Sondagem Nasogástrica e Nasoentérica

As sondas são instrumentos de terapia alimentar para pacientes impedidos se alimentar.  Elas possibilitam uma oferta de nutrientes e a melhora do estado nutricional, por meio de métodos pouco invasivos, desde que o aparelho digestivo tenha conservado sua parte de absorção. Tanto a sonda nasogástrica como a sonda nasoenterica, são procedimentos invasivos onde um tubo de polivinil é introduzido até o local o qual foi requerido. São utilizadas principalmente em pacientes em coma, com problemas de deglutição, obstrução, hemorragia digestiva alta, pancreatite, indicações terapêuticas ou indicações especificas como alças distendidas, empilhamento de moedas, intoxicação mesogena (carvão ativado).

O uso de sondagem tem como principais contra indicações o isso em esôfago com aderência, pois pode causar perfuração), no caso de trauma craniofacial importante (placa crivóide deslocada) e em caso de intoxicação por soda caustica (pois não pode voltar do estômago).

VIDEO DO PROCEDIMENTO: Nasograstric intubation (NEJM) < http://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMvcm050183>

Equipamento utilizado:

Luvas, mascara, avental, sonda, seringa, estetoscópio, esparadrapo, lubrificante e anestésico em alguns casos.

Procedimento:

  1. Primeiramente devemos pedir autorização, orientar e falar as complicações, de modo que facilitará a introdução e o manuseio dessa quando tudo explicado.
  2. Arrumar o equipamento utilizado.
  3. Medir o tamanho da sonda, colocando-a primeiramente do apêndice xifoide ate a orelha, e da orelha até a ponta do nariz. Acrescentar então 10 cm se a sonda for nasogástrica ou 25cm se for nasoenterical.
  4. Sentar o paciente inclinado a 45 grau ou deitados. A fim de que a sonda ultrapasse a epiglote, coloca-se o paciente em posição de aspirar, paralela ao assoalho nasal, na laringe.
  5. Desobstruir a cavidade nasal, escolher a narina com maior fluxo de ar.
  6. Utilizar um vasoconstritor para diminuir a mucosa e uma possível lesão (por exemplo: xilocaina – anestésico).
  7. Introduzir a sonda delicadamente, acompanhando o septo nasal. Deve se pedir para que o paciente fique relaxado ajudando o processo.
  8. Para facilitar o procedimento pode se utilizar o endoscópio para a visualização. A fim de que a sonda ultrapasse a epiglote, pede-se que ele aspire agua, para quando evitar que ele engasgue e para fechar a traqueia e abrir o esôfago.se a sonda se caminha espontaneamente, não há dúvida que ela está sendo posicionada corretamente.
  9. Após a introdução, observar se o paciente apresenta tosse, dificuldade respiratória, cianose ou agitação. Esses são sinais de que. Adonde pode estar introduzida incorretamente. Nesse caso deve se retira lá e realizar o processo novamente.
  10. Pode se verificar se a sonda esta introduzida corretamente aspirando o suco gástrico com uma seringa de 20ml, ou introduzindo 10ml de ar a fim de auscultar ruídos líquidos.
  11. Depois de confirmado o posicionamento gástrico, para a sonda migrar até o intestino delgado (no caso da sonda nasogástrica), ela deve ser fixada na face do paciente, deixando-se uma alça na parte externa onda será administrado os alimentos.

Para confirmar se a sonda está no local correto:

Observar se a sonda dificulta a respiração do paciente, se sim, ela está em local errado.

Se não, para saber se ela está no local correto, insere-se com uma seringa 20 ml de ar e coloca na sonda, colocar então o estetoscópio para auscultar e caso borbulhe está no estomago. Após isso aspirar para ver se tem retorno gástrico.

Alem disso e possível fazer o raio x para ver se está abaixo do diafragma, de modo que a sonda não atinja o pulmão.

Complicações:

  • As possíveis complicações das sondas gástricas e enterais são principalmente epistaxes, sinusite, esôfago perfurado, pneumonia aspirativa, pneumotórax, esfíncter fica frágil e pode dar refluxo.
  • A sonda nasogástrica é utilizada por aproximadamente 24 horas. No caso da sonda nasoenterica esperar o tempo de 24h para passa-la, utilizando então um medicamento para estimular o peristaltismo.

INDICACOES DA SONDA NASOENTERAL:

  • Medicamentos, nutrição, indicação terapêutica
  • Principalmente para pacientes que não fazem ingesta via oral como os que apresentam AVC, disfagia, obstrução do delgado
  • Administrar alimentos sempre que houver contraindicação ou impossibilidade de se utilizar a via oral fisiológica.

Equipamento utilizado:

  • Luvas, mascara, avental, sonda, seringa, canudo, copo com pouca água, estetoscópio, esparadrapo, lubrificante e anestésicos, em alguns casos. A sonda é mais longa pois fica no jejuno e o material é mais flexível, apresenta um guia em sua extremidade que ajuda a inseri-la.
  • Deve-se esperar 24h para migrar do estomago para o intestino, utilizando um medicamento para estimulante para o peristaltismo.
  • Nem todo o medicamento pode ser administrado via sonda nasoenteral.

Cuidados importantes:

  • Olhar sempre a cavidade oral antes de ministrar medicamento ou alimentação.
  • Cuidados de higiene no preparo, conservação em local limpo, troca diária do equipamento e frascos de dieta, reduzindo risco de crescimento bacteriano.
  • Deixar a sonda nasogástrica ate melhorar e a nasoenteral o tempo que precisar (se em 2 ou 3 semanas ainda não tirar fazer uma gastrostomia para não dar alta com a sonda – em casos de prognóstico ruins).
  • A albumina sérica é um importante fator na manutenção da pressão osmótica intestinal, ajudando a aumentar a capacidade de absorção das vilosidades intestinais
  • Ambas as sondas, se possível, deixar o mínimo de tempo necessário (quanto menos tempo menor a chance de infecção)
  • Sempre dar agua ao paciente nos intervalos das dietas por causa da diarreia osmótica.

OSTOMIAS:

As sondas para alimentação também podem ser instaladas no estômago ou no jejuno através de ostomias, usando-se sondas especiais. As técnicas atuais permitem que o posicionamento seja feito através de perfusão cutânea, sem necessidade de procedimento cirúrgico. É um método de alimentação, quando existe impossibilidade parcial ou total de o paciente comer pela boca por períodos longos e até mesmo definitivo, quando existe qualquer barreira fisiológica nas porções mais altas do tubo digestivo, o que pode dificultar a passagem de uma sonda nasoentérica, e ainda, quando os pacientes auto removem as sondas nasais.

Existem vários tipos de ostomias como por exemplo:

  • A colostomia que é um tipo de ostoma intestinal que faz a comunicação do cólon com o exterior. As colostomias podem ser permanentes ou temporárias.
  • A ileostomia que é um tipo se ostoma intestinal que faz a comunicação do intestino delgado, com o exterior. As ileostomias podem ser também permanentes ou temporárias, obedecendo ao mesmo critério que as colostomias. As ileostomias localizam-se sempre no lado inferior direito do abdômen.
  • A urostomia ou também chamada de desvio urinário a intervenção cirúrgica que consiste em desviar o curso normal da urina. A semelhança das ostomias intestinais, podem ser permanentes ou temporárias.

As vantagens das ostomias incluem: menor risco de refluxo da dieta e aspiração, facilidade de o próprio paciente administrar sua dieta, além de manter sua aparência sem presença de sonda na face, o que pode representar fator negativo para sua autoimagem.

Os cuidados na administração da dieta por ostomias são os mesmos do uso de sondas nasogástricas/nasoentéricas. A ostomizados requer um alto cuidado com a higiene, principalmente para manuseá-la e a pele ao redor da ostomia dever ser mantida sempre limpa e seca ou devem ser utilizadas placas adesivas de hidrocolóide.

Punção Venosa Central

A cateterização venosa central proporciona acesso mais seguro à circulação sistêmica e permite a administração de medicamentos que podem lesar tecidos quando ocorre extravasamento a partir de um acesso venoso periférico, como vasopressores e soluções hipertônicas de bicarbonato de sódio e cálcio. O acesso venoso central possibilita a monitorização da pressão venosa central e a coleta de amostras de sangue.

As contraindicações gerais da colocação de um cateter venoso central incluem infecção da área subjacente ao local de inserção e trombose da veia em questão. Coagulopatia constitui contraindicação relativa. Além disso, se a pessoa sofreu um trauma, ele pode distorcer a anatomia e dificultar a colocação do cateter venoso central na região.

A opção por determinada veia ou via de acesso se dá de acordo com a experiência de quem realiza o procedimento e as características do paciente.

Em crianças, as veias jugulares internas e as femorais são as mais frequentemente cateterizadas e em adultos, a veia subclávia é a vida de escolha para a colocação de um cateter venoso central. Durante a RCP, deve-se dar preferência às veias femorais, pois sua obtenção não interfere nas manobras de ressuscitação.

EQUIPAMENTOS UTILIZADOS

  • Equipamentos de proteção individual: óculos, luvas e avental
  • Bolsa e equipo de soro
  • Anestésico local
  • Campo estéril
  • Gaze estéril
  • Bisturi
  • Agulha
  • Fio guia
  • Dilatador
  • Cateter intravenoso
  • Agulha e fio para fixação do cateter à pele
  • Curativo transparente estéril

Os catetes mais comumente utilizados são os de calibre 5 French para recém-nascidos, 7 French para lactentes e 8 a 11 French para crianças maiores e adultos.

O comprimento do cateter deve ser determinado pela profundidade de inserção em relação aos pontos de referência anatômicos do paciente. O cateter deve conter o menor número de lúmens necessário, pois o risco de infecção aumenta proporcionalmente ao número de lúmens.

COMPLICAÇÕES

As complicações relacionadas à cateterização venosa central podem ser mecânicas, infecciosas e tromboembólicas. As complicações mecânicas incluem punção arterial, hematoma, pneumotórax e hemotórax (associados à cateterização de veia jugular interna e subclávia), arritmia e colocação imprópria do cateter.

As complicações infecciosas podem ser prevenidas pela lavagem das mãos e adoção de precauções de barreira completa durante a inserção do cateter, antissepsia da pele com clorexidina, revisão diária da necessidade do cateter e sua remoção imediata, quando ele não for mais necessário.

As complicações trombóticas podem ocorrer desde o primeiro dia após a inserção do cateter, com risco potencial de tromboembolismo venoso. O local com o maior risco de trombose é a veia femoral. O tempo de permanência do cateter deve ser limitado ao mínimo necessário para diminuir o risco de trombose.

VEIA JUGULAR INTERNA

Para a punção dessa veia, o local de referência é o triângulo de Sedillot, formado em sua base pela clavícula e lateralmente pelas porções esternal e clavicular do músculo esternocleidomastoideo.

Para realizar a punção é necessário posicionar o paciente em decúbito dorsal horizontal com a cabeça para baixo a 30º em posição de trendelenburg, com coxim abaixo das escápulas, deixando a cabeça levemente estendida e rodada para o lado oposto ao da punção.

A preferência de punção é o lado direito, pois o caminho entre a veia jugular interna direita e o átrio direito é mais direto, além de complicações como pneumotórax, hemotórax e quilotórax são mais frequentes após tentativas do lado esquerdo.

Essas complicações do lado esquerdo ocorrem, pois, o ápice do pulmão é mais alto à esquerda do que à direita e o ducto torácico se localiza à esquerda.

Antes de iniciar o procedimento, deve-se auscultar o tórax do paciente para verificar se o murmúrio vesicular é simétrico bilateralmente.

Após o posicionamento do paciente, faz-se o procedimento de limpeza (degermação) da pele com clorexidina degermante, seguida de antissepsia com clorexidina alcoólica, em movimentos circulares do centro para a periferia e coloca-se um campo estéril.

Logo após é administrado um anestésico local com agulha no local da cateterização e procede-se à punção.

Para a obtenção do acesso venoso central, utiliza-se a técnica de Seldinger. O procedimento se inicia pela introdução da agulha pouco acima do ápice do triangulo em ângulo de 30 a 45 graus em relação ao plano coronal, em direção ao mamilo ipsilateral, aplicando sucção leve.

Ao atingir a veia, desconecta-se a seringa, ocluindo a extremidade proximal da agulha com o dedo e introduz-se o fio guia por dentro da agulha, avançando-o bem além da ponta da agulha. Caso haja batimentos cardíacos ectópicos no monitor, traciona-se o fio guia até que os batimentos ectópicos desapareçam.

Remove-se então a agulha, mantendo o fio guia inserido. É feito uma incisão de 1 a 2 mm no local da punção na pele e é introduzido o dilatador sobre o fio guia. Após a dilatação do trajeto, o dilatador é removido e é introduzido o cateter sobre o guia na veia.

O fio guia é removido e após visualizar o retorno do sangue, é conectado o cateter ao equipo com soro fisiológico. O retorno do sangue deve ser verificado pela aspiração de cada via do cateter. Alternativamente, coloca-se a bolsa de soro abaixo do nível do átrio direito para permitir que o sangue reflua até o equipo de soro, antes de iniciar a infusão pelo cateter.

Se não houver retorno de sangue, a ponta do cateter pode estar alojada contra a parede do vaso ou do átrio direito. Nesse caso, é necessário tracionar novamente o cateter, levemente, e então é necessário repetir a aspiração. Se ainda assim não houver retorno de sangue, é presumido que o cateter não está na veia e então ele deve ser removido.

O fio guia deve ser utilizado para medir as distancias: para a posição central, a extremidade do cateter deve estar no átrio direito, o que corresponde externamente ao segundo ou terceiro espaço intercostal à direita. E então o cateter é fixado com fio de algodão e é aplicado um curativo estéril.

Após terminar o procedimento, deve ser feito uma radiografia para verificar a posição do cateter.

VIAS DE ACESSO

Outras vias podem ser utilizadas para a cateterização da veia jugular interna como a anterior e posterior.

A punção da veia pela via anterior é feita na borda anterior do músculo esternocleidomastoideo, na porção média entre a mastoide e a clavícula, em direção à base do triangulo, com angulação de 30 graus.

Pela via posterior, a punção é feita na borda posterior do esternocleidomastoideo, ao nível da união de seu terço médio com o inferior, em direção à fúrcula esternal, com angulação de 30 graus em relação a pele.

VEIA SUBCLÁVIA

O paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal horizontal com a cabeça em posição mediana inclinada para baixo a 30 graus – Trendelenburg, com o pescoço levemente estendido.

O ponto de inserção do cateter é na junção do terço médio com o terço medial da clavícula. Após a anestesia local, é inserido a agulha com ângulo de 30 graus em relação à pele até a passagem sob a clavícula; a agulha deve passar tangenciando a clavícula. Feito isso, a agulha é inclinada de 10 a 15 graus e direcionada à fúrcula esternal. O cateter é inserido utilizando também a técnica de Seldinger anteriormente descrita.

VEIA FEMORAL

O paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal horizontal, com a coxa fixada em ligeira rotação externa. Pode-se colocar um coxim sob a região lombo-sacral, para leve extensão.

Após a administração de anestésico local, deve-se identificar a artéria femoral pela palpação ou, se os pulsos estiverem ausentes, encontrando o ponto médio entre a crista ilíaca anterossuperior e a sínfise púbica. O ponto de referência para a punção da veia femoral é de 5mm medial ao pulso arterial e 2 a 3cm abaixo do ligamento inguinal.

A agulha deve ser inserida neste ponto paralelamente a artéria femoral, em direção ao umbigo, com inclinação de 45 graus em relação ao plano da pele. Para prevenir a caracterização inadvertida da artéria femoral, mantém-se a palpação da artéria enquanto se introduz a agulha na veia.

Havendo refluxo de sangue, desconecta-se a seringa e passa-se o fio guia através da agulha. Remove-se a agulha, então é feita uma pequena incisão na pele com bisturi e é passado o dilatador sobre o fio guia e então o cateter é introduzido sobre o fio guia, segundo a técnica de Seldinger.

Após a fixação do cateter à pele, é feito a radiografia para verificar a posição da extremidade do cateter, que deve estar localizada na junção da veia cava inferior com o átrio direito ou na altura da segunda vertebra lombar, caso o comprometimento do cateter não seja suficiente para atingir a posição central.

Síntese 4: “Mas eu só estou um pouco cansada…” – Multiplicação Celular e Carcinogênese

   Neste problema abordamos o caso da sra. Joelma, de 60 anos, que apresentava fadiga de esforço e mucosas moderadamente hipocoradas. A sra. Joelma afirmou estar com a evacuação em dia e a aparência das fezes normais. Foi realizado um hemograma, que apresentaram uma hemoglobina sérica baixa de 5,7 g/dL (normal: 12-18 g/dL), hemácias hipocrômicas e anisocitose. Foi feita uma colonoscopia, que descobriu um pólipo, e assim, realizou-se uma biópsia excisional deste. A sra. Joelma foi diagnosticada com uma neoplasia maligna de cólon.

 Pólipos são lesões originadas na mucosa, com a proliferação de seus tecidos. O pólipo extravasa para a luz e pode ser séssil ou pediculado. Os pólipos que continuam acumulando novas células e crescendo são denominados neoplásicos. Quando de origem epitelial, são chamados de adenomas.

 Os pólipos, que podem ser de origem neoplásica (adenomas) ou não neoplásica (malformações), apresentam-se como lesões isoladas (esporádicas) ou múltiplas, como em síndromes hereditárias.

  Os pólipos não-neoplásicos constituem a maioria dos pólipos colônicos (cerca de 90%) e podem ser de três tipos: hiperplásicos, hamartomatosos e inflamatórios.

  Os pólipos hiperplásicos são os mais frequentes, geralmente pequenos, sésseis e múltiplos; sua frequência aumenta com a idade, sendo mais comuns no retossigmoide de indivíduos acima de 50 anos. Os pólipos hamartomatosos são lesões decorrentes de defeitos do desenvolvimento e constituídas por tecidos próprios do local, com diferenciação aberrante, levando ao aparecimento de massas; podem ser esporádicos ou associados a síndromes hereditárias. Já os pólipos inflamatórios são lesões nodulares, secundárias a ulceração e reparo da mucosa, que surgem após inflamações no cólon.

   Os pólipos neoplásicos são constituídos por proliferação das células epiteliais que revestem a mucosa, com diferentes graus de distúrbio da diferenciação celular (displasia), sendo por isso considerados lesões pré-cancerosas. Sua prevalência aumenta com a idade, não havendo diferença entre homens e mulheres.  Mais de 70% desses pólipos localizam-se no retossigmoide, 20% no sigmoide e os 10% restantes nas porções proximais do cólon. Segundo sua estrutura histológica, os adenomas são classificados como tubular, viloso ou tubuloviloso.

  O adenoma tubular é o tipo mais comum, compreendendo cerca de 75% dos pólipos neoplásicos. A lesão é encontrada do estômago ao reto, mas cerca de 90% localizam-se no cólon. Pode ser uma lesão solitária, esporádica, ou múltipla, associada à síndrome de polipose familiar. O tumor é mais comum por volta dos 60 anos e em indivíduos do gênero masculino.

  O adenoma viloso é menos frequente do que o adenoma tubular, compreendendo cerca de 10% dos pólipos neoplásicos. O adenoma viloso tem o pior prognóstico: o risco de transformação maligna é dez vezes maior do que o do adenoma tubular. O tumor localiza-se na porção distal do intestino grosso e manifesta-se em indivíduos após a 6ª década de vida.   A lesão é geralmente única, maior do que o adenoma tubular, e apresenta sinais clínicos mais frequentes do que os demais tipos de adenomas. O adenoma viloso é descoberto em geral por sangramento retal; ocasionalmente, apresenta hipersecreção de muco, com perda de proteínas e potássio.

  Já o adenoma tubuloviloso corresponde a 15 a 20% dos pólipos neoplásicos. A lesão consiste na combinação de componente tubular com componente viloso, podendo este variar de 25 a 50% da lesão. O risco de transformação maligna é proporcional à quantidade do componente viloso. O adenoma tubuloviloso tem a mesma localização do adenoma tubular e apresenta-se como tumoração séssil ou pediculada, com características histológicas de estruturas tubulares e vilosas.

   A polipose familiar do cólon é doença genética de herança autossômica dominante, causada por mutações no gene APC. A doença caracteriza-se por numerosos pólipos adenomatosos na mucosa do cólon. Na forma clássica, os pacientes desenvolvem 2.500 adenomas (um mínimo de 100 lesões é necessário para o diagnóstico), localizados predominantemente no cólon descendente e no sigmoide. A transformação maligna é sugerida, macroscopicamente, por ulceração.

  O aspecto mais importante quando se examina um adenoma é identificar se a lesão apresenta focos de carcinoma intramucoso ou invasivo. A probabilidade de se encontrar carcinoma em um adenoma correlaciona-se com o tamanho da lesão (maior que 2 cm), com sua estrutura histológica (tubular ou vilosa) e com a intensidade das atipias celulares, isto é, com o grau de displasia. Uma lesão séssil maior que 4 cm, por exemplo, apresenta risco de 40% de se tornar carcinoma, enquanto um adenoma tubular menor que 1 cm raramente apresenta carcinoma. Os carcinomas intramucosos apresentam baixo potencial de metástase, pois os vasos linfáticos localizam-se abaixo da muscular da mucosa. O carcinoma é considerado invasivo quando ultrapassa a muscular da mucosa.

   Há múltiplos fatores envolvidos no surgimento do câncer de cólon, entre eles os fatores genéticos (hereditários ou adquiridos). Acredita-se que agentes cancerígenos (físicos, químicos e biológicos), principalmente ambientais e dietéticos (dieta rica em gordura animal), provoquem mutações genéticas especificas no DNA nuclear das células do epitélio intestinal, produzindo mutações, fraturas cromossômicas e outras alterações do material genético.

 As condições hereditárias mais frequentes são a polipose adenomatosa familiar (PAF), o câncer colorretal hereditário sem polipose (HNPCC), também denominada síndrome de Lynch, síndrome do carcinoma colorretal hereditário, polipose juvenil familiar e síndrome do adenoma plano.

 Além dos fatores genéticos e ambientais, acredita-se que processos inflamatórios também possam estar envolvidos, como a doença de Crohn.

  A carcinogênese colorretal está relacionada com duas vias, denominadas via supressora (APC/beta-catenina) e via mutadora (instabilidade de microssatélites).

  • Via supressora: De acordo com esse modelo, o carcinoma colorretal desenvolve-se seguindo uma sequência de eventos moleculares, em etapas cumulativas. Nesta via há transtornos na regulação da proliferação celular, promovendo instabilidade genômica, o que favorece mutações sucessivas em múltiplos genes supressores e proto-oncogenes, resultando em adenomas que evoluem para adenocarcinoma, configurando a sequência adenoma-carcinoma.  A progressão de adenoma para carcinoma deve-se a mutações adicionais em alguns genes que promovem crescimento do adenoma, aumento do grau de displasia e desenvolvimento da capacidade invasiva, resultando em carcinoma. Os principais genes mutados no carcinoma colorretal são:
  1. APC: Gene supressor no cromossomo 5 e encontra-se intimamente envolvido na patogênese da polipose familial do cólon (FAP). O produto do gene APC liga-se à beta-catenina, uma proteína; o complexo formado (APC-beta-catenina) favorece a degradação da beta-catenina nas células. Com mutação no gene APC, o complexo não se forma e, portanto, a beta-catenina não é degradada. Permanecendo íntegra, a beta-catenina desloca-se para o núcleo, onde atua como fator de transcrição para diversos genes que estimulam a divisão celular. Além disso, há também diminuição da apoptose.
  2. K-RAS: O RAS é o oncogene mais ativo em adenomas e carcinomas do cólon e está situado no cromossomo 12. Mutações no RAS atuam durante a progressão da neoplasia.
  3. SMAD: Os genes SMAD2 e SMAD4 localizam-se no cromossomo 18q21 e estão envolvidos na sinalização do TGF-beta, que inibe a proliferação celular. A perda da função desses genes está relacionada com a autonomia de proliferação celular.
  4. p53: Situado no cromossomo 17, o gene p53 codifica uma fosfoproteína nuclear que, quando ocorre agressão ao DNA, inibe a proliferação celular e desencadeia a apoptose.
  • Via mutadora: Caracteriza-se por alterações genômicas em genes de reparo do DNA. Os produtos desses genes são “revisores” do DNA, pois detectam erros ocorridos durante sua replicação. A maioria das mutações envolve o hMSH2 (cromossomo 2p22) e o hMLHl (cromossomo 3p21). No genoma humano, existem 50.000 a 100.000 sequências repetitivas de um a seis nucleotídeos chamadas microssatélites. Mutações nos genes de reparo do DNA associam-se muitas vezes a alterações nas sequências repetitivas, referidas como instabilidade de microssatélites (IMS). E tais mutações resultam em aumento da proliferação celular e/ou diminuição da apoptose.

   O desenvolvimento de tumores no colorreto segue uma progressão clara de pólipo para adenoma benigno e depois para tumor maligno. Quando surge um tumor maligno na mucosa, este se dissemina para as camadas mais profundas da parede intestinal e acaba penetrando na serosa. A invasão da serosa acarreta um risco significativo de metástase. As células também podem invadir canais linfáticos ou vasculares e disseminarem-se ainda mais. Os principais sítios metastáticos do câncer de colón são o fígado (através da veia porta), pulmões (através da veia cava inferior), peritônio (por contato) e linfonodos.

   O câncer colorretal é considerado como doença de indivíduos idosos, com pico de incidência na sexta década de vida. Mais de 90% de todos casos de câncer de cólon e reto ocorrem em pacientes maiores de 50 anos. A incidência na população jovem (menores de 40 anos) varia de 2,1 a 14,6%. Em menores de 30 anos a incidência é de menos de 1%. A prevalência é ligeiramente maior em homens, com taxas médias de 3 homens para 1 mulher.

  É a quarta neoplasia mais comum no mundo, superada pelos tumores de pulmão, mama e próstata. Segundo a OMS, temos mais de 940 mil novos casos por ano e 500 mil mortes anuais. Já no Brasil, está entre as cinco primeiras causas de morte por câncer, e possui maior incidência nas regiões Sul e Sudeste.

