensão da doença por meio do SIFE (Sentimentos, Ideias, Funcionalidade e Expectativas)
- Entendendo a pessoa como um todo
Observar a história pessoal do paciente, sua família, comunidade, emprego, cultura, etc.
- Elaborando um projeto comum de manejo
Avaliar problemas, prioridades e objetivos do tratamento e como será esse processo. Estabelecer quais os papéis do paciente e do profissional.
- Incorporando a prevenção e a promoção de saúde
Objetivo de melhorias na saúde, redução de riscos, identificação de fatores de risco, etc.
- Fortalecendo a relação médico-pessoa
Exercer compaixão, acolhimento e empatia. Promover transferência de conhecimento por ambas as partes.
- Sendo realista
Analisar tempo de tratamento, construir trabalho em equipe e usar os recursos disponíveis.
- Modelo Biomédico
Observa o paciente como uma máquina defeituosa, não o vê como um ser integral e negligencia seu processo saúde-doença, sentimentos, sofrimento psíquico, etc. Foca na doença, na análise dos sinais e sintomas, buscando um diagnóstico objetivo e uma medicação.
- Tipos de Estudos Epidemiológicos
Existem duas categorias: os experimentais (ensaio clínico randomizado, ensaio de campo e ensaio comunitário), e os observacionais, que podem ser descritivos (relato de caso, série de caso) ou analíticos.
- Estudos observacionais analíticos: são classificados como transversal, caso-controle, coorte e ecológico.
- 1. Transversal: aquele em que as pessoas expostas à doença e os doentes são analisados simultaneamente, em um determinado intervalo de tempo.
- Aplicabilidade: avaliação da prevalência da doença.
- Vantagens: facilidade e baixo custo. Gera hipóteses de associação.
- Desvantagens: Não testa as hipóteses (uma vez que as variáveis são medidas simultaneamente).
- Coorte: escolha de um grupo de pessoas que compartilham uma experiência ou condição em comum (exemplo: mesma região de moradia), que será acompanhado ao longo do tempo para observar a ocorrência da doença.
Compara-se um grupo de indivíduos expostos a um grupo de indivíduos não expostos e, em cada um, se há ou não a ocorrência da doença.
- Aplicabilidade: avaliação da incidência de doenças.
- Vantagens: maior precisão e há maior controle das variáveis a serem medidas.
- Desvantagens: longa duração; necessita de amostras com números grandes.
- Caso-controle: fazem a análise simultânea de dois grupos: o caso (indivíduos que apresentam determinada doença) e controle (indivíduos que não apresentam a doença), identificando os níveis de exposição dos indivíduos a determinados fatores.
- Aplicabilidade: análise de doenças raras e situações de surtos ou agravos desconhecidos.
- Vantagens: baixo custo; facilidade em encontrar indivíduos para o estudo.
- Desvantagens: dependem da memória do paciente; risco de tendenciosidade por parte do paciente; risco de influência do pesquisador.
- Ecológico: A unidade de observação é um grupo de pessoas, e não o indivíduo. Esses grupos podem ser turmas de alunos em escolas, fábricas, cidades, países etc. O princípio do estudo é o de que, nas populações onde a exposição é mais frequente, a incidência das doenças ou a mortalidade serão maiores. Incidência e mortalidade são as medidas mais usadas para quantificar a ocorrência de doenças nesse estudo. A análise de correlação mostrará a associação entre o fator de risco e a doença.
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