  O câncer colorretal se desenvolve de forma lenta e gradual. A suspeita de tumores se faz através de sintomas e sinais como: dor abdominal, alterações dos hábitos intestinais (aumento de frequência evacuatória, constipação, alteração do calibre das fezes, diarreia), perda de sangue e/ou muco nas fezes, etc.

    Clinicamente podemos dividir os sintomas e sinais de acordo com a região afetada, o que facilita o diagnóstico.

Colón Ascendente/ Ceco Colón Descendente

Reto

Anemia Ferropriva (+++)

Anemia Ferropriva (+) Muco nas fezes

Diarréia

Constipação Intestinal

Sangue vivo

Fadiga

Fadiga Dor ao evacuar

Perda de Peso

Sangue oculto nas fezes

 

Inapetência

Tenesmo e Cólica

 
 

Fezes caprinas

 
 

Perfuração Intestinal

 
 

Perda de peso (inapetência).

 

   A alta incidência do câncer do intestino e a diferença nos resultados do tratamento de acordo com o estádio da doença justificam os esforços de diagnóstico precoce e de seu rastreamento em população considerada de risco para a doença. O objetivo do rastreamento não é diagnosticar mais pólipos ou mais lesões planas, mas sim, diminuir a incidência e mortalidade por câncer do intestino na população alvo do rastreamento em relação a uma população-controle não rastreada.

  O rastreamento para câncer do intestino é realizado de acordo com a estimativa de risco para a neoplasia de cada população:

  • Baixo risco – indivíduos com idade superior a 50 anos e sem outros fatores de risco
  • Risco moderado – pacientes com história familiar de câncer do intestino em um ou mais parentes de primeiro grau, história pessoal de pólipo maior do que 1cm ou múltiplos pólipos de qualquer tamanho e os indivíduos com antecedentes pessoal de câncer do intestino tratado com interação curativa
  • Alto risco – indivíduos com história familiar de FAP ou HNPCC, ou com diagnóstico de doença inflamatória intestinal na forma da pancolite ou colite esquerda.

  O protocolo de rastreamento para o câncer do intestino mais utilizado para população de risco baixo e moderado é a realização anual da pesquisa de sangue oculto nas fezes, seguida pela colonoscopia ou retossigmoidoscopia nos indivíduos com resultado positivo.

  As evidências científicas até o momento apontam para o início do rastreamento para o câncer do intestino com pesquisa de sangue oculto nas fezes a partir dos 50 anos de idade.

  O diagnóstico do câncer colorretal se dá através de hemograma (com presença de anemia), pesquisa de sangue oculto nas fezes (positivo), retossigmoidoscopia, colonoscopia e enema opaco (presença de pólipos).

  O CA de intestino é uma doença tratável e frequentemente curável, sendo a cirurgia o seu tratamento primário. O tratamento ainda é prioritariamente cirúrgico, com as terapias alternativas pouco alterando a mortalidade e contribuindo para melhora da qualidade de vida. A sobrevida global em cinco anos de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico gira em torno de 50%. O tratamento rádio e quimioterápicos podem apresentar vantagens nos estádios II e III.

  O tratamento depende principalmente do tamanho, localização e extensão do tumor e da saúde geral do paciente.

  A cirurgia consiste na retirada do tumor juntamente com parte do cólon ou reto e os linfonodos adjacentes. Os melhores resultados quanto às possibilidades de cura estão relacionados a métodos radicais, como, a extensão da ressecção, a remoção de linfonodos, etc. Na maioria dos casos, é possível interligar novamente as porções sadias do cólon ou do reto. Em tumores da porção baixa do reto muitas vezes é necessária a realização de uma colostomia temporária ou permanente.

  A quimioterapia pode ser administrada para destruir qualquer célula cancerosa que possa ter permanecido no organismo após a operação, para controlar o crescimento tumoral ou para aliviar os sintomas ocasionados pela doença. Pode vir a causar efeitos colaterais como mucosite (inflamação da parte interior da boca) e neutropenia febril (baixa de neutrófilos). O tratamento para pacientes em estádio IV é baseado em quimioterapia com objetivo paliativo.

 O melhor tratamento e a avaliação prognóstica podem ser direcionados através do sistema TNM de estadiamento.

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Referências Bibliográficas
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  5. http://www1.inca.gov.br/publicacoes/Falando_sobre_Cancer_de_Intestino.pdf
  6. ONG Instituto Oncoguia
  7. Neutropenia febril e câncer – parte 1. Luiz Gustavo Torres.
  8. http://revistaonco.com.br/wp-content/uploads/2011/05/p26-35-emergencia_Onco.pdf
  9. COLOSTOMIA E IRRIGAÇÃO: SIGNIFICADOS PSICOLÓGICOS ATRIBUÍDOS POR COLOSTOMIZADOS. http://www.ee.usp.br/reeusp/upload/pdf/786.pdf

 

Multiplicação Celular e Carcinogênese – Problema 4: “Mas eu só estou um pouco cansada…”

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Questões

  1. Descrever a fisiopatologia, diagnóstico e prognóstico das poliposes e neoplasias colorretais.
  2. Identificar a epidemiologia e estadiamento dos tumores do colo e do reto.
  3. Descrever os mecanismos de metástases envolvidos nos tumores colorretais.
  4. Identificar os fatores desencadeantes e prevenção destes tumores.
  5. Explicar os sinais e sintomas apresentados durante a evolução dos tumores colorretais.
  6. Caracterizar os tratamentos quimio e radioterápicos realizados para esses tumores.
  7. Discutir as possíveis complicações do tratamento quimioterápico, como mucosite e neutropenia febril.
  8. Discutir acerca das implicações psicológicos de adaptação à colostomia.

Respostas

  1. Descrever a fisiopatologia, diagnóstico e prognóstico das poliposes e neoplasias colorretais.
  • Pólipos

O termo pólipo é restrito às lesões originadas na mucosa constituída pela proliferação de seus constituintes. O pólipo faz protrusão para a luz e pode ser séssil ou pediculado.

É um crescimento anormal dentro do intestino que se projeta em sua luz (interior do intestino). Os pólipos que continuam acumulando novas células e crescendo são denominados neoplásicos. Quando de origem epitelial, são chamados de adenomas.

São classificados como polipoides (elevados na superfície epitelial), planos, pediculados ou sésseis. Os fatores implicados no seu aparecimento e crescimento são os mesmos que os do câncer; a maioria cresce lentamente, mantendo-se benignos por longo tempo; estima-se que o período de transformação seja de 10 anos. Portanto, quando um pólipo é ressecado, significa que um câncer em potencial foi prevenido.

Evidencias indiretas, clínicas e epidemiológicas da associação adenoma-câncer:

  • A prevalência de carcinomas do intestino grosso segue a distribuição geográfica dos adenomas
  • Os canceres ocorrem em faixa etária superior em aproximadamente cinco anos à da ocorrência dos adenomas
  • Cerca de 1/3 dos espécimes cirúrgicos de câncer do intestino incluem um ou mais pólipos adenomatosos
  • O aumento do grau de displasia nos adenomas é proporcional ao seu crescimento e há coincidência na distribuição topográfica entre adenomas e o câncer de intestino

   No trato gastrointestinal, pólipo é a lesão originada na mucosa e constituída pela proliferação de seus componentes; o pólipo faz protrusão na luz e pode ser séssil ou pediculado. Os pólipos gástricos são pouco comuns, geralmente não dão manifestações clínicas e são achados acidentais de endoscopias (4 a 5% dos exames) ou de peças de ressecção cirúrgica.

   Pólipos são massas de tecido que se projetam para a luz intestinal, podendo ser sésseis ou pediculados (tração sobre a massa leva à formação de pedículo na lesão). Os pólipos, que podem ser de origem neoplásica (adenomas) ou não neoplásica (malformações), apresentam-se como lesões isoladas (esporádicas) ou múltiplas, como em síndromes hereditárias.

  1. Pólipos não-neoplásicos

Constituem a maioria dos pólipos colônicos (cerca de 90%) e podem ser de três tipos: hiperplásicos, hamartomatosos e inflamatórios.

  • Pólipos hiperplásicos

 São os mais frequentes, geralmente pequenos (0,1 a 1,0 cm), sésseis e múltiplos; sua frequência aumenta com a idade, sendo mais comuns no retossigmoide de indivíduos acima de 50 anos. Histologicamente, são constituídos por criptas bem definidas, alongadas e/ou ramificadas, com borda interna de aspecto serrilhado, revestidas por epitélio colunar alto, com maturação preservada, contendo células caliciformes e absortivas. Trata-se de lesões benignas, não neoplásicas, mas podem fazer parte de lesões mistas, com componentes de adenoma, designado adenoma serrilhado, que tem características genéticas peculiares e é precursor do câncer do cólon relacionado com instabilidade de microssatélites.

  • Pólipos hamartomatosos

   Pólipos hamartomatosos são lesões decorrentes de defeitos do desenvolvimento e constituídas por tecidos próprios do local, com diferenciação aberrante, levando ao aparecimento de massas; podem ser esporádicos ou associados a síndromes hereditárias. O pólipo juvenil solitário e os pólipos da síndrome de Canada-Cronkhite são exemplos de lesões hamartomatosas não hereditárias.

   O pólipo juvenil surge principalmente no reto de crianças menores de 5 anos ou em adultos como achado incidental, sendo designado pólipo de retenção. A lesão mede 1,0 a 3,0 cm e apresenta-se como tumoração avermelhada ou pardo-avermelhada, geralmente pediculada, que pode sofrer torção, infarto e autoamputação, sendo eliminada nas fezes.

   A síndrome de Canada-Cronkhite caracteriza-se por polipose gastrointestinal associada a alterações ectodérmicas (alopecia, onicondrodistrofia e hiperpigmentação) e manifesta-se clinicamente com diarreia, má absorção intestinal, anemia, perda de peso e distúrbios hidroeletrolíticos graves, com alta mortalidade (60%). Não há história familiar, e os pacientes são acometidos na idade adulta.

    As lesões hereditárias são encontradas em várias síndromes com características distintas. Pólipos juvenis múltiplos (polipose colijuvenil) são associados a uma síndrome familial rara, de herança autossômica dominante, chamada síndrome da polipose juvenil, que cursa com maior risco de desenvolvimento de adenoma e adenocarcinoma.

  • Pólipos inflamatórios (pseudopólipos)

 São lesões nodulares de 0,2 a 1,5 cm, secundárias a ulceração e reparo da mucosa, que surgem após inflamações no cólon. Tais pólipos são constituídos por ilhas de mucosa preservada adjacentes às úlceras, as quais se projetam na luz intestinal. A lesão é frequente em pacientes com doença inflamatória intestinal de longa duração.

  1. Pólipos neoplásicos (adenomas)

    Pólipos neoplásicos compreendem as neoplasias benignas mais comuns do intestino grosso. Os pólipos são constituídos por proliferação das células epiteliais que revestem a mucosa, com diferentes graus de distúrbio da diferenciação celular (displasia), sendo por isso considerados lesões pré-cancerosas.

   Podem ser únicos ou múltiplos e apresentam tamanho e aspecto variados, desde lesões pequenas, frequentemente pediculadas, a neoplasias maiores, em geral sésseis. Sua prevalência aumenta com a idade, não havendo diferença entre homens e mulheres. Existe predisposição familiar para o adenoma isolado, com risco cerca de quatro vezes maior de aparecimento de lesões entre parentes de primeiro grau e de desenvolvimento de adenocarcinoma.

  Mais de 70% desses pólipos localizam-se no retossigmoide, 20% no sigmoide e os 10% restantes nas porções proximais do cólon. Os adenomas podem apresentar áreas de inflamação e ulceração superficial, que podem sangrar, sofrer necrose por torção do pedículo e ser eliminados. A complicação mais relevante são focos de transformação maligna.

   Segundo sua estrutura histológica, os adenomas são classificados como tubular, viloso ou tubuloviloso. Convencionalmente, um adenoma é designado viloso quando apresenta mais de 50% de sua extensão constituída por estruturas papilíferas. Quando o componente viloso varia entre 25 e 50%, a lesão é diagnosticada como tubulovilosa. Seja qual for a sua organização estrutural, os adenomas apresentam atipias citológicas ou displasia, que variam de intensidade pequena (baixo grau) a grande (alto grau), de acordo com os distúrbios da diferenciação celular. As lesões mais iniciais são vistas microscopicamente como criptas aberrantes, constituídas por pequeno número de criptas volumosas e revestidas por células com diferentes graus de displasia. Criptas aberrantes são consideradas biomarcadores de risco para câncer do cólon.

  • Adenoma tubular

   É o tipo mais comum, compreendendo cerca de 75% dos pólipos neoplásicos. A lesão é encontrada do estômago ao reto, mas cerca de 90% localizam-se no cólon.

    Adenoma tubular pode ser lesão solitária, esporádica, ou múltipla, associada à síndrome de polipose familial. O tumor é mais comum por volta dos 60 anos e em indivíduos do gênero masculino. As lesões são geralmente pequenas, sésseis, de aspecto amoriforme, menores que 1 cm; quando crescem, tornam-se pediculadas. O pedículo é constituído por estroma conjuntivo vascular da submucosa e revestido por mucosa colônica de aspecto normal. O pólipo é formado por glândulas tubulares, justapostas, separadas por estrema escasso e revestidas por epitélio colunar alto, pseudoestratificado, com diferentes graus de displasia. Na displasia de baixo grau, os núcleos são dispostos na porção basal da célula e a produção de mucinas é preservada. Na displasia de alto grau, ocorre perda da orientação basal dos núcleos e da produção de mucinas. Displasia de alto grau é mais frequente nas lesões maiores que 1,0 cm e situadas no reto e no cólon esquerdo.

  • Adenoma viloso

   É menos frequente do que o adenoma tubular, compreendendo cerca de 10% dos pólipos neoplásicos. O adenoma viloso tem pior prognóstico: o risco de transformação maligna é dez vezes maior do que o do adenoma tubular. O tumor localiza-se nos 25 cm distais do intestino grosso e manifesta-se em indivíduos após a 6ª década de vida.

   A lesão é geralmente única, maior do que o adenoma tubular, e apresenta sinais clínicos mais frequentes do que os demais tipos de adenomas. A lesão apresenta projeções digitiformes, papilas ou franjas na superfície, e sua base de implantação é ampla, razão do nome séssil (Figura 20.61). O adenoma viloso é descoberto em geral por sangramento retal; ocasionalmente, apresenta hipersecreção de muco, com perda de proteínas e potássio. Ao exame histológico, as projeções digitiformes são constituídas por delicado estroma conjuntivo vascular revestido por epitélio colunar alto pseudoestratificado, com graus variáveis de displasia. Displasia de alto grau está presente em 10% dos casos (Figura 20.62); transformação maligna com invasão do estroma ocorre em 30 a 50% dos casos.

  • Adenoma tubuloviloso

Corresponde a 15 a 20% dos pólipos neoplásicos. A lesão consiste na combinação de componente tubular com componente viloso, podendo este variar de 25 a 50% da lesão. O risco de transformação maligna é proporcional à quantidade do componente viloso. O adenoma tubuloviloso tem a mesma localização do adenoma tubular e apresenta-se como tumoração séssil ou pediculada, com características histológicas de estruturas tubulares e vilosas.

  • Síndrome da Polipose Familial

   A polipose familial do cólon é doença genética de herança autossômica dominante, com alta penetrância, causada por mutações no gene APC (adenomatous polyposis coli). A doença caracteriza-se por numerosos pólipos adenomatosos, variando de dezenas a milhares, que atapetam a mucosa do cólon. Dependendo do tipo de mutação envolvida, existe amplo espectro de apresentação clínica, distinguindo-se as formas clássica, atenuada, síndrome de Gardner e síndrome de Turcot. Na forma clássica, os pacientes desenvolvem 2.500 adenomas (um mínimo de 100 lesões é necessário para o diagnóstico), localizados predominantemente no cólon descendente e no sigmoide, podendo comprometer também o reto, ceco, intestino delgado e estômago.

   A doença geralmente se manifesta na 2ª ou 3ª décadas de vida, às vezes após os 40 anos. Nela, encontram-se desde pólipos isolados, pequenos, até grandes massas formadas pela confluência de pólipos adjacentes, além de lesões planas ou deprimidas. Os pólipos são adenomas tubulares, mas podem conter estruturas vilosas. Em 10% dos casos, os pólipos não ressecados sofrem transformação maligna cerca de 10 anos após o diagnóstico; esse percentual sobe para 50% depois de 20 anos e para 100% após 30 anos. Transformação maligna é sugerida, macroscopicamente, por ulceração ou formação de aderências pólipo/pólipo e pólipo/mucosa. Na forma atenuada, os pacientes desenvolvem menor número de adenomas (em média, 50 lesões), que se localizam preferencialmente no cólon proximal. O risco de transformação maligna é menor, em torno de 50%.

    A síndrome de Gardner é uma variante incomum da polipose familial do cólon, também de herança dominante, caracterizada pela associação de adenomas com lesões extraintestinais, como osteomas na mandíbula, no crânio e nos ossos longos, cistos epidérmicos e fibromatose; menos frequentemente, associam-se anormalidades da dentição e maior frequência de tumores na tireoide e no duodeno. A síndrome de Turcot é uma variante rara, em que tumores do SNC (geralmente gliomas) associam-se a polipose. Outra variante é a síndrome de adenomas planos hereditários. Discute-se se a polipose familial do cólon e essas variantes são uma mesma condição patológica. A variabilidade do espectro de lesões pode representar expressão variável de uma alteração genética comum.

  • Transformação maligna dos adenomas

    O aspecto mais importante quando se examina um adenoma é identificar se a lesão apresenta focos de carcinoma intramucoso ou invasivo. A probabilidade de se encontrar carcinoma em adenoma correlaciona-se com o tamanho da lesão (maior que 2 cm), com sua estrutura histológica (tubular ou vilosa) e com a intensidade das atipias celulares, isto é, com o grau de displasia. Uma lesão séssil maior que 4 cm, por exemplo, apresenta risco de 40% de albergar carcinoma, enquanto um adenoma tubular menor que 1 cm raramente apresenta carcinoma. Os carcinomas intramucosos apresentam baixo potencial de metástase, pois os vasos linfáticos localizam-se abaixo da muscular da mucosa. O carcinoma é considerado invasivo quando ultrapassa a muscular da mucosa.

  • Prognóstico

São considerados fatores independentes afetando a sobrevida de pacientes com CCR, a extensão da resseção, o grau de diferenciação do tumor, a presença e número de linfonodos comprometidos e o estadiamento de DUKES (questão 2)

Idade e sexo

  • Sobrevida a pacientes mais jovens
  • A idade isoladamente não foi fator de risco para mortalidade pós-operatória ou de sobrevida a longo prazo em paciente com mais de 75 anos
  • Maior sobrevida no gênero feminino – causas hormonais e anatômicas

Há grande discordância na literatura sobre a influência da idade no prognóstico, com muitos autores acreditando que, na verdade, são as condições clinicas do paciente que alteram a mortalidade.

Quanto ao sexo, os maiores índices de sobrevivência têm sido relatados no gênero feminino, sendo que mulheres que nunca engravidaram parecem ter sobrevida semelhante à dos homens. Foram implicadas causas hormonais como causas anatômicas – pelve mais estreita no homem, promovendo maior relação com órgãos vizinhos e dificuldade a extirpação do tumor.

Estadiamento e variáveis macro e microscópicas

O tamanho do tumor ao diagnóstico, entretanto, parece não influenciar no prognóstico para a maioria dos estudos, fato relevante quando se considera a importância que a classificação TNM atribui a esta característica.

Variáveis microscópicas, como grau de diferenciação e tipo histológico do tumor são de grande relevância prognóstica.

  • Lesões bem diferenciadas cursam em geral maiores taxas de sobrevida
  • Adenoma carcinoma mucinoso em qualquer grau de diferenciação é considerado fator localmente agressivo e de pior prognóstico
  • Macroscópico: formações vegetantes ou exofiticas aumentam a sobrevida, provavelmente por evoluírem com menores taxas de metástases à distância e recidivas
  • Resseção completa, portanto, curativa, é indicativa de melhor prognóstico

Localização do tumor

  • Maiores taxas de sobrevida para tumores em cólon direito.
  • Piora do prognostico à medida que as lesões se situam mais distalmente.
  • Melhor sobrevida: tumores em cólon esquerdo (63,9%), seguida pelas lesões em cólon direito e reto.
  • Lesões retais: pior prognostico, com taxas de sobrevida de 62 a 66% em detrimento de tumores colônicos.
  • Câncer de cólon

   O carcinoma colorretal inclui os tipos: (1) esporádico (não hereditário), que corresponde à maioria dos casos e ocorre em indivíduos sem história familial; (2) hereditário, que inclui: (a) polipose familial do cólon (familiai adenomatous poliposis – FAP), de herança autossômica dominante; (b) carcinoma hereditário sem polipose (hereditary nonpoliposis colorectal cancer – HNPCC).

   Fatores ambientais, particularmente hábitos alimentares e estilo de vida, constituem os principais fatores de risco para o desenvolvimento de câncer do cólon. Estudos de genética molecular demonstram que múltiplas alterações envolvendo perda da função de genes supressores de tumor e ativação de oncogenes são necessárias para a aquisição do fenótipo maligno. A carcinogênese colorretal está relacionada com duas vias, denominadas via supressora, ou APC/beta-catenina, e via mutadora, ou de instabilidade de microssatélites.

  • Via supressora

   A análise de grande número de neoplasias de pacientes com tumores esporádicos ou associados a polipose familial do cólon (FAP) permitiu a identificação de um modelo de carcinogênese que é considerado o protótipo para o desenvolvimento da maioria dos carcinomas colorretais. De acordo com esse modelo, o carcinoma colorretal desenvolve-se segundo uma sequência de eventos moleculares, em etapas cumulativas, com correspondência morfológica, denominada sequência adenoma-carcinoma. O modelo é corroborado pelos seguintes fatos: (1) a prevalência de adenomas e carcinomas é similar em diversas populações; (2) ambas as lesões localizam-se preferencialmente no cólon e/ou no reto; (3) o pico de incidência dos adenomas precede em alguns anos (até uma década) o pico de incidência do carcinoma; (4) o risco de carcinoma relaciona-se diretamente com o número de pólipos, havendo malignização constante nos portadores da FAP; (5) áreas de adenoma adjacentes a carcinoma são comuns em lesões invasoras em fase inicial; (6) diminuição da incidência de carcinoma colorretal em grupos de pacientes com adenoma acompanhados em programas de rastreamento de carcinoma colorretal.

   Na via supressora da carcinogênese colônica, há transtornos na regulação da proliferação celular. Nessa situação, pode haver instabilidade genômica, que favorece mutações sucessivas em múltiplos genes supressores e proto-oncogenes, resultando em adenomas que evoluem para adenocarcinoma, configurando a sequência adenoma-carcinoma. Mutações no gene APC constituem o evento mais precoce em 80% dos carcinomas esporádicos. A progressão de adenoma para carcinoma deve-se a mutações adicionais e/ ou a perda de heterozigosidade (LOH = loss ofheterozygosity) em alguns genes que promovem crescimento do adenoma, aumento do grau de displasia e desenvolvimento da capacidade invasiva, resultando em carcinoma. A ocorrência de carcinoma sem lesões adenomatosas precursoras sugere que displasias (criptas aberrantes ou lesões displásicas associadas a doença inflamatória intestinal) podem originar carcinomas sem passar pelo estágio de adenoma. Na polipose familial do cólon, o indivíduo herda uma mutação em um dos alelos do gene APC e, posteriormente, sofre mutação no outro alelo; mutações sequenciais contribuem para o desenvolvimento do carcinoma, que ocorre cerca de 10 a 15 anos antes da faixa etária de incidência dos carcinomas esporádicos. Os principais genes mutados no carcinoma colorretal estão descritos a seguir.

  • APC

Este gene supressor de tumor localiza-se no cromossomo 5 (5q21) e encontra-se intimamente envolvido na patogênese da polipose familial do cólon (FAP). Como foi discutido no Capítulo 8, o produto do gene APC liga-se à beta-catenina, uma proteína citoplasmática que possui diversas funções; o complexo formado (APC-beta-catenina) favorece a degradação da beta-catenina nas células. Com mutação no gene APC, o complexo não se forma e, portanto, a beta-catenina não é degradada. Permanecendo íntegra, a beta-catenina desloca-se para o núcleo, onde atua como fator de transcrição para diversos genes (p. ex., MYC, ciclinas etc.) que estimulam a divisão celular. Além disso, há também diminuição da apoptose. Perda do gene APC é encontrada tipicamente nas fases iniciais da tumorigênese colônica. Mutações no gene são vistas também em 60 a 80% das formas esporádicas do câncer colorretal

  • K-RAS

O RAS é o oncogene mais frequentemente ativo em adenomas e carcinomas do cólon. Situado no cromossomo 12 (12p12), seu produto tem papel na transmissão de sinais intracelulare. Mutações no RAS são encontradas em menos de 10% dos adenomas pequenos e em cerca de 50% dos adenomas maiores e carcinomas, sugerindo atuação durante a progressão da neoplasia

  • SMAD

Os genes SMAD2 e SMAD4 localizam-se no cromossomo 18q21 e estão envolvidos na sinalização do TGF-beta, que inibe a proliferação celular. A perda da função desses genes está relacionada com a autonomia de proliferação celular

  • p53

Situado no cromossomo 17 (17p13.1), o gene p53 codifica uma fosfoproteína nuclear que, quando ocorre agressão ao DNA, inibe a proliferação celular e desencadeia a apoptose (ver Capítulo 8). Mutações no gene p53 são raras em adenomas, surgem na etapa de progressão da carcinogênese colônica e são identificadas em 70 a 80% dos carcinomas.

O carcinoma hereditário sem polipose (HNPCC) e pequeno número de casos esporádicos de carcinoma colorretal apresentam uma sequência carcinogênica distinta que envolve mutações em genes de reparo do DNA. Tais casos associam-se a instabilidade de microssatélites e representam a via mutadora da carcinogênese.

  • Via mutadora

Caracteriza-se por alterações genômicas (mutações ou inativação) em genes de reparo do DNA. Os produtos desses genes (hMSH2, hMLHl, MSH6, hPMSl e hPMS2) são “revisores” do DNA, pois detectam erros ocorridos durante sua replicação. Os tumores resultantes podem ser hereditários, como na síndrome do carcinoma colorretal hereditário sem polipose (HNPCC), os quais correspondem a 10 a 15% dos carcinomas colorretais. A maioria das mutações envolve o hMSH2 (cromossomo 2p22) e o hMLHl (cromossomo 3p21). No genoma humano, existem 50.000 a 100.000 sequências repetitivas de um a seis nucleotídios chamadas microssatélites.

Mutações nos genes de reparo do DNA associam-se muitas vezes a alterações nas sequências repetitivas, referidas como instabilidade de microssatélites (IMS). Algumas dessas sequências flanqueiam ou ocorrem em regiões codificadoras de genes envolvidos na proliferação celular, como TGF􀃜RII, IGFIIR e BAX. Mutações nesses genes (detectadas por IMS) resultam em aumento da proliferação celular e/ou diminuição da apoptose. Anormalidades nos genes de reparo do DNA aumentam 100 a 1.000 vezes a taxa de novas mutações. No HNPCC, os tumores ocorrem caracteristicamente em indivíduos jovens (abaixo de 50 anos), predominam no cólon direito, são carcinomas pouco diferenciados (frequentemente com reação linfoide) ou mucossecretores e apresentam evolução clínica favorável. O diagnóstico da síndrome baseia-se no preenchimento dos critérios de Bethesda e de Amsterdam: (1) pelo menos três membros da família devem ser portadores de carcinoma do cólon, comprovado histologicamente, devendo um deles ser parente em primeiro grau dos outros dois; FAP deve ser excluída; (2) pelo menos duas gerações sucessivas devem ser afetadas; (3) o carcinoma deve ocorrer antes dos 50 anos em pelo menos um dos pacientes. Os carcinomas esporádicos com IMS apresentam características similares, predominam no cólon direito e apresentam baixa frequência de mutações da via supressora (10%).

  • Adenocarcinoma de cólon

O carcinoma colorretal tem distribuição ampla no mundo, com incidência mais alta nos EUA e países da Europa ocidental; é menos comum na América Latina e na África. No Brasil, a incidência de carcinoma colorretal é de 12/100.000 para mulheres (o terceiro mais frequente) e 1 1/100.000 para homens (o quarto mais frequente), segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). O pico de incidência é entre 60 e 79 anos; menos de 20% dos casos ocorrem antes dos 50 anos. Quando se identifica câncer do cólon em indivíduo abaixo dessa idade, deve-se suspeitar das síndromes familiares (FAP ou HNPCC) ou de doença inflamatória intestinal de longa duração, em especial colite ulcerativa.

Além dos fatores predisponentes, como hereditariedade, adenomas e doença inflamatória intestinal, fatores ambientais, especialmente o padrão alimentar, parecem implicados nas diferenças de incidência de câncer do cólon em populações distintas.

Os fatores alimentares que têm recebido maior atenção são: (a) ingestão excessiva de calorias em relação às necessidades; (b) baixo teor de fibras vegetais não absorvíveis; (c) alto teor de carboidratos refinados; (d) elevado consumo de carnes vermelhas; (e) diminuição de fatores protetores (vitaminas) contidos nos alimentos. O menor teor de fibras na alimentação leva a redução do bolo fecal, aumenta o tempo de trânsito intestinal e altera a microbiota bacteriana intestinal. Nessa situação, alta concentração de produtos oxidativos da degradação de carboidratos por bactérias e pequeno volume de fezes possibilitam contato do bolo fecal com a mucosa por mais tempo. No entanto, o papel da dieta rica em fibras permanece discutível. Alta ingestão de carnes vermelhas resulta em altas taxas de colesterol, levando a aumento da excreção de ácidos biliares, que podem ser convertidos em agentes cancerígenos pelas bactérias intestinais. A carência de vitaminas A, C e E na alimentação resulta em aumento de radicais livres de 02• Estudos epidemiológicos demonstram que obesidade e inatividade física constituem fatores de risco para câncer do cólon; estudos prospectivos indicam aumento na incidência de câncer colônico em indivíduos com peso mais de 40% acima do ideal. Outros estudos indicam relação entre o teor de lipídeos da dieta e a incidência de câncer colorretal sem definir se o efeito se relaciona com um componente específico das gorduras. Ácidos graxos poli-insaturados parecem ser mais tumorigênicos do que os saturados. Dietas ricas em gordura aumentam a excreção de ácidos biliares, que podem ser convertidos em compostos carcinogênicos. Produtos da degradação de alimentos ricos em gordura geram radicais livres de 02, que são carcinogênicos.

  • Evolução – Prognóstico

     A maioria dos pacientes que falecem por câncer colorretal morre em consequência de metástases. A disseminação tumoral se dá tanto por extensão direta para órgãos adjacentes como por metástases através de vasos linfáticos e sanguíneos. Os sítios mais acometidos são os linfonodos regionais (o câncer da metade direita tende a dar metástases nos linfonodos das cadeias do cólon direito e da mesentérica superior; os da metade esquerda, para os linfonodos das cadeias mesentérica inferior e hemorroidária superior) e órgãos distantes, como fígado, pulmões, ossos e cérebro, além da cavidade peritoneal. Metástases hepáticas ocorrem em 60 a 70% dos pacientes e são clinicamente evidentes em 10 a 25% dos casos. Disseminação para linfonodos regionais é o principal fator prognóstico. Vários esquemas foram propostos para se avaliar o prognóstico do câncer colorretal, os quais geralmente se baseiam na profundidade de invasão do tumor na parede intestinal, no grau de diferenciação histológica e na presença de metástases nos linfonodos regionais e em órgãos a distância. O estadiamento é estabelecido pelo exame anatomopatológico da peça cirúrgica. O indicador mais importante de prognóstico é a extensão do tumor no hospedeiro. Um dos sistemas mais tradicionais de estadiamento é o de Astler e Coller, que representa uma modificação dos esquemas propostos por Dukes e Kirklin. Ultimamente, a preferência é pelo sistema TNM, para garantir uniformidade e reprodutibilidade no estadiamento dos tumores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Câncer Colorretal Sincrônico – Relato de Caso e Revisão de Literatura. http://www.sbcp.org.br/pdfs/27_1/10.pdf
  • INCA
  • BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo – Patologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Gen, Guanabara Koogan, 2011.
    2. Identificar a epidemiologia e estadiamento dos tumores do colo e do reto.
  • Epidemiologia

A incidência de neoplasia colorretal vem aumentando nos últimos anos, ocorrendo predominantemente na população idosa, sendo incomum em menores de 40 anos. Jovens com câncer colorretal são considerados como tendo pior evolução.

O câncer colorretal é classicamente considerado como doença de indivíduos idosos, com pico de incidência na sexta década de vida. Mais de 90% de todos casos de câncer de cólon e reto ocorrem em pacientes maiores de 50 anos. A incidência na população jovem (menores de 40 anos) varia de 2,1 a 14,6%. Em menores de 30 anos a incidência é de menos de 1%. A prevalência é ligeiramente maior em homens, com taxas médias de 3 homens para 1 mulher.

  • Segunda neoplasia mais frequente na população mundial, embora raro nos países em desenvolvimento
  • Quarta neoplasia mais comum no mundo, superada pelos tumores de pulmão, mama e próstata
  • Mais de 940 mil novos casos por ano (OMS)
  • 500 mil mortes anuais (OMS)
  • No Brasil, CCR está entre as cinco primeiras causas de morte por câncer
  • Regiões Sul e Sudeste: maior incidência de CCR do que Norte e Nordeste
  • Região sudeste: casos de CCR ultrapassou casos de câncer de colo uterino
  • Tempo estimado entre aparecimento, crescimento e transformação em carcinoma é superior a dez anos
  • Incidência de CCR esporádico (não associados a fatores genéticos) parecem estar aumentados com a idade, sendo mais frequente depois dos 60 anos.

    Estadiamento

As classificações mais utilizadas são a de DUKES e o sistema TNM, podendo-se usar também a de Astler e Coller.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

3. Descrever os mecanismos de metástases envolvidos nos tumores colorretais.

   O desenvolvimento de tumores no colorreto segue uma progressão clara de pólipo para adenoma benigno e depois para tumor maligno. Há uma nítida cascara de alterações cromossômicas nos tecidos anormais que foi esclarecida e documentada.

Quando surge um tumor maligno na mucosa, este se dissemina para as camadas mais profundas da parede intestinal e acaba penetrando na serosa. A invasão da serosa acarreta um risco significativo de semear a cavidade peritoneal, o que pode produzir nódulos peritoneais, metástases ovarianas ou ascite.

O tumor invadirá órgãos adjacentes, principalmente se não houver serosa, como no câncer retal. As células também podem invadir canais linfáticos ou vasculares e disseminarem-se ainda mais. Há disseminação preferencial através dos canais circunferenciais, com a maioria dos tumores colorretais tendendo a circundar a luz, produzindo um aspecto de semente de maça em estudos contrastados.

Essa tendência também explica o risco de obstrução intestinal por tumores, principalmente naqueles do lado esquerdo, em que o conteúdo fecal do colón é relativamente sólido.

As células malignas também podem se disseminar para os linfonodos ou para o fígado. O padrão de disseminação nos linfonodos também é hierárquico, envolvendo primeiro os linfonodos adjacentes à parede intestinal e disseminando-se em sentido mais proximal ao longo dos pedículos vasculares do mesentério.

Pode haver disseminação sistêmica diretamente de tumores do terço inferior do reto ou de outras áreas sem mesentério. Também pode haver disseminação sistêmica na presença de doença hepática volumosa. São encontrados múltiplos tumores primários em aproximadamente 5% dos pacientes e muitos também exibirão pólipos benignos ou adenomatosos associados.

Um tumor pode ter aparência nodular, ulcerativa ou protusa difusa e a grande maioria é representada por adenocarcinomas, com cerca de 20% destes sendo do tipo mucinoso. O tumor frequentemente secreta o antígeno oncofetal ACE.

4. Identificar os fatores desencadeantes e prevenção destes tumores.

É estimado que em até 75% dos casos, o câncer de intestino possa ser classificado como esporádico, ou seja, de caráter não familiar e resultante da ação cumulativa de agentes carcinógenos mais ou menos conhecidos sobre a mucosa intestinal.

Há múltiplos fatores envolvidos no seu aparecimento, entre eles os fatores genéticos (hereditários ou adquiridos). Acredita-se que agentes cancerígenos (físicos, químicos e biológicos), principalmente ambientais e dietéticos, provoquem mutações genéticas especificas no DNA nuclear das células do epitélio intestinal, produzindo mutações, fraturas cromossômicas e outras alterações do material genético.

As condições hereditárias mais frequentes associadas a CCR é a polipose adenomatosa familiar (PAF), câncer colorretal hereditário sem polipose (HNPCC), também denominada síndrome de Lynch, síndrome do carcinoma colorretal hereditário, polipose juvenil familiar, síndrome do adenoma plano e síndrome de Peutz-Jegher.

Além dos fatores genéticos e ambientais, acredita-se que processos inflamatórios também possam estar desenvolvidos na gênese do CCR. Podem ser as doenças inflamatórias intestinais como a doença de Crohn.

  • Fatores de risco
  • Idade (maioria dos casos diagnosticada após os 60 anos)
  • Dietas pobres em frutas, verduras e legumes
  • Dietas rica em gordura animal (responsável por 66 a 75% dos casos de câncer de cólon e reto)
  • História de parentes de primeiro grau com adenomas diagnosticados antes dos 60 anos de idade
  • História pessoal pregressa de adenomas ou câncer de mama, ovário ou endométrio
  • Portadores de colite ulcerativa crônica ou doença de Crohn
  • Condições hereditárias (cerca de 7% dos casos de câncer) – síndromes genéticas (PAF e HNPCC)
  • Baixo nível de atividade física
  • Consumo excessivo de bebidas alcóolicas (risco pode ser duas vezes maior)
  • Tabagismo
  • Obesidade – acumulo de gordura abdominal; além da influência da insulina e outros fatores relacionados ao crescimento como influência positiva para o desenvolvimento do câncer

Em relação a gordura animal, há hipóteses que dizem que a presença de ácidos graxos específicos contidos nesses alimentos e a de substancias formadas durante o preparo das carnes em altas temperaturas como as aminas e os hidrocarbonetos aromáticos, podem atuar como carcinógenos. Outros estudos, propõe que as altas concentrações de ferro na carne vermelha poderiam ser a causa do maior risco de desenvolvimento deste câncer, uma vez que o ferro está envolvido na síntese de radicais hidroxila, que podem causar danos as células do intestino.

  • Fatores de proteção 
  • Consumo de legumes, verduras e frutas
  • Carotenoides e fibras
  • Atividade física – pratica regular pode diminuir em até 50% e isso parece estar associado à diminuição do tempo de transito intestinal, minimizando assim o contato de carcinógenos com as células do intestino.
  • Ingestão de selênio, cálcio, vitaminas A/C/E

  O consumo de frutas, verduras e fibras pode ter um papel protetor, pois o alto teor de nutrientes e outras substancias que podem inibir a formação de carcinógenos, agir como substrato para a produção de anticarcinógenos, reduzir a capacidade de proliferação de células e agir como antioxidantes. Além disso, o alto consumo pode aumentar o bolo fecal e diminuir o transito intestinal e assim, minimizar o contato entre a mucosa e substancias carcinógenos.

  O cálcio para ser um dos mais importantes fatores protetores, pois ele ajuda a diminuir o efeito das gorduras sobre as células intestinais. Além disso, o consumo de alimentos e multivitamínicos que contem folato pode contribuir para reduzir o risco do câncer de intestino, uma vez que a sua deficiência pode levar a anormalidades na síntese ou reparo do DNA.

  • Rastreamentoads

A alta incidência do câncer do intestino e a diferença nos resultados do tratamento de
acordo com o estádio da doença justificam os esforços de diagnóstico precoce e de seu rastreamento em população considerada de risco para a doença.

O objetivo do rastreamento não é diagnosticas mais pólipos ou mais lesões planas, mas sim, diminuir a incidência e mortalidade por câncer do intestino na população alvo do rastreamento em relação a uma população-controle não rastreada.

A história natural do câncer do intestino propicia condições ideias à sua detecção precoce, uma vez que a maioria deles evoluí a partir de lesões benignas, os pólipos adenomatosos, por um período de 10 a 15 anos, existindo, portanto, um período pré-clínico detectável bastante longo.

O rastreamento para câncer do intestino é realizado de acordo com a estimativa de risco para a neoplasia de cada população:

  • Baixo risco – indivíduos com idade superior a 50 anos e sem outros fatores de risco
  • Risco moderado – pacientes com história familiar de câncer do intestino em um ou mais parentes de primeiro grau, história pessoal de pólipo maior do que 1cm ou múltiplos pólipos de qualquer tamanho e os indivíduos com antecedentes pessoal de câncer do intestino tratado com interação curativa
  • Alto risco – indivíduos com história familiar de FAP ou HNPCC, ou com diagnóstico de doença inflamatória intestinal na forma da pancolite ou colite esquerda.

O protocolo de rastreamento para o câncer do intestino mais utilizado para população de risco baixo e moderado é a realização anual da pesquisa de sangue oculto nas fezes, seguida pela colonoscopia ou retossigmoidoscopia nos indivíduos com resultado positivo.

As evidencias cientificas até o momento apontam para o início do rastreamento para o câncer do intestino com pesquisa de sangue oculto nas fezes a partir dos 50 anos de idade.

  • Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes

Pode ser realizada por vários métodos sendo o método de colheita das fezes em papel impregnado com guáiaco um dos mais utilizados e testado em diferentes ensaios clínicos.

O paciente recebe o envelope e as instruções para a colheita de fezes. É indispensável a restrição do consumo de carnes na dieta, sendo aconselhável estimular a ingestão de alimentos ricos em resíduos por 3 dias antes do início da colheita de fezes e durante a colheita.

O resultado da prova é considerado positivo quando há aparecimento de coloração azul no papel de filtro impregnado com resina de guáiaco contendo a amostra de fezes, após a colocação do reagente. A mudança de cor é resultado da oxidação do guáiaco.

Esse exame é confiável para a detecção de sangramento e não para diagnóstico de câncer gastrointestinal. Resultados falso-positivos podem ocorrer por perdas sanguíneas até o momento consideradas fisiológicas ou decorrente de lesões não neoplásicas. Resultados falso-negativos também podem ocorrer e estão relacionados ao caráter intermitente do sangramento das neoplasias.

  • Colonoscopia

Esse exame é reservado a pacientes com pesquisa de sangue oculto nas fezes positiva (e a origem do sangramento não foi detectada pelo toque retal ou retossigmoidoscopia) e para a população de risco moderado ou alto de desenvolvimento para o câncer do intestino.

A colonoscopia permite examinar todo o cólon em mais de 90% dos pacientes, além de possibilitar a realização do diagnóstico e do tratamento (polipectomia) em uma única sessão.

  • Retossigmoidoscopia

É um exame que pode ser realizado ambulatoriamente. Costuma ser indolor, não necessita de sedação e exige apenas a limpeza do canal retal.

Permite o estudo das características da mucosa do reto e do sigmoide, como coloração, presença de edema e de lesões, assim como a colheita de secreções como sangue e muco para exames, além de biópsias de lesões suspeitas.

REFERÊNCIA BILIOGRÁFICA

5. Explicar os sinais e sintomas apresentados durante a evolução dos tumores colorretais.
  • Quadro Clínico

O câncer colorretal se desenvolve insidiosamente e pode permanecer não detectado por um longo tempo. A suspeita de tumores colorretais se faz através de sintomas e sinais como: dor abdominal, alterações dos hábitos intestinais (aumento de frequência evacuatória, constipação, alteração do calibre das fezes, diarreia), perda de sangue e/ou muco nas fezes, etc.

    Clinicamente podemos dividir os sintomas e sinais de acordo com a região afetada, o que facilita o diagnóstico.

Colón Direito/ Ceco

Colón Esquerdo Reto

Anemia Ferropriva (+++)

Anemia Ferropriva (+) Muco nas fezes

Diarréia

Constipação Intestinal Sangue vivo
Fadiga Fadiga

Dor ao evacuar

Perda de Peso

Sangue oculto nas fezes

 

Inapetência

Tenesmo e Cólica

 
 

Fezes caprinas

 
 

Perfuração Intestinal

 
 

Perda de peso (inapetência).

 

Muitas pessoas com câncer de cólon não têm quaisquer sintomas nos estágios iniciais da doença. Quando os sintomas aparecem, eles podem variar, dependendo do tamanho e localização do câncer no seu intestino grosso. Os sintomas mais comuns são:

  • Uma mudança em seus hábitos intestinais, incluindo diarreia ou constipação
  • Fezes pastosas de cor escura
  • Fazes afiladas (em fita)
  • Sangramento retal ou sangue nas fezes
  • Desconforto abdominal persistente, como cólicas, gases ou dor
  • Sensação de que o seu intestino não esvazia completamente
  • Fraqueza ou fadiga
  • Perda de peso inexplicável
  • Náuseas e vômito
  • Sensação dolorida na região anal, com esforço ineficaz para evacuar.
  • Diagnóstico

O diagnóstico se dá pelos seguintes exames:

Hemograma: anemia em função do sangramento. Algumas enzimas podem ser pedidas como marcadores hepáticos e tumorais (CEA – antígeno carcinoma embrionário)

Pesquisa de Sangue Oculto nas fezes: A ideia por trás desse exame é que os vasos sanguíneos nas superfícies de pólipos grandes ou de câncer colorretal são frágeis e facilmente danificados pela passagem de fezes. Esse exame detecta tal sangramento por meio de reações químicas, entretanto não nos possibilita saber o local de origem.

Retossigmoidoscopia: Exame feito por meio de sonda iluminada, sigmoidoscópio, que é inserido no reto e cólon inferior, para detectar pólipos e outras anormalidades.

Colonoscopia: Exame semelhante a retossigmoidoscopia, entretanto a sonda iluminada (colonoscópio) é inserida no reto e em todo o cólon. As vantagens em relação ao outro exame são que esse permite remoção de possíveis pólipos encontrados por biópsia.

Enema Opaco: ingesta de solução de sulfato de bário, distende o colón e permite sua visualização de pólipos ou outras alterações em raio-x.

Biópsia: Aqui com amostras dos pólipos, podem ser feitos testes genéticos (mudanças nos genes), de instabilidade das microssatélites e análise histológica.

Em alguns casos, o exame do toque retal por ser útil, porém sozinho não permite diagnóstico.

6. Caracterizar os tratamentos quimio e radioterápicos realizados para esses tumores.
  • Bases do tratamento

O CA de intestino é uma doença tratável e frequentemente curável, sendo a cirurgia o seu tratamento primário.

O tratamento do CCR ainda é eminentemente cirúrgico, com as terapias adjuvantes pouco alterando a mortalidade e contribuindo para melhora da qualidade de vida. A sobrevida global em cinco anos de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico gira em torno de 50%. O tratamento rádio e quimioterápicos podem apresentar vantagens nos estádios II e III.

O tratamento depende principalmente do tamanho, localização e extensão do tumor e da saúde geral do paciente. Os pacientes são frequentemente tratados por uma equipe de especialistas e variados tipos de tratamentos são utilizados sendo que algumas vezes há a combinação de uma ou mais formas de tratamento.

  • Cirurgia

A cirurgia consiste na retirada do tumor juntamente com parte do cólon ou reto e os linfonodos adjacentes. Os melhores resultados quanto às possibilidades de cura estão relacionados a cuidados técnicos de radicalidade, dentre os quais, extensão da ressecção quanto a remoção de linfonodos, ligaduras vasculares e margens cirúrgicas, ressecção completa em monobloco de órgãos ou estruturas vizinhas a lesão aderidas ao tumor.

Na maioria dos casos, é possível interligas novamente as porções sadias do cólon ou do reto. Em tumores da porção baixa do reto muitas vezes é necessária a realização de uma colostomia temporária ou permanente.

Um tratamento cirúrgico é considerado curativo quando promove a remoção completa do tumor primário, órgãos e estruturas localmente comprometidas e de metástases identificadas. É considerado paliativo quando tem por finalidade aliviar ou reduzir os sintomas em pacientes que não tenham condições de cura por ressecção.

  • Quimioterapia

É o uso de drogas anticâncer para destruir as células tumorais. Pode ser administrada para destruir qualquer célula cancerosa que possa ter permanecido no organismo após a operação, para controlar o crescimento tumoral ou para aliviar os sintomas ocasionados pela doença.

É uma terapia sistêmica, o que significa que as drogas entram na circulação sanguínea e percorrem para todo o organismo. A maioria das drogas anticâncer é administrada por injeção direta na veia ou através de um cateter.

Pacientes em estádio III apresentam indicação de tratamento adjuvante com quimioterapia a base de 5 fluorouracil (5-FU). Para pacientes em estádio II, o tratamento quimioterápico ainda é controverso, porém estudos indicam uma redução do risco de recidiva com uma vantagem de 2% em sobrevida livre em 2 anos para os pacientes tratados com terapia adjuvante com 5-FU quando comparados com grupos controle sem tratamento.

O tratamento para pacientes em estádio IV é baseado em quimioterapia com objetivo paliativo; é considerado padrão o uso do 5-FU combinado ou não com leucovorin, demonstrando-se aumentos variáveis de sobrevida.

  • Radioterapia

Envolve o uso de raios-X de alta energia para destruir as células cancerosas. Ela tem ação local, atingindo as células cancerosas localizadas apenas nas regiões que estão sendo tratadas.

Tanto a radioterapia como a quimioterapia podem ser usadas antes da operação (terapia neoadjuvante) para redução da massa tumoral e assim facilitar a retirada cirúrgica do tumor, ou após a cirurgia (terapia adjuvante), para destruir células cancerosas que tenham permanecido na área tratada.

A radioterapia também é utilizada para o alivio de sintomas. A radiação pode ser feita através de uma máquina externa ou de um implante colocado diretamente no interior ou próximo ao tumor. Alguns pacientes são submetidos a ambos os tipos de terapia por radiação.

O emprego da radioterapia ainda não é rotineiro para o câncer do cólon, devido à dificuldade em se estabelecer o volume de tratamento adequado. O reto, por sua localização, na maior parte, abaixo da reflexão peritoneal tem no comportamento locorregional um importante indicador para radioterapia. Igualmente, as complexas redes de drenagem venosa e linfática propiciam disseminação sistêmica nos tumores transmurais justificando o emprego da quimioterapia. Cada vez mais a terapêutica multidisciplinar é utilizada, com tendência às operações mais conservadoras

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

http://www1.inca.gov.br/publicacoes/Falando_sobre_Cancer_de_Intestino.pdf

 7. Discutir as possíveis complicações do tratamento quimioterápico, como mucosite e neutropenia febril.
  • Mucosite

  O tratamento do câncer tem por finalidade a cura ou alívio dos sintomas da doença. Os tratamentos com medicamentos (quimioterapia, terapia alvo, hormonioterapia), cirúrgicos e radioterápicos podem provocar efeitos colaterais que variam de paciente para paciente dependendo de múltiplos fatores, podendo ser diferentes quanto a intensidade e duração.

  A mucosite é uma inflamação da parte interna da boca e da garganta que pode levar a úlceras dolorosas e feridas nessas regiões. Ocorre em até 40% das pessoas que recebem quimioterapia.

   A mucosite oral geralmente inicia-se com uma queixa de sensibilidade maior aos alimentos ácidos e intolerância aos alimentos muito quentes ou muito frios. A boca pode ficar avermelhada (hiperemia), inchada (edema) e dolorida. O paciente pode também relatar sensação de boca seca devido à redução na quantidade de saliva, com abundância de muco espesso e redução na lubrificação. 

Causas: Alguns tipos de quimioterapia, queda do sistema imunológico, radioterapia da região da cabeça e pescoço, etc.

   A melhor maneira de manejar a mucosite é evitar que ela inicie ou tratá-la precocemente. A crioterapia oral, que consiste na sucção de lascas de gelo antes e durante cada quimioterapia, pode reduzir a ocorrência da mucosite. O tratamento da mucosite é feito com anestésicos locais ou analgésicos.

Recomendações a serem seguidas durante o tratamento do câncer:

  • Escovar os dentes com pasta contendo flúor.
  • Passar fio dental suavemente.
  • Fazer gargarejos com bicarbonato de sódio.
  • Remover a dentadura.
  • Escolher alimentos que exijam pouca ou nenhuma mastigação.
  • Evitar alimentos ácidos, picantes, salgados e secos.
  • Neutropenia febril

 A FEBRE EM PACIENTE NEUTROPÊNICO É CONSIDERADA UMA EMERGÊNCIA MÉDICA. DURANTE O PERÍODO DE NEUTROPENIA PÓS-QUIMIOTERAPIA, a febre pode ser o único indicativo de infecção, já que os sinais e sintomas de inflamação estarão atenuados. A incidência de febre relacionada à neutropenia é documentada entre 10% e 50% em pacientes com tumores sólidos e até 80% nas neoplasias hematológicas após pelo menos um ciclo de quimioterapia. O advento dos antibióticos de largo espectro permitiu o uso de regimes quimioterápicos mais agressivos, visto que as infecções respondiam por cerca de 75% da mortalidade relacionada à quimioterapia.

  A febre em pacientes neutropênicos é definida como temperatura isolada (única medida) de 38,3 graus Celsius ou sustentada de 38 graus (duas tomadas em intervalo de 1 hora). A neutropenia é usualmente definida como contagem absoluta de neutrófilos (CAN) < 500 células/mm3.

Referência:

Colostomia é um procedimento cirúrgico de exteriorização do cólon na parede abdominal (estroma) fornecendo assim um novo trajeto para a saída do material fecal (isto é, um ânus artificial). Após a realização do procedimento, o paciente utiliza uma bolsa especial para a coleta do material fecal.

Alguns pacientes necessitam de uma colostomia temporária para permitir a cicatrização da anastomose após realização da cirurgia. Na atualidade, cerca de 10% a 20% dos pacientes com câncer de reto necessitam de colostomia permanente.

Pacientes submetidos a colostomia permanente por câncer colorretal requerem, com relativa frequência, a atenção do psiquiatra com prática na assistência a doentes internados em hospitais gerais. No entanto, a literatura médica que trata dos aspectos psicológicos relativos à colostomia não leva suficientemente em conta que os indivíduos em questão são originalmente doentes de câncer. Ela se restringe, em geral, ao problema da colostomia em si.

A colostomia acarreta no indivíduo diversas alterações nas esferas físicas, psicoemocional e social, que se não forem trabalhadas, vão influir na efetividade do processo reabilita tório desses pacientes.

A criação de um ânus artificial e incontinente na parede abdominal leva o ostomizado a uma alteração na imagem corporal, autoimagem e identidade ligados à lesão do próprio corpo e perda da habilidade em controlar a eliminação das fezes, além dos conflitos pela dissociação entre a imagem idealizada a real.

Isso pode gerar sentimentos de agonia e inferioridade, redução da autoestima e desvalorização do autoconceito, insegurança e a crença da rejeição pelos outros indivíduos, como consequências para planos afetivos, intelectual e social. Todos esses sentimentos sofrem influencias e também passa a influir na personalidade do indivíduo.

O corpo é uma dimensão muito importante devido à relação linear e direta com as interações sociais. Para a maioria dos ostomizados, o corpo perdeu a sua função. A participação em sua comunidade e família sofre acentuada redução. Restringe as saídas de casa ao que consideram “essencial”, como ir ao médico, ou para resoluções de problemas urgentes.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

  1. COLOSTOMIA E IRRIGAÇÃO: SIGNIFICADOS PSICOLÓGICOS ATRIBUÍDOS POR COLOSTOMIZADOS. http://www.ee.usp.br/reeusp/upload/pdf/786.pdf

 

 

Exame Clínico da Insuficiência Cardíaca

A insuficiência cardíaca é uma anormalidade na função cardíaca responsável pela inabilidade do coração em bombear sangue a um débito cardíaco que atenda às necessidades metabólicas dos tecidos, ou desempenha esta função às custas de pressões ou volumes diastólicos anormalmente elevados.

Envolve uma constelação de sintomas (dispneia e fadiga) e sinais (edema, estertores) clínicos que leva a hospitalizações frequentes, deterioração na qualidade de vida e menor expectativa de vida.

Pode ser vista como um distúrbio progressivo que se inicia quando um evento-índice lesa o músculo cardíaco, o que resulta em perda da função dos miócitos cardíacos ou em diminuição da capacidade do miocárdio de gerar força, impedindo, assim, que o coração se contraia normalmente.

Esse evento-índice pode ter instalação súbita, como no caso de infarto do miocárdio (IM); início gradual ou insidioso, como nos casos acompanhados por sobrecarga de pressão ou de volume; ou ser hereditário, como nos casos das diversas miocardiopatias genéticas. Independente da natureza do evento desencadeante, o fator comum a todos esses episódios é que neles, de algum modo, há declínio na capacidade de bombeamento do coração.

A Insuficiência Cardíaca Congestiva pode aparecer de modo agudo, mas geralmente se desenvolve gradualmente, às vezes durante anos. Sendo uma condição crônica, gera a possibilidade de adaptações do coração o que pode permitir uma vida prolongada, às vezes com alguma limitação aos seus portadores, se tratada corretamente.

Causas da ICC

  • Doença arterial coronariana
  • Ataque cardíaco anterior (enfarte do miocárdio)
  • Pressão arterial alta (hipertensão)
  • Doença de válvula cardíaca
  • Doença cardíaca congênita (problema com o qual você nasce)
  • Cardiomiopatia (coração aumentado)
  • Endocardite
  • Miocardite (infecção do coração)
  • Diabetes

Sintomas da ICC

  • Dispneia
  • Edemas nos pés e pernas
  • Falta de energia e cansaço
  • Dificuldade de dormir à noite devido a problemas respiratórios
  • Abdômen inchado ou mole, perda de apetite
  • Tosse com muco “espumante” ou catarro
  • Aumento de micção à noite
  • Confusão mental
  • Memória fraca
  • Pulso irregular ou rápido
  • Palpitações
  • Estertores

Exame físico

  • Ictus cordis deslocado
  • Estertor Fino: Ocorre no final da inspiração.
  • Derrame pleural
  • Impulsão paraesternal
  • Pressão venosa jugular elevada
  • Embora essencial, o exame do coração frequentemente não acrescenta informações úteis acerca da gravidade da IC.
  • Se houver cardiomegalia, oictus cordis geralmente estará deslocado inferiormente para uma posição abaixo do quinto espaço intercostal e/ou lateralmente para a linha clavicular média, passando o batimento a ser palpável sobre dois espaços. A hipertrofia grave de VE leva a ictus 
  • Em alguns pacientes, é possível ouvir e palpar uma terceira bulha (B3) no ápice cardíaco. Os pacientes com ventrículo direito aumentado ou hipertrofiado podem apresentar um impulso sustentado e prolongado na linha paraesternal esquerda, estendendo-se durante toda a sístole.
  • Uma B3(ou galope protodiastólico) está presente mais comumente nos pacientes com sobrecarga volumétrica que tenham taquicardia ou taquipneia e geralmente implica comprometimento hemodinâmico.
  • A presença de uma quarta bulha (B4) não é um indicador específico da IC, mas geralmente está presente nos pacientes com disfunção diastólica. Os sopros característicos de insuficiência mitral e tricúspide frequentemente encontram-se presentes nos pacientes com IC avançada.
  • A hepatomegalia é um sinal importante nos pacientes com IC. Quando presente, o fígado aumentado geralmente é doloroso, podendo pulsar durante a sístole nos casos em que haja insuficiência tricúspide. A ascite, um sinal tardio, ocorre como consequência de aumento da pressão nas veias hepáticas e nas veias que drenam o peritônio. A icterícia, também um achado tardio, é causada por disfunção hepática secundária à congestão do fígado e à hipoxemia hepatocelular, estando associada a aumento das bilirrubinas direta e indireta.
  • O edema periférico é uma das principais manifestações da IC, porém constitui um sinal inespecífico e geralmente está ausente nos pacientes tratados adequadamente com diuréticos. O edema periférico costuma ser simétrico e postural, ocorrendo predominantemente nos tornozelos e região pré-tibial nos pacientes que deambulam. Nos restritos ao leito, o edema pode ser observado nas regiões sacral (edema pré-sacral) e escrotal. O edema de longa duração pode cursar com pele endurecida e pigmentada.
  • Nos casos de IC crônica grave, pode haver perda evidente de peso e caquexia. Ainda que o mecanismo da caquexia não tenha sido completamente compreendido, provavelmente há diversos fatores envolvidos, como elevação da taxa de metabolismo em repouso; anorexia, náusea e vômitos causados pela hepatomegalia congestiva, bem como pela plenitude abdominal; elevação da concentração das citocinas circulantes, como o FNT; e dificuldade de absorção intestinal causada pela congestão das veias intestinais. Quando presente, a caquexia implica em prognóstico reservado.

Estase de Jugular

A veia jugular externa não deve ser a primeira escolha para o exame, pois possui válvulas no seu interior e não está em coluna reta com o átrio direito como está a jugular interna. Contudo, pela dificuldade de visualização desta última, e pela facilidade de acesso da jugular externa, esta é a veia examinada na maioria das vezes na prática clínica. O paciente deve estar deitado em decúbito dorsal, com a cabeça elevada à 45 graus. A distância vertical da porção mais alta pulsante da veia para o ângulo de Louis é a pressão venosa do paciente em centímetros de água, que não deve ser maior que 3 ou 5.

A estase jugular é caracterizada pelo não esvaziamento das jugulares quando o paciente assume uma posição acima de 30 graus.  Ela pode ser causada por insuficiência cardíaca congestiva, arritmias, hipertensão arterial pulmonar, estenose tricúspide e mitral.

Refluxo hepatojugular

É o aumento na pressão venosa jugular (PVJ), que deve ser examinada a 45°, consequente ao aumento da pressão no quadrante superior direito do paciente por pelo menos 10 segundos até 1 minuto. O sinal é positivo quando há um aumento prolongado maior ou igual a 3 cm na PVJ. Significa insuficiência ventricular direita (ICD). É importante ressaltar que a pressão pode ser exercida na região periumbilical, pois quando há ICD também existe hepatomegalia dolorosa.

Diagnóstico da ICC

  • RX de Tórax: cardiomegalia, derrame pleural, sinais de hipertensão venocapilar, edema alveolar (asa de borboleta).
  • O RX de Tórax pode apresentar sinais de congestão pulmonar (hilo ingurgitado, infiltrado em bases, linhas B de Kerley, derrame pleural bilateral ou pequeno, à direita) e cardiomegalia.
  • ECG: Ondas Q patológicas indicam provável causa isquêmica; sinais de sobrecarga das câmaras cardíacas esquerdas estão muitas vezes presentes nos pacientes com miocardiopatia hipertensiva.
  • Ecocardiograma: A avaliação anatômica permite identificar aumento do volume e/ou da espessura das câmaras cardíacas, presença de valvopatias e doenças pericárdicas. A avaliação funcional estima tanto o desempenho da contratilidade cardíaca (função sistólica) quanto procura por sinais de alteração do relaxamento (função diastólica).

Síntese 3: “Mas essas doenças acontecem em crianças? ” – Multiplicação Celular e Carcinogênese

   Neste problema abordamos o caso de Jakson, que tem apenas 6 anos. Esta criança foi saudável até os 5 anos de idade, porém veio a apresentar dores articulares, astenia, febre e dores abdominais. Além disso, apresentou ínguas no pescoço e manchas roxas nas pernas. Jakson, após realizar certos exames, foi diagnosticado com leucemia aguda.

  A leucemia é classificada como um tumor não-sólido, que atinge o sistema hematopoiético. Um tumor sólido forma massas tumorais que ficam restritas a um tecido ou invadem novos sítios. Além disso, um tumor sólido adquire mais alterações citogenéticas e moleculares. No Brasil, 90% das mortes por câncer são de tumores sólidos.

 Leucemias são tipos de câncer que inicialmente acometem a medula óssea, em que as células anormais, que sofreram mutação, se multiplicam e substituem as células normais, afetando a produção de glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas no sangue. Há quatro tipos de leucemia: aguda, crônica, linfoide e mieloide.

   A doença começa assim que uma determinada célula progenitora – ao sofrer mutações genéticas – se torna incapaz de prosseguir na diferenciação hematopoiética. Esta célula não vai além da forma “jovem” (blasto) e começa a se proliferar descontroladamente, ocupando a medula óssea e impedindo o crescimento e a diferenciação das células normais. Deve-se relembrar os passos da hematopoese, a fim de compreender melhor a fisiopatologia da leucemia.    A hematopoese é o processo contínuo e regulado de produção de células do sangue que envolve renovação, proliferação, diferenciação e maturação celular. Ocorre a partir de um precursor celular comum e indiferenciado conhecido como célula hematopoiética pluripotente ou célula-tronco. Sua origem se dá durante a 3ª semana de vida no saco vitelínico. Durante o 3º mês, as células tronco hematopoiéticas (CTH) migram para o fígado, que se torna sítio principal de formação de células sanguíneas até o nascimento. A partir daí a medula óssea para a ser o sítio principal da hematopoese.

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   As células-tronco têm duas propriedades que a tornam capaz de manter a homeostase hematológica do organismo, ou seja, produzir o que for necessário e na medida certa: 

  1. Pluripotência: que é a capacidade de uma única célula tronco dar origem a todas as demais.
  2. Autorrenovação: quando uma célula tronco se divide, ao menos uma deve migrar para os nichos especializados na medula, aonde receberão nutrientes e fatores necessários para tal.

 A partir de alguma mutação, o curso natural da hematopoese é prejudicado, impedindo a proliferação e diferenciação corretas. Dessa maneira, surge a leucemia.

 Existem alguns fatores de risco predominantes para a ocorrência de leucemias, como: translocações cromossômicas; mutações adquiridas; fatores genéticos hereditários; tabagismo; etc.

   No problema estudado, Jakson apresentava uma leucemia aguda. Sabe-se que existem 4 tipos de leucemias, que iremos detalhar a frente:

Leucemia Linfoide Aguda

  • Epidemiologia

É a leucemia mais comum na infância. Um pico de incidência entre 2-10 anos é registrado. É mais comum na raça branca e tem discreta predominância no sexo masculino. 

  • Patogênese

   São neoplasias compostas de células B ou T imaturas, chamadas de linfoblastos. Pode ocorrer por alterações cromossômicas (hiperploidia e hipoploidia). Muitas dessas alterações desregulam a expressão e a função dos fatores de transcrição necessários para o funcionamento normal de células B e T, interrompendo sua maturação.

  • Manifestações clínicas

Possui início repentino e violento, apresenta fadiga e anemia (↓hemácias), hemorragia (trombocitopenia), hepatoesplenomegalia. Também ocorre infiltração neoplásica, com dor óssea e linfadenopatia. Pode acontecer alterações do SNC, com cefaleia, vômito e paralisia dos nervos.

   Nessa leucemia a dor óssea é muito frequente – 80% dos casos; adenomegalia cervical ou generalizada é mais frequente – 75% dos casos; o acometimento do sistema nervoso central e dos testículos é mais comum; febre neoplásica é mais comum – 70% dos casos.

  • Diagnóstico
  1. Hemograma: leucocitose (variável), plaquetopenia (< 100 mil), anemia (Hb < 10) g/dl), neutropenia e trombocitopenia (casos graves).
  2. Mielograma: blastos (>25%)
  3. Biópsia: (> 25%)
  4. Citogenética: alterações cromossômicas
  5. Imunofenotipagem

   O critério diagnóstico para LLA é a presença de linfoblastos na medula óssea em proporção maior ou igual a 25% do total de células nucleadas.

  • Tratamento
  1. Correção de Hemograma
  2. Quimioterapia
  3. Medicamentos
  4. Transplante de células hematopoiéticas.
  • Prognóstico
  • Positivo: 2-10 anos
  • 75-85% de cura.

Leucemia Mieloide Aguda

  • Epidemiologia

É a leucemia aguda mais comum, afetando uma faixa etária bastante ampla. Sua incidência começa a se elevar a partir dos 15 anos e tende a aumentar progressivamente com a idade. O pico de incidência é aos 60 anos.

  • Patogênese

É um tumor de progenitores hematopoiéticos causados por mutações oncogênicas adquiridas que impedem a diferenciação, resultando na acumulação de blastos mieloides na medula. Pode ocorrer por translocação cromossômica dos genes 8-21, 15-17; pela deleção do gene 16.

  • Manifestações clínicas
  1. Início abrupto
  2. Sinais e sintomas relacionados à falência da hematopoese normal: anemia, neutropenia (infecções) e (hemorragia) trombocitopenia. Hepatoesplenomegalia não é muito comum. Presença de cloroma e hiperplasia gengival.
  3. Febre, petéquias, equimoses cutâneas.

   A tríade sintomática da leucemia aguda é: astenia, hemorragia e febre, todos sintomas relativos a insuficiência hematopoiética medular.

  • Achados laboratoriais

   O hemograma de uma leucemia aguda é caracterizado pela presença de anemia e plaquetopenia, com leucometria variável. A anemia é um achado quase universal, sendo geralmente moderada a grave (Hb entre 5-9g/dL), normocitica, normocromica e sem reticulocitose. O grau de plaquetopenia varia, com cerca de 25% dos pacientes possuindo plaquetas abaixo de 20.000/mm3.

  A leucocitose é um achado comum, embora alguns casos abram com leucopenia. A leucocitose é representada por blasto na periferia, geralmente associada a neutropenia.

  Quase sempre os blastos são encontrados no esfregaço de sangue periférico, podendo ser contados no hemograma.

  • Diagnóstico

  1. Hemograma: leucocitose (blastos), ↓eritrócitos, Hb, plaquetas e neutrófilos.
  2. Mielograma: mínimo 20% blastos na MO (bastão de Auer)
  3. Biópsia: idem mielograma
  4. Imunofenotipagem: HLA-DR, CD35 e CD13.
  5. Citogenética: alterações cromossômicas.
  • Tratamento
  1. Transfusão (plaquetopenia e anemia)
  2. Terapia especifica de LMA (deve ser feita com quimioterapia de alto poder mielotóxico, para tentar destruir completamente o clone mieloblástico. O transplante halogênico de células hematopoiéticas é um importante item da terapia, sendo a única chance de cura em alguns pacientes).
  • Prognóstico

50% sobrevivência (mau prognóstico).

Leucemia Linfoide Crônica

  • Epidemiologia

   É a segunda leucemia mais comum e acomete caracteristicamente a população idosa, sendo a mais comum leucemia nessa faixa etária, com preferência 2:1 no sexo masculino. A LLC praticamente não é vista em pessoas com menos de 30 anos de idade e não acomete crianças.

  • Patogênese

   Trata-se de uma neoplasia hematológica cujo clone neoplásico é um linfócito B maduro, porém bloqueado numa fase de diferenciação, que impede a sua transformação em plasmócito, a célula produtora de anticorpos. A evolução da doença é o acúmulo de linfócitos B neoplásicos na medula óssea, passando em seguida para o sangue periférico e atingindo os linfonodos, baço e fígado. O paciente vai se tornando debilitado e extremamente propenso a morrer de infecções bacterianas.

  • Manifestações clínicas e laboratoriais 
  1. Os pacientes são frequentemente assintomáticos.
  2. Encontramos: hepatoesplenomegalia, sudorese, anorexia, fadiga, linfadenopatia e infecções recorrentes. Portanto sinais de falência medular.

   Muitos pacientes são diagnosticados na fase assintomática da doença, pelo encontro de uma linfocitose expressiva no hemograma. Linfocitose é definida por mais de 3.000 linfócitos por mm3 no hemograma. Depois da linfocitose, a adenomegalia cervical (aumento dos linfonodos do pescoço) é o achado mais comum, presente em 2/3 dos pacientes na apresentação da doença. O marco da LLC é a associação: linfocitose acentuada + adenomegalia.

  • Diagnóstico
  1. Hemograma: leucocitose, trombocitopenia e anemia (↓hemácias)
  2. Mielograma: linfoblastos
  3. Biópsia: se necessário
  4. Imunofenotipagem: CD5, CD23, CD38, CD19, CD20, ZAP.
  5. Citogenética: Deleções 13q, 11q.
  • Tratamento

Transplante medular e quimioterapia.

  • Prognóstico

A sobrevida geral é de 4-6 anos, logo mau prognóstico.

Leucemia Mieloide Crônica 

  • Epidemiologia

O pico de incidência da LMC é na fase adulta, entre 45-55 anos, porém pode ocorrer em crianças. Existe um discreto predomínio no sexo masculino.

  • Patogênese

  O clone neoplásico da LMC provavelmente é uma célula-tronco. Por razões desconhecidas essas células adquirem uma anomalia citogenética denominada cromossomo Philadelfia que, na verdade, é uma translocação entre os braços longos do cromossomo 9 e 22. A posição desses genes forma um oncogene híbrido, responsável pela síntese de proteína P210 incriminada no aumento da divisão celular e no bloqueio da apoptose.

  • Manifestações clínicas e laboratoriais
  • Fase Crônica (3-5 anos): Caracterizado por hiperplasia medular e capacidade de maturação das células mieloides. Anemia branda/moderada, hipermetabolismo celular resultando em fadiga, perda de peso, anorexia, desconforto abdominal (esplenomegalia).
  • Fase Acelerada (3-18 meses): Perda progressiva de diferenciação celular. Pior da anemia e trombocitopenia.
  • Fase Blástica (3 meses): Quadro semelhante à leucemia aguda. Presença de mais de 20% de blastos no sangue periférico ou medula.

O marco da LMC é justamente essa associação (leucocitose neutrofílica acentuada com desvio a esquerda e esplenomegalia).

  • Diagnóstico
  1. Hemograma: Leucocitose/granulócitos, trombocitose, ↓hemácias
  2. Mielograma: ↑blastos (fase blástica), ↓blastos (fase crônica)
  3. Citogenética: Ph t(9;22).
  4. Plaquetometria;
  5. Citoquímica e Imunofenotipagem;
  6. BCR/ABL no sangue periférico ou na medula óssea;
  7. Biópsia de medula óssea incluindo determinação de fibrose medular.

   Deve ser suspeitado sempre que houver leucocitose acentuada (> 25.000-50.000/mm3) e esplenomegalia. O diagnóstico diferencial deve ser feito sempre com as reações leucemoides, com as outras síndromes mieloproliferativas.

  • Tratamento
  • Correção de plaquetopenia e anemia: hemocomponentes filtrados.
  • Quimioterapia e corticoides
  • Transplante de MO: em casos de +Ph ou doença recidiva.
  • Inibidores de tyrosine kinase (faz com que a célula siga seu caminho normal para a apoptose) e transplante medular.

   O Serviço Social Hospitalar é de grande importância no tratamento da leucemia. Este abrange um conjunto de ações, que busca garantir recursos sociais disponíveis, viabilizar condições para a adesão ao tratamento médico do pacientes e família em um processo de promoção humana. O assistente social é o profissional que observa, analisa e intervém nas situações socioeconômicas e emocionais apresentadas pelos pacientes e seus familiares.

Referências Bibliográficas

  1. ESTUDO DA DIVERSIDADE TUMORAL E DESENVOLVIMENTO DE FERRAMENTAS DE BIOINFORMÁTICA PARA ANÁLISE CITOGENÉTICA E MOLECULAR DE NEOPLASIAS SÓLIDAS. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CB: BIOQUÍMICA.

  1. https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/28744/000699142.pdf?sequence=1

  1. Goldman Cecil Medicina, Capítulo 189: Leucemias agudas| Lee Goldman, MD and Andrew I. Schafer, MD,https://www.evolution.com.br/epubreader/goldman-cecil-medicina-24ed

  1. Goldman Cecil Medicina, Capítulo 190: As leucemias crônicas| Lee Goldman, MD and Andrew I. Schafer, MD,https://www.evolution.com.br/epubreader/goldman-cecil-medicina-24ed

  1. UNICAMP/FOP. Áreas de semiologia e patologia.

  1. http://w2.fop.unicamp.br/ddo/patologia/downloads/db301_un5_Aula49Linfo-Leucemia2.pdf

  1. INCA http://www1.inca.gov.br/rbc/n_49/v01/pdf/condutas.pdf

  1. ABRALE – Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia;

  1. Robbins & Cotran Patologia – Bases Patológicas das Doenças

  1. BOGLIOLO, L.; BRASILEIRO FILHO, G. Patologia. 8ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

 

Problema 3: “Mas essas doenças acontecem em crianças? ” – Multiplicação Celular e Carcinogênese

Questões

  1. Definir e diferenciar tumores sólidos e não sólidos.
  2. Descrever a origem e o desenvolvimento da linhagem hematopoiética.
  3. Descrever a fisiopatologia das leucemias.
  4. Explicar os sinais e sintomas, correlacionando-os com a patogênese e evolução das leucemias (destacando sua eventual semelhança com outras doenças menos graves).
  5. Citar as diversas leucemias, suas formas de apresentação e sua epidemiologia, relacionando: tipo de leucemia, faixa etária e prognóstico.
  6. Descrever os exames utilizados para o diagnóstico e estadiamento de leucemias.
  7. Identificar as principais formas e fases do tratamento das leucemias e suas indicações.
  8. Discutir a importância da equipe multidisciplinar para acompanhamento de pacientes e seus familiares.
  9. Identificar o papel das entidades de apoio ao paciente com câncer e familiares.

Respostas

  1. Definir e diferenciar tumores sólidos e não sólidos.

A progressão do câncer (ou neoplasia maligna) é um processo complexo envolvendo várias escalas temporais e espaciais, um grande número de rotas metabólicas e diferentes tipos celulares. Em função disso, o termo “câncer” designa um conjunto altamente heterogêneo de doenças que podem afetar qualquer parte do corpo e que têm em comum o crescimento celular desordenado, a invasão de tecidos adjacentes e a formação de metástase.

Entretanto, poucos tipos de neoplasias respondem pela maior parte dos casos de cânceres fatais, sendo a grande maioria formadora de tumores sólidos. No Brasil cerca de 90,0% do total de mortes por câncer em ambos os sexos está associada ao desenvolvimento de neoplasias sólidas, enquanto que neoplasias de origem hematológica (e.g. leucemias e linfomas) respondem por menos de 7,0% dos casos.

 As neoplasias de origem hematológica têm sido historicamente tratadas e classificadas separadamente das demais neoplasias, as quais são coletivamente referidas como neoplasias sólidas (ou tumores sólidos). Diferentemente das neoplasias hematológicas, as neoplasias sólidas formam massas tumorais que em geral ficam restritas às barreiras teciduais por um longo período durante os estágios iniciais da progressão tumoral até adquirirem características invasivas quando então conseguem irromper o compartimento de origem e colonizar novos sítios. Além disso, no decorrer da progressão tumoral, as neoplasias sólidas adquirem um número muito maior de alterações citogenéticas e moleculares. Como resultado, nos estágios mais avançados do desenvolvimento elas exibem acentuada heterogeneidade intratumoral – com formação de múltiplos clones aberrantes.

  • Tumores Sólidos

Carcinomas são originários de células do tecido epitelial de algum órgão. Se origina quando uma célula normal sofre mutação maligna e se multiplica. É um dos tipos mais comuns, podendo surgir em todos os órgãos. Há diversos tipos diferentes, entre eles o adenocarcinoma, que é quando a doença surge de um tecido epitelial que contém glândulas.

Sarcomas são neoplasias malignas que se desenvolvem a partir de tecidos ósseos e musculares, podendo estar localizados em diferentes partes do corpo, por exemplo, na musculatura da cabeça e pescoço ou das pernas. Os sarcomas dos tecidos moles e os osteossarcomas, que são os que atingemos ossos, estão entre os mais comuns. São os que costumam fazer mais metástase, que é a disseminação para outros órgãos.

  • Tumores Não Sólidos

Leucemias são tipos de câncer que inicialmente acometem a medula óssea, em que as células anormais, que sofreram mutação, se multiplicam e substituem as células normais, afetando a produção de glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas no sangue. Há quatro tipos de leucemia: aguda, crônica, linfoide e mieloide.

Linfomas são cânceres que se desenvolvem nos gânglios linfáticos, que compõem o sistema linfático, distribuído em todo o corpo. Surge quando um linfócito, que é um tipo de glóbulo branco, torna-se célula maligna e cresce descontroladamente. Podem afetar pessoas de todas as idades, mas são mais comuns na fase adulta. Os dois tipos de linfomas são de Hodgkin e Não Hodgkin. Só deste segundo grupo, há ainda 20 subtipos.

Referência: ESTUDO DA DIVERSIDADE TUMORAL E DESENVOLVIMENTO DE FERRAMENTAS DE BIOINFORMÁTICA PARA ANÁLISE CITOGENÉTICA E MOLECULAR DE NEOPLASIAS SÓLIDAS. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CB: BIOQUÍMICA. https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/28744/000699142.pdf?sequence=1

  1. Descrever a origem e o desenvolvimento da linhagem hematopoiética.

x

  • Hematopoese

É o processo contínuo e regulado de produção de células do sangue que envolve renovação, proliferação, diferenciação e maturação celular. Ocorre a partir de um precursor celular comum e indiferenciado conhecido como célula hematopoiética pluripotente, célula-tronco ou stem-cell. As células-tronco, que no adulto encontram-se na medula óssea, são as responsáveis por formar todas as células e derivados celulares que circulam no sangue.

Sua origem se dá durante a 3ª semana de VIU no saco vitelínico. Durante o 3º mês, as células tronco hematopoiéticas (CTH) migram para o fígado, que se torna sítio principal de formação de células sanguíneas até o nascimento. A partir daí a medula óssea para a ser o sítio principal da hematopoese.

As CTH têm duas propriedades que a tornam capaz de manter a homeostase hematológica do organismo, ou seja, produzir o que for necessário e na medida certa:

  1. Pluripotência: que é a capacidade de uma única célula tronco dar origem a todas as demais.
  2. Autorrenovação: quando uma célula tronco se divide, ao menos uma deve migrar para os nichos especializados na medula, aonde receberão nutrientes e fatores necessários para tal. As demais células continuarão a ser estimuladas por fatores de transcrição e crescimento, sendo direcionadas, maturadas e morrendo ao final.

A hematopoiese é função do tecido hematopoiético, que aporta a celularidade e o microambiente tissular necessários para gerar os diferentes constituintes do sangue. No adulto, o tecido hematopoiético forma parte da medula óssea (medula vermelha) e é o local onde ocorre a hematopoiese normal.

O local onde ocorre a hematopoiese varia durante a ontogênese. Assim, observamos três fases sequenciais de locais hematopoiéticos:

  • Fase mesoblástica: Fase inicial, no pedúnculo do tronco e saco vitelino. Ambas estruturas tem poucos mm. de longitude, ocorre na 2ª semana embrionária.
  • Fase hepática: Na 6ª semana de vida embrionária.
  • Fase mieloide: O baço e a medula óssea fetal.

    3. Descrever a fisiopatologia das leucemias.

  • Leucemia – definição:

Neoplasias malignas do sistema hematopoiético caracterizadas pela proliferação clonal da célula-tronco, que progressivamente substitui a medula óssea normal e atinge o sangue periférico. Uma vez na circulação, as células neoplásicas podem infiltrar praticamente todas as vísceras, com preferência pelo fígado e baço.

Em todos os casos de leucemia, a medula óssea está comprometida, sendo variável a expressão da neoplasia no sistema periférico.  Caracteriza-se pela proliferação predominante de células da série granulocítica, acompanhada ou não de proliferação de elementos da série megacariocítica.

  • Fatores predisponentes para as Leucemias 
  1. Translocações cromossômicas e outras Mutações adquiridas.

Os genes mutados ou que sofreram formas de alteração frequentemente apresentam papeis cruciais no desenvolvimento, crescimento ou sobrevivência da célula maligna.

As oncoproteínas criadas por aberrações genômicas muitas vezes bloqueiam a maturação normal.

Os proto-oncogenes são frequentemente ativados em células linfoides por erros que ocorrem durante a diversificação e o rearranjo gênico do receptor de antígenos.

  1. Fatores genéticos hereditários

Indivíduos com doenças genéticas que promovam instabilidade gênica, tais como a síndrome de Bloom, Anemia de Fanconi e a Atalaxia apresentam risco aumentado para o desenvolvimento de Leucemia Aguda. 

  1. Vírus

EBV, HTLV1 e HHV-8 são linfonotrópicos e conhecidos cmo causadores de determinados linfomas.

  1. Estimulação Imune Crônica

Vários agentes ambientais que causam essa estimulação localizada predispõem à neoplasia linfoide, que quase sempre surge dentro do tecido inflamado. Ex: H. pylori e linfomas gástricos, sensibilidade ao glúten e enteropatias.

  1. Fatores Iatrogênicos

Radioterapia e outras formas de quimioterapia usadas no tratamento do câncer aumentam o risco de leucemias.

  1. Tabagismo

A incidência de LMA é até 2x maior em fuantes provavelmente pela exposição aos agentes carcinógenos, tais como o tabaco.

  • Patogênese

  A doença começa assim que uma determinada célula progenitora (ao sofrer mutações genéticas) se torna incapaz de prosseguir na diferenciação hematopoiética. Esta célula não vai além da forma “jovem” (blasto) e começa a se proliferar descontroladamente, ocupando a medula óssea e impedindo o crescimento e a diferenciação das células normais. Devemos relembrar os passos da hematopoese, a fim de compreender melhor a fisiopatologia da leucemia aguda.

  A célula tronco (célula totipotente) inicialmente se diferencia em dois tipos celulares (progenitores multilinhagem ou “CFU” – Colony Forming Units): um comprometido com a linhagem linfoide (formação dos linfócitos), e outro comprometido com a linhagem mieloide (formação de granulócitos, monócitos, hemácias e plaquetas).

   Os progenitores multilinhagem se diferenciam em progenitores de linhagem única, os quais se destinam a produzir um tipo celular especifico. Qualquer uma dessas células pode sofrer uma transformação neoplásica, inviabilizando o processo normal de maturação e resultando em proliferação e acumulo de um “clone” (população de células idênticas). Na LMA, o clone pode ter origem: na célula tronco, CFU-mieloide, CFU-GM ou CFU-E/mega, mieloblasto/pró-mielocito, monoblasto, eritroblasto ou megacarioblasto, entre outras células intermediarias. Repare que não citamos precursores “linfoides”, pois a leucemia aguda derivada destes é designada LLA (leucemia linfoide aguda). De forma bem simples podemos entender que cada subtipo morfológico de LMA corresponde ao tipo de célula que sofreu transformação. Assim, a morfologia do blasto irá caracterizar 8 subtipos de LMA, segundo a classificação da FAB.

   Na LLA, como vimos, o clone neoplásico deriva de um progenitor linfoide, uma celula pré-T ou pré-B “precoce”, uma celula pré-T ou pré-B ou mesmo um linfócito B que assume características de blasto. Todas essas células são consideradas linfoblastos. Em 80% das LLA, a origem da neoplasia é na linhagem B. No restante (20%), a fonte é a linhagem de células T. Neste último caso, a leucemia pode cursar com proliferação de linfoblastos do timo, levando a uma entidade análoga ao linfoma linfoblastico, um tipo de linfoma não-Hodgkin de alto grau de malignidade, típico de crianças. Pela classificação da FAB, são 3 os subtipos morfológicos de LLA. Como veremos adiante, a identificação precisa do subtipo de LMA ou LLA é fundamental, pois tem implicações no quadro clinico, prognostico e tratamento.

   Os blastos leucêmicos primeiramente infiltram a medula óssea, ocupando mais de 20% (pela OMS) ou mais de 30% (pela FAB) do total de células nucleadas, podendo chegar a 80-100% de ocupação. A primeira consequência, portanto, é a supressão da hematopoese normal. Essa expansão do clone neoplásico ocupa o espaço necessário a produção de células hematológicas normais, culminando em pancitopenia (anemia, leucopenia e plaquetopenia), o grande marco do início da doença. Os blastos anormais também secretam fatores inibitórios e indutores de fibrose, tornando a disfunção medular ainda mais grave do que o esperado somente pela ocupação do espaço. Esses blastos podem ser lançados na corrente sanguínea, justificando o termo leucemia (células brancas no sangue), com frequência atingindo um número suficientemente grande a ponto de determinar leucocitose. E como tais células não são capazes de amadurecer, elas não exercem qualquer função fisiológica. As defesas do organismo continuam dependendo dos poucos neutrófilos e monócitos existentes. Uma vez na corrente sanguínea, os blastos também podem infiltrar órgãos, com preferência para linfonodos, baço, fígado, gengiva, orbita, sistema nervoso central, meninges, testículos, pele, etc. O paciente vai ao óbito pela infiltração tecidual maciça (que leva a falência orgânica), e/ou pela pancitopenia grave e suas consequências (anemia, infecção, hemorragia).

  • Tipagem e imunofenotipagem

   Os blastos da LMA são um pouco maiores que os da LLA e geralmente apresentam grânulos azurófilos em seu citoplasma, o que define a linhagem granulocítica. A presença no citoplasma de filamentos eosinofílicos – os bastonetes de Auer (inclusões eosinofilicas em forma de agulha) – é patognomonica de LMA, embora presente apenas nos subtipos M1, M2, M3 e M4. Analisando apenas os aspectos morfológicos, um hematologista experiente consegue diferenciar a LMA da LLA em até 70% dos casos. A citoquímica ajuda nessa diferenciação. A coloração positiva para mieloperoxidase ou Sudan Black B indica LMA mieloblastica, e para esterase não especificas indica LMA monoblastica. A coloração positiva para PAS (ácido periódico de Schiff) sugere LLA derivada de células B. Já a coloração positiva para fosfatase acida indica LLA derivada de células T. Utilizando apenas a citoquímica, cerca de 15-20% dos blastos ainda continuam sem definição da origem.

  Para definir com precisão o subtipo de célula leucêmica criou-se a imunofenotipagem, método considerado padrão-ouro para classificar as leucemias. O desenvolvimento dessa técnica foi uma das maiores revoluções no diagnóstico das neoplasias hematológicas. Consiste na pesquisa de marcadores na membrana ou citoplasma do blasto, através da administração de anticorpos específicos ligados a substancias fluorescentes. A positividade para determinado marcador é vista pela presença de atividade fluorescente na membrana ou citoplasma da célula neoplásica, diretamente ao microscópio, ou então – de preferência – por um processo automatizado chamado citometria de fluxo. Esses marcadores sao nomeados pela sigla CD (cluster designation). Cada subtipo de leucemia apresenta uma combinação própria de marcadores que o caracteriza. Por exemplo: os marcadores de membrana CD13, CD14 e CD33 definem a origem mieloide do blasto. O CD34 é um marcador de célula-tronco e confere pior prognostico. Ja o marcador TdT citoplasmático é detectado nos linfoblastos. Os marcadores de membrana CD10, CD19 e CD20 caracterizam o blasto linfoide. A presença do fator de Von Willebrand e Glicoproteina IIb/IIIa na superfície do blasto caracteriza a LMA-M7 (megacariocítica).

  • Citogenética

   Hoje se sabe que por trás da maioria das neoplasias está a expressão de um ou mais oncogenes, isto é, genes responsáveis pela reprodução celular desordenada ou bloqueio de apoptose. Normalmente, oncogenes se localizam em regiões inativas do genoma, sendo denominados proto-oncogenes. Diversas formas de mutação podem transformar os proto-oncogenes em oncogenes. Os antioncogenes (genes supressores de tumor), por outro lado, são responsáveis pela síntese de fatores que inibem a expressão dos oncogenes. Eles podem ser inativados, o que facilita a expressão dos oncogenes.

  Mutações frequentes identificadas nas leucemias agudas se associam a desarranjos estruturais nos cromossomos, e recebem a denominação genética de “anomalias citogenéticas”. Os principais exemplos são as deleções (perda de fragmentos), inversões (um fragmento cromossomial se inverte), translocações (troca de fragmentos entre dois cromossomos), ganhos cromossomiais (trissomias, hiperploidia) e perdas cromossomiais completas. O resultado final de tais fenômenos é a ativação de oncogenes ou supressão de antioncogenes.

  • Fatores de risco

As leucemias agudas podem ser primárias, quando surgem em um paciente sem nenhuma doença hematológica e sem uso prévio de quimioterápicos leucemogênicos, ou secundarias, quando surgem em pacientes com (1) doenças hematológicas pré-leucemicas, tais como síndromes mielodisplasicas (importante causa de LMA em idosos), síndromes mieloproliferativas, ou (2) uso prévio de certos quimioterápicos, como os agentes alquilantes e os inibidores de topoisomerase II. As leucemias secundarias sao via de regra do tipo LMA.

Os fatores de risco para as leucemias agudas fazem parte da sua etiopatogenia:

  • Radiação ionizante: geralmente doses altas em indivíduos jovens, como radioterapia para tumores (LLA).
  • Exposição a benzeno e derivados do petróleo (LMA).
  • Agentes alquilantes (LMA): a leucemia se apresenta 4-6 anos após a exposição a droga e é quase sempre precedida por uma síndrome mieloplasica.
  • Inibidores da topoisomerase II (LMA): a leucemia se apresenta precocemente (1-2 anos após exposição a droga) e nao se associa a síndrome mieloplasica. Esses fármacos também sao chamados de epipodofilotoxinas.
  • Distúrbios hereditários (LMA): aqueles que levam a instabilidade cromossomial
  • Anomalias citogeneticas congênitas: sindorme de down, síndrome de Patau.(trissomia do 13) e síndrome de klinefelter (XXY). A síndrome de down aumenta em 10-18 vezes a chance de leucemia aguda, concentrando seu pico etário na primeira infância. Até 3 anos de idade, predomina a LMA (subtipo M7), daí em diante, a LLA.
  • Classificação da OMS

  As leucemias agudas foram inicialmente classificadas pela FAB (French0American-British cooperative group), num esquema baseado em características morfológicas e citoquímicas dos blastos. Sua acurácia foi posteriormente reforçada com o advento da imunofenotipagem (citometria de pulso). Atualmente, entretanto, as decisões terapêuticas nas leucemias são bastantes dependentes de características nao contempladas pela classificação da FAB, como as anomalias citogenéticas e moleculares (que representam sindormes leucêmicas especificas), a relação com síndrome mielodisplásica prévia, uso de agentes alquilantes e inibidores da topoisomerase II.

   Por isso, a OMS reclassificou (em 2008) as leucemias agudas sob uma ótica distinta, definindo grupos de prognostico e tratamento diferenciados. Cita também leucemias mais raras que não participam da classificação da FAB. Em suma, esta é a classificação mais utilizada nos dias atuais.

4. Explicar os sinais e sintomas, correlacionando-os com a patogênese e evolução das leucemias (destacando sua eventual semelhança com outras doenças menos graves).

  • Manifestações clínicas – Leucemias Agudas

    Os sinais e sintomas da leucemia aguda são geralmente de início rápido, desenvolvendo-se num período de poucas semanas até o máximo de uns poucos meses, e resultam da redução da função normal da medula óssea e da invasão de órgãos normais por blastos leucêmicos. A anemia está presente no diagnóstico na maioria dos pacientes e causa cansaço, palidez e cefaleia, e, nos pacientes predispostos, angina ou insuficiência cardíaca. Geralmente, encontramos trombocitopenia, e aproximadamente um terço dos pacientes apresenta sangramento clinicamente evidente no diagnóstico, em geral sob a forma de petéquias, equimoses, sangramento gengival, epistaxe ou hemorragia. A maioria dos pacientes portadores de leucemia aguda se encontra significativamente granulocitopênica no diagnóstico. Em consequência, aproximadamente um terço dos pacientes portadores de LMA e um número ligeiramente menor de pacientes portadores de LLA apresentam, na avaliação inicial, infecções significativas ou que causem risco de morte, a maioria das quais de origem bacteriana.

    Além da supressão da função medular, as células leucêmicas podem infiltrar órgãos normais. Em geral, a LLA costuma infiltrar esses órgãos com maior frequência do que a LMA. O aumento dos linfonodos, fígado e baço é comum no momento do diagnóstico. A dor óssea, considerada como resultado da infiltração leucêmica no periósteo ou como expansão da cavidade medular, é uma queixa comum, especialmente nas crianças com LLA. Por vezes, as células leucêmicas infiltram a pele, resultando num exantema elevado, não pruriginoso, designado como cútis leucêmica. As células leucêmicas podem infiltrar as leptomeninges e causar meningite leucêmica, que se manifesta tipicamente por cefaleia e náuseas. Com a progressão da doença, podem se desenvolver paralisias do sistema nervoso central (SNC) e convulsões. Apesar do fato de menos de 5% dos pacientes com LLA terem envolvimento do SNC no diagnóstico, este é um local frequente de recidiva.

  • Manifestações clínicas – Leucemias Crônicas

   Cerca de 40% a 50% dos pacientes diagnosticados com LMC são assintomáticos até que a doença seja encontrada em exames físicos de rotina ou de sangue. O grau de leucocitose correlaciona-se à carga tumoral, definida pelo tamanho esplênico.

   Os sintomas de LMC, quando presentes, são devidos à anemia e à esplenomegalia; incluem fadiga, perda de peso, mal-estar, saciedade fácil e dor ou sensação de plenitude no quadrante superior esquerdo. Raramente ocorrem sangramentos (associados à baixa contagem de plaquetas e/ou disfunção de plaquetas) ou trombose (associada à trombocitose e/ou leucocitose acentuada). Outras apresentações raras incluem artrite gotosa (devido a níveis elevados de ácido úrico), priapismo (geralmente com leucocitose ou trombocitose acentuadas), hemorragia de retina, ulceração e sangramento gastrointestinais altos (em razão de altos níveis de histamina pela basofilia). Dores de cabeça, dores ósseas, artralgias, dor por infarto esplênico e febre são incomuns na fase crônica, porém vão ficando mais frequentes com o progresso da LMC. Os sintomas leucostáticos, tais como dispneia, sonolência, perda de coordenação ou confusão, causados pela aglutinação de células em vasos pulmonares ou cerebrais, são incomuns na fase crônica, apesar de a contagem de leucócitos exceder 50.000 células/μL, embora estes sintomas possam aparecem mais frequentemente nas fases aceleradas ou blásticas.

   A esplenomegalia, o sinal físico mais consistente na LMC, ocorre em 50% a 60% dos casos. A hepatomegalia já é menos comum (10% a 20%) e, em geral, de pouca amplitude (1 a 3 cm abaixo da margem costal direita). A linfadenopatia é incomum, assim como a infiltração da pele ou de outros tecidos. Caso presente, esses achados sugerem uma LMC Ph-negativa ou as fases acelerada ou blástica de LMC.

Referência: Goldman Cecil Medicina, Capítulo 189: Leucemias agudas| Lee Goldman, MD and Andrew I. Schafer, MD,https://www.evolution.com.br/epubreader/goldman-cecil-medicina-24ed

Goldman Cecil Medicina, Capítulo 190: As leucemias crônicas| Lee Goldman, MD and Andrew I. Schafer, MD,https://www.evolution.com.br/epubreader/goldman-cecil-medicina-24ed.

5. Citar as diversas leucemias, suas formas de apresentação e sua epidemiologia, relacionando: tipo de leucemia, faixa etária e prognóstico.

  • Epidemiologia Geral – Fonte: INCA
  1. Estimativas de novos casos: 10.070, sendo 5.540 homens e 4.530 mulheres (2016 – INCA).
  2. Número de mortes: 6.316, sendo 3.439 homens e 2.877 mulheres (2013- SIM).

  O que caracteriza as leucemias “agudas” é a ocorrência de um acúmulo de progenitores de linhagem linfoide ou mieloide, células que recebem a denominação de blastos (blasto = célula jovem). Os blastos são incapazes de se diferenciar em células maduras, devido a um bloqueio de maturação, o grande marco fisiopatológico da doença. As leucemias crônicas, em contrapartida, são caracterizadas pelo acumulo de células maduras ou quase maduras. Estas podem ser derivadas de clones neoplásicos mais jovens, que seguiram o processo normal de maturação.

Faixa etária

  • Adulto: A forma mais comum de leucemia aguda é a LMA (leucemia mieloide aguda).
  • Na criança com menos 15 anos de idade, as leucemias quase sempre são agudas, sendo a mais frequente a LLA (leucemia linfoblástica aguda) – na realidade, a LLA é o tipo mais comum de câncer (em geral) da criança.
  • Agora, considerando o grupo das leucemias como um todo (agudas e crônicas), o tipo mais comum de leucemia no mundo é a LLC (leucemia linfocítica crônica).
    Leucemia Mieloide Aguda (LMA)

É um tumor de progenitores hematopoiéticos causados por mutações oncogênicas adquiridas que impedem a diferenciação, resultando acumulação de blastos mieloides na medula.

  • Epidemiologia

É a leucemia aguda mais comum, afetando uma faixa etária bastante ampla. Sua incidência começa a se elevar a partir dos 15 anos e tende a aumentar progressivamente com a idade. Assim, um adulto com leucemia aguda provavelmente tem LMA. Sabemos que a doença tem ligeira preferência pelo sexo masculino.

  • Manifestações clínicas 
  • Início abrupto
  • Sinais e sintomas relacionados à falência da hematopoese normal: anemia refratária, neutropenia (infecções) e (hemorragia) trombocitopenia. Hepatoesplenomegalia não é muito comum.
  • Febre, petéquias, equimoses cutâneas.

   A evolução dos sintomas pode ser aguda ou subaguda (semanas), embora metade dos pacientes apresente queixas inespecíficas nos últimos 3 meses. A tríade sintomática da leucemia aguda é: astenia, hemorragia e febre, todos sintomas relativos a insuficiência hematopoiética medular. Essa tríade é a mesma da anemia aplasica, sendo este o diagnostico diferencial mais importante, principalmente quando não há leucocitose no hemograma.

   A astenia, ou fadiga, é o sintoma inicial em metade dos casos. A astenia, na verdade, é o principal componente da síndrome anêmica. Estes pacientes normalmente desenvolvem uma anemia moderada a grave instalação rápida. Os outros comemorativos da síndrome anêmica também podem estar presentes: dispneia, cefaleia e tontura postural.

   O sangramento reflete a plaquetopenia grave e, eventualmente, um distúrbio da coagulação na LMA. Quando o distúrbio é secundário apenas a plaquetopenia, manifesta-se com sangramento cutâneo (petéquias, equimoses) e mucoso (sangramento gengival, epistaxe, metrorragia, hemorragia digestiva). Em alguns casos, a diátese (pré-disposição para algumas doenças) hemorrágica é desproporcional ao grau de plaquetopenia, em razão da coexistência de disfunção das plaquetas circulantes.

  A febre pode ser decorrente de dois mecanismos: neutropenia/ disfunção neutrofílica, que favorece infecções bacterianas sistêmicas – mecanismo mais comum,  ou febre neoplásica consequente a rápida proliferação clonal.

   Outros sinais e sintomas são decorrentes da infiltração leucêmica de órgãos e tecidos. Vejamos alguns exemplos. A hepatoesplenomegalia é uma manifestação frequente e pode diferenciar clinicamente a leucemia aguda de uma anemia aplasica (que não cursa hepatoesplenomegalia). A esplenomegalia das leucemias agudas não é tão proeminente quanto a da LMC.

   A dor óssea, também mais comum na LLA, é um sintoma decorrente da expansão medular pela proliferação dos blastos ou da invasão do periósteo.

  Quando a leucometria alcança valores exorbitantes (>50.000 ou >100.000/mm3) – uma condição conhecida como hiperleucocitose – a síndrome da leucostase pode se instalar. Os leucócitos aumentam a viscosidade sanguínea e podem se aderir ao endotélio das vênulas pulmonares e outros órgãos, como o cérebro. O paciente apresenta sintomas neurológicos (cefaleia, borramento visual, parestesia, etc), pulmonares (dispneia, taquipneia, insuficiência respiratória com hipoxemia grave) e geniturinários (priapismo (ereção dolorosa), insuficiência renal aguda). Casos mais graves devem ser imediatamente tratados com leucoaférese (retirada de leucócitos do sangue).

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  • Achados laboratoriais

   O hemograma de uma leucemia aguda é caracterizado pela presença de anemia + plaquetopenia, com leucometria variável. A anemia é um achado quase universal, sendo geralmente moderada a grave (Hb entre 5-9g/dL), normocitica, normocromica e sem reticulocitose. O grau de plaquetopenia varia, com cerca de 25% dos pacientes possuindo plaquetas abaixo de 20.000/mm3.

  A leucocitose é um achado comum, embora alguns casos abram com leucopenia. A leucocitose é representada por blasto na periferia, geralmente associada a neutropenia.

  Quase sempre os blastos são encontrados no esfregaço de sangue periférico, podendo ser contados no hemograma. Entretanto, numa minoria, os blastos estão ausentes na periferia, sendo encontrados apenas na medula óssea, uma condição denominada “leucemia aleucemica”.

  O aumento dos níveis séricos de lisozima é característico dos subtipos M4 e M5 e pode ter consequencias clinicas, como a lesão tubular renal, levando a insuficiência renal aguda. A pseudo-hipercalemia e a pseudo-hipoglicemia podem ocorrer especialmente no laboratório (os blasto no tubo de ensaio liberam potássio e consomem glicose).

  • Diagnóstico
  • Hemograma: leucocitose (blastos), ↓eritrócitos, Hb, plaquetas e neutrófilos.
  • Mielograma: mínimo 20% blastos na MO (bastão de Auer)
  • Biópsia: idem mielograma
  • Imunofenotipagem: HLA-DR, CD35 e CD13.
  • Citogenética: alterações cromossômicas.

  Diagnóstico deve ser sempre confirmado pelo mielograma (aspirado de medula óssea), obtido geralmente da crista ilíaca. É necessária a presença de mais de 20% de blastos (OMS) entre as células nucleadas do aspirado. Além de confirmar uma leucemia aguda, o exame deve tipar e subtipar a leucemia, definindo dados prognósticos. A biopsia de medula óssea também deve ser realizada para analise das alterações displasicas e do grau de mielofibrose associada.

  • Tratamento
  1. Transfusão (plaquetopenia e anemia)
  2. Terapia especifica de LMA (deve ser feita com quimioterapia de alto poder mielotóxico, para tentar destruir completamente o clone mieloblástico. O transplante halogênico de células hematopoiéticas é um importante item da terapia, sendo a única chance de cura em alguns pacientes)
  • Prognóstico

50% sobrevivência (mau prognóstico)

Leucemia Linfoide Aguda (LLA) 

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  • Epidemiologia

É a leucemia mais comum na infância. Um pico de incidência entre 2-10 anos é registrado. É mais comum na raça branca e tem discreta predominância no sexo masculino. A LLA também pode ocorrer no adulto. Nesse caso, a doença apresenta pior prognostico, com uma taxa de cura de apenas 25 a 40%. Os adultos respondem bem a quimioterapia de indução com até 90% de remissão completa, a maioria experimenta recaída da doença.

  • Patogênese

São neoplasias compostas de células B (pré-B) ou T (pré-T) imaturas as quais são chamadas de linfoblastos.

Alterações cromossômicas: Hiperploidia (>50 cromossomos), hipoploidia (Muitas dessas alterações desregulam a expressão e a função dos fatores de transcrição necessários para o funcionamento normal de células B e T, interrompendo sua maturação.

LLA-B: mutação com ganho de função no gene NOTCH1 (desenvolvimento de células T)

LLA-T: mutação com perda de função nos genes: PAX-5, E2A e EBF (desenvolvimento de células B) ou uma t (12;21) nos genes TEL e AML1 (precursores hematopoiéticos na fase inicial do desenvolvimento).

  • Manifestações clínicas
  • Início repentino e violento
  • Depressão funcional da M.O: fadiga e anemia (↓hemácias), hemorragia (trombocitopenia), hepatoesplenomegalia.
  • Infiltração neoplásica: dor óssea e subperiósteo, linfadenopatia.
  • Alterações do SNC: cefaleia, vômito e paralisia dos nervos (expansão meníngea)

O quadro clínico da LLA é muito semelhante ao da LMA. Contudo, algumas diferenças devem ser destacadas: a dor óssea é muito frequente – 80% dos casos; adenomegalia cervical ou generalizada é mais frequente – 75% dos casos; podem ocorrer massas mediastinais no subtipo D células-T do timo; o acometimento do sistema nervoso central e dos testículos é mais comum; febre neoplásica é mais comum – 70% dos casos; a hiperplasia gengival não faz parte do quadro clinico.

  • Diagnóstico e tipagem
  • Hemograma: leucocitose (variável), plaquetopenia (< 100 mil), anemia (Hb < 10) g/dl), neutropenia e trombocitopenia (casos graves).
  • Mielograma: blastos ( >25%)
  • Biópsia: (> 25%)
  • Citogenética: alterações cromossômicas
  • Imunofenotipagem: fenótipos blásticos.

   O critério diagnóstico para LLA é a presença de linfoblastos na medula óssea em proporção maior ou igual a  25% do total de células nucleadas. A diferenciação entre linfoblastos e blastos da LMA (mieloblastos) é feita por critérios morfológicos, citoquímicos e imunofenotipagem. Pelos critérios da FAB existem três subtipos de LLA.

  1. O subtipo L1 é o mais comumente encontrado na LLA infantil (80% dos casos), apresentando o melhor prognostico e resposta a terapêutica. O linfoblasto possui núcleo arredondado e citoplasma escasso.
  2. O subtipo L2 é a forma mais comum no adulto. O linfoblasto é maior que o L1, tem nucléolos, mais citoplasma e núcleos irregulares.
  3. O subtipo L3 é o menos comum, e representa a forma leucêmica do linfoma de Burkitt, caracterizado por linfoblastos de tamanho intermediário, com citoplasma proeminente, basofilico e cheio de vacúolos
  • Tratamento
  • Transplante de células hematopoiéticas.
  • Medicamentos (ATRA – t(15;17))
  • Quimioterapia
  • Correção de Hemograma
  • Prognóstico

  • Positivo: 2-10 anos
  • Negativo: rearranjo MML ou t(9;22) Ph
    Leucemia Mieloide Crônica (LMC)

É uma síndrome mieloproliferativa crônica, juntamente com a policitemia vera, metaplasia mieloide agnogênica e a trombocitemia essencial. As síndromes mieloproliferativas formam um grupo de neoplasias hematológicas que se originam da célula-tronco ou de um progenitor próximo a esta em sua maturação. Porém, ao contrário das leucemias agudas, esse clone segue curso normal de maturação até as células finais (granulócitos, hemácias e plaquetas) – NÃO HÁ BLOQUEIO DE MATURACAO. O pico de incidência da LMC é na fase adulta, entre 45-55 anos, porem pode ocorrer em crianças. Existe um discreto predomínio no sexo masculino.

  • Patogênese

  O clone neoplásico da LMC provavelmente é uma célula-tronco. Por razões desconhecidas essas células adquirem uma anomalia citogenética denominada cromossomo Philadelfia que, na verdade, é uma translocação entre os braços longos do cromossomo 9 e 22. A posição desses genes forma um oncogene hibrido, responsável pela síntese de proteína P210 incriminada no aumento da divisão celular e no bloqueio da apoptose. Cerca de 95% dos pacientes com LMC apresenta cromossomo Philadelfia detectável na análise do cariótipo das células do aspirado de medula óssea. O clone neoplásico é capaz de se diferenciar em células maduras, diferente do encontrado nas leucemias agudas. A diferenciação ocorre preferencialmente na medula óssea e no sangue periférico de neutrófilos, bastões, metamielocitos, mielocitos e, eventualmente, raros mieloblastos. Os eosinófilos e basófilos encontram-se elevados. Os monócitos e plaquetas podem se elevar, porém, a hematimetria tende a se reduzir (anemia) por conta da ocupação medular neoplásica, inibindo a eritropoiese.

  • Manifestações clínicas e laboratoriais 
  • Fase Crônica (3-5 anos)

Caracterizado por hiperplasia medular e capacidade de maturação das células mieloides.

Sintomais: anemia branda/moderada, hipermetabolismo celular resultando em fadiga, perda de peso, anorexia, desconforto abdominal (esplenomegalia).

  • Fase Acelerada (3-18 meses)

Perda progressiva de diferenciação celular (A LMC está associada a mutações que interferem no Ikaros, fator de transcrição que regula a diferenciação dos progenitores hematopoiéticos.)

Sintomas: Acentuada anemia, trombocitopenia, as vezes com mais basófilos.

  • Fase Blástica (3 meses)

Quadro semelhante à leucemia aguda. Presença de mais de 20% de blastos no sangue periférico ou medula.
Muitos pacientes com LMC são descobertos em uma fase assintomática da doença, através do exame físico mostrando esplenomegalia e/ou hemograma revelando leucocitose neutrofílica acentuada, com desvio para esquerda até mielocito ou mieloblasto. O marco da LMC é justamente essa associação (leucocitose neutrofílica acentuada com desvio a esquerda + esplenomegalia).

   Os sintomas mais comuns de apresentação da doença são decorrentes do estado hipercatabólico, da esplenomegalia, da anemia e/ou da disfunção plaquetária, tais como: febre, perda ponderal, astenia, sudorese noturna, desconforto abdominal no hipocôndrio esquerdo, saciedade precoce, palpitação, dispneia, equimoses. As infecções na LMC não são frequentes, nem caracterizam a doença. O clone neoplásico é capaz de se diferenciar até o neutrófilo maduro. Este neutrófilo possui uma função normal ou levemente diminuída.

   Quadro laboratorial da doença caracteriza-se pela acentuada leucocitose neutrofílica, invariavelmente presente. O diferencial revela intenso desvio para esquerda, havendo muitas formas jovens granulocíticas na periferia: bastões, metamielocitos, mielocitos e até mieloblastos. A contagem absoluta de eosinófilos e basófilos está via de regra alta.  A LMC É UMA DAS UNICAS CAUSAS DE BASOFILIA PROEMINENTE E PERSISTENTE.

A regra portanto, na LMC, é: anemia + hiperleucocitose + trombocitose

  • Diagnóstico
  • Hemograma: Leucocitose/granulócitos, trombocitose, ↓hemácias
  • Mielograma: ↑blastos (fase blástica), ↓blastos (fase crônica)
  • Citogenética: Ph t(9;22).
  • Anamnese e exame físico;
  • Plaquetometria;
  • Morfologia de sangue periférico;
  • Fosfatase alcalina dos neutrófilos no sangue periférico;
  • Citoquímica e Imunofenotipagem (apenas na FB);
  • Citogenética da medula óssea;
  • PCR qualitativo: pesquisa do marcador molecular
  • BCR/ABL no sangue periférico ou na medula óssea;
  • Biópsia de medula óssea incluindo determinação de fibrose medular.

Deve ser suspeitado sempre que houver leucocitose acentuada (> 25.000-50.000/mm3) e esplenomegalia. O diagnóstico diferencial deve ser feito sempre com as reações leucemoides, com as outras síndromes mieloproliferativas.

Nos casos suspeitos, um aspirado (mielograma) e uma biópsia de medula óssea devem ser realizados. A CONFIRMACAO DIAGNOSTICA É FEITA PELO ACHADO DO CROMOSSOMO PHILADELFIA NA AVALIACAO CITOGENETICA DAS CELULAS DO ASPIRADO.

  • Tratamento
  • Correção de plaquetopenia e anemia: hemocomponentes filtrados.
  • Quimioterapia e corticoides
  • Transplante de MO: em casos de +Ph ou doença recidiva.
  • Inibidores de tyrosine kinase (faz com que a célula siga seu caminho normal para a apoptose) e transplante medular.

Leucemia Linfoide Crônica (LLC)

  São neoplasias clonais de linfócitos maduros não competentes, resistentes à morte que se acumulam em órgãos linfoides. Ao contrário da LMC, não existe uma única anomalia cromossomial típica da LLC, apesar de existirem algumas alterações que modificam o prognostico da doença. A evolução da doença é o acúmulo de linfócitos B neoplásicos na medula óssea, passando em seguida para o sangue periférico e atingindo os linfonodos, baço e fígado. O paciente vai se tornando debilitado e extremamente propenso a morrer de infecções bacterianas.

  • Epidemiologia

   A LLC é a segunda leucemia mais comum e acomete caracteristicamente a população idosa, sendo a mais comum leucemia nessa faixa etária, com preferência 2:1 no sexo masculino. A LLC praticamente não é vista em pessoas com menos de 30 anos de idade e não acomete crianças. Trata-se de uma neoplasia hematológica cujo clone neoplásico é um linfócito B maduro, porém bloqueado numa fase de diferenciação, que impede a sua transformação em plasmócito, a célula produtora de anticorpos.

  • Manifestações clínicas e laboratoriais 
  • Os pacientes são frequentemente assintomáticos ao diagnóstico mas quando aparecem são inespecíficos.
  • Encontramos: hepatoesplenomegalia, sudorese, anorexia, fadiga, linfadenopatia e infecções recorrentes. Portanto sinais de falência medular.

   Muitos pacientes são diagnosticados na fase assintomática da doença, pelo encontro de uma linfocitose expressiva no hemograma. Linfocitose é definida por mais de 3.000 linfócitos por mm3 no hemograma. Depois da linfocitose, a adenomegalia cervical (aumento dos linfonodos do pescoço) é o achado mais comum, presente em 2/3 dos pacientes na apresentação da doença. O marco da LLC é a associação: linfocitose acentuada + adenomegalia.

  • Diagnóstico
  • Hemograma: leucocitose, trombocitopenia e anemia (↓hemácias)
  • Mielograma: linfoblastos
  • Biópsia: se necessário
  • Imunofenotipagem: CD5, CD23, CD38, CD19, CD20, ZAP.
  • Citogenética: Deleções 13q, 11q.

Diagnostico confirmado por um dos critérios:

  • Linfocitose persistente > 10.000/mm3 + aspirado de medula óssea com>30% de linfócitos.
  • Linfocitose persistente > 5.000/mm3 + aspirado de medula óssea com >30% de linfócitos + imunofenotipagem revelando marcadores de linfócito B maduro em conjunto com marcador CD5.
  • Tratamento

Transplante medular

  • Prognóstico

A sobrevida geral é de 4-6 anos, logo mau prognóstico.

Referência:

  1. UNICAMP/FOP. Áreas de semiologia e patologia.
  2. http://w2.fop.unicamp.br/ddo/patologia/downloads/db301_un5_Aula49Linfo-Leucemia2.pdf
  3. INCA http://www1.inca.gov.br/rbc/n_49/v01/pdf/condutas.pdf 

    6. Descrever os exames utilizados para o diagnóstico e estadiamento de leucemias.

    Leucemia Mieloide Crônica (LMC)

    • Exames
  • Hemograma completo (exame de sangue): a doença provoca aumento significativo dos glóbulos brancos, e também pode atingir os glóbulos vermelhos e as plaquetas, e essas alterações serão constatadas neste exame. O aumento do baço, comum a alguns pacientes, também pode ser verificado em exames clínicos e de imagem.
  • Mielograma ocorre quando uma amostra de sangue da medula óssea é retirada por meio de uma agulha. É um exame de grande importância para o diagnóstico (análise das células) e para a avaliação da resposta ao tratamento, indicando se, morfologicamente, essas células leucêmicas foram erradicadas da medula óssea (remissão completa medular). Esse exame é feito sob anestesia local e consiste na aspiração da medula óssea seguida da confecção de esfregaços em lâminas de vidro, para exame ao microscópio. Os locais preferidos para a aspiração são a parte posterior do osso ilíaco (bacia) e o esterno (parte superior do peito). Durante o tratamento são feitos vários mielogramas.
  • Os exames de citogenética, como o cariótipo, são fundamentais, pois avaliam especificamente os cromossomos (a busca é pelo cromossomo Philadelphia para fechar o diagnóstico).
  • o FISH (Hibridização Fluorescente in situ) é outro tipo de exame que avalia os cromossomos, e detecta as alterações pequenas não visualizadas.
  • Há ainda o teste molecular de reação em cadeia da polimerase (PCR), utilizado para o diagnóstico e acompanhamento da doença. Ele mede, no sangue ou medula óssea, a quantidade do gene de fusão causador deste tipo de câncer, o BCR-ABL.

**De todos estes exames, o único que não está disponível no Sistema Único de Saúde é o FISH. Porém, ele pode ser feito com o plano de saúde.

  • Estadiamento

  O estadiamento da maioria dos tipos de cânceres atribui estágios numerados, de I a IV, para descrever sua extensão, com base no tamanho do tumor e na probabilidade de disseminação.

  A leucemia mieloide crônica é uma doença da medula óssea e não segue um sistema de estadiamento como a maioria dos cânceres. O prognóstico de um paciente com leucemia mieloide crônica depende de outras informações, como estágio da doença, idade, exames de sangue e valores sanguíneos e comprometimento do baço.

Fases da Leucemia Mieloide Crônica

A leucemia mieloide crônica é dividida em 3 grupos, baseada principalmente no número de glóbulos brancos imaturos (mieloblastos):

  • Fase Crônica

Os pacientes nesta fase têm menos do que 10% de blastos nas amostras de sangue ou medula óssea. Estes pacientes geralmente apresentam sintomas leves (se existirem) e geralmente respondem ao tratamento padrão. A maioria dos pacientes é diagnosticada na fase crônica.

  • Fase Acelerada

Os pacientes são considerados em fase acelerada, se qualquer um dos seguintes for verdadeiro:

  1. Amostras de sangue ou da medula óssea com mais de 10% e menos do que 20% de blastos.
  2. Alta taxa de basófilos no sangue (pelo menos, 20% das células brancas do sangue).
  3. Alta taxa de glóbulos brancos, que não diminui com o tratamento.
  4. Contagem de plaquetas muito alta ou muito baixa, não causadas pelo tratamento.
  5. Novas alterações cromossômicas nas células leucêmicas.

Os pacientes com leucemia mieloide crônica em fase acelerada podem apresentar sintomas como febre, falta de apetite e perda de peso.

  • Fase Blástica

A medula óssea e as amostras de sangue de um paciente nesta fase têm mais de 20% de blastos. As células blásticas frequentemente se espalham para tecidos e órgãos além da medula óssea. Esses pacientes geralmente apresentam sintomas, como febre, falta de apetite e perda de peso.

Fatores Prognósticos

As diferenças entre os pacientes e que afetam a resposta ao tratamento são denominados fatores prognósticos. Alguns fatores são vinculados com um menor tempo de sobrevida e são denominados fatores prognósticos adversos.

  • Fase acelerada ou fase blástica.
  • Aumento do baço.
  • Áreas de dano ósseo devido ao avanço da leucemia.
  • Aumento do número de basófilos e eosinófilos em amostras de sangue.
  • Contagem de plaquetas muito alta ou muito baixa.
  • Idade (60 anos ou mais).
  • Múltiplas alterações cromossômicas nas células leucêmicas.

Muitos destes fatores são levados em conta no sistema de Sokal, que desenvolve uma pontuação utilizada para o prognóstico do paciente. Este sistema considera a idade, a porcentagem de blastos no sangue, o tamanho do baço e a quantidade de plaquetas. Estes fatores são utilizados para classificar os pacientes em grupos de risco (baixo, intermediário ou alto). Outro sistema, denominado sistema Euro inclui além dos fatores mencionados acima, o número de basófilos e eosinófilos. Ter grandes quantidades dessas células indica um pior prognóstico.

Os sistemas Sokal e Euro foram úteis no passado, antes do desenvolvimento de medicamentos mais eficazes para a leucemia mieloide crônica. No momento, não está claro como eles podem ser úteis na determinação do prognóstico de um paciente.

As terapias alvo como o imatinib mudaram drasticamente o tratamento da leucemia mieloide crônica nos últimos anos. Esses sistemas não foram testados em pacientes tratados com estes medicamentos.

Leucemia Linfoide Crônica (LLC)

  • Exames 
  • Hemograma (exame de sangue).
  • Mielograma(com uma agulha, é coletada uma pequena quantidade de sangue da medula),
  • Biópsia da medula(quando é retirado, com uma agulha, um pequeno fragmento da região da medula óssea) que irão mostrar as características dos glóbulos brancos.
  • Os testes deimunofenotipagem e de citogenética (cariótipo), feitos com uma pequena amostra de sangue, irão analisar as células de maneira bem específica e serão os responsáveis pelo diagnóstico do tipo da leucemia – no caso, a leucemia linfoide crônica.
  • O FISH(hibridização por fluorescência in situ), exame bastante sensível, que por meio de uma pequena amostra de sangue, pode detectar uma célula anormal em meio a 700 células normais.
  • Acitometria de fluxo pode ser outra opção pedida pelo médico, para revelar a presença da leucemia linfoide crônica, pois este aparelho consegue medir de maneira individual milhares de células.
  • Em raros casos, o paciente pode apresentar aumento nos gânglios linfáticos (carocinhos, que aparecem na região da virilha, pescoço e axilas). Se isso ocorrer, o médico deverá pedir uma biópsia do gânglio, para uma melhor avaliação.
  • Estadiamento

  O estadiamento da maioria dos tipos de cânceres atribui estágios numerados para descrever sua extensão, com base no tamanho do tumor e na probabilidade de disseminação.

  A leucemia linfocítica crônica por outro lado, normalmente não forma massas tumorais, mas geralmente afeta toda a medula óssea e, em muitos casos, pode se espalhar para outros órgãos, como o fígado, baço e gânglios linfáticos. Por conseguinte, a perspectiva para o paciente com leucemia linfoide crônica depende de outras informações, como subtipo da leucemia linfoide crônica, idade, e resultados de exames de laboratório.

 Um sistema de estadiamento é a maneira padronizada para que todos os membros de uma equipe multidisciplinar entendam de imediato a extensão da doença.  Existem 2 sistemas utilizados na LLC: o sistema Rai e o sistema Binet.

Sistema de Estadiamento Rai

O sistema RAI divide a leucemia linfoide crônica em 5 estágios:

  • Estágio Rai 0 – Linfocitose (contagem de linfócitos no sangue muito elevada).
  • Estágio Rai I – Linfocitose mais linfonodos aumentados. O baço e o fígado não estão aumentados e glóbulos vermelhos e plaquetas normais.
  • Estágio Rai II – Linfocitose e aumento do baço (e, possivelmente, aumento do fígado), com ou sem aumento dos gânglios linfáticos. Glóbulos vermelhos e plaquetas normais.
  • Estágio Rai III – Linfocitose mais anemia, com ou sem aumento dos gânglios linfáticos, baço ou fígado. Plaquetas normais.
  • Estágio Rai IV – Linfocitose mais trombocitopenia, com ou sem anemia, aumento dos gânglios linfáticos, baço ou fígado.

Para fins práticos, os médicos separam os estágios Rai em 3 grupos:

  • Estágio 0 – Risco baixo.
  • Estágio I e II – Risco intermediário.
  • Fases III e IV – Risco alto.

Sistema de Estadiamento Binet

No sistema de estadiamento Binet, a leucemia linfoide crônica é classificada pelo número de grupos de tecido linfoide afetados (linfonodos cervicais, linfonodos inguinais, linfonodos axilares, baço e fígado) e pelo fato do paciente apresentar anemia ou trombocitopenia:

  • Estágio Binet A – Menos do que 3 áreas de tecido linfoide aumentadas, sem anemia ou trombocitopenia.
  • Estágio Binet B – 3 ou mais áreas de tecido linfoide aumentadas, sem anemia ou trombocitopenia.
  • Estágio Binet C – Anemia ou trombocitopenia presente.

Recentemente, os médicos entenderam que outros fatores também podem ajudar a prever o prognóstico de um paciente. Os fatores descritos a seguir não fazem parte de nenhum sistema de estadiamento formal atualmente, mas eles também podem fornecer informações úteis.

Existem outros fatores que ajudam a definir o prognóstico:

Fatores Prognóstico Adversos – Padrão difuso de envolvimento da medula óssea; idade avançada; sexo masculino; exclusões de partes de cromossomos 17 ou 11; altos níveis sanguíneos de substâncias, como beta-2-microglobulina; tempo de duplicação dos linfócitos menor que 12 meses; aumento da proporção dos linfócitos grandes ou atípicos no sangue; elevada percentagem de células que contêm ZAP-70 ou CD38; e, células com gene inalterado para imunoglobulina de cadeia pesada na região variável (IGHV).

Fatores Prognóstico Favoráveis – Padrão não difuso (nodular intersticial) do envolvimento da medula óssea; supressão de parte do cromossomo 13 (sem outras anormalidades cromossômicas); baixa proporção de células que contêm ZAP-70 ou CD38; e, e, células com gene inalterado para imunoglobulina de cadeia pesada na região variável (IGHV).

Os fatores prognóstico com base em testes de laboratório mais recentes, como a presença ou ausência de ZAP-70 e CD38, provavelmente se tornarão mais importantes ao longo do tempo, e podem, eventualmente, serem mais assertivos, particularmente, para pacientes em estágios iniciais da leucemia linfoide crônica.

Leucemia Mieloide Aguda (LMA)

  • Exames
  • Hemograma completo (exame de sangue).
  • Mielograma.
  • Ocariótipo, exame responsável pelo estudo das alterações cromossômicas, deve ser feito para uma melhor classificação da LMA.
  • Já o FISH (Hibridização Fluorescente in Situ).
  • Abreviatura de reação em cadeia da polimerase, oPCR quantitativo também tem sido uma importante ferramenta para o diagnóstico da doença.
  • Os exames de citogenética,imunofenotipagem e biologia molecular, feitos com uma amostra de sangue do paciente, também são importantes, pois, de forma geral, avaliam especificamente os cromossomos e o grau de resistência da doença, facilitando ao especialista a escolha pelo tratamento ideal.
  • Outro fator comum é o aumento do tamanho do baço e do fígado, notado por exames de imagem, comoradiografia de tóraxtomografia computadorizadaressonância magnética e ultrassom.
  • O uso deanticorpos monoclonais (proteínas usadas pelo sistema imunológico para identificar e neutralizar corpos estranhos como bactérias, vírus ou células tumorais. Eles reconhecem um alvo específico, o antígeno, presente nas células estranhas ao organismo) reforça o diagnóstico de alguns casos, assim como permite a identificação da leucemia bifenotípica (quando a leucemia contém as características linfoides e mieloides ao mesmo tempo).
  • Estadiamento

A leucemia mieloide aguda por outro lado, normalmente não forma massas tumorais, mas geralmente afeta toda a medula óssea e, em muitos casos, pode se espalhar para outros órgãos, como o fígado, baço e gânglios linfáticos. Por conseguinte, a perspectiva para o paciente com LMA depende de outras informações, como: subtipo da leucemia, idade e resultados de exames de laboratório.

É importante saber o subtipo da leucemia mieloide aguda, uma vez que influencia na escolha do tipo de tratamento e no prognóstico do paciente. Por exemplo, o subtipo leucemia promielocítica aguda é tratada com medicamentos diferentes dos utilizados para outros subtipos da leucemia mieloide aguda.

Os principais sistemas utilizados para estadiar a leucemia mieloide aguda são o sistema de estadiamento britânico-americano-francês e o mais recente o sistema de estadiamento da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Sistema de Estadiamento Britânico-Americano-Francês

Na década de 1970, um grupo de especialistas franceses, americanos e britânicos dividiram a leucemia mieloide aguda em subtipos, M0 a M7, com base no tipo de célula em que a leucemia se desenvolve e o grau de maturidade das células.

FAB

Nome

M0

Leucemia mieloblástica aguda indiferenciada

M1

Leucemia mieloblástica aguda com maturação mínima

M2

Leucemia mieloblástica aguda com maturação

M3

Leucemia promielocítica aguda
M4

Leucemia mielomonocítica aguda

M4 eos

Leucemia mielomonocítica aguda com eosinofilia

M5

Leucemia monocítica aguda

M6

Leucemia eritroide aguda

M7

Leucemia megacarioblástica aguda

Os subtipos M0 a M5 se iniciam em formas imaturas dos glóbulos brancos. O subtipo M6 começa em formas muito imaturas dos glóbulos vermelhos, enquanto o M7 começa em formas imaturas das células produtoras das plaquetas.

O sistema de classificação FAB é útil e ainda é comumente utilizado para agrupar a leucemia mieloide aguda em subtipos. Mas, ele não leva em conta muitos fatores conhecidos, atualmente, por influenciar no prognóstico do paciente.

Sistema de Estadiamento da Organização Mundial da Saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu um sistema mais novo que inclui alguns desses fatores para obter um melhor estadiamento da leucemia mieloide aguda.

O sistema de estadiamento da OMS divide a leucemia mieloide aguda em vários grupos:

  1. Leucemia Mieloide Aguda com Anormalidades Genéticas
  • Leucemia mieloide aguda com uma translocação entre os cromossomos 8 e 21.
  • Leucemia mieloide aguda com uma translocação ou inversão no cromossomo 16.
  • Leucemia mieloide aguda com uma translocação entre os cromossomos 9 e 11.
  • Leucemia profolítica aguda (M3) com uma translocação entre os cromossomos 15 e 17.
  • Leucemia mieloide aguda com uma translocação entre os cromossomos 6 e 9.
  • Leucemia mieloide aguda com uma translocação ou inversão no cromossomo 3.
  • Leucemia mieloide aguda com uma translocação entre os cromossomos 1 e 22.
  1. Leucemia Mieloide Aguda com alterações relacionadas à Mielodisplasia
  2. Leucemia Mieloide Aguda relacionada a Quimioterapia ou Radioterapia Prévia
  3. Leucemia Mieloide Aguda não Especificadas
  • Leucemia mieloide aguda com diferenciação mínima (M0).
  • Leucemia mieloide aguda sem maturação (M1).
  • Leucemia mieloide aguda com maturação (M2).
  • Leucemia mielomonocítica aguda (M4).
  • Leucemia monocítica aguda (M5).
  • Leucemia eritróide aguda (M6).
  • Leucemia megacarioblástica aguda (M7).
  • Leucemia basofílica aguda.
  • Leucemia mieloide aguda com fibrose.
  1. Sarcoma Mieloide ou Sarcoma Granulocítico ou Cloroma
  2. Proliferações Mieloides relacionadas com a Síndrome de Down
  3. Leucemias Agudas Indiferenciadas e Bifenotípica

Leucemia Linfoide Aguda (LLA)

  • Exames
  • Hemograma completo (exame de sangue): a doença provoca aumento significativo dos glóbulos brancos, e também pode atingir os glóbulos vermelhos e as plaquetas.
  • Mielograma
  • Biópsia da medula
  • O exame decitogenética, feito por meio de pequena amostra de sangue, irá analisar as alterações específicas das células, e assim determinar o subtipo da doença – ou seja, se é ou não uma leucemia aguda.
  • Já aimunofenotipagem, por sua vez, feita também com uma amostra de sangue, irá verificar as características físicas das células – que geralmente são divididas em LLA tipo T e LLA tipo B (as células T e B são as afetadas).
  • Caso o médico desconfie de um envolvimento do sistema nervoso central, ele também pode solicitar um estudo líquido da espinha (líquor). O aumento do baço e fígado, comum a alguns pacientes com LLA, devem ser analisados por meio de exames de imagens, como aultrassonografia.
  • Para descobrir se o paciente apresenta o cromossomo Philadelphia, o médico poderá pedir o FISH (Hibridização Fluorescente in situ) e o PCR (reação em cadeia da polimerase).

 Estadiamento

A leucemia linfocítica aguda por outro lado, normalmente não forma massas tumorais, mas geralmente afeta toda a medula óssea e, em muitos casos, pode se espalhar para outros órgãos, como o fígado, baço e gânglios linfáticos. Por conseguinte, a perspectiva para o paciente com leucemia linfoide aguda depende de outras informações, como subtipo de LLA, idade, e resultados de exames de laboratório.

Diferentes sistemas são utilizados para classificar a leucemia linfoide aguda em subtipos.

Classificação Francesa-Americana-Britânica (FAB)

Na década de 1970, um grupo de franceses, americanos e britânicos (FAB), especialistas em leucemia dividiram a leucemia linfoide aguda em três subtipos (L1, L2 e L3), baseados na maneira como suas células eram vistas ao microscópio após coloração de rotina. Este sistema foi substituído em função dos novos exames de laboratório que permitem uma classificação da leucemia linfoide aguda com mais precisão.

Classificação baseada no Imunofenótipo

Os exames de citogenética, citometria de fluxo, e outros exames de laboratório fornecem informações detalhadas sobre o subtipo de leucemia linfoide aguda e o prognóstico do paciente, o que permite classificar a leucemia linfoide aguda em grupos com base no imunofenótipo da leucemia, levando em conta o tipo de linfócitos (células B ou T) e a maturação das células leucêmicas. Os subtipos da leucemia linfoide aguda são:

  • Provenientes dos tipos de linfócitos (células B ou células T).
  • Maturidade das células leucêmicas.

Estes grupos têm substituído em grande parte a classificação FAB. Os subtipos de leucemia linfoide aguda são atualmente denominados como:

Leucemia Linfoide Aguda de Células B

  • Leucemia linfoide aguda precoce B (10% dos casos).
  • Leucemia linfoide aguda comum (50% dos casos).
  • Leucemia linfoide aguda pré B (10% dos casos).
  • Leucemia linfoide aguda B maduras, subtipo linfoma/leucemia de Burkitt (4% dos casos).

Leucemia Linfoide Aguda de Células T

  • Leucemia linfoide aguda pré T (5% a 10% dos casos).
  • Leucemia linfoide aguda T maduras (15% a 20% dos casos).

REFERÊNCIAS

  1. Instituto Oncoguia
  2. ABRALE – Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia

    7. Identificar as principais formas e fases do tratamento das leucemias e suas indicações.

 Tratamento da Leucemia Linfoblástica Aguda

Depois que a condição das pacientes estiver estabilizada, o tratamento antileucêmico deve ser iniciado o mais depressa possível. O tratamento da LLA recém-diagnosticada pode ser dividido em três fases: indução da remissão, terapia pós-remissão e profilaxia do SNC.

  • Indução da Remissão: O objetivo inicial do tratamento é induzir uma remissão completa, que é geralmente definida como sendo a redução dos blastos leucêmicos para níveis indetectáveis e a restauração da função medular normal. Uma variedade de esquemas quimioterápicos pode ser usada para induzir a remissão; todos incluem a vincristina e a prednisona, e a maioria deles acrescenta a L-asparaginase e/ou daunorrubicina administradas em um período de 3 a 4 semanas. Com tais esquemas, conseguimos uma remissão completa em 90% das crianças e 80% a 90% dos adultos (Tabela 189-2). Como a vincristina, a prednisona e a L-asparaginase são pouco tóxicas para os precursores de medula óssea, o paciente frequentemente entra em remissão completa depois de um período relativamente curto de mielossupressão. A incapacidade de atingir uma remissão completa se deve geralmente tanto à resistência das células leucêmicas às drogas usadas, quanto a uma infecção progressiva. Essas duas complicações ocorrem aproximadamente com igual frequência.
  • Quimioterapia Pós-remissão: Se não houver uma continuidade no tratamento depois da indução da remissão completa, todos os casos poderão recidivar, a maioria depois de diversos meses. Esse fato demonstra a necessidade de prosseguir a quimioterapia após a remissão completa, que pode ser administrada em diversas associações, doses e esquemas. O termo quimioterapia para consolidação se refere em geral a ciclos curtos de quimioterápicos administrados com doses semelhantes às usadas para a indução inicial, e, assim, algumas vezes haverá necessidade de uma nova hospitalização. Em geral, tenta-se selecionar drogas diferentes para a consolidação daquelas usadas para induzir a remissão inicial. No caso da LLA, tais drogas compreendem o metotrexate em altas doses, a ciclofosfamida e a citarabina, entre outras. A manutenção implica a administração de quimioterapia em baixas doses numa base diária ou semanal, em ambulatório, por longos períodos de tempo. O esquema de manutenção mais frequentemente usado na LLA é o que associa 6-mercaptopurina diária e metotrexato semanalmente ou duas vezes por mês. Não se sabe a duração ótima para a quimioterapia de manutenção, mas, em geral, ela é administrada durante 2 a 3 anos. A quimioterapia ótima para a LLA exige consolidação e quimioterapia de manutenção.
  • Profilaxia do Sistema Nervoso Central: A maioria dos agentes quimioterapêuticos que são administrados por via intravenosa ou oral não penetra bem no SNC, e se nenhuma forma de profilaxia do SNC for dada, pelo menos 35% dos adultos irão desenvolver leucemia do SNC. Com a profilaxia, a recidiva no SNC como um evento isolado ocorre em menos de 10% dos pacientes. No entanto, a quimioterapia sistêmica com altas doses de metotrexate (p. ex., 200 mg/m2 intravenosos durante 2 horas, seguidos por 800 mg/m2 durante 22 horas) e citarabina (p. ex., 3 g/m2 durante 2 horas, de 12 em 12 horas, em quatro doses) pode atingir níveis terapêuticos das drogas dentro do SNC. As alternativas são o metotrexate intratecal, o metotrexate intratecal associado a administração de radioterapia na dose de 2.400 cGy no crânio, ou 2.400 cGy no neuroeixo.

 Tratamento da Leucemia Mieloide Aguda

  • Indução da Remissão: O tratamento com uma combinação de uma antraciclina com citarabina (100 a 200 mg/m2/dia por 7 dias) leva a uma remissão completa em 60% a 80% dos pacientes portadores de LMA. Estudos clínicos prospectivos e randomizados demonstraram que a idarrubicina (10 a 12 mg/m2/dia por 3 dias) ou uma dose mais alta de daunorrubicina (60 a 90 mg/m2/dia por 3 dias) são superiores à dose convencional de daunorrubicina de 45 mg/m2/dia por 3 dias.3-5 Uma mielossupressão profunda sempre se segue quando esses agentes são utilizados em doses capazes de atingir a RC. A incapacidade de atingir uma RC é geralmente causada tanto pela resistência às drogas quanto pelas complicações fatais da mielossupressão.
  • Quimioterapia Pós-remissão: Uma quimioterapia intensiva de consolidação com ciclos repetidos de daunorrubicina e citarabina em doses convencionais, citarabina em alta dose (1 a 3 g/m2/dia por 2 a 6 dias) ou outros agentes prolonga a duração média da remissão e aumenta as chances de sobrevida livre de doença em longo termo. Os melhores resultados descritos até agora com quimioterapia empregaram em geral ciclos repetidos de altas doses de citarabina. Ao contrário do preconizado para a LLA, o tratamento de manutenção com baixas doses depois do tratamento de consolidação intensivo apresenta benefícios limitados. Na LMA, a recidiva leucêmica ocorre com menor frequência no SNC, sendo observada apenas em aproximadamente 10% dos casos, na maioria das vezes nos pacientes com variantes M4 ou M5. Não existem evidências de que a profilaxia do SNC melhore a sobrevida livre de doença na LMA.

 Escolha Inicial do Tratamento para a Leucemia Mieloide Crônica

As decisões de tratamento na LMC baseiam-se na fase da LMC, na idade do paciente, e na disponibilidade de um doador de célula-tronco. Para a LMC na fase crônica (>90% dos casos recém-diagnosticados), o mesilato de imatinibe, um inibidor seletivo de atividade tirosina quinase da proteína BCR-ABL, é a terapia de primeira linha para maioria dos pacientes. O transplante de células-tronco alogênico é considerado um tratamento de segunda linha eficaz para a LMC em fase crônica após falha do imatinibe. Terapias de segunda linha alternativas são mais potentes que os inibidores de tirosina quinase de segunda geração, como o dasatinibe (inibidor duplo das quinases de SRC-ABL) e o nilotinib (inibidor seletivo e mais potente de BCR-ABL). Os pacientes com LMC em fase acelerada ou blástica devem considerar o transplante de células-tronco alogênico como tratamento imediato definitivo; nesta situação, o uso de inibidores de tirosina quinase como uma medida de intervalo antes do transplante de células-tronco pode reduzir significativamente a carga de LMC e melhorar os resultados do transplante de células-tronco alogênicas.

  • Mesilato de Imatinibe: Desde sua descoberta em 1999, o mesilato de imatinibe tornou-se a terapia padrão para LMC. O imatinibe é um derivado da 2-fenilaminopirimidina que se liga ao sítio canônico do trifosfato de adenosina (ATP) que reveste a fenda entre os lobos N e C do domínio de ABL com atividade de quinase, bloqueando a fosforilação da proteína substrato nos seus resíduos tirosina. O bloqueio da ligação do ATP à molécula ABL inativa sua atividade de quinase, porque esta não pode transferir o fosfato ao substrato. Pela inibição da fosforilação, o imatinibe previne a ativação de vias de transdução de sinal que induzem os processos de transformação leucêmica que causam a LMC (Fig. 190-4). O imatinibe bloqueia diversas tirosina quinases, incluindo p210BCR-ABL, p190 BCRABL, v-ABL, c-ABL, c-Kit e o receptor de PDGF.

Referência: Goldman Cecil Medicina, Capítulo 189: Leucemias agudas| Lee Goldman, MD and Andrew I. Schafer, MD,https://www.evolution.com.br/epubreader/goldman-cecil-medicina-24ed

8. Discutir a importância da equipe multidisciplinar para acompanhamento de pacientes e seus familiares.

  • Serviço Social Hospitalar

Abrange um conjunto de ações, que norteado pelos princípios da profissão, busca garantir por intermédio dos recursos sociais disponíveis, viabilizar condições para a adesão ao tratamento médico do pacientes e família em um processo de promoção humana.

  • Assistente Social na Equipe

O Assistente Social é o profissional que observa, analisa e intervém direta e indiretamente nas mais diversificadas situações socioeconômicas e emocionais apresentadas pelos pacientes e seus familiares.

E juntamente com a equipe multiprofissional, está receptivo a todas as ações profissionais que contribuem para integração do paciente à sociedade, otimizando o tratamento, de tal forma que a doença passe a ser encarada como uma “circunstância”, a qual não impedirá paciente e família à ascenderem êxitos educacionais e/ou profissionais.

O trabalho em equipe é fundamental para uma assistência integral ao paciente e a família. A equipe deverá atender este paciente da forma mais abrangente possível e com base nas necessidades do mesmo e de sua família.

Este acolhimento deve ser gradual e contínuo, estabelecendo desta forma, uma relação mais próxima com a equipe, sempre buscando uma maior qualidade no atendimento.

  • Conversando sobre o diagnóstico

Quando o paciente é atendido pela equipe e já soube de seu diagnóstico, ele recebe o acolhimento. O assistente social auxilia na interpretação da situação médica e sobre o tratamento proposto.

A equipe multidisciplinar deve sempre ter como objetivo promover uma ação educativa, buscando um processo reflexivo nos pacientes, para que possam participar do processo de tratamento e (ou) cura.

Referências: ABRALE – Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia

9. Identificar o papel das entidades de apoio ao paciente com câncer e familiares.

Existem ONGS como o GRAAC, GAPC, CASA HOPE, ABRAPEC etc. que dão todo o suporte psicológico, financeiro e médico que os pacientes oncológicos precisam, visto que muitas vezes eles não têm condições de bancar e arcar tais custos.

  • Equipe de psicologia da ABRALE

O Departamento de Psicologia da ABRALE oferece diferentes formas de apoio psicológico, que têm por objetivo a saúde global, o bem-estar das pessoas e o reforço aos resultados dos tratamentos médicos.

Em uma entrevista individual, nossos psicólogos especializados buscam compreender as expectativas e necessidades de cada pessoa a fim de nortear o foco do trabalho terapêutico, se for necessário.  É a partir da avaliação psicológica que se estabelece o plano de cuidados, que pode consistir em psicoterapia individual, em orientações específicas ou em encaminhamentos para programas internos ou externos.

Baseada nos dados levantados durante a avaliação psicológica, o psicólogo da nossa equipe define juntamente com o paciente um foco a ser trabalhado, o objetivo do processo terapêutico.  Também é planejado o número de encontros terapêuticos, entre 8 e 12 sessões, que acontecem uma vez por semana.  Em casos especiais, o número de semanas e a frequência dos encontros pode mudar. Ao final do processo, são verificados os resultados alcançados. Os recursos utilizados são diversos e incluem técnicas de imagética, hipnose e relaxamento, entre outras.

  • GRAACC

O GRAACC é uma instituição sem fins lucrativos, criada para garantir a crianças e adolescentes com câncer, dentro do mais avançado padrão científico, o direito de alcançar todas as chances de cura com qualidade de vida. O hospital do GRAACC possui cerca de 3.000 crianças atendidas anualmente, entre sessões de quimioterapia, consultas, procedimentos ambulatoriais, cirurgias, transplantes de medula óssea e outros. Além de diagnosticar e tratar o câncer infantil, o GRAACC atua no desenvolvimento do ensino e pesquisa.

O GRAACC nasceu em 1991, graças à iniciativa do Dr. Sérgio Petrilli, chefe do setor de Oncologia do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina, o engenheiro voluntário Jacinto Antonio Guidolin e Sra. Léa Della Casa Mingione, voluntária do Hospital do Câncer.

O primeiro passo foi transferir o Setor de Oncologia Pediátrica do Hospital São Paulo para uma casa, que ficou conhecida como a “casinha”. Os pequenos pacientes eram atendidos nesse local, dentro do conceito de hospital-dia, onde recebiam atendimento médico e assistencial e voltavam para as suas casas.

Fundamentado na parceria universidade/empresa/comunidade, o GRAACC despertou em empresas e instituições de larga visão social a confiança e o interesse em participar da construção do Instituto de Oncologia Pediátrica – IOP/GRAACC/UNIFESP, o hospital do GRAACC.

O hospital é gerenciado e administrado pelo GRAACC e a assistência médica, o ensino e a pesquisa são conduzidos em convênio com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM).

Referências: ABRALE – Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia; INCA; GRAAC.

Insuficiência Cardíaca

Na atividade do dia 08 de março, tivemos a apresentação do Caso Clínico 2, que abordava a história clinica de um paciente com histórico de Infarto Agudo do Miocárdio e com sintomas que dariam a hipótese diagnóstica de Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC).

A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica complexa de caráter sistêmico, definida como disfunção cardíaca que ocasiona inadequado suprimento sanguíneo para atender necessidades metabólicas tissulares, na presença de retorno venoso normal, ou fazê-lo somente com elevadas pressões de enchimento.

Cerca de 60% dos casos de IC ocorrem por um déficit na contratilidade ventricular (disfunção sistólica) sendo a disfunção diastólica responsável pelos 40% restantes. A disfunção diastólica é definida como a IC em que o paciente apresenta função sistólica normal, ou seja, fração de ejeção ao ecocardiograma superior a 45%.

As alterações hemodinâmicas comumente encontradas na IC envolvem resposta inadequada do débito cardíaco e elevação das pressões pulmonar e venosa sistêmica. Na maioria das formas de IC, a redução do débito cardíaco é responsável pela inapropriada perfusão tecidual (IC com débito cardíaco reduzido).

De início este comprometimento do débito cardíaco se manifesta durante o exercício, e com a progressão da doença ele diminui no esforço até ser observado sua redução no repouso.
Existem condições nas quais o débito cardíaco poderá ser normal ou até elevado, como em condições de pós-carga diminuída ou hipermetabolismo, porém inadequado à demanda metabólica tecidual, caracterizando a IC com débito cardíaco elevado (IC alto débito).

O mecanismo responsável pelos sintomas e sinais clínicos pode ser decorrente da disfunção sistólica, diastólica ou de ambas, acometendo um ou ambos os ventrículos. Nos adultos, em aproximadamente 60% dos casos está associada à disfunção ventricular esquerda sistólica e nos restantes 40% à disfunção diastólica, devendo ser realçado que esta última vem sendo mais observada com o aumento da expectativa de vida da população.

A IC crônica tem sido classicamente categorizada com base na intensidade de sintomas em 4 classes propostas pela New York Heart Association. Estas classes estratificam o grau de limitação imposto pela doença para atividades cotidianas do indivíduo; vale dizer, portanto, que esta classificação além de possuir caráter funcional, é também uma maneira de avaliar a qualidade de vida do paciente frente a sua doença. As quatro classes propostas são:

  • Classe I – ausência de sintomas (dispnéia) durante atividades cotidianas. A limitação para esforços é semelhante à esperada em indivíduos normais;
  • Classe II – sintomas desencadeados por atividades cotidianas;
  • Classe III – sintomas desencadeados em atividades menos intensas que as cotidianas ou pequenos esforços;
  • Classe IV – sintomas em repouso.

A estratificação de pacientes com IC é medida simples, baseada em dados de história, e que permite ao profissional de saúde avaliar o momento evolutivo da doença em que o paciente se encontra, avaliar qualidade de vida e prognóstico e estabelecer prioridades e linhas terapêuticas.

Esta forma de categorização permite uma compreensão evolutiva da doença e, ainda, serve de base para a identificação de pacientes com indicação de intervenções predominantemente preventivas (estágios A e B), terapêuticas (estágios C) ou seleção de pacientes para procedimentos especializados e cuidados paliativos (estágio D).

  • Estágio AInclui pacientes sob risco de desenvolver insuficiência cardíaca, mas ainda sem doença estrutural perceptível e sem sintomas atribuíveis à insuficiência cardíaca.
  • Estágio BPacientes que adquiriram lesão estrutural cardíaca, mas ainda sem sintomas atribuíveis à insuficiência cardíaca.
  • Estágio CPacientes com lesão estrutural cardíaca e sintomas atuais ou pregressos de insuficiência cardíaca.
  • Estágio DPacientes com sintomas refratários ao tratamento

O diagnóstico de insuficiência cardíaca aguda é feito baseado em sinais e sintomas clínicos e amparado por exames complementares. O principal sintoma que leva o paciente a procurar atendimento hospitalar é a dispneia.

Como esse é um sintoma também observado em outras afecções, como doenças pulmonares, pneumonia e embolia pulmonar, deve ser acompanhado de outras características clínicas para tornar o diagnóstico mais admissível. A presença de uma história prévia de insuficiência cardíaca torna o diagnóstico bastante provável. A presença de ortopneia e dispneia paroxística noturna também favorecem o diagnóstico de IC. Outros sintomas incluem cansaço, fadiga e sintomas digestivos, como anorexia, distensão abdominal e diarreia (em casos de isquemia ou congestão visceral).

Os sintomas de IC nem sempre se correlacionam com a gravidade da disfunção cardíaca. Sintomas persistentes, mesmo após otimização terapêutica, indicam mau prognóstico, mas a utilização isolada de sintomas não deve ser usada para guiar a terapêutica.

A severidade dos sintomas na maioria das vezes é avaliada por meio da classificação funcional da NYHA. Apesar da subjetividade, essa classificação é simples e largamente utilizada na prática clínica.

Deve-se proceder a um cuidadoso exame físico, avaliando sinais que indiquem pressões de enchimento de VE aumentadas, congestão pulmonar e sistêmica e sinais de baixo débito cardíaco. Entre os sinais de exame físico, aqueles com maior especificidade para IC são a presença de terceira bulha e a turgência jugular. Entretanto, a sensibilidade desses sinais é baixa e sua ausência não exclui o diagnóstico de IC.

Outros sinais observados incluem edema de membros inferiores, hepatomegalia, ascite e taquicardia. Em pacientes em estágios avançados, pode-se observar caquexia. Sinais típicos de baixo débito cardíaco incluem hipotensão arterial, alterações do nível de consciência, oligúria, pulso filiforme e extremidades frias.

A pressão de pulso, muitas vezes avaliada em forma de pressão de pulso proporcional (PPP = pressão sistólica – pressão diastólica/pressão sistólica), tem sido usada como um indicador de baixo débito cardíaco, com alta especificidade. Recentemente, a PPP foi também associada a níveis aumentados de peptídeos natriuréticos e mortalidade.

A ausculta cardíaca pode demonstrar a presença de sopros sistólicos ou diastólicos, que podem indicar uma valvopatia ou complicações mecânicas de um infarto agudo do miocárdio como causa da IC. Insuficiência mitral é frequentemente encontrada na fase aguda, podendo resultar de um quadro de isquemia miocárdica ou da dilatação do anel mitral em pacientes com cardiomiopatia dilatada.

A presença de congestão pulmonar pode ser avaliada pela presença de estertores pulmonares ou broncoconstrição, indicando pressões de enchimento de VE elevadas. No entanto, a presença de estertores nem sempre indica hipervolemia, pois às vezes ocorre redistribuição de fluxo da periferia para o pulmão, devido à vasoconstrição venosa e arterial, promovendo congestão pulmonar em um paciente previamente euvolêmico.

As pressões de enchimento de ventrículo direito devem ser estimadas pela avaliação do enchimento venoso jugular. Derrame pleural é comum em pacientes com IC descompensada.
A definição da etiologia é etapa fundamental da avaliação dos pacientes com IC, contribui para a avaliação do prognóstico e pode influenciar a terapia.

Dados obtidos por história, exame físico, eletrocardiograma, e exames laboratoriais são capazes de, na maior parte dos casos, sugerir a etiologia da IC. São dados que apontam para a etiologia isquêmica a presença de angina de peito, antecedente de infarto do miocárdio, fatores de risco para aterosclerose, área inativa em eletrocardiograma e presença de disfunção segmentar ao ecocardiograma.

Na Doença de Chagas podem-se encontrar dados epidemiológicos sugestivos (origem ou passagem por zona endêmica, familiares com doença, exposição a alimentos potencialmente contaminados, possibilidade de transmissão materno-fetal, transfusão sanguínea) associados à insuficiência cardíaca de predomínio direito, bloqueio de ramo direito e bloqueio divisional ântero-superior (BDAS) no eletrocardiograma, e achado no ecocardiograma de disfunção segmentar da parede inferior, aneurisma de ponta do ventrículo esquerdo e trombo apical.

Finalmente, a presença de história de hipertensão arterial, etilismo ou de familiares com cardiomiopatia podem indicar a existência de causas específicas para a IC. Em casos selecionados, métodos diagnósticos adicionais podem ser utilizados como a ressonância magnética, cinecoronariografia e biópsia endomiocárdica. As seções seguintes tratam dos instrumentos utilizados na avaliação inicial.

IC com disfunção sistólica

Cerca de 1/3 dos episódios de IC aguda de início recente (35% no Euro Heart, 34% no EFICA) são na grande maioria associados a eventos de insuficiência coronária aguda.

A fisiopatologia de IC de início recente envolve, mais frequentemente, três modelos associados à base etiológica – miocardites agudas, valvopatias agudas e síndrome coronariana aguda.
A isquemia miocárdica ocasiona disfunção ventricular e IC por meio de vários mecanismos. A perda da massa de miocárdio contrátil (apoptose/necrose), atordoamento, hibernação miocárdica e aumento de rigidez do miocárdio isquêmico promovem duas anormalidades na hemodinâmica central: aumento das pressões de enchimento (responsável pela congestão pulmonar), redução do volume sistólico e baixo débito cardíaco (responsável pela hipoperfusão tecidual).

Relacionadas a essas modificações estão algumas complicações mecânicas, tais como ruptura septal e insuficiência mitral;

Os sinais e sintomas isoladamente apresentam limitações de sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de IC. Os mais específicos são a presença de B3 e a pressão venosa elevada, sendo, porém, pouco sensíveis. Por isso a organização dos sinais e sintomas através de critérios maiores e menores (Framingham) melhora a acurácia do diagnóstico clínico.

Critérios de Framingham para o diagnóstico de insuficiência cardíaca (IC):

O diagnóstico de IC requer a presença simultânea de pelo menos dois critérios maiores ou um critério maior em conjunto com dois critérios menores.

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Insuficiência cardíaca descompensada:

A insuficiência cardíaca descompensada (ICD) é uma síndrome clínica na qual uma alteração estrutural ou funcional do coração leva à incapacidade do órgão de ejetar e/ou acomodar sangue dentro de valores pressóricos fisiológicos, causando limitação funcional e necessitando de intervenção terapêutica imediata.

Tal quadro pode se apresentar de forma aguda ou como exacerbação de quadros crônicos. Na maioria das formas de ICD, a inapropriada perfusão tecidual ocorre em consequência da redução do débito cardíaco. Os sinais e sintomas de ICD podem se apresentar por disfunção sistólica, disfunção diastólica ou ambas e de um ou de ambos os ventrículos:

  • ICD devido à disfunção ventricular sistólica – Ocorre por redução da contratilidade miocárdica, frequentemente associada à cardiopatia isquêmica, miocardiopatia dilatada idiopática, hipertensiva, periparto ou chagásica. Também provocam ICD situações em que o coração é submetido à sobrecarga hemodinâmica (de volume ou pressão), distúrbios do ritmo cardíaco e alterações do enchimento ventricular.
  • ICD por disfunção ventricular diastólica – Ocorre quando a fração de ejeção está preservada e associada à alteração no relaxamento (cardiomiopatia hipertrófica, hipertensiva, estenose aórtica com hipertrofia de VE) ou na complacência ventricular (regurgitação aórtica e mitral, processos infiltrativos como endomiocardiofibrose e tamponamento cardíaco).

Com base em achados de exame físico à beira do leito, é possível definir o perfil clínico-hemodinâmico, visando orientar a terapêutica da ICD, bem como estratificar seu risco, utilizando parâmetros de congestão e perfusão.

Infere-se a presença de congestão em 70 a 80% dos casos de ICD, com sinais de taquipneia, estertores pulmonares, terceira bulha, elevação de pressão venosa jugular, edema de membros inferiores, hepatomegalia dolorosa, refluxo hepatojugular, derrame pleural e ascite.

A presença de má perfusão está relacionada aos achados de taquipneia, hipotensão, pulso alternante, tempo de enchimento capilar lentificado, cianose e alteração do nível de consciência.

Por uma incapacidade do ventrículo de ejetar completamente o sangue em seu interior, a coluna de sangue ejetada do átrio pode encontrar um resquício de sangue, gerando uma desaceleração brusca e um terceiro estalido (B3), logo após a B2.

Este ruído adicional é normal em crianças e jovens, porém a reemergência anormal é indicativo de sinal patológico, podendo indicar sinal de falência do ventrículo esquerdo.

Segundo o algoritmo desenvolvido por Stevenson, os pacientes que apresentam congestão são classificados como “úmidos”, enquanto pacientes sem congestão são chamados “secos”. Pacientes com perfusão inadequada são classificados como “frios”, ao passo que pacientes com boa perfusão são classificados como “quentes”.

Dessa forma, são definidos quatro perfis clínico-hemodinâmicos: categoria A (“quente e seco” ou compensado); categoria B (“quente e úmido”, que é mais frequente); categoria C (“frio e úmido”, com pior prognóstico); categoria L (“frio e seco”, que é pouco frequente).

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Entre os sinais de exame físico, aqueles com maior especificidade para IC são a presença de terceira bulha e a turgência jugular. Entretanto, a sensibilidade desses sinais é baixa e sua ausência não exclui o diagnóstico de IC.

Outros sinais observados incluem edema de membros inferiores, hepatomegalia, ascite e taquicardia. Em pacientes em estágios avançados, pode-se observar caquexia. Sinais típicos de baixo débito cardíaco incluem hipotensão arterial, alterações do nível de consciência, oligúria, pulso filiforme e extremidades frias. A PPP inferior a 0.25 foi capaz de detectar baixo débito cardíaco em uma população de pacientes pré-transplante cardíaco.

A ausculta cardíaca pode demonstrar a presença de sopros sistólicos ou diastólicos, que podem indicar uma valvopatia ou complicações mecânicas de um infarto agudo do miocárdio como causa da IC. Insuficiência mitral é frequentemente encontrada na fase aguda, podendo resultar de um quadro de isquemia miocárdica ou da dilatação do anel mitral em pacientes com cardiomiopatia dilatada.

A presença de congestão pulmonar pode ser avaliada pela presença de estertores pulmonares ou broncoconstrição, indicando pressões de enchimento de VE elevadas. No entanto, a presença de estertores nem sempre indica hipervolemia, pois às vezes ocorre redistribuição de fluxo da periferia para o pulmão, devido à vasoconstrição venosa e arterial, promovendo congestão pulmonar em um paciente previamente euvolêmico.

As pressões de enchimento de ventrículo direito devem ser estimadas pela avaliação do enchimento venoso jugular. Derrame pleural é comum em pacientes com IC descompensada.

Assim como os sintomas, os sinais físicos de IC às vezes podem ser difíceis de interpretar, principalmente em pacientes idosos e em obesos, necessitando, às vezes, do apoio de exames complementares para confirmar uma suspeita clínica de IC.

Estase Jugular

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A presença de ingurgitamento jugular, quando o paciente adota posição semi-sentada (tórax a 45 graus do plano horizontal) é resultado da hipertensão venosa sistêmica e elevação da pressão em átrio direito. A elevação da pressão venosa jugular é um sinal muito específico (90%), mas pouco sensível (30%), de elevação do enchimento de ventrículo esquerdo. A pressão venosa jugular normalmente declina no esforço, mas em pacientes com insuficiência cardíaca aumenta, fenômeno conhecido como sinal de Kussmaul.

Refluxo Hepatojugular

O refluxo hepatojugular pode ser um teste útil nos pacientes com IC direita. Este teste é realizado com o paciente na posição semi-sentada com o tórax em ângulos de 45 graus em relação ao plano horizontal. O paciente mantém a boca aberta e respira normalmente para impedir a manobra de Valsalva, que pode dar um teste falso-positivo. Uma pressão moderada é aplicada na região do hipocôndrio ou epigastro por 30 a 60 segundos. O refluxo hepatojugular é confirmado se a altura das veias do pescoço distender por, pelo menos, 3 cm e o aumento permanecer durante todo o período de compressão.

Edema Agudo de Pulmão

O edema agudo de pulmão (EAP) é uma síndrome clínica em que ocorre acúmulo de fluido nos espaços alveolares e intersticiais dos pulmões, podendo ser decorrente de causas diversas.

O resultado do processo é caracterizado por hipoxemia, aumento no esforço respiratório, redução da complacência pulmonar e redução da relação ventilação perfusão. Está relacionado, na maioria das vezes, a causas cardíacas, e em nosso meio é mais prevalente o acometimento valvular reumático.

O EAP pode ser a primeira manifestação de doença prévia assintomática e que descompensa devido às alterações hemodinâmicas fisiológicas da gestação, incluindo o aumento do volume plasmático e débito cardíaco, além da redução da pressão coloidosmótica do plasma, muitas vezes agravada pela presença de anemia.

Os estertores crepitantes (finos), descritos no caso clínico, são ruídos finos, homogêneos, de mesma altura, timbre e intensidade, sendo auscultados apenas na fase inspiratória. São, também, denominados estertores alveolares, justamente porque são produzidos pelo deslocamento das paredes dos alvéolos, causados pela entrada de ar no seu interior. Em virtude do local onde são produzidos, não são modificados pela tosse.

O estertor crepitante indica sempre um comprometimento alveolar, tal como ocorre na pneumonia, no infarto pulmonar e na fase inicial do edema agudo do pulmão.

Assim como os sintomas, os sinais físicos de IC às vezes podem ser difíceis de interpretar, principalmente em pacientes idosos e em obesos, necessitando, às vezes, do apoio de exames complementares para confirmar uma suspeita clínica de IC.

Eletrocardiograma

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O eletrocardiograma (ECG) é uma ferramenta diagnóstica essencial na avaliação de pacientes com insuficiência cardíaca aguda. Por meio de determinadas alterações eletrocardiográficas, podemos não só suspeitar da etiologia da IC como também da causa da descompensação.

Radiografia de tórax

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A radiografia de tórax é facilmente obtida e deve ser utilizada em todo paciente com suspeita de IC aguda. Permite avaliação da congestão pulmonar e ajuda na diferenciação de causas torácicas e pulmonares da dispneia. Porém, devemos ter em mente que uma radiografia normal não afasta IC e o valor preditivo torna-se mais importante na presença de sinais e sintomas.

Laboratório

A avaliação laboratorial inicial de todo paciente com IC aguda inclui hemograma, sódio, potássio, ureia, creatinina e glicose. Em casos mais graves, devem ser dosadas enzimas hepáticas (TGO, TGP), albumina e INR. Sódio baixo, ureia e creatinina elevadas são sinais de mau prognóstico.

Gasometria arterial

Deve ser solicitada em todo paciente com distúrbio respiratório grave ou sinais de baixo débito. Ela permite a análise da oxigenação (PO2) e da função respiratória (PCO2), bem como do equilíbrio ácido-básico (pH). A gasometria deve ser solicitada com análise de lactato e cloro. Acidose e hiperlactatemia devido à má perfusão tecidual identificam pacientes de mau prognóstico e podem aparecer precocemente na evolução do choque, antes mesmo da hipotensão arterial. Da mesma forma, retenção de COindica distúrbio respiratório grave.

Troponinas

Devem ser solicitadas para excluir síndromes coronarianas agudas como causa da descompensação cardíaca. Pequenas elevações, na ausência de IAM, podem ocorrer. Troponina elevada, em pacientes com IC, confirma mau prognóstico.

Peptídeos natriuréticos

Peptídeos natriuréticos (BNP e NT-proBNP), possuem bom valor preditivo negativo para excluir o diagnóstico de IC. Um BNP < 100 pg/mL tem sido sugerido como critério de exclusão para IC em pacientes com dispneia aguda. Um valor acima de 400 pg/mL torna o diagnóstico de IC provável. Outras situações (síndrome isquêmica aguda, insuficiência renal, fibrilação atrial, DPOC, embolia pulmonar, idosos) podem cursar com BNP dentro da “zona cinzenta”, onde o exame é menos acurado.

Ecocardiograma

O ecodopplercardiograma bidimensional é um exame não invasivo, seguro, reprodutível e amplamente disponível. O estudo ecocardiográfico convencional é essencial na avaliação de pacientes com IC aguda, pois auxilia na determinação de potenciais etiologias da síndrome, sua gravidade, possíveis causas da descompensação clínica e do prognóstico do paciente, além de ter implicações terapêuticas imediatas.

O exame permite estudo anatômico e funcional detalhados, análise da função sistólica e diastólica dos ventrículos direito e esquerdo, além da definição do acometimento das válvulas. Inúmeros parâmetros ecocardiográficos qualitativos e quantitativos podem ser avaliados, com graus diferentes de complexidade técnica. 

Ressonância magnética cardíaca

Exame não invasivo que avalia de forma acurada os volumes ventriculares direito e esquerdo, a função global e segmentar, espessamento miocárdico, massas e tumores, válvulas, defeitos congênitos e doença pericárdica. É considerado padrão-ouro em termos de acurácia e reprodutibilidade na avaliação de volumes, massas e movimento parietal. Pode ser útil na avaliação etiológica e para medidas de volume quando o ecocardiograma não for conclusivo.

Farmacologia

Furosemida

  • DIURÉTICOS DE ALÇA – Furosemida, Bumetanida, Ácido Etacrínico e Torsemida.

Os diuréticos de alça são os mais potentes, capazes de causar a eliminação de 15‑25% do Na + filtrado. Sua ação costuma ser descrita – numa frase que evoca um quadro um tanto desconfortável – como causadora de “fluxo urinário torrencial”. O principal exemplo é a furosemida; a bumetanida é um agente alternativo. Esses fármacos atuam sobre o ramo ascendente espesso, inibindo o transportador Na +/K +/2Cl − na membrana luminal, combinando‑se com seu ponto de ligação para Cl −.

A administração intravenosa de furosemida a pacientes com edema pulmonar causado por insuficiência cardíaca aguda provoca um efeito vasodilatador terapeuticamente útil, independente do início da diurese. Possíveis mecanismos invocados incluem diminuição da responsividade vascular a vasoconstritores como a angiotensina II e a norepinefrina; aumento da formação de prostaglandinas vasodilatadoras.

O modo de ação principal dos diuréticos de alça é a inibição do co-transportador de Na+/K+/2Cl− na membrana luminal na porção espessa ascendente (PEA) da alça de Henle. A inibição do co-transportador de Na+/K+/2Cl− dissipa o gradiente de Na+ gerado na medula renal, que impulsiona a reabsorção de água na parte descendente da alça de Henle, permeável à água.

Os diuréticos de alça reduzem a depuração de lítio, ocasionando a toxicidade. A associação de diuréticos de alça com fármacos inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) podem reduzir agudamente a pressão arterial, especialmente na presença de uma depleção de Na +.

O tratamento geralmente é iniciado com 20 a 80 mg por dia. A dose de manutenção é de 20 a 40 mg por dia. A dose máxima depende da resposta do paciente.

  • Captopril – Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (ECA)

Enalapril, Lisinopril, Captopril, Benazepril, Fosinopril, Quinapril, Ramipril, Moexipril e Perindopril. Note que os nomes desses fármacos terminam em “-pril”.

Os inibidores da ECA reduzem a resistência vascular periférica através do bloqueio das ações da enzima conversora de angiotensina, a enzima que converte a angiotensina I em angiotensina II.

A angiotensina II é um vasoconstritor potente e estimula a liberação de aldosterona pelo córtex da supra-renal, o que leva à retenção de sódio e água. Os inibidores da ECA causam vasodilatação tanto das artérias quanto das veias.

Ao contrário de outros vasodilatadores, essa classe de fármacos não desencadeia ações reflexas do sistema nervoso simpático (taquicardia, aumento do débito cardíaco, retenção de líquidos). Finalmente, como a angiotensina II também exerce atividade mitogênica no miocárdio, sua inibição diminui a hipertrofia ou remodelamento do miocárdio, situações freqüentemente vistas em pacientes hipertensos ou com insuficiência cardíaca.

Os inibidores da ECA são anti-hipertensivos especialmente úteis em caucasianos jovens e de meiaidade. Pacientes idosos e negros são relativamente resistentes aos efeitos anti-hipertensivos desses agentes, mas essa resistência pode ser contornada pela adição de diuréticos ao tratamento; Têm efeitos benéficos na insuficiência cardíaca e reduzem o risco de acidente vascular cerebral, mesmo em pacientes cuja pressão arterial esteja bem controlada.

Esses agentes também reduzem a progressão da doença renal em pacientes com nefropatia diabética. Os benefícios renais provavelmente são consequência da melhora da hemodinâmica renal secundária à redução na resistência arteriolar glomerular.

Até 40% dos pacientes não toleram os inibidores da ECA por causarem tosse seca. Acredita-se que essa tosse resulte do a acúmulo de bradicinina. Normalmente a ECA converte bradicinina em metabólitos inativos. Entretanto, quando ela é inibida, a concentração de bradicinina aumenta. A bradicinina causa edema tecidual e broncoespasmo, por isso se acredita que seu acúmulo seja responsável pela tosse.

A dose inicial recomendada de Captopril é de 25 mg 2 a 3 vezes ao dia; se necessário, após 1 ou 2 semanas de tratamento, sem os efeitos terapêuticos desejados, aumentar a dose para 50 mg 2 a 3 vezes ao dia. Não havendo resposta satisfatória, aconselha-se o uso de 25 mg de hidroclorotiazida, concomitantemente com uma dose de 100 mg de Captopril, 2 a 3 vezes ao dia. Conforme critério médico, Captopril pode ser associado a outro diurético mais potente (furosemida), betabloqueadores ou aumentada a dose, desde que não ultrapasse a dose máxima diária de 450 mg, e ou aumentos gradativos a cada 24 horas.

  • Sinvastatina – Fármacos redutores de lipídeos

Vários fármacos diminuem o LDL plasmático. A terapia medicamentosa é usada complementarmente às medidas dietéticas e à correção de outros fatores de risco cardiovascular modificáveis. Os principais agentes usados clinicamente são:

  • Estatinas: inibidores da 3‑hidroxi‑3‑metilglutaril‑coenzima A (HMG‑CoA) redutase;
  • Fibratos;
  • Inibidores da absorção de colesterol;
  • Ácido nicotínico e seus derivados;
  • Derivados de óleo de peixe.

A sinvastatina, a lovastatina e a pravastatina são inibidores competitivos, específicos e reversíveis da HMG‑CoA redutase, com valores de Ki de aproximadamente 1 nmol/l. A atorvastatina e a rosuvastatina são inibidores de ação prolongada.

A diminuição da síntese hepática de colesterol suprarregula (upregulates) a síntese do receptor de LDL, aumentando a remoção de LDL do plasma para os hepatócitos. O principal efeito bioquímico das estatinas, portanto, é reduzir o LDL plasmático (de 15% a 60%). Também há certa redução dos triglicerídeos plasmáticos e aumento do HDL (de 6% a 10%).

As estatinas de ação curta são dadas por via oral, à noite, para reduzir o pico matinal de síntese de colesterol. São bem absorvidas e extraídas pelo fígado, seu local de ação, e sofrem extenso metabolismo pré‑sistêmico por meio das vias citocromo P450 e glicuronidação. A sinvastatina é um pró‑fármaco inativo de lactona; é metabolizada no fígado dando origem à sua forma ativa, o ácido graxo β‑hidroxilado correspondente.

  • Aspirina – AAS

A aspirina (ácido acetilsalicílico) é um anti-inflamatório não-esteroidal (AINEs) inibidores não-seletivos da Ciclooxigenase (COX). A inibição irreversível da ciclooxigenase é uma característica da aspirina.

A aspirina (ácido acetilsalicílico) foi o primeiro AINEs a ser usado na prática médica (inicialmente, o ácido acetil salicílico era extraído da casca do salgueiro). A aspirina causa a acetilação covalente irreversível da serina-520 da ciclooxigenase, inibindo sua atividade. Todos os outros AINEs atuam através de mecanismos não-covalentes.

Fármacos que inibem a produção de prostaglandinas ou mimetizam a sua ação. Eventualmente, a inibição da ciclooxigenase pela aspirina e AINEs pode desviar o metabolismo do ácido araquidônico para os leucotrienos, causando broncoconstrição. Por esta razão, aspirina/AINEs são contraindicados para indivíduos asmáticos. Pacientes com úlceras e/ou sangramento GI devem evitar os AINEs, pois estes fármacos podem exacerbar essas condições. A ingestão dos AINEs com alimentos diminui esse risco.

  • Anlodipino ou Amlodipina – Classe das diidropiridinas ou di-hidropiridinas

Bloqueadores do Canal de Cálcio – O termo “antagonistas do cálcio” é usado para fármacos que bloqueiam a entrada celular de Ca 2+ através dos canais de cálcio, e não suas ações intracelulares.

Específicos Para o Miocárdio: Verapamil e Diltiazem.

Diidropiridinas de Ação Vascular: Amlodipina, Felodipina, Isradipina, Nicardipina, Nifedipina, Nimodipina e Nisoldipina Note que os nomes das diidropiridinas terminam em “-dipina”.

Todos os bloqueadores dos canais de cálcio impedem que o Ca 2+ entre nas células do músculo liso cardíaco e vascular. O verapamil e o diltiazem bloqueiam, preferencialmente, a entrada de cálcio nas células do miocárdio. Nos miócitos, o Ca 2+ se liga à troponina, reduzindo seus efeitos inibitórios, permitindo, assim, a interação entre a actina e miosina.

As ações do verapamil ou do diltiazem resultam em bradicardia, redução da contratilidade e diminuição da condução atrioventricular.

Seus efeitos anti-hipertensivos são consequência da redução do débito cardíaco. As diidropiridinas interferem com a vasoconstrição impedindo a entrada de Ca 2+ nas células musculares lisas vasculares. Nessas células, o Ca 2+ se liga à calmodulina.

Esse complexo cálcio-calmodulina ativa a calmodulina cinase, que fosforila a miosina, estimulando a contração. Seus efeitos anti-hipertensivos resultam da redução da contratilidade do músculo liso vascular e redução da resistência vascular periférica. A nifedipina é única, pois bloqueia a entrada de Ca 2+ tanto no miocárdico quanto na vasculatura, exibindo propriedades do verapamil e das diidropiridinas; entretanto, seus efeitos no miocárdio são muito menores do que os efeitos na periferia.

Os bloqueadores dos canais de cálcio são anti-hipertensivos especialmente úteis em pacientes cuja hipertensão está associada com níveis baixos de renina. Bloqueadores dos canais de Ca 2+ que reduzem a freqüência cardíaca, como o verapamil e o diltiazem, também são usados como antiarrítmicos.

Os bloqueadores dos canais de Ca 2+ também são usados no tratamento da angina, profilaxia da enxaqueca e trabalho de parto prematuro.

No tratamento da hipertensão e da angina, a dose inicial usual de besilato de Anlodipino é de 5mg 1 vez ao dia, podendo ser aumentada para uma dose máxima de 10mg, dependendo da resposta individual do paciente. Não é necessário ajuste de dose de Anlodipino na administração concomitante com diuréticos tiazídicos, betabloqueadores e inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA). 

Em suma, achamos que a atividade foi bem completa e de extrema importância para nosso aprendizado, já que se trata de uma patologia muito comum e incidente na população. A apresentação do seminário foi bem completa e elucidativa. O professor Egídio também fez apontamentos importantes durante a aula que puderam complementar nosso entendimento sobre o assunto.

 

 

 

 

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